Qual avaliação do dia de ontem e sobre esse embate do Sr. como adversário da presidente na última eleição.
Em primeiro lugar, acho que o aspecto positivo da sessão de ontem foi que ela se deu com respeito entre todas as partes. Ali não era um ringue como alguns esperavam que o Senado pudesse se transformar. É uma sessão histórica, dolorosa, em especial para aqueles que estão prestes a perder o poder. Acho que o Senado, na média, se comportou de forma adequada.
Coube a mim, em razão inclusive do pronunciamento inicial da presidente da República, ao referir-se às eleições de 2014, como se os derrotados tivessem o poder de desestabilizar e de afastar a presidente da República. Na verdade, uma estratégia da defesa para fugir de respostas objetivas àquilo que realmente pode levar ao afastamento da presidente, que são os crimes de responsabilidade cometidos.
A presidente fez uma tentativa, a meu ver, pouco eficiente de transferir essa responsabilidade às oposições. Eu disse a ela que não é desonra nenhuma perder eleições quando se age dentro da lei, defendendo ideias, um projeto para o país como fizemos. E disse que não considero da mesma forma aqueles que vencem as eleições cometendo ilegalidades e fugindo com a verdade. Disse isso à presidente.
Mas acho que a presidente respondeu de forma respeitosa e agora estamos vivendo os estertores de um governo que falseou a verdade durante todo o tempo, achou-se acima de qualquer punibilidade e achava que poderia continuar agindo à revelia do Congresso Nacional e acima das leis. Paga hoje um preço realmente alto, mas é aquele que determina a Constituição. Quando se comete crime de responsabilidade, a sanção não é a cadeia para quem o comete, mas a perda dos direitos políticos e a perda do mandato. É isso que está prestes a ocorrer com a presidente da República.
Conversei hoje cedo com o presidente Michel Temer e meu sentimento agora é que devemos tirar os olhos do retrovisor da história e olharmos para o futuro. O Brasil terá ainda dias difíceis pela frente. Temos uma agenda que não será simples de reformas estruturais agravadas pela atuação do governo que conclui agora, que vê seu mandato interrompido. É hora de centrarmos forças nessa agenda. Reformas estruturais, a reorganização do Estado, uma reforma política que ordene o processo legislativo. É a isso que nós devemos nos dedicar a partir de amanhã, quando, eu acredito, a presidente será definitivamente afastada, não por uma vingança política como ela quis fazer crer em determinados momentos em seu pronunciamento, mas pelos crimes cometidos. O Brasil e a democracia saem mais fortes.
A senadora Gleisi Hoffmann disse que o Parlamento passa por um momento cretino e repetiu que ninguém tem moral para julgar a presidente. Queria que o Sr. comentasse a declaração dela.
Acho que ela deve estar se referindo a si própria.