Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre o Bolsa Família e o governo federal

O senador Aécio Neves ressaltou, em entrevista coletiva, nesta quinta-feira (31/10), em Brasília, que o Bolsa Família foi criado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, além de outros programas de transferência de renda, como o Bolsa Alimentação ou Vale Gás. Aécio Neves falou, ainda, sobre a preocupação em relação à inflação no país, o marketing eleitoral da presidente da República e a autonomia do Banco Central.

Leia a transcrição da entrevista abaixo:

 

Sobre críticas do ex-presidente Lula ao governo do ex-presidente Fernando Henrique.

O ex-presidente Lula tem que parar de brigar com a história. Se não houvesse o governo do presidente Fernando Henrique, com a estabilidade econômica, com a modernização da economia, não teria sequer havido o governo do presidente Lula.

O presidente Lula teve duas grandes virtudes, duas importantes virtudes em seu governo: quando deu sequência e ampliou os programas sociais de transferência de renda do governo do presidente Fernando Henrique. Não vamos esquecer que o presidente Fernando Henrique deixou 6,9 milhões famílias cadastradas e recebendo algum benefício: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação ou Vale Gás. O segundo momento positivo do presidente Lula, contrariando todo o discurso da sua campanha, foi manter a política macroeconômica do governo anterior, aquilo que chamamos de tripé macroeconômico. Foram os dois grandes acertos do governo do presidente Lula.

Portanto, é uma bobagem ele esquecer o que veio antes dele. Acho que é uma demonstração de fragilidade e de grande incoerência querer criar adversários virtuais. Escutei o ex-presidente falando que os adversários consideram o Bolsa Família uma esmola. Não sei quem disse isso, não conheço nenhum adversário que disse isso. Mas me lembro que o presidente disse isso na sua campanha no 2º turno em 2002, quando se referia aos programas que foram os embriões do Bolsa Família como esmolas.

E estendo até à própria presidente, que precisa encontrar um discurso um pouco mais coerente. Ela, quando alertávamos o país para o recrudescimento da inflação, a inflação de alimentos na casa de dois dígitos, se referia a nós, inclusive em cadeia de rádio e televisão, como os pessimistas de plantão. Disse que não existia nenhum problema inflacionário.

Essa semana ela admite, em seu próprio discurso, diz que a inflação que gerou tanta preocupação e afligiu tanto aos brasileiros no início do ano, mas que agora está mais sob controle. Quero dizer que não, não está não. A inflação continua afligindo os brasileiros. Não dá para a mídia do governo se impor à realidade do país. Temos uma situação no país extremamente preocupante.

Nosso crescimento é pífio, vergonhoso em relação aos nossos vizinhos, a inflação no teto da meta é extremamente perigosa sobretudo para países em desenvolvimento, como o Brasil. O crescimento da nossa dívida pública é extremamente preocupante, o saldo da nossa balança comercial provavelmente vai inexistir esse ano, vai ser zero, e a perda da credibilidade do Brasil é o fato concreto que existe hoje.

 

Por que o presidente Lula está tão raivoso?

Essas últimas aparições e falas do presidente não é de quem está sereno. Não é de quem está confiante. Repito: não há como brigar com a realidade. O que a ministra Marina faz é registrar o que ocorreu efetivamente na história do Brasil. A estabilidade foi o pressuposto, é a pré-condição absolutamente fundamental para que o Brasil avançasse ao longo desses anos, mas a capacidade transformadora do governo do PT, se é que um dia existiu, exauriu-se.

Vejo o presidente da República e a própria presidente, que não tem uma agenda de presidente, tem uma agenda de candidata que os brasileiros pagam a conta porque é feita com dinheiro público. Um ato de campanha eleitoral, esta semana, na comemoração dos 10 anos do Bolsa Família. Nada havia ali de governo, mas às custas do governo. O governo do PT e a própria presidente da República, infelizmente, continuam tendo uma enorme dificuldade em separar o que público do que é privado e o que é público e partidário do que é privado. O governo tem essa dificuldade permanente.

 

Lula está assumindo posto de candidato no lugar da Dilma?

Mesmo sem querer, vai criando uma sombra sobre ela. O que vejo é o PT hoje muito ansioso, aflito. Duvidando das condições da presidente da República que eu acho que não são boas. Alguém para disputar a reeleição deveria estar numa condição muito melhor da que ela está. Hoje, mais de 60% dos eleitores brasileiros dizem não querer votar em uma candidatura do PT. Isso gera inseguranças internas. Agora, isso é uma questão que eles vão ter de resolver internamente. Se alguém tem hoje efetivamente um conflito interno, é o PT.

 

O ex-presidente Lula e a presidente Dilma mandaram os presidenciáveis estudar. E eles precisam estudar?

Todos nós devemos estudar. Todos nós devemos permanentemente estar nos preparando para os desafios da vida. O presidente Lula sabe disso. Acho que o governo foi um bom aprendizado para ele. O que tenho dito, e vou dizer hoje de forma muito clara, é que o aprendizado do PT no governo tem custado muito caro ao Brasil.

Por exemplo na relação com o setor privado. O PT demonizou essa relação, ao longo de anos fez disso quase que um instrumento de política eleitoral e, ao mesmo tempo, agora de forma, a meu ver, envergonhada, sucumbe, se curva à necessidade da parceria com o setor privado.

Na gestão do Estado brasileiro a ineficiência é a principal marca, acho que é essa que fica. Se nós formos buscar lá adiante, fora do ambiente eleitoral, marcas para o governo da presidente Dilma, eu diria que ele teria duas marcas muito claras: a ineficiência por um lado e os desvios éticos por outro.

 

Como o sr. está vendo a discussão do projeto do BC?

É uma discussão que vai ser aprofundada, não conversei com o (Francisco) Dornelles ainda, vamos conversar. Marcamos uma conversa para o início da semana que vem. Tenho conversado com economistas ligados a nós. Sempre disse que autonomia do Banco Central é necessária, mas talvez seja dispensável essa autonomia em lei. Acho, por exemplo, que o mandato de 6 anos é um mandato longo, excessivamente longo para um presidente do Banco Central. Até porque seria maior do que do próprio presidente da República.

É uma discussão que se coloca. Nós sempre defendemos a autonomia funcional do Banco Central. Isso é importante para a condução da política monetária. Transformar isso em lei, amarrando tempo de mandato, é uma discussão que precisamos aprofundar.

 

Hoje o sr. acha que existe essa autonomia funcional?

Em parte ela existe. Em determinados momentos de maior aflição do governo, percebemos que ali há alguma ingerência.

 

O Lula quer dar credibilidade para presidente Dilma?

Não sei o que o Lula está querendo. O que vejo é um ex-presidente aflito. E digo isso como alguém que tem e sempre teve uma boa relação com ex-presidente Lula. É alguém que não está seguro das condições e das possibilidades da sua candidata.

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