Aécio Neves – Entrevista no Recife

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (27/11), em Recife (PE). Aécio falou sobre eleições municipais, ação das oposições, silêncio da presidente Dilma Rousseff e crise no governo.

Leia a transcrição da entrevista do senador:
No seminário o sr. citou o deputado Daniel Coelho. Já podemos confirmar o nome de Daniel como candidato nas eleições para prefeito?

Vou fazer aqui mais uma exortação que faço sempre: política é a arte de administrar o tempo. Tenho por Daniel uma extraordinária admiração, como tem demonstrado também a população do Recife. É um quadro extraordinário em condições desse e de qualquer outro desafio. No momento certo, o partido vai tomar a decisão e não será uma decisão tomada pela direção nacional do PSDB. O que posso dizer é que PSDB se sente extremamente honrado de ter nos seus quadros um nome tão qualificado quanto Daniel e outros que temos e em condições da disputa. Mas hoje não é o assunto da nossa agenda. Isso será amadurecido por ele próprio e pelos companheiros do partido e, no momento certo, essa decisão será tomada.


Sobre o encontro com o prefeito de Recife.

Converso com o prefeito sobre questões federativas sempre. E vindo aqui é algo absolutamente natural. Venho de um estado chamado Minas Gerais, onde as pessoas conversam. Um grande governador de Minas Gerais chamado Milton Campos dizia que na política sempre tem de haver um palmo de chão para que as pessoas possam conversar sobre o futuro, possam conversar sobre os problemas locais. Vou estar com o prefeito, com o governador, como estou no meu Estado mesmo com lideranças de partidos políticos que disputam comigo, que disputaram comigo. Aqueles que não têm a capacidade de dialogar, seja com aliados, seja com adversários, não deveriam estar na política.


O deputado Jarbas disse que pretende, junto com o sr., apresentar o cenário na Câmara sobre a situação do país. Tem uma agenda formada?

É importante ressaltar que estive hoje com o ex-governador Jarbas Vasconcelos que também é de um partido político que hoje participa do governo federal. Será que não é saudável para a política essas conversas? Acho que é absolutamente saudável e ficamos de falar esta semana.

O que há hoje é um sentimento de indignação crescente na sociedade brasileira e nós, homens públicos, temos de ser os interpretes desses sentimentos. E o que eu colho nesses últimos dias principalmente com esses últimos acontecimentos e eu o chamo de senador porque foi meu colega até pouco tempo, hoje deputado Jarbas Vasconcelos, expressa de forma muito clara essa indignação, seja com a situação da Câmara Federal, seja com a situação do país.

O nosso sentimento é que a presidente Dilma Rousseff perdeu as condições de governar o Brasil. No momento de grave crise como este. No momento em que o líder do seu governo e do seu partido é preso, quem aqui ouviu uma palavra da presidente da República? Nenhuma palavra. Como se ela não tivesse qualquer responsabilidade, por exemplo, com a nomeação desses ex-diretores da Petrobras que estão hoje presos, condenados. Como se não tivesse sido ela a retirar esse senhor Cerveró de uma diretoria da Petrobras, por boas razões não deve ter sido, mas o colocou em uma outra diretoria de uma subsidiária extremamente importante.


Será que não é natural, não é esperável que uma presidente da República que respeite aqueles que ela governa não vá para a televisão, ou convoque uma coletiva, ela que gostava tanto de cadeia de rádio e televisão, para dizer o que vem acontecendo? Qual é a sua posição em relação ao que está acontecendo?

Então, essa omissão permanente da presidente da República que já delegou e terceirizou a condução da economia, não tem mais agenda política para o país, nos apresenta um ajuste extremamente rudimentar sustentado pelo aumento de impostos por um lado, seremos contra, e supressão de direito por outro, sem qualquer aceno, sem qualquer perspectiva de retomada do crescimento da economia e da volta dos empregos.

Temos no Brasil hoje uma não presidente. A verdade é essa. Se prepara para mais uma viagem como se nada estivesse acontecendo no Brasil. Por isso, com Jarbas, com outras lideranças das oposições e de outros partidos que se disponham a conversar, esses próximos dias serão dias de intensas conversas e o sentimento crescente de todos nós, companheiros e deputados que aqui estão, é de que a presidente, a cada dia perde as condições objetivas de nos retirar da crise. Não sei qual será o caminho, mas o caminho precisará ser encontrado para que o Brasil volte a crescer e os brasileiros voltem a ter esperança.


Qual será a sua participação no interior de Pernambuco nas eleições próximas?

Vou estar à disposição dos meus companheiros aonde eles acharem que eu não atrapalho, que eu não tiro voto, onde acharem que eu possa ajudar minimamente. Quero dar uma atenção muito especial a Pernambuco. Há um solo fértil para que o partido cresça nessas eleições aqui em Pernambuco. Eu estou muito confiante de que vamos ter extraordinários resultados em todo estado.

Pernambuco, pela sua importância, pela repercussão do que acontece aqui e em todo o Nordeste, talvez seja a nova porta de entrada do PSDB para o Nordeste. E temos que ter a preocupação clara de falar para essa região, para os problemas que essa região vem vivendo e mostrar que esse modelo que está não se sustenta mais. E somos o caminho mais seguro para a recuperação econômica e social também no Nordeste brasileiro.


Sobre uma possível delação premiada de Delcídio Amaral.

É muito cedo para se imaginar isso. O que eu posso dizer é que as delações que estão em curso já são dor de cabeça suficiente para esse governo.


O senador Renan Calheiros disse em passagem essa semana por Recife que o Congresso fez tudo que podia para amenizar a crise econômica. Isso aconteceu? O Congresso Nacional fez a parte dele?

Essa crise é uma crise intrasferível. É uma crise do governo, gestada, germinada dentro desse governo. E como não se tem liderança é muito difícil que o Congresso Nacional faça as coisas avançarem na velocidade e na direção correta. Fui presidente da Câmara dos Deputados, fui parlamentar, líder do governo Fernando Henrique por muitos anos, e o nosso presidencialismo, ele tem uma força tamanha, e se não há uma ação do governo em determinadas questões, sobretudo aquelas onde é necessária maioria constitucional, elas não caminham. O que acontece hoje no governo? A base que apoia esse governo não o apoia porque acredita nesse governo, porque acha que esse governo vai melhorar a vida das regiões que eles representam. A base que apoia o governo hoje, apoia pela distribuição abusiva e, a meu ver, irresponsável, de cargos públicos, o que desqualifica a gestão pública no país, pela liberação de recursos e emendas. É uma base muito fluida. A qualquer pressão, a qualquer contrariedade, ela se move.

A presidente da República, mesmo tendo terceirizado o governo, distribuído ministérios como se distribui bananas vencidas em uma feira livre, ela não consegue ter a liderança do Congresso Nacional necessária a impor para valer uma agenda que permita ao Brasil acreditar ou caminhar para a retomada do crescimento. Vamos ter agora um grande embate, porque a presidente da República cometeu novamente um crime de responsabilidade, no momento em que não alcança as metas de superávit previstas no Orçamento aprovado. Isso é obrigação do governante. O que faz o governo? Mobiliza suas bancadas, nomeia um aqui, nomeia outro ali, para que possa ser alterada essa meta. Para que ela não incorra novamente em crime de responsabilidade.


Sobre a investigação do TSE da campanha presidencial.

Chamo atenção para uma outra questão: o TSE, pela primeira vez na história do país, abre uma investigação em relação à campanha presidencial, com indícios que levaram a essa abertura de que houve dinheiro da propina utilizado na campanha presidencial. É possível que no desdobramento dessas investigações, outras denúncias nessa direção ocorram, e isso pode fazer com que, além do crime de responsabilidade que a presidente cometeu, segundo o Tribunal de Contas, aquilo que se estabeleceu chamar de “pedaladas fiscais”, pedaladas feitas pela presidente da República, pode ser que agora, no campo eleitoral, daqui a pouco, o TSE se depare com a comprovação de crimes cometidos pela presidente da República.

A questão que vai ser colocada – e que os brasileiros sobre ela vão se debruçar – é a seguinte: o presidente da República tem um salvo-conduto? Ele pode cometer crimes, porque a retirada do presidente é algo extremamente grave? Reconheço que é e é algo que impacta na vida econômica do país. Então a presidente está acima da lei ou ela deveria ser a primeira a dar o exemplo e cumprir a lei? Fico com a segunda alternativa.

Esse é o papel hoje vigoroso do PSDB. Temos que blindar as nossas instituições, fortalecê-las no limite que pudermos, como fizemos com o Tribunal de Contas (TCU), com o TSE, apoiarmos o Ministério Público, apoiarmos a Polícia Federal, o Poder Judiciário, porque o que vai nos tirar dessa crise são as nossas instituições, que se mostraram extremamente vigorosas nesses últimos episódios, inclusive o Congresso Nacional.

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