Aécio Neves – Entrevista em Florianópolis (SC)

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (01/12), em Florianópolis (SC), onde participou de reunião da Executiva Nacional do partido. Aécio Neves falou sobre corrupção no governo federal e respondeu ataques feitos contra ele pelo PT.

 

Santa Catarina lhe deu uma votação bastante expressiva neste ano, em que pese a vitória da presidente Dilma Rousseff. Qual a mensagem que o senhor veio trazer a Santa Catarina?

A minha visita hoje a Santa Catarina tem como primeiro e mais importante objetivo agradecer pessoalmente não apenas os votos, mas o empenho, a mobilização, a confiança do povo catarinense na mudança. Na mudança de valores, na mudança de visão de gestão pública, e também na visão de mundo. Santa Catarina protagonizou, nessas eleições, uma das mais belas páginas, acredito eu, da história política do Brasil. Porque foi às ruas, se mobilizou, e disse ao Brasil que o caminho da mudança era o caminho da verdade, também. O caminho da retomada do crescimento, da geração de empregos de qualidade, da melhoria dos nossos indicadores sociais. Infelizmente não vencemos as eleições nacionalmente, mas a vitória que tivemos aqui em Santa Catarina é o prenúncio de algo que vai continuar. Uma disputa presidencial não é uma corrida de 100 metros, de tiro curto.

Eu acho que aqui nós plantamos, não apenas eu, mas o companheiro Paulo Bauer, os companheiros candidatos a deputado, ao Senado, plantaram aqui uma semente que eu acredito extremamente fértil. De algo que o Brasil precisará ainda viver. Se não foi agora, acredito que será num futuro próximo. Um tempo de maior respeito, inclusive, aos adversários. Onde a disputa política não enverede mais para o caminho da infâmia, dos ataques pessoais, e possa ser o espaço do debate político, do bom debate político. O que mais me encantou nessas eleições aqui em Santa Catarina foi a mobilização de setores da sociedade que tradicionalmente não tinham vínculos políticos, ou mesmo tradição de participar de campanhas políticas. Eu recebia, diariamente, inúmeros e-mails, manifestações nas redes, de profissionais liberais, de comerciantes, de participantes de organizações sociais querendo saber de que forma poderiam participar ainda mais ativamente dessa disputa.

Portanto, essa eleição deixará duas marcas distintas e, ao meu ver, muito fortes: a primeira, infelizmente é protagonizada pelos nossos adversários – a infâmia, a calúnia, o terrorismo para com aqueles que mais dependem da ação do Estado, aterrorizados com a possibilidade de perderem os seus benefícios, segundo dizia falsamente o governo. Mas teve um outro lado nessa eleição, uma outra marca. E é essa a marca que, acredito, ficará ainda mais profundamente lembrada nos nossos corações, nas nossas mentes. O Brasil despertou. Uma parcela do Brasil que estava adormecida acordou, foi para as ruas e voltou a querer ser protagonista do seu próprio destino. Então, isso é muito forte.

Hoje, existe uma oposição àqueles que ganharam as eleições com uma conexão direta com a sociedade, com uma conexão permanente na sociedade. Eu percebi isso em todas as visitas que fiz depois das eleições. E agora, nesses dois dias que estou em Santa Catarina, pessoalmente, nas ruas. As pessoas querem continuar participando do processo político. E eu vim aqui dizer para elas exatamente isso: não vamos nos dispersar. Nós temos uma responsabilidade enorme para com o Brasil. Na democracia – eu até escrevi isso recentemente – a vitória e a derrota são faces da mesma moeda, e nós vamos cumprir agora, na oposição, com a mesma determinação, com a mesma coragem, com a mesma responsabilidade para com o país o papel que nos foi determinado. Fiscalizar as ações do governo, cobrar as suas contradições, e os compromissos que assumiu com os brasileiros.

 
Seu colega Luiz Henrique da Silveira defende a não divulgação de resultados de pesquisas eleitorais. Queria saber que leitura o sr. faz das pesquisas, da divulgação desses resultados no andamento da campanha, e também desse projeto. 

Compreendo as preocupações do senador Luiz Henrique, porque nós sabemos que há, sim, uma certa influência das pesquisas eleitorais nas eleições. Agora, houve, há um tempo atrás, uma decisão do Supremo Tribunal que considerou inconstitucional essa não-divulgação, o impedimento da divulgação. Eu temo que esse projeto, por mais bem-intencionado que seja, ele novamente bata nessa posição do Supremo Tribunal Federal. O que eu tenho uma convicção clara é de que institutos de pesquisa que trabalham para partidos políticos ou para governos que disputam as eleições devem ser impedidos de trabalhar para veículos de comunicação. Aí sim, eu acho que há o conflito de interesses. Inclusive, nos Estados Unidos isso é proibido. Você eventualmente trabalha por um governo ou partido político e trabalha para veículos de comunicação como se, na hora que divulga os resultados, é como se não tivesse vinculação com determinado partido. Eu acho que essa separação já seria, enfim, aprimorar o processo das pesquisas eleitorais.

 

O sr. disse ontem que não perdeu para um partido, mas para uma organização criminosa. O PT anunciou agora a tarde que vai entrar com uma ação.

Na verdade acho que eles estão chegando um pouco tarde, porque essa expressão foi a mesma utilizada pela Polícia Federal no momento em que desbaratava essa quadrilha que atuou durante doze anos na Petrobras. Eu poderia citar inúmeras outras declarações como a do ex-presidente do STJ, dita recentemente, o ministro Fischer, que dizia que nenhum outro país do mundo viveu tanta roubalheira – as palavras são do ministro, ex-ministro do STJ – como o Brasil. O ministro Trisotto, chamado a definir um mandato de segurança para um dos membros da quadrilha, que ele negou dizendo que é uma das maiores vergonhas da humanidade a corrupção que se instalou no Brasil. O PT tem esse vício. Ao invés de interpelar os seus membros que cometeram crimes, como, por exemplo, na época no mensalão, os tratou como heróis nacionais.

Agora, ao invés de interpelar, por exemplo, o tesoureiro do seu partido, acusado por um dos membros da quadrilha de ser uma parte desse processo, O PT quer processar o acusador, como, aliás, vão fazer com a própria Polícia Federal. Essa eleição, como disse aqui, infelizmente, teve essa marca da utilização, sem qualquer limite, da máquina pública. Os recursos ou parte dos recursos desse esquema de corrupção, há indícios de que possam terem sidos utilizados na própria campanha eleitoral.

O que temos é que aguardar que a Polícia Federal faça, sem qualquer tipo de cerceamento, as investigações que tenha a fazer. Não retiro absolutamente nada do que disse. Vi até uma declaração do líder do PT no Senado nessa direção, me fazendo acusações. Em relação ao líder Humberto Costa (PT-PE) até relevo o momento difícil por qual ele passa, porque ele tem que dividir suas idas à Tribuna em algumas delas acusar a oposição e em outras para se defender da acusação de ter sido beneficiário na sua eleição de recursos do esquema de corrupção da Petrobras.

 

Muitos foram às ruas inclusive com cartazes pedindo o retorno da ditadura militar. Essas manifestações no qual o seu candidato à vice participou, o sr. acredita que é por aí ou não?

Acho que a nossa história fala por si só. Somos, e eu pessoalmente, filhos da democracia. As nossas manifestações públicas, em eventos como esses, serão sempre no limite da democracia. E nós condenamos veementemente uma minoria que se utiliza desses eventos, dessas manifestações naturais e espontâneas da população para virem com esse saudosismo. Ao contrário. Fui o primeiro a assumir a derrota nas eleições, poucos minutos depois do resultado quando telefonei para a presidente eleita. Agora não nos tirarão a capacidade e o direito de fazer oposição, de nos manifestarmos de forma pacífica como viemos fazendo.

Na verdade, vejo uma certa analogia em relação ao que vem acontecendo, a utilização desses movimentos, minoritários, saudosistas, a que você se referiu, como alguma coisa que aconteceu lá atrás naquelas manifestações populares em que centenas de milhares de pessoas foram às ruas em julho. Naquele momento o que acontecia? A sociedade resolveu se manifestar contra governos, contra os políticos em geral. Aí surgiram os Black Blocs que passaram a depredar, a fazer atos de extrema violência que afastou as pessoas das ruas. Na verdade, esse movimento saudosista, essas manifestações extremamente minoritárias contra a democracia não têm o nosso endosso. Têm o nosso repúdio. Temos que estar atentos para que elas não afastem das ruas aqueles que queiram, no limite da democracia, se manifestar em favor não apenas do nosso nome, mas em favor de serviços públicos de melhor qualidade, em favor de um futuro de mais crescimento de melhor para os brasileiros.

 

O primeiro grande ato de oposição deve ser amanhã (02/12)? Barrar novamente a meta do superávit?

O que estamos assistindo, e acho que todos vão concordar comigo, talvez seja o maior estelionato eleitoral da história, porque a presidente, poucos dias depois da eleição, começa tomar as medidas que ela condenava, mas não condenava superficialmente, condenava com extremo vigor. A presidente da República dizia que aumentar os juros era tirar comida da mesa do trabalhador. Nós vimos isso, esses ataques que sofremos. Inclusive não apenas eu. Marina, antes da Marina o próprio Eduardo. Três dias depois das eleições houve aumento da taxa de juros. A presidente dizia, e seus aliados, que aumentaríamos o preço dos combustíveis se vencêssemos as eleições, dentre outras maldades, entre aspas. Foram cinco dias apenas depois das eleições para que o aumento dos combustíveis estivesse aí. E o que estamos vendo é a agenda do equilíbrio das contas, que preguei durante a campanha eleitoral, está sendo assumida pela presidente. Isso do ponto de vista do Brasil é positivo.

A grande dúvida é saber que tipo de autonomia esses novos ministros da área econômica terão. Porque na verdade, o que eles disseram no momento de anúncio dos seus nomes exatamente o oposto do que disse a presidente ou a candidata a presidente durante toda a campanha eleitoral. Acho que no mínimo ela deveria se dirigir aos seus próprios eleitores, em primeiro lugar, que votaram em um país equilibrado, próspero, sem problemas com inflação, com crescimento sustentável ao longo do tempo, era o que ela dizia na campanha eleitoral, e agora, se deparam com um outro Brasil. Eu disse também recentemente que talvez a ausência dela no anúncio dos ministros da área econômica tenha sido exatamente para não ter de passar o constrangimento de, nos corredores do Palácio, a presidente Dilma se encontrar com a candidata Dilma, que não teria como explicar para ela as medidas que estava tomando agora.

 

Como o sr. vê esses nomes?

São nomes qualificados. A grande questão é essa que eu coloquei: que tipo de autonomia eles terão? Qual a política econômica que vai ser executada? É a da presidente da República ou é a anunciada por esses nomes? O tempo é que vai dizer, mas a medida que o governo toma no Congresso Nacional é absolutamente contraditória com o discurso desses ministros. Porque eles falam em transparência fiscal, equilíbrio das contas. Mas o que o governo quer émais uma maquiagem fiscal, porque se aprovarem, e eles têm maioria para isso, mas vamos lutar muito, estamos indo hoje ao lado do senador Paulo Bauer para Brasília. Vamos lutar muito amanhã para que esta violência não ocorra. Porque a conseqüência não é apenas econômica.

A conseqüência é para os cidadãos, para a população que mais precisa de empregos. Porque em um momento em que há mais esta maquiagem fiscal, obviamente, a perda de credibilidade da condução da nossa economia, isso afugenta investidores, coloca em risco a nota de crédito do país. Isso implica em quê? Na geração de empregos. Portanto, a minha preocupação é a sinalização equivocada que esta medida dá. Porque a manha, que autoridade terá o governo federal, por exemplo, para cobrar que os governadores de estado cumpram os percentuais mínimos de investimento em saúde, de 12%, ou que os prefeitos cumpram o percentual de investimentos em educação? Porque a lógica do atual governo é o seguinte: eu não cumpro as metas pré-estabelecidas e aí utilizo a minha maioria e mudo a lei. Não, a lei está aí para ser cumprida. Esta Lei de Diretrizes Orçamentárias foi amplamente discutida no Congresso Nacional. O superávit proposto e aprovado na lei já é muito aquém do que foi debatido inicialmente. E o que fez o governo ao perceber que não cumpriria?

Ao invés de reorganizar os seus gastos, ampliou os seus gastos confiando exatamente na subordinação do Congresso Nacional. E um  Congresso que não se respeita, que não cumpre as suas prerrogativas, não pode querer ser respeitado pela sociedade brasileira. Portanto, será um dia de fazermos um brado claro, um grande chamamento à responsabilidade do Congresso Nacional. Até porque, antes de sermos oposição ou base de governo, somos parlamentares, representamos segmentos de pensamento da sociedade. E esta  sinalização que o governo dará em aprovar esta modificação na LDO vai na direção oposta àquilo que os ministros tentaram dizer. O que os ministros tentaram dizer? Não, vamos resgatar a credibilidade deste governo que a perdeu durante todos os últimos anos. Portanto, amanhã é uma hora de a oposição, mesmo minoritária, estar unida e, pelo menos, no embate político, vencer o debate.

 

O que o sr. achou da indicação do senador Armando Monteiro para o Ministério do Desenvolvimento?

Tenho uma boa relação com o senador Armando Monteiro. A presidente, mais uma vez, apresenta contradições porque fez o discurso em uma direção e coloca no Desenvolvimento e na Agricultura os líderes patronais, os líderes das entidades de classe patronais. Acho que é um governo de duas cabeças. É um governo que diz uma coisa e pratica outra. Mas do ponto de vista pessoal eu respeito o ministro e espero que ele possa fazer, em benefício do Brasil, um bom serviço porque não houve área ou setor mais prejudicado nesses últimos anos do que o setor industrial que estaria sob a responsabilidade desse ministério. Temos a indústria hoje participando com cerca de 13% da constituição do nosso Produto Interno Bruto. É menos do que participava na época de Juscelino Kubitschek há 60 anos. E um país que não tem uma indústria sólida não gera empregos de boa qualidade. O Brasil não pode se satisfazer em ser o país do pleno emprego de dois salários mínimos ad eternum. Temos de qualificar a nossa indústria, garantir competitividade, aumentar a produtividade e esse é o grande desafio daqueles que vão, agora, conduzir o Brasil.

 

Sobre a reunião de amanhã, vai ter apoio da base aliada?

Nós já estamos fazendo isso.  Os líderes estão lá reunidos e já estamos fazendo isso não apenas amanhã, estamos fazendo isso desde a discussão na Comissão de Orçamento, fizemos um embate muito duro, conseguimos algumas vitórias. Conseguimos na semana passada o adiamento desta votação, mas temos a noção clara de que não temos os votos suficientes. Então, queremos no discurso e no convencimento, inclusive a setores da base aliada, mostrar que o Congresso Nacional não pode ser um puxadinho do Poder Executivo. Então, a minha responsabilidade, a de todos nós, do senador Paulo, amanhã, é exatamente mostrar que para o Brasil, é fundamental que as leis sejam cumpridas e não modificadas ao bel-prazer do governante de plantão.

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