Aécio Neves – Entrevista coletiva em São Paulo

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (29/11), em São Paulo. Aécio Neves falou sobre a política internacional e Mercosul; o impacto das manifestações no próximo ano; eleições 2014; e sobre a presidente Dilma Rousseff ter orientado o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a responder ao PSDB.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre política internacional e Mercosul

Temos conversado muito com figuras que conhecem o mundo, que têm vivenciado os problemas que o Mercosul não tem conseguido superar. Ficamos amarrados. Estamos nos isolando. Como disse, o Brasil é a sétima economia do mundo e o 25º país exportador. Isso não é razoável, não é algo minimamente equilibrado.

Temos de sair das amarras de uma situação aduaneira, que é hoje o que estabelece o Mercosul, para uma área de livre comércio, onde possamos fazer acordos bilaterais que não interessam ao conjunto do Mercosul. Nesses dez anos foram apenas três acordos que o Brasil fez. E o mundo está andando, está fazendo acordos. Citei aqui uma preocupação central que devemos ter, porque estamos no final de uma negociação com a União Europeia, a Argentina já deu um passo atrás. E se houver um entendimento entre EUA e União Europeia, são concorrentes nossos, ambos, e são mercados nossos. Nós, mais uma vez, vamos ficar fora das cadeias globais de produção.

O que propomos: uma abertura maior da economia, para que as empresas brasileiras, temos que acabar com essa bobagem dos campeões nacionais financiadas pelo BNDES. Temos é que incluir as empresas brasileiras nas cadeias globais de competição onde tenhamos competitividade. E fazer alinhamentos pragmáticos e não ideológicos, que é o que hoje orienta. O Mercosul pode fazer acordos desde que haja interesse comum, a prioridade é através do Mercosul. Mas quando não houver interesse, por exemplo, houver uma restrição da Argentina ou da Venezuela, elas não podem amarrar o desenvolvimento do Brasil.

Eu não acabaria com o Mercosul, mas daria um passo para que se transformasse em uma área de livre comércio, porque aí poderíamos realizar acordos bilaterais que hoje não podemos realizar.

 

Sobre a presidente Dilma ter orientado o ministro da Justiça a responder ao PSDB.

Mostra uma preocupação da presidente. Nós, do PSDB, queremos a apuração profunda de todas as denúncias. Se houver uma pessoa próxima ao partido ou vinculada ao partido que tenha cometido alguma ilicitude que responda por ela. Não podemos aceitar é, mais uma vez, a manipulação de informações e a falsificação de informações. O que cobramos do ministro, me surpreende um pouco que o ministro se sinta tão atingido, talvez ali na sua postura quase que imperial, quando recebe críticas. Imagina se toda crítica que recebermos, nós vamos processar aquele que nos critica.

Queremos que o ministro explique: por que não assumiu desde o início que ele encaminhou os documentos à Polícia Federal e deixou que dois delegados fossem iludidos. Por que não explica com clareza quem é que fez a falsificação daqueles documentos. Queremos esclarecimentos. Disse mais cedo e vou repetir aqui: cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça. Todas as vésperas de eleição o PT vem com dossiê Cayman, ou lista de Furnas, ou Aloprados ou dossiê contra Serra e sua família.  Então, estamos nos precavendo, por que homens e pessoas corretas e sérias, que têm uma história de vida respeitável, não podem estar aí com imagem achincalhada a partir do vazamento, que já é outra coisa irresponsável, de documentos que não têm uma origem assumida. Isso é absolutamente razoável, é o nosso papel. Não fazendo isso, estamos permitindo que a democracia seja atingida.

Tenho respeito pessoal pelo ministro, foi meu colega, convivo republicanamente com ele, por isso me surpreendeu sua atitude e sua reação.

O que os brasileiros querem é uma explicação. Explique de forma muito clara e continue fazendo as investigações. Faça sobre as denúncias de cartel em São Paulo, faça sobre as denúncias de cartel que, segundo documento da Siemens, existia em outros setores, em outros níveis de governo, inclusive no plano federal, através da CBTU. É o que queremos e é o que os brasileiros querem.

 

Sobre o impacto das manifestações no próximo ano.

Não tenho bola de cristal. Mas o que posso, olhando no retrovisor da história, é dizer que nenhuma daquelas motivações que levaram milhões às ruas, foi atendida pelo governo. O governo quis interpretar que os brasileiros que foram às ruas contra a corrupção, por serviços de melhor qualidade, contra a calamidade no atendimento à saúde, queriam um plebiscito para uma constituinte para fazer reforma política. Não é nada disso. As respostas não foram dadas, os serviços públicos continuam de péssima qualidade e infelizmente os desvios continuam a acontecer no Brasil. Quanto mais efetiva e rápida for a reforma dos governos, e aí não apenas da Presidência da República, dos governos em todos os níveis, obviamente as pessoas se sentirão atendidas.

Os brasileiros sabem que você não vai ter uma resposta para ter um transporte público de qualidade de um dia para o outro, amanhã, porque eu fui para a rua. Ou que o posto de saúde vai estar melhor equipado. Não. Mas as pessoas sabem entender e avaliar se as medidas estão sendo tomadas de forma adequada. Quando, por exemplo, o governo veta mais investimentos na saúde, que foi a proposta que encaminhamos, de chegar a 18% da receita em quatro anos, ela percebe o sinal trocado. Poxa, eu quero uma saúde de melhor qualidade, o governo federal não quer. Quando o governo federal se omite na questão da segurança pública, e essa foi uma das questões que levou as pessoas às ruas, elas percebem o sinal trocado. Esse dado que eu disse aqui é um que temos conhecimento: 87% de tudo que se gasta em segurança, com a criminalidade aumentando no Brasil inteiro, são de estados e municípios, que não têm de onde tirar. A grande verdade é essa.

As respostas do governo inexistiram nessas questões, mas obviamente não são manifestações centradas, focadas apenas no governo central. São direcionadas a todos os governantes.

 

O senhor falou que o PT é um software pirata do PSDB.

O PT só acerta quando copia a agenda do PSDB. Lá atrás, quando desdizendo seu discurso, felizmente para o Brasil, o presidente Lula mantém os pilares macroeconômicos intocáveis – meta de inflação, câmbio flutuante, superávit primário –, ele acerta. Pena que a partir da metade de seu segundo mandato isso vinha sendo flexibilizado. Quando o presidente Lula abandona o Fome Zero, vocês se lembram, era o grande programa de redenção social do Brasil, que ninguém conseguiu entender como funcionava e o próprio governo, por não entender, abandonou.

No momento em que ele se apropria dos programas de transferência de renda, apesar de ter dito que era uma esmola no segundo turno das eleições de 2002, e os amplias, ele acerta. E esse reconhecimento eu faço de público. Foi correta a unificação do Bolsa Alimentação, do Bolsa Escola, ele já herdou 6,9 milhões de pessoas recebendo esses benefícios, mas ele unificou e ampliou, acertou. Ampliou um programa do PSDB. Depois de demonizarem por 10 anos as privatizações, tratando o setor privado como inimigo, açodadamente, agora afobadamente se curva a essa realidade. Acertou.

Quando o PT segue o receituário do PT, o PT erra. Por isso que estou dizendo, o que têm feito, fazem sem convicção. Então, é melhor que o software pirata dê lugar ao software original, de quem sabe fazer e faz com convicção.

 

Sobre a definição do candidato do PSDB.

Sou presidente do PSDB. Vim aqui nesta condição. O PSDB não vai se furtar a apresentar um projeto ao país. Esse ano ainda, como presidente do partido, na primeira quinzena de dezembro, vou apresentar uma agenda, uma nova agenda, até porque não temos agenda no Brasil hoje. A agenda que está em execução é a agenda do PSDB. Estabilidade, responsabilidade fiscal, programas de transferência de renda. Não teve inovação. O PT não inovou.

Vamos apresentar uma nova agenda. Quais são as questões que na nossa avaliação mereçam urgência no tratamento. Como base até para receber contribuições para, no futuro, se transformar em um programa de governo. Essa é a nossa prioridade. Na hora certa vamos ter um candidato. E o que posso garantir, até para desalento e desencanto dos nossos adversários, o PSDB vai estar absolutamente unido para chegar ao segundo turno e vencer as eleições. Porque o sentimento no Brasil é de mudança, as pessoas estão cansadas disso que está aí. Quem for para o segundo turno com a presidente da República vencerá as eleições e espero que sejamos nós.

 

Eduardo Campos diz que não quer mais polarização entre PT e PSDB 

Acho que ele é um grande quadro da política e, desde início, estimulo e continuarei estimulando a sua candidatura. Ele é sempre muito bem vindo no campo da oposição. Ele e a Marina (Silva).

Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on Google+