O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, neste domingo (08/11), em Mariana (MG), onde esteve com famílias vítimas do rompimento das barragens de Fundão e Santarém.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
O Sr. conversou com o representantes da empresa. O que eles falaram?
Eu vim trazer o que eu posso trazer neste momento, que é solidariedade a essa tragédia que se acometeu sobre Mariana e sobre Minas Gerais. Talvez o maior desastre ambiental que se tem notícia em nossa história. Conversei com aqueles que estão atuando nas buscas, conversei também com algumas famílias de desaparecidos e que cobram da empresa que sejam dadas informações. Neste momento de consternação, a informação é essencial. Me dispus a conversar com o presidência da Samarco para que convoque ou convide as famílias dos desaparecidos, no caso específicos dos funcionários, diretos ou terceirizados, para que eles possam pelo menos minimizar a agonia que estão vivendo hoje.
A tragédia é enorme, crianças estão ainda desaparecidas, há sempre esperança ao final de que possam ser encontradas, mas na verdade é um alerta, um alerta inclusive para o futuro, porque Minas Gerais tem centenas de barramentos como esse e é preciso que haja um acompanhamento cada vez maior para que desastres como esse não ocorram mais.
Mas hoje minha palavra é de solidariedade, com esperança ainda de que as buscam possam continuar e outras pessoas possam ainda ser encontradas com vida. Mas temos que atuar também para que o reparo e a reconstrução da vida dessas famílias possam ter o apoio, em primeiro lugar, da empresa responsável por aquela barragem, mas também do poder público em todos os níveis, e é isso que vamos cobrar daqui por diante.
De quem é a culpa?
Essa é uma visita pessoal e de solidariedade. O tempo vai demonstrar com muita clareza se houve alguma falha e de quem foi a falha, porque regras para essas barragens existem. Me lembro em nosso governo que uma importante barragem foi proibida de ser estabelecida porque, se ocorresse um desastre ambiental, o município de Rio Acima seria dizimado.
Eu não tenho informações para antecipar responsabilidades, mas é um alerta, feito a meu ver da forma mais dramática possível, para que outras barragens classificadas de nível 3, como nós chamávamos no nosso governo, aquelas de maior risco, possam ter um acompanhamento permanente por parte do poder público. Não é hora de apontar o dedo, é hora de entendermos efetivamente o que aconteceu. Temos órgãos de vários níveis trabalhando nisso.
O Sr. conhece bem o Estado, os meandros da fiscalização. Essas fiscalizações são confiáveis?
Não tenho dados aqui para informar especificamente sobre essa fiscalização, mas sempre houve uma preocupação, desde o início do ano de 2000, de definirmos o grau de risco das barragens. Barragens menores onde não há residências próximas, onde um eventual rompimento não ceifaria vidas, e outras de maior volume de rejeitos e obviamente de riscos. Nós chegamos a classificar as barragens em três níveis e as de nível 3, que são as de maior risco, elas são sempre cobradas de fazerem pelo menos uma vez por ano uma fiscalização. Vamos aguardar os laudos. É importante que isso venha a público.
Tenho certeza de que a Assembléia Legislativa do Estado, está aqui o deputado João Leite, e mesmo no Congresso Nacional, haverá um acompanhamento em relação a isso. É óbvio que um Estado como Minas Gerais, um estado montanhoso como Minas Gerais, com declives graves como nós tivemos nesse município, nesse distrito atingido, há que se ter um cuidado e há que se ter uma ação preventiva. Portanto, eu não vou antecipar, não cabe a mim agora fazer responsabilidades, mas é importante inclusive que a legislação que está sendo discutida na Assembléia Legislativa venha a ter maior profundidade, exatamente para que não haja uma flexibilização muito grande nessa fiscalização.
O que o Sr. pretende fazer?
A bancada mineira vai se reunir no início da semana em Brasília, na Câmara e no Senado, para ver o que podemos fazer, seja cobrando do governo federal que, obviamente, invista recursos na reconstrução da vida dessas famílias, e voltados também para nossa ação no Congresso. O importante é que o governo federal se sinta também responsável ou co-responsável para dar a essas famílias atingidas e que perderam absolutamente tudo a possibilidade de um recomeço.
O nosso papel político hoje é cobrar que isso aconteça. Cobrar, por exemplo, como eu falei, em relação ao presidente da Samarco, que receba as famílias, o que não aconteceu até hoje e não sei porque não aconteceu, dos terceirizados e daqueles funcionários diretos da empresa que foram vitimados e que estão desaparecidos.
Vamos agir de forma absolutamente solidária. Repito, sem transformar isso em uma questão política, de apontar o dedo para A ou para B. É hora de todos nos unirmos porque a tragédia foi enorme e é preciso que nos precavamos para que outras tragédias como essa não ocorram mais em nosso Estado. Não ocorram mais no Brasil.
Agora uma palavra também de muito respeito aqueles verdadeiros heróis e heroínas que salvaram inúmeras vidas, inclusive de crianças. Dezenas de crianças estavam na aula naquele momento e foram retiradas por professores que arriscaram suas vidas. Essas pessoas merecem todo nosso reconhecimento, toda nossa homenagem. Eles são os verdadeiros heróis dessa enorme tragédia.
Há o temor que tem sido colocado para a imprensa de um novo rompimento de barragem aqui na região. Lembrando que não só a população, mas os bombeiros também fizeram esse alerta.
Falei ontem pelo telefone com o prefeito, que devo visitar porque não se sentiu bem, está internado, e ele já manifestava alguma preocupação em relação a essa outra barragem.
Cabe, obviamente, neste instante, à Samarco e aos órgãos governamentais de todos os níveis refazerem a avaliação exata se alguma providência precisa e deve ser tomada. Acredito que, neste instante, todos os órgãos de fiscalização da área ambiental, envolvida a própria Polícia Militar que tem responsabilidade também no policiamento ambiental, devam estar fazendo essa avaliação.
Não tenho aqui dados técnicos para dizer se algo precisa ser feito, mas a preocupação deve existir e caberá à empresa, repito, e aos órgãos de fiscalização tanto do governo federal como do governo estadual apresentarem à população laudos em relação à possibilidade de nossos rompimentos.
Estão todos consternados. A cada dia que passa é mais difícil que boas notícias venham. Mas a falta de notícia, nesse momento, é a pior das notícias que se possa dar. A minha sugestão é que a direção da empresa possa se reunir com essas famílias, falar das buscas, como elas estão ocorrendo, onde cada um estava e, além disso, dar a elas todo apoio que precisam, neste momento e no futuro, para a reconstrução das suas vidas. Isso é responsabilidade da empresa.