Aécio Neves – Entrevista em Brasília

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta terça-feira (14/04), em Brasília (DF). Aécio falou sobre reforma política, encontro com representantes dos movimentos de rua, encontro com Michel Temer e impeachment da presidente Dilma Rousseff.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre a reunião da Comissão.

Pela primeira vez vamos fazer isso institucionalmente. Já conversei com a bancada no Senado, e, a convite dos deputados Rodrigo Maia e Marcus Pestana, vamos lá na quinta-feira, às 10horas, e o PSDB vai apresentar sua proposta de reforma política. Vou avalizar isso, discutindo hoje com a bancada federal às 15h30.

 

O sr. se encontrou pela primeira vez com os representantes das ruas. Agora está criado o link da oposição com os movimentos?

A minha posição sempre foi a mesma desde o início. Quanto mais da sociedade forem esses movimentos, mais legítimos eles serão e maiores consequências terão para o país. Por isso, a minha posição, por mais que haja posições divergentes internamente, foi de não participar neste primeiro momento. Os movimentos estão vindo ao Congresso apresentar aquilo que perceberam, ouviram como o brado, o grito mais forte das ruas. Eles vão apresentar isso amanhã ao Congresso.  Eu me coloquei à disposição para também, ao lado de outras lideranças da oposição, receber este documento. Porque acho que vai haver uma convergência. Não conheço o documento ainda na totalidade, mas percebo que vai haver uma convergência muito grande. O que os movimentos querem é o que nós queremos: o avanço da reforma política e o fim da corrupção com medidas efetivas, não as de maquiagem, mas as que possam punir, punir exemplarmente.

 

O que eles querem é o Fora Dilma.

E esta é uma questão que vamos ter de discutir e vamos ter de discuti-la com absoluta clareza. Começamos a discutir isso também internamente, de que forma o partido participa disso. Então, amanhã é um momento importante. Talvez seja o momento de uma conexão natural e esperada pela população, acho eu, dos movimentos com aqueles que podem dar efetividade a essas demandas. Eles são muito bem vindos ao Congresso. Na verdade, a Casa aqui é deles. Não é favor nenhum que estamos fazendo em recebê-los.

 

O sr. vai lá à Praça na leitura do documento? 

Vou avaliar qual o formato,  mas me coloquei à disposição ao lado de todos os outros líderes da oposição no Senado e na Câmara para encontrá-los no Congresso, se eles acharem que seja adequado. Eles merecem a nossa homenagem pelo esforço que fizeram e a mobilização que conseguiram manter. Eu concordo com eles de que agora precisamos dar efetividade às demandas da sociedade. Amanhã devemos nos encontrar.

 

O Fernando Henrique cancelou o encontro com o Temer?

Tenho com o presidente Michel Temer uma relação pessoal. Sucedi o Temer na presidência na Câmara dos Deputados. Ele havia nos procurado, a mim e ao presidente Fernando Henrique, para um encontro sobre Reforma Política, enquanto presidente do PMDB. E que achamos que era natural que conversássemos, como estamos conversando com o Democratas. Estou indo agora conversar sobre reforma política. Acho que inclusive com o PT devemos conversar sobre reforma política, não obviamente para atender às demandas que eles estão apresentando. Mas conversar, eu, como presidente do PSDB, tenho obrigação de conversar. No momento em que Temer assume a posição de coordenador político do governo, a pauta naturalmente muda. Independentemente da vontade ou não dele. E a leitura que se fará é uma leitura diferente.

Então, nós optamos – eu ponderei, o presidente Fernando Henrique concordou comigo e comunicou ao presidente Michel – que nesse momento essa questão da reforma política, a discussão da reforma política deve ser conduzida pelo partido, como está sendo aqui e será essa semana. Vamos trazê-lo para dentro dessa comissão porque acho o seguinte: nós temos a última chance de fazermos a reforma política no Brasil. É este ano. Daqui pra frente, impossível, porque não serão mais 28 partidos, serão 40 partidos e acabou. Então, nós temos que ter agora, inclusive com a responsabilidade das lideranças partidárias, capacidade de construir um projeto. Eu vou me dedicar pessoalmente a isso a partir de agora.

 

Seria uma leitura ruim achar que o PSDB estava conversando com Temer para fazer um pacto de governabilidade da Dilma?

Enquanto ele nos procurou, ele fez isso como presidente de um partido político, o PMDB, e nós achamos que era absolutamente natural. Ele até se dispôs a fazer uma visita ao presidente Fernando Henrique. Hoje, ele assume uma posição que prevalece sobre a presidência do PMDB, que eu não sei, tenho até dúvida se ele ficará ou não.

Então vamos esperar que as coisas acalmem. Não quer dizer que nós não vamos jamais conversar com ele, mas nesse momento qualquer conversa vai na direção talvez oposta àquilo que nós estamos construindo porque o vice-presidente Michel Temer, hoje, passa a ser o representante na articulação política do mesmo governo que nós combatemos. O mesmo governo que, em mais uma denúncia gravíssima que surge, utilizou de forma irresponsável e criminosa o Estado a serviço de uma candidatura presidencial.

 

Sobre a CGU.

Inúmeros são os fatos. Teve Correios, o TCU, através do relatório do procurador do Ministério Público do TCU anuncia. E agora essa denúncia de hoje, que é de extrema gravidade. A CGU é acusada de ter prevaricado e, amanhã, a CPI vai criar um grupo, nós vamos apresentar um requerimento, um grupo de cinco parlamentares que vai a Londres ouvir esse representante da empresa que disse que em agosto já tinha entregue todos os documentos à CGU, que resolveu abrir a investigação só em novembro, depois das eleições. E sem que qualquer outro documento, qualquer outro fato novo ocorresse nesse período. Isso é extremamente grave, é a demonstração clara da utilização permanente do Estado a serviço de um projeto de poder, que não é mais nem um projeto de país.

As coisas vêm se somando, e esses movimentos, a meu ver, independentemente do número de pessoas, não diminuiu a indignação dos brasileiros em relação ao governo. Vamos ver que consequências nós achamos possíveis de serem tomadas.

 

Se ficar provada essa prevaricação da CGU para beneficiar a candidatura da Dilma não é mais um motivo para fortalecer o pedido de impeachment?

Certamente é um motivo extremamente forte. É o Estado utilizado, como foram as empresas públicas, de forma criminosa a serviço de um projeto de poder. Os fatos falam com muito mais poder do que qualquer líder da oposição. E esses fatos podem levar tudo isso a um novo desfecho.

 

Sobre uso dos Correios.

O TCU já atestou, através do seu procurador, que os Correios foram utilizados também de forma ilícita, criminosa, para beneficiar uma candidatura. Nós estamos percebendo a cada dia a movimentação fabulosa, inacreditável de recursos que beneficiaram a base aliada e agora mais uma denúncia que infelizmente mostra o mal que o governo do PT vem fazendo ao Brasil ao longo desses últimos anos.

E tudo isso bota querosene nessa fogueira da insatisfação popular. Vamos receber amanhã desses movimentos essas reivindicações, esse documento, e nós estamos discutindo internamente quais são os próximos passos. O que eu posso dizer é que nós estaremos sintonizados a todo tempo com a sociedade, com esse clamor das ruas.

 

O PSDB apoia o impeachment?

O PSDB não tem essa decisão tomada. Existe um sentimento na sociedade majoritariamente nessa direção, como as últimas pesquisas nacionais atestaram,  mais de 60% da população, mas o PSDB tem uma responsabilidade institucional, enquanto partido político e nós estamos discutindo absolutamente todas as alternativas. Não existe uma posição até este momento, pelo menos do PSDB, de protocolar institucionalmente o pedido de afastamento da presidente, mas estamos examinando sim, em razão da sucessão de denúncias de irregularidades cometidas na eleição, junto ao Tribunal Superior Eleitoral, pedirmos a revisão de denúncias que já foram feitas no período imediatamente pós-eleição.

 

E sobre o parecer do Miguel Reale Júnior?

Eu prefiro que os juristas digam isso. O doutor Miguel Reale Júnior está avaliando todas essas denúncias e são denúncias que se sucedem, cada uma mais grave que a outra, para avaliar se há sim neste momento já constituído ou nesse momento já caracterizado um crime de responsabilidade da Presidência da República.

Não é ainda a posição do PSDB, mas nós temos a obrigação de avaliar todas as alternativas e o impeachment, como já disse antes, não é uma palavra proibida. Impeachment não é golpe, impeachment é uma previsão constitucional. Não existem ainda claramente apresentados ou caracterizados esses crimes, mas isso não quer dizer que eles não possam ser caracterizados em um futuro próximo.

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