Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre a posse do governador Alberto Pinto Coelho

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (04/04), em Belo Horizonte (MG). Aécio Neves esteve na capital mineira para participar da cerimônia de despedida de Antonio Anastasia do cargo de governador de Minas Gerais e da posse do governador Alberto Pinto Coelho.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador Aécio Neves:

Sobre a cerimônia de posse do governador Alberto Pinto Coelho

Estou muito feliz em ver que a nossa obra de governo respeitada pelos mineiros e admirada no Brasil vai ter continuidade. Em 2003, construímos aqui um ousado projeto administrativo que permitiu que Minas avançasse em várias áreas. Claro que com dificuldades enormes como em todos os estados, mas nenhum avançou tanto como Minas Gerais em especial na educação. O Alberto Pinto Coelho tem toda a nossa confiança para dar continuidade ao extraordinário trabalho dessa figura humana notável e singular. O governador Antonio Anastasia que hoje deixa o governo de Minas não é apenas o gestor público como ele é apresentado, não é apenas um homem leal como ele é reconhecido. É um quadro raríssimo na política brasileira porque ele alia um profundo conhecimento jurídico a uma sensibilidade insuperável para com os problemas das pessoas reais. Ele sofre com os problemas das pessoas reais. Isso dá a ele uma coragem e uma força para tomar as decisões corretas e enxergar longe. O que distingue o político do estadista é a capacidade de enxergar além do amanhã e perceber que medidas que você toma hoje podem, de alguma forma, mudar a vida de gerações que ainda nem chegaram. Anastasia, portanto, é um estadista. É um dos homens públicos mais qualificados e um dos cidadãos mais respeitáveis que conheci ao longo da minha vida. Estou com saudade de um lado, emocionado com a conclusão do mandato de Anastasia, mas também feliz em saber que Alberto tem toda a qualidade e as condições de dar continuidade a ele. E quem sabe, vamos ter mais quatros anos ainda de muito trabalho no Palácio da Liberdade.

 

Sobre o PP

Tenho de respeitar a posição que o PP tem hoje nacionalmente, aliado da presidente da República, mas há um movimento crescente em vários estados que aproxima o PP de nós. Acredito muito nas coisas naturais na política. As alianças que acontecem em torno de um projeto no qual todas as pessoas acreditam e não apenas em torno da distribuição desse ou daquele espaço, são os que darão resultado. O que posso dizer, entrando na questão nacional, é que estou cada vez mais convencido de que temos avançado e que vamos vencer as eleições. Talvez não tenha dito com esta clareza. Cada vez me convenço mais de que há um cansaço de um governo que perdeu a capacidade de transformar, de ousar. Um governo que está na defensiva o tempo inteiro que não permite sequer que denúncias da gravidade daquelas que hoje surgem em relação à Petrobras sejam investigadas.

O que queremos é apenas a investigação. Não estamos condenando ninguém. O governo usa a sua maioria para impedir investigações. Mas no campo da infraestrutura, o PT nos deixou dez anos atrasados demonizando as participações com o setor privado. Perdemos tempo em relação a outros países do mundo. Nos indicadores sociais paramos de avançar. Na segurança, há uma omissão quase que criminosa do governo federal, que investe cerca de 13% apenas de tudo o que se investe em segurança pública. Na educação e na saúde, estamos no final da fila. Já deu. Este modelo de governo que está aí está vivendo os seus estertores. Está vivendo os seus últimos suspiros. Estou me preparando ao lado das pessoas mais qualificadas do Brasil, mas sempre com a inspiração dos valores, da história de Minas para iniciar uma nova página.

 

O sr. disse que está pronto para tomar ‘medidas impopulares’, quais seriam?

Transparência e rigidez na condução da política fiscal. A inflação tem que ser focada no centro da meta, e não no teto, como existe hoje. O governo do PT, o governo da presidente Dilma, foi leniente com a inflação. Temos uma inflação, hoje, já alcançando o teto da meta e com preços controlados de energia, de combustíveis, de transportes públicos, que hoje estão em 1,5%. Na hora que esses preços saírem, que abrir a tampa dessa panela de pressão, a inflação vai chegar próxima de 10%. A presidente prepara uma bomba-relógio para depois das eleições, com reajuste de energia, em razão de uma medida desastrada que ela tomou no setor, e também do preço de combustíveis, já que a Petrobras está caminhando para a insolvência se não houver uma recuperação da gestão da empresa. O que orienta a ação do governo hoje é o calendário eleitoral, infelizmente. E quanto mais você demora na administração pública para tomar uma medida necessária, o custo lá na frente é muito maior. O custo será muito maior para o Brasil, com o adiamento de algumas medidas que já poderiam ser tomadas, mas não foram tomadas porque são impopulares.

Tenho dito o seguinte: quando vencermos as eleições, vamos cortar pela metade o número de ministérios, vamos colocar gente qualificada nos lugares certos, vamos estabelecer um programa de segurança pública audacioso, com maior participação de recursos da União. Vamos proibir o contingenciamento de recursos da segurança pública como ocorre hoje. Vamos enfrentar a reformulação do Código de Processo Penal e do Código Penal, para não estimular a impunidade e, a partir dela, a criminalidade como estamos assistindo hoje. A minha percepção e meu sentimento é que há um final de ciclo chegando, e o PSDB é quem terá as condições de liderar um início de um outro.

 

O prefeito Marcio Lacerda pediu seu apoio a uma possível candidatura?

Em momento algum. Ele foi fazer uma visita e ele próprio disse qual era a sua decisão – que eu, pessoalmente,  já conhecia, que é de dar continuidade no seu trabalho na Prefeitura.

 

Sobre o PSDB em Pernambuco.  

O PSDB está se reunindo. Acho que o caminho natural do PSDB, segundo a posição da maioria do partido, é estar ao lado da candidatura do PSB. E eu não vou interferir nisso.

 

Sobre retorno da presidente Dilma a Minas dia 7.  

É direito dela vir a Minas Gerais. O que percebo é que, nesses poucos meses desse ano, ela já veio a Minas mais do que nos 40 anos em que ela ficou fora de Minas. Mas ela sempre será muito bem-vinda, como recebemos em Minas todos aqueles que nos visitam. Gostaria apenas de que ela pudesse estar aqui não apenas lançando e anunciando, mas inaugurando e entregando obras, já que ela está no 12º ano de um governo do qual ela participou intensamente, como ministra durante todo o tempo e, agora, como presidente da República. Infelizmente, as mesmas demandas, as mesmas expectativas que tínhamos quando o PT assumiu são as mesmas que temos hoje. Vamos, com a tradicional hospitalidade mineira, receber mais uma vez – e quantas ela venha aqui nos visitar – a presidente da República.

 

Sobre a Copa do Mundo.

Eu quero que o Brasil ganhe. Na verdade, na Copa do Mundo, o grande legado prometido não virá. Apenas 23% das obras para a Copa do Mundo anunciadas pelo governo, portanto, comprometidas pelo governo, estarão prontas. Apenas 23%. Isso significa que 3/4, ou um pouco mais, das obras prometidas não serão entregues. Por que o governo não quis? Não, porque o governo é incapaz. Porque o governo atrasou nas parcerias com o setor privado. Porque o governo afugenta esses setores que podem ser parceiros no desenvolvimento de obras de mobilidade, por exemplo. Não tem gestão nesse governo. É uma falácia.

A presidente da República foi eleita suportada por dois pilares: o da economia, dizendo que continuaria a fazer a economia a crescer. Nosso resultado é pífio. O Brasil cresceu ano passado mais do que só a Venezuela na América do Sul. A nossa equação é a mais perversa de todas: inflação alta com crescimento baixo, e uma perda crescente da credibilidade do Brasil. O que fizeram com as nossas empresas públicas é quase um crime de lesa-pátria. A Petrobras perdeu metade do seu valor, a Eletrobras muito mais do que isso. O BNDES é uma caixa preta, que empresta recursos sabe-se lá como, através de operações secretas. Na economia nós vamos muito mal.

E o segundo pilar: o da grande gestora. Estamos vendo aí que infelizmente a grande gestora não nos visitou ao longo desses quatro anos de governo. A presidente da República-candidata tem vindo muito a Minas, e eu a receberei sempre com enorme respeito. Até porque, e aproveito para dizer ao final, a presidente da República é uma mulher de bem. É proba. Não há qualquer dúvida em relação ao seu caráter, não há nenhum questionamento em relação à sua correção pessoal. O que há é um enorme questionamento pelos indicadores da economia, pelos atrasos da infraestrutura, pela projeção extremamente preocupante dos indicadores sociais, de que ela não estava preparada para assumir a responsabilidade de administrar um país da complexidade do Brasil

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