Aécio Neves – Entrevista Coletiva em Campinas

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, conversou com jornalistas, hoje, em Campinas (SP), sobre a sua visita à região para encontros com a militância, com lideranças política e  empresários, sobre as propostas do PSDB para o Brasil e sobre a relação do partido com o agronegócio.


Sobre a visita à região

Estamos construindo um projeto alternativo para o Brasil a esse que está aí. Um projeto que possa ao mesmo tempo ser ético e eficiente. O PSDB não tem a possibilidade ou a opção de apresentar um projeto e uma candidatura alternativa à do PT. Tem a obrigação de fazer isso. E essa construção se faz não no gabinete em Brasília, ou no Congresso Nacional. Se faz aqui conversando, e agora vamos nos reunir com alguns empresários da região, que vivem certamente o drama da desindustrialização por que passa o Brasil, do pífio crescimento que passa a economia, com inflação alta. A grande verdade é que as principais conquistas que nos trouxeram até aqui, e que vieram, as mais importantes delas, do governo do presidente Fernando Henrique, estão hoje colocadas em risco.

O Brasil precisa de um novo modelo de gestão da economia. De gestão do próprio Estado, com parcerias efetivas com o setor privado a partir de um planejamento que possa levar as obras a serem concluídas e não ficarem, a maioria, no meio do caminho como estão hoje. Políticas de inserção social que não se contentem com a simples administração diária da pobreza, que parece ser a prioridade do PT, mas nos possibilite a sua superação.

Vamos apresentar ainda esse ano, provavelmente no próximo dia 17, um conjunto de ideias que eu chamo de ideias para mudar o Brasil. Essas ideias serão a base do nosso programa. Elas serão colocadas para discussão com nossos companheiros, com a sociedade brasileira, para que no início do processo eleitoral, a partir de junho do ano que vem, possamos, já com algum nível de detalhamento, apresentar ao Brasil a nossa visão. Que passa pela refundação da Federação, com estados e municípios investindo mais do que investem hoje, que passa por uma visão de mundo mais moderna do que essa equivocada visão ideológica que tem conduzido a nossa política externa, e, por último, que permita ao Brasil retomar a confiança perdida e voltar a crescer em níveis razoáveis.

Sobre uma possível aliança do PSDB com o PSB em São Paulo

Não tenho condições nem autoridade para definir o que vai acontecer em São Paulo. O que posso dizer é que em várias regiões do país, em muitos estados, PSDB e PSB já caminham juntos. Nos meus dois governos em Minas Gerais e no atual do governo, do governador Anastasia, o PSB é um dos mais importantes parceiros. Aqui mesmo, em Campinas, fizemos uma bela e vitoriosa dobrada. Acredito muito nas coisas naturais na política. Tenho certeza que, seja no plano estadual, seja no plano nacional, a aproximação PSB e PSDB será algo que ocorrerá com enorme naturalidade, mesmo que não seja em um primeiro momento. Porque ambos estamos percebendo o que acabei de dizer, o mal que o governo do PT vem fazendo ao Brasil. Queremos interromper esse ciclo do PT a nível nacional para iniciar um outro, e obviamente não queremos que nada parecido com isso que acontece no Brasil venha a acontecer em São Paulo.

Uma possível aliança gera palanque duplo para o governador Geraldo Alckmin?

Acho que não. É muito natural que as realidades regionais, que existem durante o período de mandato, sobrevivam durante as eleições. Se tivermos, por exemplo, uma aliança do PSDB com o PSB e vários outros partidos em Minas, os membros de cada partido farão campanha para os seus candidatos nacionalmente. Você não pode destruir uma aliança que vem ajudando São Paulo a governar, no caso com a participação do PSB e de vários outros partidos, em função da questão nacional. Algumas pessoas, acho, subestimam a capacidade do eleitor de compreender a realidade. As alianças são importantes, desde que sejam em torno de um determinado projeto de governo, são necessárias até para a governabilidade. Tenho conversado permanentemente com o governador Eduardo Campos, já fazia isso antes até de sermos possíveis, ou pré-candidatos, como vocês nos chamam, porque sabemos que, lá na frente, independente de quem vença as eleições, e acredito que as oposições vão vencer as eleições, espero que sejamos nós, vamos ter que estar juntos para governar o Brasil.

Sobre a relação do PSDB com o agronegócio

A nossa conversa, o nosso diálogo com o agronegócio é muito fácil. É como tenho dito, papo reto. Porque reconheço que é o agronegócio quem tem segurado e sustentado o crescimento da economia brasileira. Não fosse o agronegócio, esse crescimento, que é irrisório, seria negativo. O que temos é que reconhecer o esforço que a agropecuária vem fazendo no Brasil, inclusive o investindo em inovação, inclusive com preocupações do ponto de vista da sustentabilidade, da preservação ambiental.

O Brasil, da porteira para dentro, é o país mais produtivo do mundo. O problema do Brasil é da porteira para fora, onde falta estrada, falta ferrovia, falta hidrovia, faltam portos. Enfim, o que precisamos é de um governo que planeje em sintonia, que fortaleça, por exemplo, o Ministério da Agricultura, que hoje é um instrumento de negociação política. O Ministério da Agricultura é igual hoje ao Ministério da Pesca, com mais meia dúzia de ministérios, que servem para garantir alguns segundos a mais de propaganda eleitoral à presidente da República.

Sobre prisões de dirigentes do PT

Desde o início deste processo sempre dissemos: o Supremo Tribunal Federal tem de ser respeitado. Fez um julgamento com base nos autos, inocentou aqueles sobre quem achava que não recaiam provas contundentes e condenou aqueles sobre os quais as provas eram irrefutáveis na visão do Supremo Tribunal Federal. Eu como presidente nacional do PSDB não tenho alegria no coração de ver pessoas presas. Penso sempre nas famílias, no sofrimento que eles têm. Mas o fato concreto é que este processo precisa ser encerrado para que o Brasil não continue vivendo naquela sensação da impunidade eterna para os poderosos.

Portanto, o Supremo Tribunal Federal fez o que tinha de fazer. Felizmente, digo isso em nome de todos nós que lutamos pela democracia no Brasil, não temos mais presos políticos no Brasil. Temos sim políticos presos. E, amanhã, se houve a comprovação de um ato ilícito de qualquer cidadão e se for filiado ao PSDB, vamos ter a mesma postura. Vamos respeitar o julgamento do Supremo Tribunal Federal. Vamos aguardar, portanto, que a Justiça se manifeste. Não vamos fazer como faz o PT, querer transformar em uma punição ou uma condenação política algo que foi simplesmente um crime comum, dinheiro público utilizado para manutenção de um projeto de poder. Então, ao fazer isso, o PT faz um mal enorme à democracia, mas acredito que faz um mal pior ainda e ele próprio.

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