Aécio Neves – Entrevista – Salvador

Local: Salvador – BA

Assuntos: Encontros com lideranças políticas, eleições, agenda de desenvolvimento para o Brasil, troca de ministros

O senhor falou da agenda Minas-Bahia, para unir a Bahia e Minas, mas um discurso também de apresentar uma nova agenda para o Brasil. É um discurso de um pré-candidato à presidência da República?

É um discurso de alguém que sente que o modelo que está aí se exauriu. O Brasil precisa ousar mais. Nos últimos nove anos de governo do PT, o que nós assistimos foi um governo surfando nas medidas tomadas no governo anterior. Desde a modernização da economia através da modernização da economia através das privatizações, o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, e tendo como pano de fundo a estabilidade econômica. O Governo do PT perdeu oportunidades únicas de ousar, de fazer as grandes reformas que permitiriam o Brasil estar crescendo muito mais. E, principalmente, a reforma do estado brasileiro. O meu discurso de outros companheiros é da eficiência, é da profissionalização do Estado, o Estado prestando serviços de maior qualidade contra o aparelhamento absurdo da máquina pública, aí sim, como jamais se viu antes na história desse Brasil e a consequência disso que são a ineficiência, os desvios que vêm derrubando, a cada vez, um novo ministro.

Mas a gente pode falar em Aécio pré-candidato à Presidência da República?

Na minha terra, o meu avô Tancredo dizia muito isso, a presidência é destino. O que eu posso dizer é que vou estar preparado, qualquer que seja a função que o partido determinar, para enfrentar o modelo que está aí. O Brasil pode muito mais do quem vem sendo feito. As oportunidades estão passando, vamos ter um ambiente econômico no ano que vem, preocupante. E no momento que podíamos ter feito as grandes intervenções, as grandes reformas, para enxugar o estado para gastar com maior eficiência, isso não aconteceu. Eu vou estar percorrendo o Brasil. Começo essa minha caminhada no Nordeste, pela Bahia, com uma alegria muito grande de estar sendo recebido pelos meus companheiros ACM Neto, Imbassay, dentre tantos outros, na certeza de que temos grande responsabilidade em relação ao Brasil de hoje, porque a construção efetiva, seja do ponto de vista econômico, e mesmo de infraestrutura, foi feita no governo do PSDB. Agora, precisamos retomar essa agenda. Se o PT optou por ter apenas uma agenda de poder e não uma agenda de país, o PSDB e os democratas juntos vão assumir a responsabilidade de voltar a pensar o Brasil pelos próximos 20 anos.

É uma caminhada já pensando também nas eleições municipais para se firmar alianças?

As eleições municipais são essenciais para que cheguemos com força em 2014. E nas eleições municipais, vamos enfatizar as nossas diferenças. Aquilo que acreditamos seja essencial, como a eficiência da gestão pública, uma saúde de maior qualidade, uma educação básica que avance além da universalização também para preparar as pessoas. Temos hoje no Brasil, 95% dos empregos que vêm sendo gerados são até dois salários mínimos. É esse perfil da mão-de-obra que nós queremos? Então, essas questões serão discutidas no âmbito municipal e vou estar sempre estimulando a aliança do PSDB com o DEM. Acho que o nosso futuro é um só. E ao lado do PSDB e do DEM vamos ter capacidade de unir outras forças políticas para combater esse modelo que está aí, que exauriu-se. E é preciso que o Brasil mude essa agenda e quem condições de fazê-lo somos nós.

Como vai ser o cenário aqui na Bahia, em Salvador especificamente, para as eleições municipais?

Muito positivo. Obviamente, como mineiro, tenho sempre que ter muita cautela. Esta questão será resolvida pelos baianos. Mas um grupo político que tem lideranças como o deputado ACM Neto, esta extraordinária figura pública, respeitada no Brasil inteiro, lideranças como o deputado Imbassay, com uma experiência também administrativa em Salvador extraordinária, um parlamentar muito importante hoje para o Brasil, tenho certeza que eles saberão construir uma aliança e, quem sabe, incorporar nesta aliança, outras forças políticas que, como nós, acreditam que é possível fazer muito mais do que vem sendo feito.

Senador, falando sobre o cenário nacional, como o senhor vê esta questão do troca-troca de ministros? Agora a situação do ministro Fernando Pimentel.

A presidente é refém hoje da armadilha que ela própria montou. Ao subordinar o seu governo a tantas indicações partidárias, acho que o PT ensinou isso, o aparelhamento como uma marca da gestão, aí os outros partidos querem fazer o mesmo. Então, ela estabeleceu feudos partidários. Esses feudos servem a interesses específicos dentro de cada partido e os desvios estão ai. Agora, o problema deste governo e aí passa-se uma falsa imagem a meu ver de que se quer fazer uma faxina, esse governo é apenas reativo. Nenhuma dessas denúncias que culminaram com a queda de ministros foram oriundas do governo, foram identificadas pelo próprio governo. Não, foram denunciadas pela imprensa. Eu disse outro dia, e repito aqui na Bahia, para esse governo, e uso uma expressão muito cara à presidente, a quem respeito pessoalmente, mas onde vejo limitações, o malfeito para este governo só é malfeito quando vira escândalo. Quando não vira escândalo, está tudo bem. O governo tem instrumentos através da AGU, das auditorias preventivas que nas administrações modernas são utilizadas para evitar os problemas. O governo não utilizou nenhum desses instrumentos. Fica esperando que ocorra a próxima denúncia, segura o ministro enquanto pode, e quando fica insustentável, ai sim cai o ministro. Precisamos inverter esta lógica. Não tem sentido o Brasil com 40 ministérios para acomodar a companheirada, 25 mil cargos em comissão. Nos Estados Unidos não são 2 mil. É uma loucura isso. Isso vai gerar sempre, primeiro a incompetência porque você coloca pessoas sem qualificação, então isso tem como resultado a ineficiência das ações de várias áreas, e a corrupção é uma vizinha muito próxima da ineficiência e do aparelhamento da máquina. Portanto, essa é uma marca do governo do PT que precisa ser rompida. O Brasil não precisa desse número de ministérios, poderia ser administrado com metade disso, com muito mais eficiência, esses cargos comissionados – falo com autoridade de quem chegou em Minas Gerais, tínhamos 3500 cargos, acabei com 3000 cargos comissionados no primeiro dia –, porque isso não é necessário. Precisamos profissionalizar a gestão pública e não aparelhar o Estado brasileiro como vem fazendo o PT.

Na sua agenda o senhor irá agora a tarde a dia Dias D’ávila. Qual a mensagem que o senhor vai levar para a população de Dias D’ávila?

É com muita alegria que vou a Dias D’ávila. Vou rever meu amigo, o deputado Cajado, a nossa prefeita. É uma viagem política. Estamos nos permitindo, nessas viagens, conversar. Ouço muito também, levo daqui, uma realidade mais atualizada dos problemas da Bahia, seja na área da segurança pública, seja na infraestrutura com essas obras paradas. As BRs, a 116 e a 101, a 116 principalmente e a 324 já pedagiadas sem qualquer obra maior de infraestrutura que seria necessário. Então vamos com isso, conhecendo um pouco mais do Brasil e, quem sabe, construímos juntos um novo programa que, repito, passe pela eficiência da gestão pública como instrumento de desenvolvimento social. Não há nenhuma ação social mais efetiva, mais vigorosa, do que a boa aplicação do dinheiro público. Isso é lógico. Quando você incha demais o Estado, você gasta mais com o Estado do que com as pessoas, e a lógica correta é a inversa, temos que gastar menos com a estrutura do Estado para gastar mais com a população.

O senhor falou que pretende, nessa agenda pelo Brasil, traçar pelo menos 5 ou 6 questões que são de fundamental importância para ao país. Quais seriam elas?

Posso aqui dar uma rápida pincelada, elas estão em construção certamente e a questão da gestão eficiente é um desses pontos para se contrapor a esse aparelhamento absurdo que o PT vem fazendo no Brasil inteiro e onde governa. A questão da educação básica de qualidade. O Brasil precisava de um mutirão, por exemplo, para acabar com o analfabetismo. Isso poderia ser feito em quatro ou 5 anos. São 14 milhões de analfabetos segundo o último dado do IBGE. A flexibilização do currículo do ensino médio, uma proposta nova que estamos trazendo, adaptando à realidade, de cada região. A desoneração das empresas de saneamento. Saneamento é um bem essencial, de primeiríssima necessidade. As empresas de saneamento do Brasil somadas, e nesse ano de 2011, vão pagar mais em impostos do que vão investir em obras. Porque não desonerá-las e permitir que elas possam investir mais? Temos uma série de observações que fazemos no campo da saúde onde falta recurso e falta gestão. O PSDB e o DEM defenderam essa semana. Já que os municípios entram com 15% da sua receita no mínimo para saúde, os estados 12%, não seria justo que a União entrasse com pelo menos 10%. Há dez anos a União participava com 60% de todo financiamento da saúde pública no Brasil. Hoje participa com 42%. E quem aumentou a receita não foram os estados e municípios, foi a União. Na segurança pública, esse grande desafio hoje do nosso tempo, e não apenas o Brasil, o mundo, o governo não enfrenta de forma adequada. O governo não faz parcerias efetivas com os estados. Estamos vendo em muitas regiões o aumento da criminalidade. Então vamos enfrentar essas questões da segurança, da saúde, da educação de melhor qualidade, do saneamento básico permitindo que permeiem todas essas questões a gestão de qualidade. O Brasil precisa de um choque de profissionalização no setor público.

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