Entrevista coletiva sobre a votação do Impeachment

Sobre as declarações dos senadores

O que assistimos nos estertores deste processo, na verdade é uma certa inversão de valores. Já compreendendo que a presidente será afastada no dia de amanhã pelos crimes cometidos, busca a base que ainda resiste ao seu lado – e eu a saúdo por isso, um gesto de lealdade é sempre um gesto nobre-, mas invertem totalmente os valores. Não podendo combater os argumentos do relatório do senador Anastasia, atacam o senador Anastasia.

Não tendo argumentos para combater ou para, de alguma forma desmontar o relatório e as argumentações do procurador Júlio Marcelo, atacam o procurador, representam contra o procurador. Não tendo a coragem – e não teve ontem, infelizmente – a presidente para assumir os seus erros, os gravíssimos crimes cometidos, ataca a oposição. Como se fosse a oposição a responsável pela desestabilização do seu governo.

Ontem, o Brasil perdeu uma oportunidade de ver a presidente da República reconhecendo os seus erros e, quem sabe, permitindo ao seu partido um discurso diferente no dia seguinte. Para nós, a preocupação maior já não é mais esse processo. Ele será decidido pelo afastamento da presidente da República pela gravidade dos crimes cometidos. Agora nossa grande preocupação é o dia seguinte.

O Brasil precisa readquirir a capacidade de crescer, de voltar a gerar empregos e, sobretudo, esperança para as pessoas. Portanto a estabilidade política é essencial. E para isso também é fundamental que as relações políticas se mantenham no limite do aceitável. O bom combate sempre é bem vindo, mas é preciso que haja respeito, sobretudo a essa Casa. Fala-se muito dos votos obtidos pela presidente da República – 54 milhões de votos. Eu tive 51 milhões de votos. Mas o voto não é um salvo-conduto que permite a quem os recebeu cometer crimes e ficar impune.

A grande lição que sairá de todo esse processo é de que no Brasil qualquer cidadão, em especial o presidente da República, está obrigado a cumprir a lei. Isso é que é essencial. E é para isso que estamos aqui. Para cumprir a Constituição, virar essa página e permitir que o Brasil volte a se encontrar com o seu futuro.

Essas representações podem ter algum impacto concreto no processo de impeachment?

É muito importante que essa Casa, primeiro, se respeite. Em relação a essas representações, nada (de concreto). É um factoide como tantos outros que foram feitos até aqui. Fala-se muito, como eu disse, nos votos. Apenas os senadores que na última votação, os 59 que votaram favoravelmente à admissibilidade do processo de impeachment da presidente da República, somados, representam cerca de 115 milhões de votos.

Portanto, o que está sendo decidido aqui é algo que respeita na plenitude a democracia. Aqueles que estão aqui se manifestando têm legitimidade para fazê-lo. Eu respeito aqueles que defendem a presidente da República, mas é preciso que haja respeito àqueles que pensam diferentemente, e que acham que a Lei nesse país é para ser cumprida por todos.

Como fica o PSDB no governo atual? No day after, com o aumento dos ministros do STF.

Temos uma agenda dura pela frente e temos que ter coragem para enfrentá-la, em especial o governo, que, na minha avaliação, deverá assumir após a votação de amanhã. Essa agenda não comporta dúvidas, muito menos ambiguidades. O que tenho ouvido do vice-presidente, hoje presidente interino Michel Temer, é a sua compreensão de que para livrar o Brasil da catástrofe que foi a gestão do PT, medidas estruturantes terão que ser encaminhadas, inclusive várias delas ainda esse ano.

Na avaliação do PSDB, não é mais hora de novos gastos. É hora, ao contrário, de reduzir o peso do Estado e termos políticas públicas melhor qualificadas, mas sobretudo, sinalizar para o futuro de que queremos o equilíbrio das contas públicas e ater o equilíbrio da própria Presidência.

O presidente sim, mas na bancada do PMDB isso já está sendo conversado?

Temos conversado. Essa é a posição do PSDB, não posso falar pela bancada do PMDB, mas eu espero que o day after seja um momento novo desse governo, onde não haja mais ambiguidades.

É importante o presidente Temer se posicionar contra o aumento salarial do STF?

Esperamos que ele faça isso, é a nossa expectativa.

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