O senador Aécio Neves falou, hoje (29/08), em São Paulo, com a imprensa, sobre o encontros com a bancada estadual do PSDB-SP, as eleições de 2014, a reunião com o governador Eduardo Campos, a crise no Itamaraty, a não cassação do mandato do deputado Donadon e os médicos cubanos
Sobre a reunião
Venho aqui como presidente nacional do PSDB, acompanhado do presidente estadual do PSDB, deputado Duarte Nogueira, para um encontro com a bancada estadual do partido. Tenho feito isso em várias outras regiões do país, em vários estados. O PSDB passa por um momento de reestruturação. Isso tem acontecido em São Paulo de forma muito vigorosa, com a condução do deputado Duarte, e no Brasil também.
Tenho dito que a prioridade do PSDB hoje não é tratar de alianças nem tampouco da eleição em si, mas sim da reconexão do partido com a sociedade, com os vários segmentos da sociedade. Muitos deles já estiveram muitos próximos de nós e já não estão tanto e esta é a realidade. Então, temos feito um esforço conjunto, o PSDB Nacional, com o PSDB de São Paulo, de fortalecer os nossos movimentos jovens, o nosso movimento de mulheres, o nosso movimento sindical, o Tucanafro que é um movimento de inclusão que existe no partido, o movimento da sustentabilidade.
Digo sempre, qualquer projeto do PSDB passa fundamentalmente e preferencialmente por São Paulo. A minha responsabilidade enquanto presidente do partido, e é nesta condição que estou aqui, é discutir com os companheiros de São Paulo estratégias, ouvir deles sugestões para um projeto que o PSDB está estruturando. Digo sempre que o PSDB não tem a opção de apresentar um projeto ao país, o PSDB tem a obrigação e a responsabilidade como maior partido de oposição no Brasil, apresentar um projeto alternativo a este que está aí. Por isso, marcamos encontros regionais em todo o país, grandes encontros regionais mobilizando todas as bases do PSDB.
São Paulo deverá ter, por parte da direção nacional, uma atenção especialíssima. Aqui é o berço do PSDB. Aqui estão uma das principais figuras que transformaram o PSDB no importante partido que é hoje, a começar pelo presidente Fernando Henrique. Pelo ex-governador José Serra, pelo governado Geraldo Alckmin, para dizer apenas os que estão aqui presentes, mas sem deixar de lembrar Montoro, Mário Covas, enfim, aqui é o berço do PSDB. E, exatamente a unidade do PSDB que nos levará a ter uma possibilidade concreta de encerrar esse ciclo do PT que, a meu ver, tanto mal vem fazendo ao país, para iniciarmos um novo ciclo de eficiência da gestão pública, de transparência no manuseio dos recursos públicos, e de ousadia, ousadia para fazer aquilo que o governo do PT não fez até agora.
Sobre permanência do ex-governador Serra no PSDB
Venho a São Paulo quase toda semana e, obviamente, venho aqui hoje a convite do deputado Duarte, da bancada estadual do partido e, no que depender de mim, todo meu esforço, toda minha movimentação é no sentido de fortalecer a unidade do partido. O PSDB não pode prescindir de nenhum dos seus membros, e acredito que todos têm contribuição enorme a dar. Tenho feito esforço como presidente do partido, a partir de uma delegação que recebi de uma grande maioria do partido, de dar ao partido essa nova possibilidade de viver esse novo momento. E repito, todos os meus gestos serão no sentido de garantir a unidade do partido. Espero que estejamos todos juntos porque o nosso adversário, o adversário do PSDB não está dentro do PSDB. Nossos adversários estão fora. Nossos adversários são aqueles que se empossaram do Estado brasileiro, que aparelharam a máquina pública e que têm feito o Brasil entrar no final da fila dos países que recebem investimentos. Portanto, a minha preocupação com o futuro do Brasil é muito grande. Acho que essa nossa preocupação será mais convergente, nos aproximará muito mais do que qualquer eventual diferença que possamos ter.
Sobre jantar com o governador Eduardo Campos, em Recife
Converso com o governador Eduardo Campos constantemente. Temos tido a oportunidade de, ao longo dos últimos tempos, fazermos avaliações do quadro nacional. Tenho uma relação pessoal com Eduardo de mais de 20 anos. Temos convergências em determinadas questões e divergências em outras, mas acho que essa é uma marca da nossa geração: o diálogo. Temos que estar conversando, independente dele amanhã ser ou não candidato. Acho que é muito legítimo e natural que ele seja candidato. Estarei para outras visitas no Nordeste, tenho um encontro com o senador Cássio Cunha em Campina Grande. Vou fazer essa visita retribuindo uma visita que ele me fez em casa, em Brasília. Vamos sim discutir cenários e a arte da política está em cada um reconhecer as circunstâncias do outro, até onde o outro pode ir. Tenho certeza que Eduardo, eu, tantas outras lideranças do PSDB e do PSB, que já são aliadas em vários estados, inclusive aqui em São Paulo, inclusive em Minas Gerais, em um determinado momento, pelo menos é essa a minha vontade, possamos estar discutindo juntos projetos comuns para o Brasil. Vejo muita identidade entre o que penso e o que pensa o governador de Pernambuco.
Um governo tucano teria uma postura diferente em relação ao que aconteceu com a vinda do senador boliviano para o Brasil?
Sem dúvida alguma. O governo brasileiro não assistiria passivamente um cidadão que recebeu asilo político do Brasil ficar confinado por 455 dias num cubículo dentro de uma sede da embaixada brasileira. Isso é desumano. Faltou ali uma ação objetiva, corajosa, firme e clara do governo brasileiro junto ao governo boliviano. É incompreensível a passividade do governo brasileiro na relação com alguns países onde há ali um alinhamento ideológico. Em especial com a Bolívia.
Não houve crítica maior, ou nenhuma postura dura do governo, quando o avião do ministro da Defesa foi revistado por cães farejadores quando estava em solo boliviano ou quando houve ocupação, por forças militares, das refinarias da Petrobras, em solo boliviano. A passividade foi muito grande. Talvez isso tenha permitido ao governo Evo Morales tratar esta questão do asilo diferente do que estabelece o Tratado de Caracas e o que orienta as relações internacionais. O asilo político, e isso está no Tratado de Caracas, pressupõe o salvo-conduto. Mesmo a Bolívia não sendo signatária, quando não há sua assinatura deve seguir as normas internacionais que recomendam o salvo-conduto. Isso não foi dado.
Quero dizer que a postura do diplomata Saboia deve ser elogiada e reconhecida como gesto humanitário. Como no passado já ocorreu no próprio Itamaraty, quando, por exemplo, o embaixador Souza Dantas, contrariamente a orientação do Itamaraty e do governo brasileiro, permitiu que fugitivos do regime nazistas viessem para o Brasil e suas vidas fossem salvas. Essa é a nossa posição. Não que estimulemos o não cumprimento, o não respeito à hierarquia, mas teríamos tido, de Estado para Estado, uma relação muito mais clara e firme do governo brasileiro para que não houvesse o que aconteceu, absoluta omissão do Brasil, e desprezo, a meu ver, à integridade física e a dignidade humana do senador boliviano.
Sobre a decisão da Câmara dos Deputados no caso Donadon
Uma decisão que não honra o Congresso Nacional. Não faço juízo de valor em relação ao processo, nem conheço o conteúdo do processo em relação ao deputado, mas, se ele foi condenado pela última instância da justiça brasileira, pelo Supremo Tribunal Federal, ele não pode conviver no Parlamento brasileiro. Isso mostra a necessidade clara de termos para esse tipo de votação o voto aberto do plenário. Infelizmente uma decisão que não honra as melhores tradições do Congresso brasileiro e, cada vez mais, distancia o Parlamento do sentimento da sociedade. Uma decisão extremamente infeliz.
Como o sr. avalia a chegada dos médicos cubanos no Brasil?
Venho agora há pouco da sabatina do novo procurador-geral, dr. Janot e fiz a ele essa indagação. Porque o artigo 5º da Constituição, até para ouvir dele a sua visão, que para mim não ficou muito clara, prevê que não pode haver diferenciação de tratamento de brasileiros em relação a estrangeiros que venham a residir no Brasil. E também o artigo 7º, em seu inciso 30º, diz que não pode haver qualquer discriminação no tratamento desses estrangeiros aqui. A indagação que faço é essa. No momento em que, do ponto de vista salarial, eles terão remuneração bem menor que outros representantes de outros países que exercerão a mesma função, a partir do ponto de vista que eles não podem, por exemplo, trazer para o Brasil as suas famílias, o que já é uma discriminação, se isso não afronta a Constituição. Não tenho qualquer reparo a fazer à origem dos médicos. Seria uma iniciativa importante por parte do governo brasileiro garantir que eles recebam a mesma remuneração que vai receber o médico português, espanhol, venezuelano, que vai estar sentado ali na mesma sala que ele, ou na sala ao lado. Temo que essa discriminação possa afrontar a Constituição.