O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (31/03), em São Paulo (SP), após encontro com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE). Aécio Neves falou sobre a participação no evento, sobre eleições 2014, CPI da Petrobras e a crise na economia brasileira.
Leia a transcrição da entrevista do senador Aécio Neves:
Sobre a definição do candidato a vice na coligação do PSDB na campanha presidencial deste ano
Não é uma indicação do eventual candidato. Veja bem, não sou ainda oficializado como candidato do PSDB. Mas, o sentimento é de que, ao lado dos partidos que hoje se manifestaram à disposição de caminhar ao nosso lado, como o Democratas e o Solidariedade, obviamente ouvindo figuras de liderança expressiva do nosso campo, o próprio ex-presidente Fernando Henrique, vamos chegar a um nome que seja consensual.
Qual é o foco, o objetivo? Um nome que amplie a penetração das nossas propostas, tenha sintonia com o pensamento que defendemos hoje em relação ao Brasil, à gestão pública, à inserção no mundo e seja alguém disposto a enfrentar uma luta. Uma luta árdua.
Sobre indicação de SP e reunião do partido dia 22
São Paulo sempre será relevante, independente da questão do vice haverá sim uma dedicação específica da nossa campanha ao estado de São Paulo, seja pela força do PSDB em São Paulo, pela força do governador Geraldo Alckmin, das nossas bancadas federal e estadual. Vamos ter uma campanha muito sólida do ponto de vista da apresentação das nossas propostas em São Paulo. E eu tenho uma enorme expectativa em relação ao resultado em São Paulo, nas últimas pesquisas isso já vem aparecendo, um crescimento sólido da nossa candidatura. Essa é uma decisão que espero poder estar anunciando entre a última semana de maio e a primeira semana de junho.
No dia 22, o PSDB faz uma reunião da sua Executiva Nacional com a participação de todos os presidentes estaduais, os 27 presidentes estaduais, para definir já a data da convenção, obviamente será em junho, mas vamos definir no dia 22 a data da convenção, e faremos uma última avaliação dos arranjos estaduais, das coligações estaduais. No próximo dia 22 de abril.
Sobre a tentativa do governo federal de incluir novos temas no âmbito da CPI da Petrobras
O que não aceitamos é que o PT zombe com os brasileiros. As investigações em relação à Petrobras vão ocorrer. Vão ocorrer porque existe um fato determinante e existe uma expectativa da sociedade brasileira que chega à indignação, em relação a tudo que ocorreu na empresa. O governo tem maioria, o governo pode apresentar requerimentos de CPI sobre qualquer assunto. Que faça. Que faça as investigações. Não tememos nenhum tipo de investigação. Mas querer amordaçar a CPI da Petrobras, para que ela não investigue nada, com esse tipo de ameaça, não cederemos a esse tipo de chantagem.
Repito. O PT, os setores do PT zombam da sociedade brasileira e dos brasileiros ao quererem manipular ou impedir essas investigações. Repito: façam investigações sobre quaisquer temas onde haja fato determinante, que cumpra a Constituição e que achem relevante. Queremos, neste momento, é que tudo isso que vem ocorrendo na Petrobras – que não se resume à Pasadena, chega a refinarias como Abreu e Lima, passa pelas denúncias em relação à empresa holandesa que eventualmente teria pago propina a funcionários da Petrobras, passa pelas plataformas que estão sendo colocadas no mar sem os devidos componentes de segurança. Portanto, existe um fato determinante, e é isso que precisa ser apurado.
Sobre redução da maioridade penal
Defendo a proposta do senador Aloysio, inspirada inclusive na proposta do governador Geraldo Alckmin. Não há a redução automática da maioridade para todos. Existe o seguinte: em caso de reincidência de crimes violentos, vamos nos referir aqui aos “Chambinhos”, aos crimes violentos, reincidentes. Nesses casos, ouvir do Ministério Público da Criança e do Adolescente, o juiz, em razão da periculosidade daquele jovem acima de 16 anos, poder determinar naquele caso especificamente o fim da menoridade, podendo ele ser condenado pelo Código Penal. Cumpriria essa pena em um estabelecimento diferente do estabelecimento prisional. Mas não se restringiria a pena aos três anos que hoje é o limite máximo para que o jovem possa estar retido ou estar nessas casas-albergues. É uma discussão que precisamos enfrentar. Mas essa proposta especificamente, que permite em determinados casos, em razão da gravidade e da reincidência, e há a relação dos casos em que seria possível, é uma proposta que eu defenderei na campanha.
Sobre redução do número de ministérios
Existe um estudo na Universidade de Cornell, nos EUA, feito em mais de 120 países do mundo, que considerou mais eficiente – por mais que, para alguns, isso possa ter mais relevo e para outros menos – apresentou um estudo onde os países que têm entre 22 e 24 ministérios apresentam melhores resultados. Acho que um número em torno disso é um número razoável. Na verdade, é aquilo que aconteceu no governo do presidente Fernando Henrique Quando ele deixou o governo, tinha mais ou menos isso, 22 ou 23 ministérios. Seria algo, a meu ver, muito próximo a isso.
O governador Anastasia, com uma equipe extraordinária de técnicos, inclusive da administração pública federal, está desenhando para me apresentar, e à nossa equipe, a proposta que chegaria a esse número. Nós pretendemos fazer isso durante a campanha eleitoral. Obviamente, alguns seriam fundidos, outras funções não seriam ocupadas por ministros, mas por secretários. Até porque grande parte desses ministérios que foram aí criados estão servindo para acomodação política, disso que o ex-presidente Fernando Henrique tem repetido, e eu já tinha dito também há algum tempo atrás, de governismo de cooptação. Amanhã, se houver mais algum partido nanico com três segundos na televisão, é capaz de criarem mais um ministério para colocá-lo para dentro.
A sinalização tem que ser o seguinte: os ministérios são aqueles necessários para que administração pública funcione, até para que o presidente da República possa saber quem são cada um dos seus ministros e cobrar deles respostas. Vocês são jornalistas, têm muito mais capacidade do que eu de averiguar isso. Existem Ministros do Estado que é há um ano não conversa com a presidente da República. A última instância do presidencialismo acima do ministro de estado é o presidente. Presta contas a quem? Não sei.
Sobre o controle de preços por parte do governo federal
Qualquer governo minimamente responsável , claro que isso você não vai fazer de um dia para o outro, vai ter que tirar essa tampa da panela de pressão. O governo federal acha que o melhor momento é depois das eleições. Talvez se não estivesse em um ano eleitoral, tomaria as medidas, no caso da energia, agora. No caso da gasolina, também. Temos efeitos colaterais no setor sucroenergético extremamente graves, para não falar no próprio caixa da empresa. Então, acho que necessariamente essa política de trazermos a inflação, hoje controlada, para a inflação real é necessária.
Sobre o ex-presidente Lula ter comparado a presidente Dilma ao técnico Tite. E o senhor, qual técnico seria?
Do ponto de vista do técnico, não sei. Não vou aqui no lugar comum, até porque não ousaria dizer que serei um Felipão. Mas existia um técnico antigo, que vocês logo se lembrarão, lá do meu estado de Minas Gerais, mas uma figura nacional, que sabia escolher como nenhum outro. Chamava-se Telê Santana, sabia fazer o time jogar. E jogar muito bem.
Sobre a probabilidade de o PT indicar o ex-presidente Lula para a eleição presidencial deste ano
Não sou a figura mais adequada para dizer se está mais para cá ou mais para lá. Mas a gente ouve isso o dia inteiro. Tem gente dentro do PT que estimula, que não tem constrangimento em abertamente defender isso. Quero repetir que nossa disputa não é pessoal. Não é com a presidente da República ou com o ex-presidente da República, é contra este modelo que está aí. E vou dizer de forma muito clara: não temo essa eleição qualquer que seja o nosso adversário. E quando permitimos que o monólogo que hoje conduz as discussões políticas – porque hoje fala para a grande massa da população apenas o governo, através da propaganda institucional, cadeia de rádio e de televisão, e é natural a mídia espontânea que a presidente tem – no momento em que houver espaço para a discussão, para o debate, para o contraditório, não tenho dúvidas de que esta será uma eleição onde o governo estará na defensiva.
O governo da presidente Dilma fracassou na condução da economia, os riscos são iminentes, nos deixa uma equação perversa de crescimento baixo e inflação alta, descontrole das contas públicas, perda crescente da credibilidade. Fracassou na construção da infraestrutura necessária a aumentar a competitividade do Brasil. O Brasil é um cemitério de obras inacabadas, com sobrepreços, está aí a Transposição do São Francisco, Transnordertina, Abreu e Lima, um cardápio enorme. Porque demonizaram durante dez anos as parcerias com o setor privado. Isso atrasou em dez anos o Brasil. Inclusive o setor do petróleo. Dos cinco anos que ficamos absolutamente sem leiloar absolutamente nenhuma área, foram US$ 300 bilhões que o setor petroleiro investiu no mundo. Zero no Brasil. E, agora, quando vem o pré-sal, já não era o mesmo momento. O Golfo do México, a costa africana descobriram também nas suas petrolíferas importantes. Então, perdemos um momento que não recuperamos mais.
E nas questões sociais o governo está paralisado. Estamos vendo os riscos de analfabetismo recrudescerem no Brasil. Na educação, você olha o Pisa e é vergonhosa a posição em que o Brasil está. A saúde pública é dramática e o governo gasta hoje 7 %, 8% a menos do que gastava há dez anos o governo federal. E na segurança pública não precisa nem dizer: a omissão do governo federal é quase criminosa. Não temos até hoje uma política nacional de segurança. Não dá mais para terceirizar. Não dá mais para jogar na herança passada. Tudo isso é responsabilidade do atual governo. Na hora em que este debate for iniciado, vamos estar prontos para ele qualquer que seja o adversário.