Homenagem ao ex-governador Eduardo Campos

O senador Aécio Neves participou, nesta quarta-feira (10/06), em Brasília, do Seminário Internacional de Direito Administrativo e Administração Pública, realizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Em seu discurso, Aécio homenageou o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Confira os principais trechos do discurso do senador:

Começo por dizer que Eduardo (Campos) tinha características muito próprias. Não estou na política apenas desde ontem ou anteontem, tenho 30 anos de mandato e vi pouquíssimos líderes políticos liderarem com a naturalidade de Eduardo. A lealdade de seus companheiros, e aqui estão inúmeros deles, não se dava pela imposição ou pelo uma circunstancial possível expectativa de poder que Eduardo pudesse gerar. Era algo absolutamente natural. Era sua forma de expressar, era a sinceridade das suas palavras, era a capacidade dele de enxergar sempre adiante.

Isso talvez distinga os políticos, muitos de nós políticos comuns, dos políticos chamados de estadistas. A capacidade de enxergar mais longe que os outros. Tive o privilégio de compartilhar com Eduardo um momento para as nossas vidas extremamente profícuo, quando governamos nossos estados. Ele em Pernambuco, eu em Minas Gerais, começamos a compreender que gestão pública não tem que ser ineficiente apenas por ser pública. Introduzimos em nossos governos, e outros governantes também fizeram isso, práticas absolutamente inovadoras de gestão. Não foram poucas as vezes em que nos sentamos em Minas, em Pernambuco, aqui em Brasília, buscando introduzir na gestão pública aquilo que o setor privado já fazia há muito: avaliação de desempenho, remuneração por metas. Certamente, a marca que Eduardo deixa em Pernambuco do ponto de vista da gestão pública mostra uma outra face de um político com muitas virtudes. Mas não quero falar aqui do político, nesses poucos minutos que ainda vou tomar da paciência de vocês.

Quando acontece uma tragédia como essa de alguma forma marcante, seja do ponto de vista pessoal ou mesmo pela sua dimensão política, o caso de Eduardo, muitos de nós nos lembramos de outros episódios marcantes que têm acontecido, onde estávamos naquele exato instante, onde a tragédia aconteceu… Me lembro que, em campanha como Eduardo, pousava naquele instante em um avião exatamente igual ao dele, em Natal, na capital do Rio Grande do Norte, e começaram a vir as notícias, de início desencontradas e, depois, as confirmações para estarrecimento de todos nós. A única coisa que vinha à minha mente era a efemeridade, a fragilidade da vida. Me vinha à cabeça a sua família, porque Eduardo tinha uma capacidade, e é isso talvez também que tenha feito dele um político tão vitorioso, de ser feliz, de ter alegria no que fazia. Ele tinha prazer em estar com os companheiros, tinha prazer em ser parlamentar, quando foi ministro da mesma forma. E foi de forma muito especial enquanto governador. Então, esse prazer pela vida, esse afeto que ele demonstrava ao lado da sua família é algo que, para mim, e tenho certeza que para tantos que com ele compartilharam momentos da sua vida, é a faceta mais marcante da trajetória desse jovem idealista.

Portanto, não tenho dúvidas em reafirmar aqui o que já afirmava lá atrás, no início daquela caminhada eleitoral. Eduardo e eu sabíamos que estaríamos juntos em um projeto de país. Ambos já denunciávamos a fraude daquilo que estabeleceu-se chamar de uma nova matriz econômica no Brasil, e hoje está aí o desastre sendo inevitavelmente e infelizmente compartilhado por todos os brasileiros, de uma visão equivocada que, ambos, denunciávamos lá atrás.

Mas sabíamos, não importasse qual fosse o destino, o resultado daquela eleição, que estaríamos juntos fosse agora ou no futuro de um projeto de país. E devo agradecer imensamente, aproveitando a presença das principais lideranças do PSB pela solidariedade e pelo apoio que tive para buscar, claro que com as minhas limitações, dar sequência ao sonho de Eduardo, ao sonho de cada um de vocês. Me lembro, e encerro essas minhas palavras, porque disputamos a eleição e não são públicas todas as conversas que tivemos e nós brincávamos, inclusive algumas das vezes na casa de Ana Arraes, mãe de Eduardo, que me oferecia sempre um almoço muito suculento de comida nordestina, e ali era nossa trincheira para conversas que tínhamos aqui em Brasília. Então brincávamos. Vamos começar uma campanha. Nós dois somos candidatos, mas sabemos que, em determinado momento, a gente não controla as coisas, mas vamos pensar sempre adiante.

O que nos movia era um projeto de país, um projeto vigoroso de país. Compreendíamos que era importante que houvesse duas forças políticas na oposição para combater um governo bem estruturado, que utilizava a máquina pública sem limites, como assistíamos na eleição. Não imaginávamos que tanto. Mas sempre sabíamos que em algum momento íamos nos encontrar. A campanha começou, é claro que os contatos ficaram um pouco mais raros, mas a dor da morte de Eduardo é algo avassalador para todos aqueles que compreendem a importância da vida pública. Não há transformação de uma sociedade democrática sem homens públicos honrados e cernes como era Eduardo.

Quero encerrar essas minhas palavras pedindo que leve à Renata (Campos) e aos meninos, a minha palavra de carinho, de amizade e de extrema saudade pelo Eduardo. Lembrando aqui, e com absoluta sinceridade espero que me compreendam, o depoimento que deu Ulysses Guimarães pouco tempo depois da morte de Tancredo. Do plenário da tribuna da Câmara dos Deputados, talvez essa frase de todas tenha sido a que mais me marcou. Ulysses referiu-se a Tancredo, parou por um instante e disse: Eu temia e eu amava Tancredo. Peço licença ao grande timoneiro para dizer: Eu temia e amava Eduardo.

Obrigado.

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