Aécio Neves – Entrevista – Encontro promovido pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (Adce)

Local: Belo Horizonte – MG

Assuntos: Eleições municipais, corte nos gastos do governo federal, greve dos professores

Essa aproximação do PSDB com o PMDB aqui em Minas, isso vai ocorrer mesmo?

Olha, na verdade, há muito tempo, em várias partes do Estado, temos parcerias com setores do PMDB. O PSDB, na verdade, nasce de uma costela do PMDB. E nunca deixamos de ter relações com setores importantes e relevantes do partido. O que está em jogo, hoje, em Minas Gerais, é algo que tem que ser visto pelos homens públicos responsáveis como um projeto dos mineiros, e não de um partido. Portanto, o que tenho dito, fui conversar com o governador Anastasia, com o vice-governador Alberto, é que devemos estar abertos para recepcionar, para receber aqueles que queiram compartilhar conosco desse esforço. Sabemos que o Brasil vive uma Federação distorcida, os estados com condições absolutamente precárias para atender suas demandas. Então, o esforço maior que devemos fazer é o de reunir os homens de bem, as pessoas que tenham responsabilidade para com o futuro de Minas Gerais em um mesmo campo. E acho que o PMDB tem setores que já estavam próximos a nós e, obviamente, com a decisão, tomada por eles, de desfazer o bloco da oposição, é uma sinalização a qual devemos corresponder da mesma forma, dizendo que estamos abertos, para construir um grande entendimento em Minas Gerais.

Qual a possibilidade da candidatura própria do PSDB aqui, como o senhor vê essa articulação do PT com o PSB, que praticamente já está acertada?

Tenho dito, e vou continuar repetindo, que as questões de Belo Horizonte serão conduzidas pelo diretório municipal do partido. Tenho, obviamente, ouvido algumas manifestações. Existem setores do partido que defendem uma candidatura própria, em razão do bom desempenho que o PSDB vem tendo em Belo Horizonte, sucessivamente. Inclusive, nas últimas eleições, com a belíssima vitória do governador Anastasia e também com a vitória do candidato José Serra em segundo turno. Mas, temos também compartilhado, ao longo desses anos, com o prefeito Marcio Lacerda, espaços na gestão. Vamos deixar que as coisas amadureçam. Não haverá tutela do partido em Belo Horizonte. E aquilo que a maioria dos membros do diretório achar que seja o melhor caminho, terá o meu apoio.

E a opinião do senhor, qual é? Deve se repetir a aliança ou o PSDB deve buscar um candidato próprio?

Prefiro que a decisão seja naturalmente tomada pelo diretório. No momento em que externo uma opinião pessoa, obviamente estou tirando a liberdade do partido de se reunir, de se movimentar. Tenho estimulado isso. Que o partido faça uma ampla e forte chapa de vereadores, que o partido discuta claramente nas suas zonais os problemas de Belo Horizonte. E, qualquer que seja a posição, o partido tem que estar de forma muito afirmativa, seja na eventualidade de um apoio à reedição do apoio, mas certamente em uma posição de uma presença mais firme, ou mesmo com a candidatura própria, propondo outros caminhos. Agora, não vou atropelar uma decisão que, tenho certeza, será tomada adequadamente, no momento certo, pela direção municipal do partido.

Senador, a Dilma está reunida, agora, com o Mantega, com uma série de parlamentares, para pedir esforço para corte de gastos, aumento de superávit. Isso deve prejudicar mais a relação do governo com o Congresso, principalmente na liberação de emendas. Como fica a situação da oposição, ajuda nesse esforço para corte de gastos?

Em primeiro lugar, é preciso constatar que o governo criou para si próprio uma grande armadilha. Ele é refém, hoje, dessa armadilha. A expansão, a meu ver, absurda dos gastos ao longo de todo o ano de 2010, em razão do processo eleitoral, deixa o governo sem manobras, sem espaço para manobras que já teve no passado. Portanto, o governo hoje é pressionado por ele próprio. Certamente essa contenção dos investimentos nos preocupa. Tenho uma preocupação pontual com a desarticulação – e tenho conversado com muita gente, nesse último final de semana inclusive com o presidente Ricardo Teixeira, da CBF, em relação à Copa do Mundo, e ele me traçava um cenário quase que trágico, posso dizer, em relação ao andamento dos investimentos. O governo não planejou a Copa do Mundo, pra citá-la, para ficar nela nesse primeiro momento, que foi anunciada, que seria no Brasil, em 2007. Não teve, até o início desse ano, nenhuma ação concreta do governo federal no que diz respeito aos investimentos em mobilidade. Agora, o governo nos impõe um processo, a meu ver, de flexibilização, perigosa, nas licitações para os investimentos na Copa do Mundo. A meu ver, o governo é refém da falta de planejamento e do aumento irresponsável de gastos no último ano. Não serei, por estar na oposição, incoerente com aquilo que pensava quando era governo. Acho que devemos ter responsabilidade e discutir cada uma dessas propostas, mas o PSDB sempre teve essa posição de não apostar no quanto pior, melhor. E, obviamente, olhando sempre de forma muito especial a questão dos estados brasileiros que não podem , hoje, ter aumento de responsabilidades além daquelas que, hoje já têm.

Senador, o senhor como ex-governador, a proximidade que tem com o governador Anastasia, como foi essa greve dos professores? O senhor também já enfrentou problemas com servidores na época do senhor como governador. Ta passando dos limites?

A greve é um movimento legítimo, democrático, e assim tem que ser respeitado. Mas cabe ao governante, com a autoridade que tem, até pela delegação da população que recebeu, dizer de forma muito clara quais são os limites do Estado. As demandas são naturais, elas existem e sempre existirão, mas é preciso que, do que ponto de vista deste movimento, a questão política não se sobreponha à ação reivindicatória dos professores. Essas devem ser sempre analisadas pelo governo. Quando percebemos que há um viés político se sobrepondo à questão da reivindicação, ela se fragiliza. Então, acho que o governador Antonio Anastasia, inclusive falei com ele agora há pouco, ele já se manifestou hoje, de forma muito clara, mostrando quais são os limites do Estado. Não há nenhum governante de nenhum partido no mundo que não queira dar aumento aos seus servidores, que não queira uma educação especial de melhor qualidade. Mas o nosso limite é a responsabilidade fiscal e, portanto, a pressão de ordem política não pode abalar o governo na sua firmeza. E o governador Anastasia tem conduzido essa questão de forma extremamente correta. Ao longo, inclusive do final do meu mandato, fizemos um aumento expressivo, dentro dos limites que podíamos para os professores. Não é o ideal. Está aquém da necessidade, aquém do que gostaríamos, mas só vamos poder remunerar melhor no momento em que o Estado se fortaleça ainda mais, aumente sua atividade econômica, busque arrecadar mais ainda e nós saiamos quase que desse farrapo de federação que existe hoje no Brasil, onde aumenta-se as receitas da União e não aumenta as receitas dos estados e dos municípios.

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