Local: 29º Congresso Mineiro de Municípios – Belo Horizonte-MG
Assuntos: CPI Cachoeira, Poupança, eleições BH, PSB, desequilíbrio federativo, LDO semiárido
Como o senhor vê a CPI querendo focar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel?
Com o objetivo de desqualificá-lo, já que ele é o advogado de acusação no processo do mensalão. Não precisa nenhuma especulação sobre isso. O próprio presidente nacional do PT nos fez o favor de dizer claramente qual era a sua estratégia. E, além disso, o PT foca em algo que sempre foi um objetivo de algumas de suas lideranças que é o cerceamento da liberdade de imprensa. O PT busca atacar a mídia já que a mídia o contraria. E mais uma vez, o presidente nacional do PT nos fez o favor de deixar isso claro dizendo que setores da mídia, há muito tempo, não compactuam com o projeto de poder do PT. E é bom que não compactuem, é bom que sejam independentes esses setores da mídia. Portanto, a nossa posição, e ontem nos reunimos longamente em Brasília com várias importantes lideranças do Senado de também da Câmara, não vamos permitir que o foco da CPI seja desvirtuado. Tudo que disser respeito ao senhor Carlos Cachoeira e às suas relações promíscuas com agentes públicos e privados deve ser investigado. Mas querer usar a CPI para mascarar a apuração em relação ao mensalão, ou para criar constrangimentos ao procurador-geral, terá a nossa objeção mais radical. O PT, infelizmente, deixa cair a máscara e mostra que o objetivo da CPI era um combate que nada tinha a ver com a elucidação das denúncias, ou pelo menos dos crimes apontados, ou mesmo com investigações mais profundas além daquelas que foram feitas pela polícia federal. Fica aí um alerta para a sociedade, porque o que está em jogo nisso é a própria democracia. No momento em que tivermos no Ministério, uma procuradoria-geral da República, o próprio Ministério Público fragilizado e a imprensa cerceada, temos a democracia em cheque.
Senador, o processo político aqui de Belo Horizonte tem notícias de que o senhor estaria apoiando outras candidaturas que não a do prefeito Marcio Lacerda. Isso é verdade?
Olha, essa é uma criação com interesses claros. O Márcio Lacerda na verdade, e eu digo com muito orgulho, é uma criação política nossa. Tive o privilégio de filiar o atual prefeito no PSB antes das próprias lideranças do PSB saberem disso. Ele vem fazendo uma administração séria, correta, em Belo Horizonte e continuará tendo o meu apoio pessoal e o apoio do meu partido. Felizmente tenho, em Minas Gerais, uma sustentação muito ampla, como tem a própria presidente Dilma. Não poderia, de alguma forma, creditar à responsabilidade da presidente que existam aqui duas ou três candidaturas no seu campo, na sua base de apoio político. Portanto, nosso apoio é muito claro, é sem divisões, sem qualquer tipo de chantagem. Porque nós, do PSDB, diferentes do PT, apoiamos integralmente Marcio Lacerda na sua primeira eleição, quando parcelas do PT eram contra. Apoiamos Marcio Lacerda durante todo o seu primeiro mandato quando o principal representante do PT na coligação, como candidato a vice-prefeito, trabalhou contra, e apoiaremos mais uma vez integralmente, unidos, me refiro ao PSDB, ao Marcio Lacerda na sua reeleição, enquanto o PT já disse que o apoiará dividido.
O senhor defende uma participação maior do PSDB nesta chapa? Possivelmente com a vice, com uma participação maior na chapa de vereadores?
Acho que caberá ao prefeito Marcio Lacerda essa condução. É natural que essa participação seja proporcional à densidade dos partidos. O PSDB tem um diferencial claro em relação ao PT. Agimos pensando na cidade e não nos grupos partidários internos, e não disputa interna de poder. Até porque o PT demonstrou, nas últimas eleições, ser um partido secundário em Minas Gerais. Com apoio do presidente Lula, da candidata Dilma Roussef, com duas importantes lideranças do PT, ex-prefeito da capital na chapa, com apoio do PMDB, um partido muito estruturado em Belo Horizonte, o PT teve 22% dos votos em Belo Horizonte. Tivemos 73% com um candidato que nunca disputou as eleições, o governador Anastasia. Em Belo Horizonte, no segundo turno das últimas eleições, o candidato apoiado por nós, José Serra, venceu as eleições. Em Belo Horizonte; mesmo tendo um resultado no restante do estado e em outras partes do Brasil não tão bom. Então é natural, e o prefeito Marcio Lacerda, um homem inteligente que é, um político hábil que é, sabe que o PSDB, para garantir a governabilidade, deverá ter, na campanha e na administração, um papel cada vez mais relevante, proporcional à importância do PSDB, crescente em Belo Horizonte e de outros aliados.
Vocês vão exigir a vice por exemplo?
Essa negociação pontual não estou fazendo. Ela está delegada à direção municipal do partido. O presidente do partido, deputado João Leite, que aqui está ao nosso lado, tem autoridade hoje e a delegação para conduzir essa negociação visando atender os interesses, obviamente, do partido e da nossa bancada na Câmara Municipal e dos nossos candidatos à Câmara Municipal, assim como de outros partidos aliados.
O senhor considerou acertadas as mudanças na poupança que o governo adotou?
Temos de ver isso com absoluta cautela. Temos feito alguns estudos, enfim, com economistas extremamente qualificados. Achávamos que havia outras possibilidades de impedir uma migração de investimentos para a poupança, através da desoneração de algumas outras aplicações. Foi uma posição da presidente com o objetivo de uma redução abrupta na taxa de juros. É preciso que isso aconteça. Se isso não acontecer terá sido um tiro no pé. A poupança é a aplicação hoje mais simplificada e, por isso mesmo, a preferida pelos pequenos poupadores. E criar complicadores à poupança sem a consequência imediata, rápida, de uma queda vigorosa na taxa de juros, é um problema a mais que o governo está criando. E hoje, os últimos indicadores em relação, inclusive, à reação da inflação, não apontam nesta direção. Fazer o que foi feito sem que haja, repito, uma redução, rápida, vigorosa, na taxa de juros, será criar um complicador para a aplicação hoje mais utilizada, por mais de 150 milhões de brasileiros.
Como está a relação do senhor com o PSB, com o Marcio Lacerda, visando uma eleição do senhor para a Presidência da República em 2014?
Eu não faço política pensando lá na frente. Apoio o Marcio Lacerda porque acho que é bom para a cidade. Tenho uma relação com o PSB nacional muito próxima. Temos, nós do PSDB, parcerias com o PSB, em São Paulo, por exemplo, no Paraná, onde governamos, na Paraíba, onde já governamos, enfim, vários estados importantes do Brasil. E esta aproximação será mantida. Eu não posso fazer política apenas visando as eleições de 2014. Cada coisa a seu tempo. O que eu posso dizer em relação a Minas Gerais e ao Brasil é que o PSDB está se organizando, vai sair fortalecido dessas eleições, vai sair com resultado muito melhor do que aquele que tem hoje. Somos o partido político, hoje, depois do PMDB, que tem o maior número de prefeituras no Brasil. Temos cerca de 800 prefeituras e vamos alcançar 1000, é a nossa previsão, nessas eleições, o que é muito importante. E após 2012, após as eleições municipais, vamos começar a construir sim uma estratégia para 2014. E o PSDB, mais do que se preocupar em ter um candidato agora, tem de deixar claro para a sociedade brasileira o que este candidato significa. O que ele propõe. De que forma, por exemplo, ele enfrentaria a questão da saúde, diferente do que o governo faz hoje. Há dez anos o governo federal investia 46% de tudo o que era gasto na saúde pública no Brasil. 46% vinham do governo federal. Hoje, são 30%. Isso é correto? Vamos falar hoje para os prefeitos. Os municípios e os estados são quem têm pago esta conta. Segurança pública hoje, uma tragédia nacional. Os municípios e os estados investem juntos 83% de tudo o que se gasta no Brasil. A União apenas 13%. Será que isso é justo? Falta generosidade por parte do governo federal na distribuição mais justa dos recursos. E mais uma vez, o governo federal mostra um desconhecimento enorme em relação à realidade de Minas Gerais. No ano passado, cito aqui algo muito pontual, porque é atual, o governo mandou duas propostas de medida provisória ao Congresso. Uma garantindo incentivos ao Nordeste para o setor automobilístico, o que fez com que uma unidade da Fiat que iria se instalar em Minas, fosse para o estado de Pernambuco. Nós tentamos e aprovamos no Congresso a ampliação desses benefícios para a região mineira da Sudene, que tem a mesma situação econômica e social da região Nordeste, mas a presidente, infelizmente, vetou. Depois, houve um envio de uma proposta para que os benefícios dados ao Nordeste na área de Ciência e Tecnologia ficassem apenas no Nordeste. Apresentamos uma emenda que foi aprovada estendendo este benefício ao nosso semiárido: Norte, Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus. Isso foi mantido. Chegou esta semana a LDO ao Congresso Nacional. O governo corrige em parte, talvez inspirado por essas iniciativas nossas, inclui, portanto, nos benefícios que serão dados ao Nordeste, a região Norte de Minas. Mas, lamentavelmente e surpreendentemente, porque trata-se de um governo que deveria conhecer muito bem Minas Gerais, excluem o Vale do Jequitinhonha, o Mucuri, e o São Mateus, como se eles não existissem para atração desses benefícios. Apresentei ontem uma emenda corrigindo a LDO, ampliando, para estas regiões Norte, Mucuri, Jequitinhonha e São Mateus, os mesmos benefícios dados ao Nordeste. O que eu vejo é que há, por parte do governo federal, uma sanha arrecadadora e concentradora que não atende aos interesses do Brasil. Estados e municípios fragilizados, dependentes a todo instante de marchas a Brasília ou da boa vontade do governo federal. Não é o que o PSDB propõe. Não é o que o PSDB proporá em 2014.