Senador Aécio Neves une oposições e pede choque de realidade

No primeiro discurso político no Senado, ex-governador de Minas diz que biombo eleitoral escondeu inércia do governo do PT durante nove anos

O senador Aécio Neves fez, nesta quarta-feira (06/04), na tribuna do Senado Federal, seu primeiro pronunciamento em defesa da organização das oposições no País e se dirigiu ao conjunto dos brasileiros ao convocar a Casa para trabalhar em favor das medidas que o país aguarda há nove anos. Frente ao plenário e às galerias lotados por senadores, deputados, prefeitos e lideranças municipais, o ex-governador de Minas disse que o Brasil real é diferente do apresentado há nove anos pela propaganda oficial do governo do PT e destacou que o país precisa de um “Choque de realidade”.

“O Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política – apoiada por farta e difusa propaganda oficial – não se confirma na realidade. E nós vivemos no Brasil real. Por isso, cessadas as paixões da disputa eleitoral, o Brasil precisa, neste momento, de um choque de realidade. Um choque de realidade que nos permita compreender corretamente a situação do País hoje, e, essencial, que nos permita também compreendê-la dentro do mundo que nos cerca”, disse o senador.

Ao abrir seu pronunciamento, o senador fez um resgate da importância do processo de redemocratização que culminou com a eleição do presidente Tancredo Neves, em 1985. Homenageou os grandes brasileiros que atuaram ao longo da história do Brasil e destacou a importância dos governos dos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso para a conquista da estabilização da economia brasileira.

“Ao contrário do que alguns nos querem fazer crer, o País não nasceu ontem”, afirmou o senador.

Aécio Neves lembrou a importância do Plano Real para o controle das altas taxas de inflação que o Brasil vivia e destacou que a política econômica iniciada nos governos do PSDB permanecem como pilares fundamentais da economia do país.

“A manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores é, a meu ver, o primeiro e o mais importante mérito da administração petista. E é necessário reconhecer que o adensamento e ampliação das políticas sociais, foram fundamentais para que o Brasil avançasse mais. Acredito que, mais adiante, por mais que isso desagrade a alguns, a independência dos historiadores considerará os governos Itamar, Fernando Henrique e Lula um só período da história do Brasil, de estabilidade com crescimento, sem rupturas”, destacou.

Deputado federal por 16 anos e governador de Minas Gerais por dois mandatos, Aécio Neves lembrou as posições do PT na história recente do país, quando o partido votou contra, ou se ausentou, das mais importantes medidas estruturais do país. Desde a Constituinte de 1988, o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a privatização dos serviços de telefonia, o Proer programa de controle do sistema bancário e até mesmo contra os programas sociais implantados por governos do PSDB e que deram origem ao modelo do Bolsa Família.

“Para enfrentar a grave desorganização da vida econômica do país e a hiperinflação que penalizava de forma especial os mais pobres, o governo Itamar criou o Plano Real. Neste momento, o Brasil precisou de nós e nós estávamos lá. Os nossos adversários não. Estruturamos os primeiros programas federais de transferência de renda da nossa história que, depois, serviram de base para, ampliados e concentrados, se transformarem no emblemático Bolsa Família. Quando os fundamos nossos adversários também não estavam lá. E, ironicamente, nos criticaram por estarmos criando políticas assistencialistas de perpetuação da dependência e não de superação da pobreza. As mudanças estruturais do governo Fernando Henrique, entre elas as privatizações, definiram a nova face contemporânea do País. A democratização do acesso à telefonia celular talvez seja o melhor exemplo do acerto das medidas corajosamente tomadas”, afirmou Aécio Neves.

O senador fez dura crítica à tentativa do governo do PT de convencer a população de que os interesses do partido se confundem com o dos brasileiros. Aécio lembrou que sempre que precisou escolher, o PT optou por defender os interesses do partido.

“Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT. Por isso, não é estranho a nós que setores do partido tentem, agora, convencer a todos de que os seus interesses são, na verdade, os interesses da nação. Nem sempre são. Não é interesse do País que o Poder Federal patrocine o grave aparelhamento e o inchaço do Estado brasileiro, como nunca antes se viu na nossa história. Da mesma forma, não posso crer que seja interesse do País que o governismo avance sobre empresas privadas, com o objetivo de atrelá-las às suas conveniências. Como se faz, agora, sem nenhum constrangimento, com a maior empresa privada do Brasil, a Vale, criando perigoso precedente”, disse o senador mineiro.

Durante os 27 minutos de pronunciamento, o senador Aécio Neves apresentou os indicadores que atestam as dificuldades vividas pelo Brasil e que permanecem sem solução durante os últimos nove anos. Aécio Neves citou o grave risco da desindustrialização de importantes setores da economia e os prejuízos para a sociedade gerados pelo descontrole dos gastos por parte do governo federal, entre esses, o crescimento da inflação. Ele cobrou do governo federal o cumprimento das promessas feitas nas últimas campanhas eleitorais.

“Escondido sob o biombo eleitoral montado, o desarranjo fiscal, tantas vezes por nós denunciado, exige agora um ajuste de grande monta que penalizará investimentos anunciados com pompa e circunstância. E não é bom para um partido inaugurar uma nova fase de governo sob a égide do não cumprimento de compromissos assumidos com a população. Vemos, infelizmente, renascer, da farra da gastança descontrolada dos últimos anos, e em especial do ano eleitoral, a crônica e grave doença da inflação. É consenso que o país convive com o grave risco de desindustrialização de importantes setores da nossa economia. A participação de produtos manufaturados na nossa pauta exportadora, que era de 61%, em 2000, recuou para 40%, em 2010”, informou.

O ex-governador criticou a alta carga tributária que atinge as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos e mostrou o atraso das condições de infraestrutura do Brasil quando comparadas às dos países com mercados concorrentes.

“Em 2010, a nossa carga tributária atingiu 35% do PIB. Impressiona também saber que, apesar de todos os avanços que, reconheço , existiram nos últimos anos, a carga tributária das famílias com renda mensal de até dois salários mínimos passou, segundo o IPEA, de 48,8%, em 2004, para 53,9% da renda em 2008. E não há razão para otimismo quando comparamos a nossa situação com a de outros países. Estudo feito a partir do relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial mostra que, comparado a outros 20 países com os quais concorre, o Brasil ficou apenas na 17ª colocação no quesito qualidade geral da infraestrutura. Empatamos com a Colômbia. No item qualidade da infraestrutura portuária o Brasil teve o pior desempenho. Fomos os lanternas do grupo. A qualidade das estradas brasileiras, por onde trafega mais da metade das cargas no País, supera apenas a da Rússia. Ficamos na penúltima colocação”, citou Aécio Neves.

O senador se colocou pronto a contribuir, na oposição, para que o Brasil avance na direção do pleno desenvolvimento, lembrando que há ainda muito a ser feito e esse é um trabalho que não deve excluir ninguém. “É nosso dever contribuir para que a travessia iniciada – e empreendida por muitas mãos – avance na direção do pleno desenvolvimento. Estamos longe dele, apenas no inicio da jornada. Há grandes desafios a serem enfrentados e vencidos, que não pertencem apenas ao governo. Ou às oposições. Mas ao País inteiro. Convoca-nos, neste momento, a responsabilidade para fazer o que precisa ser feito. Ou o faremos ou continuaremos colecionando sonhos irrealizados. Não temos esse direito. Precisamos estar, todos, à altura dos sonhos de cada um dos brasileiros. Nós, da oposição, estaremos”, concluiu o senador em seu discurso.

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