Pronunciamento em aparte ao pronunciamento do senador Romero Jucá

O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, fez aparte ao pronunciamento do senador Romero Jucá, novo presidente do PMDB, no plenário do Senado Federal, nesta terça-feira (05/04).

Confira o pronunciamento do senador:

Vossa Excelência lembrava, no início do seu pronunciamento, algumas decisões que o PMDB tomou, lá atrás, de absoluta e decisiva relevância para consolidação do nosso processo democrático, para os avanços contidos na constituição de 1988, dentre tantos outros. Mas Vossa Excelência voltou ao ano de 2014, e aqui fazia referências a uma decisão tomada em convenção pelo PMDB, que decidiu pelo apoio e pela composição da chapa com o PT. Obviamente, como candidato adversário do PT naquele instante, não comemorei essa decisão, até pelos laços históricos e antigos que sempre cultivei e cultivo com o PMDB. Mas não me lembro, naquele instante, de críticas tão ácidas como as que são feitas hoje a dirigentes do PMDB por aqueles que foram beneficiários daquela decisão. Uma decisão certamente legítima, uma decisão democrática que teve o nosso mais absoluto respeito. Mas não há nada, senador Jucá, não há nada mais grave para um partido político, principalmente um partido das dimensões e da expressão do PMDB, do que ficar alheio, do que virar de costas para o sentimento daqueles que o transformaram nesse grande partido.

Eu, como Vossa Excelência, aqui afirmo também não sei a posição que o PMDB irá tomar nesses fatos ou nesses episódios que nos aguardam. Espero que seja pela virada de página no país. Espero, e espero como brasileiro, que seja um gesto de absoluta coragem para dizer que o Brasil não merece viver mais dois anos e oito meses dessa absoluta paralisia que tomou conta de todos os setores da vida nacional. Não sei a posição formal oficial que o PMDB tomará em relação ao impeachment, mas sei qual a posição do PSDB, e aqui aproveito o pronunciamento de Vossa Excelência para externá-la mais uma vez.

O PSDB não é beneficiário direto do processo de impeachment da senhora presidente da República, mas o PSDB tem responsabilidade para com esse país. E, como jamais faltou ao longo da sua história, não faltará mais uma vez ao Brasil. Vi aqui as homenagens que faz o ilustre senador do PT ao meu conterrâneo, o grande e ilustre presidente Itamar Franco, que teve aqui a sua conduta, mais uma vez, reverenciada. Recolho, como mineiro, essas homenagens e as agradeço. Mas elas vêm tarde. Homenagem melhor teriam feito os petistas à honradez, à dignidade do presidente de uma transição, que era o presidente Itamar Franco, se não lhe tivessem negado apoio, se a ele não tivessem virado as costas porque mais uma vez privilegiavam o seu próprio interesse e o seu projeto de poder. Não faremos isso.

Internamente, o PSDB discute – e discute em profundidade, seja o resultado favorável ao impeachment ou não – qual papel devemos desempenhar. Ele será sempre o mesmo: na defesa de valores e de um projeto novo para o Brasil. Ontem, presidente Romero Jucá, eu ouvi, e não posso deixar, com alguma surpresa, a defesa que fez o advogado-geral da União, indicado pela presidente da República para representá-la na comissão do impeachment. Numa longa explanação, com a competência de sempre, o ministro José Eduardo, fez duas observações – e a elas ele deu enorme ênfase – me chamaram atenção. Ele falava que não há dolo. “Como pode haver dolo se a presidente da República fez aquilo que assessores, que auxiliares recomendavam?”. O que é o dolo senão simplesmente o cometimento ou o patrocínio de uma ação ilícita, premeditada, conhecendo, de forma clara, quais as suas consequências?

Foi isso que fez a presidente da República. Ou seria a presidente da República incapaz de perceber as consequências daquele seu ato? Não, por maiores que sejam minhas críticas à sua condução, à sua postura, ao seu desconhecimento da realidade nacional, não posso considerar uma presidente eleita e reeleita uma incapaz. Em última instância, foi isso que quis dizer o advogado-geral da União ao eximi-la de qualquer responsabilidade para com a publicação de decretos orçamentários sem a prévia autorização do Congresso Nacional.

Por outro lado, diz o advogado-geral que o crime de responsabilidade se justificaria apenas quando houvesse um atentado à Constituição, à estabilidade do país, à vida sequer dos brasileiros. Passa o advogado-geral querer, agora, graduar quais os crimes de responsabilidade que deverão ser passíveis do afastamento da presidente da República. Faltou dizer que a aquisição de um Fiat Elba talvez seja esse fator de desequilíbrio, de desestabilização da vida nacional, que levou o Partido dos Trabalhadores, assim como nós próprios, a votar pelo afastamento do ex-presidente da República. A questão central, e termino com ela, é que teremos dias difíceis pela frente.

Qualquer que seja o resultado dessa votação na Câmara dos Deputados e da sua aceitação pelo Senado Federal, devemos manter a serenidade, os nossos compromissos claros com a superação dessa crise. E de todas, absolutamente todas as alternativas que nos são colocadas hoje, apenas uma é insustentável, e essa é a permanência da presidente da República imobilizando o país. Estive há pouquíssimos dias participando de um seminário em Portugal na companhia do ilustre senador Jorge Vianna, e essa narrativa, a meu ver irresponsável, de lideranças do governo, que começa aqui e ultrapassam as nossas fronteiras, de que o Brasil está prestes a sofrer um golpe, talvez seja o maior e último dos danos que esse governo traz à imagem já combalida e desmoralizada do nosso país. Não existe golpe em curso nesse país. Existe aqui o absoluto respeito à Constituição. O rito que aqui está sendo respeitado é proposto e aprovado pelo Supremo Tribunal Federal. A comissão que lá se reúne foi constituída com votos de todos os partidos, em particular o Partido dos Trabalhadores, com assento na Câmara dos Deputados. É preciso que tenhamos serenidade, responsabilidade para saber que, além de projetos individuais e mesmo partidários, existe um Brasil a ser reconstruído.

Encerro dizendo: O PSDB não é o beneficiário direto da interrupção do mandato da presidente da República. Mas não faltará ao Brasil se, eventualmente, a presidente vier a ser substituída. Obviamente vamos tratar de projetos, vamos tratar de um programa emergencial para o Brasil, mas pode ter certeza que com o PSDB e com as inúmeras lideranças aqui presentes da mais alta respeitabilidade, Vossas Excelências encontrarão sempre, como dizia o velho Milton Campos das minhas Minas Gerais, encontrarão sempre um palmo de chão limpo onde as ideias possam prosperar. E onde um projeto de um novo Brasil possa surgir. Se a presidente perder o seu mandato, perderá pelas suas próprias responsabilidades ou irresponsabilidades, mas sempre respeitada aquilo que previa a Constituição, que aprovamos e assinamos, e que lamentavelmente o PT não jurou.

Aécio Neves cumprimenta Cristovam Buarque após anuncio de mudança de partido

O senador do Distrito Federal Cristovam Buarque anunciou nesta quarta-feira, em discurso no plenário do Senado Federal, sua saída do PDT, base governista, e ingresso nos quadros do PPS, oposição. Em aparte, o senador do PSDB, de Minas Gerais, Aécio Neves, saudou Cristovam e destacou a história politica do ex-ministro e ex-governador e afirmou que a oposição ganha um importante nome um para trilhar um novo caminho para o Brasil. O presidente nacional do PSDB ressaltou a importância de políticos com a biografia de Cristovam para resgatar a dignidade da atividade pública, tão degradada hoje devido aos diversos esquemas de corrupção que são investigados e envolvem o governo do PT.

Sonora do senador Aécio Neves
“V. Exª traz agora, de corpo inteiro, às oposições um reforço, e talvez ainda V. Exª não tenha a dimensão exata do que ele significa. Neste momento, Senador Cristovam, da criminalização da política, da degradação da atividade pública, do distanciamento, principalmente, dos mais jovens. Então, a minha percepção é de que, com V. Exª, com a liberdade que passará ter a partir de hoje, em um dos mais respeitados partidos brasileiros, o PPS, as oposições ganham, e ganham muito, porque eu nunca vi uma crise de consequências tão graves para a vida cotidiana dos brasileiros como essa na qual o Governo do PT nos mergulhou; crise econômica, crise moral, mas, principalmente, uma crise social – esta, sem precedentes”.

Acompanharam o anúncio de Cristovam o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire, além de parlamentares e dirigentes do partido. Os senadores tucanos Antonio Anastasia, de Minas Gerais, José Serra, de São Paulo e Cássio Cunha Lima, da Paraíba, também acompanharam o discurso. O ato oficial de filiação, quando outras lideranças de Brasília também devem se filiar ao PPS, acontece na próxima segunda-feira, às 19 horas, na sede do PPS-DF. De Brasília, Shirley Loiola.

Boletim

Pronunciamento no Senado

“O PPS e as oposições ganham, e ganham muito. V.Exª nesse agrupamento de homens de bem, certamente terá um papel absolutamente destacado para nos orientar e ajudar a construir, não uma vitória, mas um novo caminho. Um caminho que resgate a vida pública”, disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, em saudação ao senador Cristovam Buarque, que oficializou a mudança para o PPS, em pronunciamento no Senado, nesta quarta-feira (17/02).

George Gianni

George Gianni

Pronunciamento sobre a mudança do senador Cristovam Buarque para o PPS

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, saudou nesta quarta-feira (17/02), em pronunciamento, no Senado, a mudança do senador Cristovam Buarque para o PPS.

Aécio destacou a história política do senador, ex-governador e ex-ministro da Educação, e comparou a decisão de Cristovam de sair do PDT para filiar-se ao PPS ao voo de uma ave que, em liberdade, busca alcançar novos objetivos.

“O que V. Exª neste instante busca é o exercício pleno de seu mandato, que é, na verdade, a busca da consolidação das suas ideias”, disse Aécio Neves, acrescentando que as oposições ganham com o ingresso de Cristovam Buarque.

“O PPS e as oposições ganham, e ganham muito. V.Exª nesse agrupamento de homens de bem, certamente terá um papel absolutamente destacado para nos orientar e ajudar a construir, não uma vitória, mas um novo caminho. Um caminho que resgate a vida pública”, afirmou o presidente do PSDB.


Leia a integra do pronunciamento do senador Aécio Neves em saudação ao senador Cristovam Buarque:

Senador Cristovam, este é um momento marcante para o Senado brasileiro. Eu ouvia o início do pronunciamento de V. Exª, e depois, aqui, os vários e qualificados apartes, das mais variadas forças políticas que têm assento nesta Casa, e a palavra que mais ouvi, que mais me chamou a atenção neste momento, e até porque reproduzida já nos veículos de imprensa, que já dão notícia do pronunciamento de V. Exª, é a palavra saída. Senador Cristovam sai do partido no qual estava já há vários anos.

Essa expressão saída nos leva sempre a um sentimento, nos induz a um sentimento de afastamento, de distanciamento, mas, curiosamente, senador Cristovam, aqui, a visão privilegiada que tenho do discurso de V. Exª no plenário do Senado Federal não é essa. A visão que me passa o conjunto das análises aqui feitas, das interpelações feitas a V. Exª é a de uma aproximação, é quase de um aconchego. Porque, com essa opção que faz, se aproxima ou busca readquirir aquilo que absolutamente é essencial para homens públicos da estirpe, da dimensão de V. Exª, que é encontrar as condições para lutar pelos seus sonhos, na busca da sua utopia.

Aqui já foi dito, não preciso eu me aprofundar no respeito que esta Casa tem pela trajetória de V. Exª, pelas contribuições inúmeras que vem dando à boa política no Distrito Federal e também ao Brasil. Mas o que V. Exª neste instante busca é o exercício pleno de seu mandato, que é, na verdade, a busca da consolidação das suas ideias.

Permita-me aqui certa licença poética, mas se tivéssemos que interpretar o homem público, e falo na dimensão maior que essa expressão possa trazer, e V. Exª é um dos mais bem acabados representantes do homem público, na dimensão que interessa às sociedades evoluídas, se os homens públicos fossem animais, deveriam ser uma ave, para que tivessem asas para, com absoluta liberdade, buscar alcançar os objetivos a que se propõem, quando abdicam de várias outras atividades ou possibilidades profissionais e mesmo pessoais para se dedicar à causa comum.

Felizmente, senador Cristovam, a política não é uma ciência exata. Portanto, a questão quantitativa, a não ser nos períodos da apuração eleitoral, não é a mais relevante.

V. Exª traz agora, de corpo inteiro, às oposições um reforço, e talvez ainda V. Exª não tenha a dimensão exata do que ele significa. Neste momento, Senador Cristovam, da criminalização da política, da degradação da atividade pública, do distanciamento, principalmente, dos mais jovens, e V. Exª se referia aqui, tenho certeza, com um sentimento ainda de aperto no coração, à saudade que terá da juventude – e sempre vigorosa juventude – pedetista. Eu próprio tive oportunidade de com ela conviver e faço aqui um parêntese até para dizer, na presença do meu querido amigo Roberto Freire e do líder Rubens Bueno, ao lado do senador Anastasia, que o início da minha caminhada em Minas teve exatamente o apoio do partido que hoje V. Exª deixa e do partido que, a partir de hoje, V. Exª passa a integrar.

A minha percepção é de que, com V. Exª, com a liberdade que passará a ter a partir de hoje, em um dos mais respeitados partidos brasileiros, o PPS, as oposições ganham, e ganham muito. Porque, como disse o senador Serra, poucas vezes – eu, em nenhuma vez anterior a essa, vi uma crise de consequências tão graves para a vida cotidiana dos brasileiros como essa na qual o governo do PT nos mergulhou: crise econômica, crise moral, mas, principalmente, uma crise social – esta, sem precedentes.

Eu não concebo, não consigo enxergar um projeto que coloque fim a esse modelo que aí está, fracassado aos olhos da grande maioria da população brasileira, para iniciarmos um outro ciclo no Brasil. Sei que o PPS dele faça parte, ao lado do PSDB e de outras forças políticas que, tenho certeza, a cada dia se somarão a nós. E V. Exª, nesse agrupamento de homens de bem, certamente terá um papel absolutamente destacado para nos orientar e ajudar a construir, não uma vitória, mas um novo caminho. Um caminho que resgate a vida pública, um caminho onde os homens de bem, como dizia o velho Milton Campos, possam ter um palmo de chão limpo para dialogar, para conversar em busca da construção de um país diferente.

Encerro dizendo, para que fique aqui registrado, que neste momento, como eu dizia, de degradação da vida pública, de desconfiança cada vez maior da sociedade em relação aos seus representantes, V. Exª faz o caminho inverso àquele que se tornou a norma e o procedimento mais comum nesses tempos mais recentes. Eram parlamentares eleitos. E aqui não faço nenhum juízo de valor em relação às motivações de cada um, apenas uma análise realista do que vem acontecendo no Brasil. O que nós assistimos, em grande escala, foi a migração de parlamentares de oposição, ou mesmo independentes, para o seio do governo; não por acreditarem nas propostas desse governo – acredito que poucos acreditavam –, mas exatamente pelo conforto que o governo ensejava a esses que buscavam ali as garantias ou as condições, legítimas, até, para continuarem a sua vida pública.

Isso precisa ser ressaltado: V. Exª faz o caminho inverso. V. Exª sai de um partido da base do governista para ingressar em um dos mais bem estruturados e sólidos partidos da oposição brasileira. Tenho relações no partido de V. Exª, no PDT – partido até hoje de V. Exª – que quero preservar para o futuro. Aqui mesmo está o senador Lasier, ao meu lado; o senador Zezé, dentre outros. São senadores que sempre, de alguma forma, encontraram conosco convergência na busca da construção de uma maneira diferente de fazer política. Fica aqui o meu respeito a esses que continuam no PDT, mas tenho absoluta certeza de que o mandato extremamente vigoroso e profícuo de V. Exª terá ainda uma dimensão ainda maior porque dimensão muito maior, porque V. Exª subirá, a partir de hoje, a essa tribuna como um pássaro com asas e com liberdade para construir a utopia de V. Exª e que é de milhões de brasileiros. Muito obrigado.

Aécio Neves saúda chegada de Cristovam Buarque à oposição

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, saudou nesta quarta-feira (17/02), em pronunciamento, no Senado, a mudança do senador Cristovam Buarque para o PPS.

Aécio destacou a história política do senador, ex-governador e ex-ministro da Educação, e comparou a decisão de Cristovam de sair do PDT para filiar-se ao PPS ao voo de uma ave que, em liberdade, busca alcançar novos objetivos.

“O que V. Exª neste instante busca é o exercício pleno de seu mandato, que é, na verdade, a busca da consolidação das suas ideias”, disse Aécio Neves, acrescentando que as oposições ganham com o ingresso de Cristovam Buarque.

“O PPS e as oposições ganham, e ganham muito. V.Exª nesse agrupamento de homens de bem, certamente terá um papel absolutamente destacado para nos orientar e ajudar a construir, não uma vitória, mas um novo caminho. Um caminho que resgate a vida pública”, afirmou o presidente do PSDB.


Leia a integra do pronunciamento do senador Aécio Neves em saudação ao senador Cristovam Buarque:

Senador Cristovam, este é um momento marcante para o Senado brasileiro. Eu ouvia o início do pronunciamento de V. Exª, e depois, aqui, os vários e qualificados apartes, das mais variadas forças políticas que têm assento nesta Casa, e a palavra que mais ouvi, que mais me chamou a atenção neste momento, e até porque reproduzida já nos veículos de imprensa, que já dão notícia do pronunciamento de V. Exª, é a palavra saída. Senador Cristovam sai do partido no qual estava já há vários anos.

Essa expressão saída nos leva sempre a um sentimento, nos induz a um sentimento de afastamento, de distanciamento, mas, curiosamente, senador Cristovam, aqui, a visão privilegiada que tenho do discurso de V. Exª no plenário do Senado Federal não é essa. A visão que me passa o conjunto das análises aqui feitas, das interpelações feitas a V. Exª é a de uma aproximação, é quase de um aconchego. Porque, com essa opção que faz, se aproxima ou busca readquirir aquilo que absolutamente é essencial para homens públicos da estirpe, da dimensão de V. Exª, que é encontrar as condições para lutar pelos seus sonhos, na busca da sua utopia.

Aqui já foi dito, não preciso eu me aprofundar no respeito que esta Casa tem pela trajetória de V. Exª, pelas contribuições inúmeras que vem dando à boa política no Distrito Federal e também ao Brasil. Mas o que V. Exª neste instante busca é o exercício pleno de seu mandato, que é, na verdade, a busca da consolidação das suas ideias.

Permita-me aqui certa licença poética, mas se tivéssemos que interpretar o homem público, e falo na dimensão maior que essa expressão possa trazer, e V. Exª é um dos mais bem acabados representantes do homem público, na dimensão que interessa às sociedades evoluídas, se os homens públicos fossem animais, deveriam ser uma ave, para que tivessem asas para, com absoluta liberdade, buscar alcançar os objetivos a que se propõem, quando abdicam de várias outras atividades ou possibilidades profissionais e mesmo pessoais para se dedicar à causa comum.

Felizmente, senador Cristovam, a política não é uma ciência exata. Portanto, a questão quantitativa, a não ser nos períodos da apuração eleitoral, não é a mais relevante.

V. Exª traz agora, de corpo inteiro, às oposições um reforço, e talvez ainda V. Exª não tenha a dimensão exata do que ele significa. Neste momento, Senador Cristovam, da criminalização da política, da degradação da atividade pública, do distanciamento, principalmente, dos mais jovens, e V. Exª se referia aqui, tenho certeza, com um sentimento ainda de aperto no coração, à saudade que terá da juventude – e sempre vigorosa juventude – pedetista. Eu próprio tive oportunidade de com ela conviver e faço aqui um parêntese até para dizer, na presença do meu querido amigo Roberto Freire e do líder Rubens Bueno, ao lado do senador Anastasia, que o início da minha caminhada em Minas teve exatamente o apoio do partido que hoje V. Exª deixa e do partido que, a partir de hoje, V. Exª passa a integrar.

A minha percepção é de que, com V. Exª, com a liberdade que passará a ter a partir de hoje, em um dos mais respeitados partidos brasileiros, o PPS, as oposições ganham, e ganham muito. Porque, como disse o senador Serra, poucas vezes – eu, em nenhuma vez anterior a essa, vi uma crise de consequências tão graves para a vida cotidiana dos brasileiros como essa na qual o governo do PT nos mergulhou: crise econômica, crise moral, mas, principalmente, uma crise social – esta, sem precedentes.

Eu não concebo, não consigo enxergar um projeto que coloque fim a esse modelo que aí está, fracassado aos olhos da grande maioria da população brasileira, para iniciarmos um outro ciclo no Brasil. Sei que o PPS dele faça parte, ao lado do PSDB e de outras forças políticas que, tenho certeza, a cada dia se somarão a nós. E V. Exª, nesse agrupamento de homens de bem, certamente terá um papel absolutamente destacado para nos orientar e ajudar a construir, não uma vitória, mas um novo caminho. Um caminho que resgate a vida pública, um caminho onde os homens de bem, como dizia o velho Milton Campos, possam ter um palmo de chão limpo para dialogar, para conversar em busca da construção de um país diferente.

Encerro dizendo, para que fique aqui registrado, que neste momento, como eu dizia, de degradação da vida pública, de desconfiança cada vez maior da sociedade em relação aos seus representantes, V. Exª faz o caminho inverso àquele que se tornou a norma e o procedimento mais comum nesses tempos mais recentes. Eram parlamentares eleitos. E aqui não faço nenhum juízo de valor em relação às motivações de cada um, apenas uma análise realista do que vem acontecendo no Brasil. O que nós assistimos, em grande escala, foi a migração de parlamentares de oposição, ou mesmo independentes, para o seio do governo; não por acreditarem nas propostas desse governo – acredito que poucos acreditavam –, mas exatamente pelo conforto que o governo ensejava a esses que buscavam ali as garantias ou as condições, legítimas, até, para continuarem a sua vida pública.

Isso precisa ser ressaltado: V. Exª faz o caminho inverso. V. Exª sai de um partido da base do governista para ingressar em um dos mais bem estruturados e sólidos partidos da oposição brasileira. Tenho relações no partido de V. Exª, no PDT – partido até hoje de V. Exª – que quero preservar para o futuro. Aqui mesmo está o senador Lasier, ao meu lado; o senador Zezé, dentre outros. São senadores que sempre, de alguma forma, encontraram conosco convergência na busca da construção de uma maneira diferente de fazer política. Fica aqui o meu respeito a esses que continuam no PDT, mas tenho absoluta certeza de que o mandato extremamente vigoroso e profícuo de V. Exª terá ainda uma dimensão ainda maior porque dimensão muito maior, porque V. Exª subirá, a partir de hoje, a essa tribuna como um pássaro com asas e com liberdade para construir a utopia de V. Exª e que é de milhões de brasileiros. Muito obrigado.

Aécio Neves – Entrevista no Recife

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (27/11), em Recife (PE). Aécio falou sobre eleições municipais, ação das oposições, silêncio da presidente Dilma Rousseff e crise no governo.

Leia a transcrição da entrevista do senador:
No seminário o sr. citou o deputado Daniel Coelho. Já podemos confirmar o nome de Daniel como candidato nas eleições para prefeito?

Vou fazer aqui mais uma exortação que faço sempre: política é a arte de administrar o tempo. Tenho por Daniel uma extraordinária admiração, como tem demonstrado também a população do Recife. É um quadro extraordinário em condições desse e de qualquer outro desafio. No momento certo, o partido vai tomar a decisão e não será uma decisão tomada pela direção nacional do PSDB. O que posso dizer é que PSDB se sente extremamente honrado de ter nos seus quadros um nome tão qualificado quanto Daniel e outros que temos e em condições da disputa. Mas hoje não é o assunto da nossa agenda. Isso será amadurecido por ele próprio e pelos companheiros do partido e, no momento certo, essa decisão será tomada.


Sobre o encontro com o prefeito de Recife.

Converso com o prefeito sobre questões federativas sempre. E vindo aqui é algo absolutamente natural. Venho de um estado chamado Minas Gerais, onde as pessoas conversam. Um grande governador de Minas Gerais chamado Milton Campos dizia que na política sempre tem de haver um palmo de chão para que as pessoas possam conversar sobre o futuro, possam conversar sobre os problemas locais. Vou estar com o prefeito, com o governador, como estou no meu Estado mesmo com lideranças de partidos políticos que disputam comigo, que disputaram comigo. Aqueles que não têm a capacidade de dialogar, seja com aliados, seja com adversários, não deveriam estar na política.


O deputado Jarbas disse que pretende, junto com o sr., apresentar o cenário na Câmara sobre a situação do país. Tem uma agenda formada?

É importante ressaltar que estive hoje com o ex-governador Jarbas Vasconcelos que também é de um partido político que hoje participa do governo federal. Será que não é saudável para a política essas conversas? Acho que é absolutamente saudável e ficamos de falar esta semana.

O que há hoje é um sentimento de indignação crescente na sociedade brasileira e nós, homens públicos, temos de ser os interpretes desses sentimentos. E o que eu colho nesses últimos dias principalmente com esses últimos acontecimentos e eu o chamo de senador porque foi meu colega até pouco tempo, hoje deputado Jarbas Vasconcelos, expressa de forma muito clara essa indignação, seja com a situação da Câmara Federal, seja com a situação do país.

O nosso sentimento é que a presidente Dilma Rousseff perdeu as condições de governar o Brasil. No momento de grave crise como este. No momento em que o líder do seu governo e do seu partido é preso, quem aqui ouviu uma palavra da presidente da República? Nenhuma palavra. Como se ela não tivesse qualquer responsabilidade, por exemplo, com a nomeação desses ex-diretores da Petrobras que estão hoje presos, condenados. Como se não tivesse sido ela a retirar esse senhor Cerveró de uma diretoria da Petrobras, por boas razões não deve ter sido, mas o colocou em uma outra diretoria de uma subsidiária extremamente importante.


Será que não é natural, não é esperável que uma presidente da República que respeite aqueles que ela governa não vá para a televisão, ou convoque uma coletiva, ela que gostava tanto de cadeia de rádio e televisão, para dizer o que vem acontecendo? Qual é a sua posição em relação ao que está acontecendo?

Então, essa omissão permanente da presidente da República que já delegou e terceirizou a condução da economia, não tem mais agenda política para o país, nos apresenta um ajuste extremamente rudimentar sustentado pelo aumento de impostos por um lado, seremos contra, e supressão de direito por outro, sem qualquer aceno, sem qualquer perspectiva de retomada do crescimento da economia e da volta dos empregos.

Temos no Brasil hoje uma não presidente. A verdade é essa. Se prepara para mais uma viagem como se nada estivesse acontecendo no Brasil. Por isso, com Jarbas, com outras lideranças das oposições e de outros partidos que se disponham a conversar, esses próximos dias serão dias de intensas conversas e o sentimento crescente de todos nós, companheiros e deputados que aqui estão, é de que a presidente, a cada dia perde as condições objetivas de nos retirar da crise. Não sei qual será o caminho, mas o caminho precisará ser encontrado para que o Brasil volte a crescer e os brasileiros voltem a ter esperança.


Qual será a sua participação no interior de Pernambuco nas eleições próximas?

Vou estar à disposição dos meus companheiros aonde eles acharem que eu não atrapalho, que eu não tiro voto, onde acharem que eu possa ajudar minimamente. Quero dar uma atenção muito especial a Pernambuco. Há um solo fértil para que o partido cresça nessas eleições aqui em Pernambuco. Eu estou muito confiante de que vamos ter extraordinários resultados em todo estado.

Pernambuco, pela sua importância, pela repercussão do que acontece aqui e em todo o Nordeste, talvez seja a nova porta de entrada do PSDB para o Nordeste. E temos que ter a preocupação clara de falar para essa região, para os problemas que essa região vem vivendo e mostrar que esse modelo que está não se sustenta mais. E somos o caminho mais seguro para a recuperação econômica e social também no Nordeste brasileiro.


Sobre uma possível delação premiada de Delcídio Amaral.

É muito cedo para se imaginar isso. O que eu posso dizer é que as delações que estão em curso já são dor de cabeça suficiente para esse governo.


O senador Renan Calheiros disse em passagem essa semana por Recife que o Congresso fez tudo que podia para amenizar a crise econômica. Isso aconteceu? O Congresso Nacional fez a parte dele?

Essa crise é uma crise intrasferível. É uma crise do governo, gestada, germinada dentro desse governo. E como não se tem liderança é muito difícil que o Congresso Nacional faça as coisas avançarem na velocidade e na direção correta. Fui presidente da Câmara dos Deputados, fui parlamentar, líder do governo Fernando Henrique por muitos anos, e o nosso presidencialismo, ele tem uma força tamanha, e se não há uma ação do governo em determinadas questões, sobretudo aquelas onde é necessária maioria constitucional, elas não caminham. O que acontece hoje no governo? A base que apoia esse governo não o apoia porque acredita nesse governo, porque acha que esse governo vai melhorar a vida das regiões que eles representam. A base que apoia o governo hoje, apoia pela distribuição abusiva e, a meu ver, irresponsável, de cargos públicos, o que desqualifica a gestão pública no país, pela liberação de recursos e emendas. É uma base muito fluida. A qualquer pressão, a qualquer contrariedade, ela se move.

A presidente da República, mesmo tendo terceirizado o governo, distribuído ministérios como se distribui bananas vencidas em uma feira livre, ela não consegue ter a liderança do Congresso Nacional necessária a impor para valer uma agenda que permita ao Brasil acreditar ou caminhar para a retomada do crescimento. Vamos ter agora um grande embate, porque a presidente da República cometeu novamente um crime de responsabilidade, no momento em que não alcança as metas de superávit previstas no Orçamento aprovado. Isso é obrigação do governante. O que faz o governo? Mobiliza suas bancadas, nomeia um aqui, nomeia outro ali, para que possa ser alterada essa meta. Para que ela não incorra novamente em crime de responsabilidade.


Sobre a investigação do TSE da campanha presidencial.

Chamo atenção para uma outra questão: o TSE, pela primeira vez na história do país, abre uma investigação em relação à campanha presidencial, com indícios que levaram a essa abertura de que houve dinheiro da propina utilizado na campanha presidencial. É possível que no desdobramento dessas investigações, outras denúncias nessa direção ocorram, e isso pode fazer com que, além do crime de responsabilidade que a presidente cometeu, segundo o Tribunal de Contas, aquilo que se estabeleceu chamar de “pedaladas fiscais”, pedaladas feitas pela presidente da República, pode ser que agora, no campo eleitoral, daqui a pouco, o TSE se depare com a comprovação de crimes cometidos pela presidente da República.

A questão que vai ser colocada – e que os brasileiros sobre ela vão se debruçar – é a seguinte: o presidente da República tem um salvo-conduto? Ele pode cometer crimes, porque a retirada do presidente é algo extremamente grave? Reconheço que é e é algo que impacta na vida econômica do país. Então a presidente está acima da lei ou ela deveria ser a primeira a dar o exemplo e cumprir a lei? Fico com a segunda alternativa.

Esse é o papel hoje vigoroso do PSDB. Temos que blindar as nossas instituições, fortalecê-las no limite que pudermos, como fizemos com o Tribunal de Contas (TCU), com o TSE, apoiarmos o Ministério Público, apoiarmos a Polícia Federal, o Poder Judiciário, porque o que vai nos tirar dessa crise são as nossas instituições, que se mostraram extremamente vigorosas nesses últimos episódios, inclusive o Congresso Nacional.