Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso – Entrevista Coletiva

Aécio Neves

Lula disse que se houver qualquer prova de corrupção, ele por iniciativa própria vai a pé para ser preso. O que o sr. tem a comentar?

Eu, da mesma forma que o presidente Fernando Henrique, compreendo o momento extremamente difícil porque passa o presidente Lula e, na verdade, ele tem hoje que falar à Justiça. Responder as acusações que são feitas a ele. O único equívoco que vejo, e não é de agora, é recorrente, é que sempre que eles se veem em dificuldades, o PT, eles tentam sempre transferir a outros responsabilidades que são deles. Com a presidente Dilma foi da mesma forma, por isso chegou onde chegou. Não há, em nenhum momento, um reconhecimento, não há uma mea culpa, não há a grandeza de compreender que cometeram equívocos graves e ilegalidades que estão levando o PT e suas principais lideranças a essa situação.

O que eu percebo é que a reposta acaba caminhado para o jogo político. Isso é natural? É natural, mas é pouco relevante nesta hora. Então eu não quero agravar ainda mais esta situação e deixar que o presidente tenha tempo para responder aqueles que o irão inquirir daqui por diante, que é a Justiça. É a ela e ao conjunto de brasileiros que o presidente Lula terá que se explicar, se tiver razões, se tiver como comprovar isso tudo que ele disse, que foi uma grande arbitrariedade, que foi tudo uma movimentação política. O tempo é que dirá, mas não há, no PT, e nunca houve, a grandeza de reconhecer equívocos, muitos menos ilegalidades que segundo o Ministério Público foram por ele cometidas.

Há uma crítica de que houve excesso de política na entrevista dos procuradores. O sr. concorda?

Eu não tenho condições de fazer essa avaliação sobre a retórica do Ministério Público. Existem questões objetivas que foram ali tratadas e é sobre essas questões objetivas que o presidente e sua defesa terão que se manifestar.

Eu acho que, nesta hora, quanto menos politizarmos essa questão, melhor para o Brasil. Tanto eu, sempre seguindo as orientações do presidente Fernando Henrique, como os demais companheiros do PSDB com os quais tenho conversado intensamente, todos esses dias, o nosso papel hoje não é estar contestando, agravando ou radicalizando na política. O que nós temos que fazer agora é construir a agenda de futuro, se o PT escolheu a narrativa da vitimização, do golpe, pois bem, que trabalhem nessa seara, a nossa narrativa será a reconstrução do país.

O que hoje nos mobiliza, o que hoje nos anima é a possibilidade de levarmos o governo constitucionalmente empossado a construir uma agenda de reformas que retire o Brasil da calamidade – e isso é inegável – na qual os sucessivos governos do PT nos mergulharam. Essa crise que está aí tem nome e sobrenome. Ela é consequência da incompetência e da irresponsabilidade de um grupo político que optou por construir um projeto de poder acima dos interesses nacionais.

Os alertas vieram em todos os instantes. Soa, para mim, patética a declaração que a presidente deu no plenário do Congresso Nacional de dizer que ela só soube da crise no momento em que as urnas se fecharam. Ela não sabia o que estava acontecendo no mundo? Em 2015, o mundo cresceu 3%, o Brasil, menos 4%. “Ah, é a crise das commodities”. Peru e Chile que vivem fundamentalmente de commodities cresceram 2% e 3% respectivamente no mesmo período em que caímos 4%. Eles não têm a capacidade de admitir seus erros.

Nosso papel agora é demonstrar que chegamos onde chegamos pelas irresponsabilidades sucessivas e pela incompetência dos governos do PT, mas temos hoje a capacidade de reunificar o Brasil em torno de um projeto de futuro. Quero tirar os olhos do retrovisor da história, as questões da Justiça que a Justiça as trate, que o Ministério Público as trate, e que possamos ajudar o Brasil a ser reconstruído em benefício principalmente dos 12 milhões de desempregados.


Fernando Henrique Cardoso

Sobre declarações do ex-presidente Lula e as denúncias feitas pelo MP.

Vocês sabem que eu sou uma pessoa cautelosa. Eu preciso ver o que o Judiciário diz, o que o juiz diz, o que os juízes dizem. Uma coisa são as acusações, outra coisa é o processo de provas, é verificar o que é certo e o que é errado. Naturalmente está havendo aí uma tentativa de assimilação entre o que aconteceu com o mensalão e o Petrolão. Fico como expectador, eu não tenho propriamente opinião sobre o assunto. Eu quero ver se existe alguma coisa concreta. Aliás, eu não quero ver nada. A Justiça é que vai ter que ver se houve. Se houve, acata. Se não, são afirmações.

Sobre o afastamento do antigo presidente da Câmara e sobre o impeachment. O sr. ainda não comentou sobre isso.

Eu não comentei porque é o óbvio. O impeachment foi consequência de não só de ter havido o desrespeito a algumas normais constitucionais, como a paralisação do governo. E o fato de que, infelizmente para o Brasil, e contra a minha torcida, os governos recentes levaram o país a uma situação de desespero. São mais de 10 milhões, 11, 12 milhões de desempregados, uma falência das finanças públicas, uma impossibilidade de levar adiante programas sociais que eles próprios inventaram, alguns eram meus, outros foram aumentados e inventados pelo próprio governo do presidente Lula. Esse mal-estar que foi gerado no Brasil é consequência de erros na condução da política, não é? E isso levou a paralisação do governo, a perda de substancia do governo Dilma no Congresso e levou ao impeachment. Ninguém fica feliz quando há um processo de impeachment. O bom para a democracia é que os governos sejam capazes de chegar até o fim. Eu nunca fui favorável a interromper mandatos. Isso acontece quando há uma paralisação das decisões e há uma agressão a algumas normas constitucionais. É de lamentar.

O outro é um caso menor, do Eduardo Cunha. Francamente é um caso em que o Supremo Tribunal já o havia afastado do Congresso, acusando-o de alguns malfeitos e o conjunto dos deputados tomou essa decisão. Demorou até para tomar, mas é um fato menor que excita, em um dado momento, mas não tem consequências históricas maiores. A gente sabia que isso iria acontecer dado os desvarios que foram praticados na condução do processo, no caso até pessoal dele, nas negociações com entes governamentais, mas é um caso menor, é uma página virada. Os dois casos são páginas viradas, um com consequências nacionais e outro com consequências mais restritas, e certamente que abalam mais os eleitores dele que são aqui do Rio.

O ex-presidente Lula disse tudo está sendo feito para tirá-lo da disputa de 2018. Como é que o sr. vê esse posicionamento?

Eu vou dizer com sinceridade a vocês: acho que o presidente Lula passa por um momento difícil. O que ele diz, eu não vou contestar. Acho que não cabe a mim, nesse momento, ficar falando, fazendo comentários sobre o que disse e deixou de dizer, atribuiu ou atribuir o presidente Lula. Acho que é o momento que ele tem que, digamos assim, estar desabafando, dizendo o que está ao seu alcance para justificar-se. Eu o respeito, eu lamento, sinceramente. É sempre de se lamentar que uma pessoa que tem a trajetória que teve o presidente Lula tenha chegado a esse momento de tanta dificuldade. Eu prefiro não fazer comentários.

“Sem equilíbrio das contas públicas não há saída para o Brasil”, diz Aécio

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, voltou a defender, nesta segunda-feira (12/09), a aprovação de medidas, pelo Congresso, que permitam ao Brasil sanear as contas públicas e reencontrar o caminho do crescimento econômico e da geração de empregos. Em entrevista no STF, onde participou da cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do tribunal, Aécio Neves reiterou que, sem o equilíbrio das contas públicas, o país continuará mergulhado na crise econômica.

“Nós não iremos colocar o Brasil no rumo do crescimento, da recuperação, do emprego, sem dias difíceis pela frente. Então, é hora de investirmos no convencimento do Congresso, dos vários partidos da base, para a absoluta necessidade e urgência desse conjunto de reformas que começa a ser discutido. Esse não pode ser um ano perdido no segundo semestre. Apesar das eleições, temos que avançar, seja na votação final, que eu acredito possível, da PEC do teto dos gastos públicos, mas também avançando na discussão da PEC da reforma previdenciária”, ressaltou o senador Aécio.

O presidente nacional do PSDB afirmou também que essas medidas já deveriam ter sido tomadas há anos, mas foram adiadas em prejuízo do país.

“É preciso que fique bem claro que essas reformas – que já eram necessárias a um Estado moderno – hoje se tornaram inadiáveis, imprescindíveis e absolutamente urgentes. Se hoje o Brasil tem um quadro social calamitoso, com 12 milhões de desempregados, com 60 milhões de brasileiros endividados, com cerca de 10 milhões de famílias voltando às classes D e E, é por conta da irresponsabilidade, da leniência e do projeto de poder que orientou as ações dos governos petistas sucessivos”, criticou.

O senador voltou a se posicionar contra a proposta, em tramitação no Congresso, que reajusta os salários pagos pelo STF, que provocará impactos diretos na folha de pagamento de todo o funcionalismo público também nos estados.

“Somos contra desde o primeiro dia que tramita esta proposta, mas não é em relação ao Judiciário, ao Supremo Tribunal Federal. Somos contra aumento, sobretudo aqueles que levam os estados juntos. Que tenham este efeito cascata nos estados, numa hora em que precisamos é do inverso. Precisamos é de controle de gastos, de equilíbrio. Sem equilíbrio das contas públicas não há saída para o Brasil”, reiterou.

Ministra Cármen Lúcia

O senador falou com os jornalistas na saída da cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia Antunes da Rocha na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Na entrevista, Aécio Neves destacou a trajetória da ministra mineira e afirmou que o Brasil vai se orgulhar da gestão dela à frente da Suprema Corte.

“Acho que a ministra Cármen Lúcia tem o perfil, a tradição, o espírito mineiro da grande conciliação e, ao mesmo tempo, a coragem para fazer as grandes transformações. Portanto, é um momento de festa para Minas Gerais, é um momento de muita alegria para aqueles que acompanharam, como eu, a sua trajetória ao longo dos últimos 30 anos. Acho que o Brasil que não conhece ainda Cármen Lúcia vai se orgulhar muito da mulher presidente do Supremo Tribunal Federal”, afirmou.

Aécio Neves – Entrevista sobre a posse da ministra Cármen Lúcia

Sobre sessão de julgamento de Eduardo Cunha

Eu respondo a tudo isso. Mas antes quero dar uma primeira palavra, como mineiro, da nossa alegria de ver uma mulher, uma jurista, uma cidadã brasileira – na dimensão maior que essa expressão possa conter – assumindo a Presidência do Supremo Tribunal Federal.

A presidência de um Poder no momento em que o Brasil precisa de harmonia. Como foi dito aqui, em um dos discursos: a independência tem que vir acompanhada da harmonia entre os Poderes. E depois do momento difícil por qual passou o Brasil há poucos dias, acho que a ministra Cármen Lúcia tem o perfil, a tradição, o espírito mineiro da grande conciliação e, ao mesmo tempo, a coragem para fazer as grandes transformações.

Portanto, é um momento de festa para Minas Gerais, é um momento de muita alegria para aqueles que acompanharam, como eu, a sua trajetória ao longo, pelo menos, dos últimos 30 anos. Acho que o Brasil que não conhece ainda Cármen Lúcia vai se orgulhar muito da mulher presidente do Supremo Tribunal Federal.

E em relação ao Cunha?

É uma decisão que a Câmara haverá de tomar, tomará dentro de poucas horas, e esse desfecho precisa ocorrer. Assim como o Brasil precisava ver virada a página do impeachment, precisará ver virada agora essa página. O que me preocupa, e falo como presidente nacional do PSDB, é a agenda que teremos pela frente. Uma agenda que não será de facilidades. Mas nós não iremos colocar o Brasil no rumo do crescimento, da recuperação, do emprego, sem dias difíceis pela frente.

Então, é hora de investirmos no convencimento do Congresso, dos vários partidos da base, para a absoluta necessidade e urgência desse conjunto de reformas que começa a ser discutido. Esse não pode ser um ano perdido, agora, no segundo semestre. Apesar das eleições, temos que avançar, seja na votação final, que eu acredito possível, da PEC do teto dos gastos públicos, mas também avançando na discussão da PEC da reforma previdenciária. A partir de ontem é hora de botar mãos na massa e entregarmos um Brasil diferente no final desse ano, enfrentando com coragem, com determinação, as dificuldades que se colocarão à nossa frente.

O ex-presidente Lula disse que é contra a reforma trabalhista, e disse que os protestos vão continuar por isso.

É preciso que fique bem claro que essas reformas – que já eram necessárias a um Estado moderno – hoje se tornaram inadiáveis, imprescindíveis e absolutamente urgentes pelo que os sucessivos governos do PT fizeram com o país. Se hoje o Brasil tem um quadro social calamitoso, com 12 milhões de desempregados, com 60 milhões de brasileiros endividados, com cerca de 10 milhões de famílias voltando às classes D e E é por conta da irresponsabilidade, da leniência e do projeto de poder que orientou as ações dos governos petistas sucessivos, inclusive do ex-presidente Lula. Basta hoje você ver o que está acontecendo com o Brasil e o que está acontecendo com outros países ao nosso redor, ou mesmo em outras regiões do mundo.

Achei muito curioso a ex-presidente Dilma dizer que soube da crise no final das eleições e que em 2015 fomos varridos ou fomos levados por uma crise internacional. O Brasil cresceu menos 4% em 2015. O mundo cresceu mais de 3%. Países dependentes de commodities, e ela acusa as commodities e a queda dos preços das commodities como a razão do aprofundamento da nossa crise. O Chile, que cresceu 3% naquele ano, vá ao Peru, que cresceu 2,5%. Nós crescemos menos 4%. Então, a crise pela qual passa o Brasil hoje é tupiniquim, é uma jabuticaba aqui inventada pelos governos do PT. Mas temos de ter a coragem necessária para tomar as medidas que o Brasil aguarda para tirar o país da crise e recuperar, principalmente, o emprego dos brasileiros

Em relação ao aumento dos salários do STF, se vota hoje?

Acho que não. Somos contra. Acho que não vota nada hoje. Acho que aquela pressão que havia está diminuindo.

Mas a tese do presidente Renan de desvincular o aumento dos ministros do efeito cascata?

Não foi discutida conosco. Somos contra desde o primeiro dia que tramita esta proposta, mas não é em relação ao Judiciário, ao Supremo Tribunal Federal. Somos contra aumento, sobretudo aqueles que levam os estados juntos. Que tenham este efeito cascata nos estados, numa hora em que precisamos é do inverso. Precisamos é de controle de gastos, de equilíbrio. Sem equilíbrio das contas públicas não há saída para o Brasil.

Por isso, é imprópria nesse momento, pelo menos, esta discussão. E acho que já há um convencimento mais amplo do que aquele que existia duas semanas atrás. Vejo setores do PMDB que estavam muito firmes, um pouco já considerando não urgente a votação seja vinculando ou desvinculando.

Aécio Neves – Posse da Ministra Cármen Lúcia no STF


Trechos da entrevista

Sobre sessão de julgamento de Eduardo Cunha

Eu respondo a tudo isso. Mas antes quero dar uma primeira palavra, como mineiro, da nossa alegria de ver uma mulher, uma jurista, uma cidadã brasileira – na dimensão maior que essa expressão possa conter – assumindo a Presidência do Supremo Tribunal Federal.

A presidência de um Poder no momento em que o Brasil precisa de harmonia. Como foi dito aqui, em um dos discursos: a independência tem que vir acompanhada da harmonia entre os Poderes. E depois do momento difícil por qual passou o Brasil há poucos dias, acho que a ministra Cármen Lúcia tem o perfil, a tradição, o espírito mineiro da grande conciliação e, ao mesmo tempo, a coragem para fazer as grandes transformações.

Portanto, é um momento de festa para Minas Gerais, é um momento de muita alegria para aqueles que acompanharam, como eu, a sua trajetória ao longo, pelo menos, dos últimos 30 anos. Acho que o Brasil que não conhece ainda Cármen Lúcia vai se orgulhar muito da mulher presidente do Supremo Tribunal Federal.

E em relação ao Cunha?

É uma decisão que a Câmara haverá de tomar, tomará dentro de poucas horas, e esse desfecho precisa ocorrer. Assim como o Brasil precisava ver virada a página do impeachment, precisará ver virada agora essa página. O que me preocupa, e falo como presidente nacional do PSDB, é a agenda que teremos pela frente. Uma agenda que não será de facilidades. Mas nós não iremos colocar o Brasil no rumo do crescimento, da recuperação, do emprego, sem dias difíceis pela frente.

Então, é hora de investirmos no convencimento do Congresso, dos vários partidos da base, para a absoluta necessidade e urgência desse conjunto de reformas que começa a ser discutido. Esse não pode ser um ano perdido, agora, no segundo semestre. Apesar das eleições, temos que avançar, seja na votação final, que eu acredito possível, da PEC do teto dos gastos públicos, mas também avançando na discussão da PEC da reforma previdenciária. A partir de ontem é hora de botar mãos na massa e entregarmos um Brasil diferente no final desse ano, enfrentando com coragem, com determinação, as dificuldades que se colocarão à nossa frente.

O ex-presidente Lula disse que é contra a reforma trabalhista, e disse que os protestos vão continuar por isso.

É preciso que fique bem claro que essas reformas – que já eram necessárias a um Estado moderno – hoje se tornaram inadiáveis, imprescindíveis e absolutamente urgentes pelo que os sucessivos governos do PT fizeram com o país. Se hoje o Brasil tem um quadro social calamitoso, com 12 milhões de desempregados, com 60 milhões de brasileiros endividados, com cerca de 10 milhões de famílias voltando às classes D e E é por conta da irresponsabilidade, da leniência e do projeto de poder que orientou as ações dos governos petistas sucessivos, inclusive do ex-presidente Lula. Basta hoje você ver o que está acontecendo com o Brasil e o que está acontecendo com outros países ao nosso redor, ou mesmo em outras regiões do mundo.

Achei muito curioso a ex-presidente Dilma dizer que soube da crise no final das eleições e que em 2015 fomos varridos ou fomos levados por uma crise internacional. O Brasil cresceu menos 4% em 2015. O mundo cresceu mais de 3%. Países dependentes de commodities, e ela acusa as commodities e a queda dos preços das commodities como a razão do aprofundamento da nossa crise. O Chile, que cresceu 3% naquele ano, vá ao Peru, que cresceu 2,5%. Nós crescemos menos 4%. Então, a crise pela qual passa o Brasil hoje é tupiniquim, é uma jabuticaba aqui inventada pelos governos do PT. Mas temos de ter a coragem necessária para tomar as medidas que o Brasil aguarda para tirar o país da crise e recuperar, principalmente, o emprego dos brasileiros

Em relação ao aumento dos salários do STF, se vota hoje?

Acho que não. Somos contra. Acho que não vota nada hoje. Acho que aquela pressão que havia está diminuindo.

Mas a tese do presidente Renan de desvincular o aumento dos ministros do efeito cascata?

Não foi discutida conosco. Somos contra desde o primeiro dia que tramita esta proposta, mas não é em relação ao Judiciário, ao Supremo Tribunal Federal. Somos contra aumento, sobretudo aqueles que levam os estados juntos. Que tenham este efeito cascata nos estados, numa hora em que precisamos é do inverso. Precisamos é de controle de gastos, de equilíbrio. Sem equilíbrio das contas públicas não há saída para o Brasil.

Por isso, é imprópria nesse momento, pelo menos, esta discussão. E acho que já há um convencimento mais amplo do que aquele que existia duas semanas atrás. Vejo setores do PMDB que estavam muito firmes, um pouco já considerando não urgente a votação seja vinculando ou desvinculando.

‘Sem o apoio do PSDB, não existirá governo Temer’, afirma Aécio

Senador tucano diz que, em 30 dias, ninguém mais falará da ex-presidente Dilma

O presidente do PSDB, Aécio Neves, cobra, em entrevista ao GLOBO, uma ação de Michel Temer sobre o PMDB para acabar com as ambiguidades e abandonar os “vícios” adquiridos na convivência com o PT. Aécio diz que tucanos apoiarão o governo enquanto ele for fiel à agenda do ajuste e afirma: “Sem apoio do PSDB, não existirá governo Temer”. Para Aécio, em 30 dias, ninguém mais falará da ex-presidente Dilma.

A enquadrada de Temer após a posse foi direcionada ao PSDB?

O recado foi claro para aqueles que, dentro da base, em especial no PMDB, não demonstram compromisso com as reformas. O PSDB tem ecoado com muito mais clareza as posições do presidente Temer do que o seu próprio partido. Sem o PMDB agindo de forma coesa, as dificuldades de Temer serão quase intransponíveis. Esse último episódio (fatiamento da pena de Dilma Rousseff) demonstrou, mais uma vez, a ambiguidade com que o PMDB atua.

É o PMDB que vai definir o sucesso ou o fracasso do governo?

A fragilidade das posições do PMDB será o argumento para que outras forças políticas não se exponham na defesa das reformas. O PSDB tem compromisso com essa agenda não é de hoje. Defendi isto nas eleições. É fundamental que o PMDB se desapegue dos vícios que adquiriu na convivência com o PT, do costume de se proteger nesse discurso populista do PT que levou o país à situação em que estamos. Tenho certeza que Temer se sente muito mais confortável com as posições do PSDB do que com a ambiguidade e a falta de clareza do PMDB.

Mas o governo também tem sido ambíguo, por exemplo, quanto ao teto salarial.

O que é um mau sinal. Nossa posição é de responsabilidade, no que diz respeito a todo aumento salarial, no momento em que sinais devem ser dados na direção da contenção dos gastos públicos. Da mesma forma, fomos contra a flexibilização das negociações da dívida dos estados. Era uma oportunidade extraordinária que se perdeu.

Qual o limite de apoio do PSDB ao governo Temer?

O PSDB estará em 2018 se apresentando para governar o país. Enquanto Temer se mantiver fiel a essa agenda que colocamos para o país, contará com o PSDB. Se percebermos que isto não está ocorrendo, o PSDB deixa de ter compromisso com este governo. Não é uma ameaça, apenas uma constatação natural.

Peemedebistas dizem que o PSDB não tem alternativa a não ser apoiar Temer até 2018…

Sem o apoio do PSDB, não existirá governo Temer. O PSDB não pretende sair da base, sabe que o seu papel é imprescindível. Se o PSDB sair, quem perde é o governo. As cobranças do PSDB incomodam setores do PMDB? Talvez aqueles que tenham receio de enfrentar as reformas. Mas o núcleo mais próximo ao presidente tem reafirmado o compromisso com esta agenda.

O senhor vê no governo a disposição de implementar reformas?

Vejo isto no presidente, mas não consigo enxergar na totalidade do PMDB. Temer tem que ter uma “DR” com o PMDB. Se não começar com seu partido, uma senha estará sendo dada para que essas reformas não se viabilizem. Da mesma forma que Renan Calheiros deu uma senha ao encaminhar a votação (do fatiamento da pena de Dilma Rousseff), de forma inoportuna, para que o PMDB tivesse uma posição equivocada e de afronta à Constituição.

Foi aberta uma brecha perigosa, especialmente para Eduardo Cunha?

Acho que sim. E não há como inibir especulações sobre a quem interessava isto. O que não foi correto é o PMDB, através da maioria dos seus senadores, tomar uma decisão sem conversar com o PSDB. Isto deixa uma marca nesta relação, que precisará ser superada. Gerou um desconforto enorme no PSDB.

Lewandowski (presidente do STF) errou ao aceitar o fatiamento da pena?

A decisão não foi correta. Não acredito que ele tenha uma intenção subalterna ao tomar essa decisão, mas abriu um precedente extremamente grave. O que nós assistimos foi o regimento do Senado se impondo sobre a Constituição. Algo que me parece esdrúxulo.

Preocupa Dilma poder disputar eleição?

Não faz a menor diferença para o Brasil. Esta é uma página virada. A questão não se atém a se Dilma quer disputar eleição, até porque acredito que isto não está nos planos dela. Mas uma decisão desta gera especulação como a busca de foro privilegiado para estar fora das garras da Justiça de primeira instância.

O discurso do golpe beneficia Dilma e o PT?

Com todo respeito que merece a presidente, acho que em 30 dias ninguém vai estar falando nela. A cada êxito do governo Temer, esse discurso vai desaparecendo.

Houve acordo entre PT, PMDB e Lewandowski sobre o fatiamento?

Essas ilações surgiram e muitas outras envolvendo a votação do teto salarial. O tempo dirá quem efetivamente se beneficia com esta decisão.

O senhor ainda crê que a melhor solução seriam novas eleições?

Talvez para o PSDB fosse o mais adequado. Mas para a democracia, não, porque não há previsão constitucional. Ficou claro para nós que esta decisão não ocorreria em tempo hábil. Se o TSE, amanhã, definir novas eleições, é uma saída constitucional. Mas este é o único caminho.

E o processo no TSE de cassação da chapa presidencial?

Se alguém tem preocupação de Dilma ter os direitos políticos preservados, pode aguardar que o TSE resolverá este problema.

O presidente Temer também é réu nesta ação…

Caberá ao TSE avaliar se Temer teve responsabilidade nisso ou não.

O senhor acredita que as responsabilidades devem ser separadas?

Não sei fazer esta avaliação. Há pessoas que avaliam que ele não tem essa responsabilidade. Alguns diziam que os efeitos cessariam no momento do afastamento da presidente.

A Lava-Jato afetará o governo?

Temos que deixar que a Lava-Jato continue. Não existe motivação para cerceá-la. Sempre que isso ocorreu, resultou no fortalecimento da operação. Temer tem que governar e deixar que a Justiça faça sua parte.

E no seu caso?

São coisas tão absurdas e impossíveis de serem comprovadas que tudo isso será muito positivo. Vamos sair disso muito mais fortes. Tenho zero temor. Não apenas eu, mas vários outros também indevidamente citados. Uma coisa é um escândalo de corrupção que tomou conta do país, capitaneado pelo PT. As empresas dizerem que ajudaram A, B ou C em suas campanhas eleitorais é natural, é outra coisa.

Em que medida a Lava-Jato pautará 2018?

Todos os grandes nomes do PSDB estarão fortes em 2018 porque passarão incólumes por isso. A questão é política, mais abrangente. De que forma a política e os partidos tradicionais chegarão em 2018? O grande desafio do governo Temer é demonstrar que ainda é possível encontrar na política soluções para o país, porque o discurso da negação absoluta da política não é adequado.

Leia maisaqui.

Aécio: “O que queremos agora é uma construção que permita à Câmara voltar a funcionar”

O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, reiterou, em entrevista coletiva nesta sexta-feira, em São Paulo, as posições tomadas pela bancada tucana na Câmara dos Deputados no debate sobre a renúncia do ex-presidente da Casa, deputado federal Eduardo Cunha. Aécio ressaltou que agora o momento é encontrar um novo presidente para a Câmara capaz de resgatar o equilíbrio do parlamento e dar andamento à votações necessárias para o Brasil. A eleição para escolher o sucessor de Eduardo Cunha no comando da Casa será realizada na próxima quinta-feira.

Sonora do senador Aécio Neves

“A posição do partido foi explicitada pelos votos dos nossos companheiros, nossos deputados no Conselho de Ética e será assim na Comissão de Constituição e Justiça e, acredito eu, sem antecipar os votos de deputados, na Câmara. O que queremos agora é uma construção que permita à Câmara voltar a funcionar. O que queremos é um presidente para cumprir esse mandato que consiga liderar uma agenda para a Câmara dos Deputados. É isso que o Brasil precisa”.

Aécio também falou sobre a união partidária em tempos de eleições municipais, quando a legenda define os nomes de candidatos às prefeituras.

Sonora do senador Aécio Neves

“Se o PSDB hoje é um dos principais, se não o principal, partido nacional, isso se deve à força do PSDB em SP e de suas lideranças, em especial o governador Geraldo Alckmin. É natural que um partido da dimensão do PSDB, com um conjunto de quadros extremamente qualificados, que tem o PSDB, tenha as suas disputas internas, mas estou absolutamente convencido que chegando o momento da disputa, e ele está chegando, estaremos unidos porque nosso adversário está muito além das fronteiras do PSDB.”

De Brasília, Shirley Loiola.

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