O senador Aécio Neves concedeu entrevista coletiva, neste sábado (30/11), em Bauru (SP), onde participou do Encontro Regional do PSDB – Centro-Oeste paulista. Aécio Neves destacou que tem percebido um sentimento de mudança, por parte dos brasileiros, nas viagens que tem feito pelo Brasil.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre a viagem
Há um sentimento, aqui em Bauru também, e na região, que eu tenho colhido em todas as viagens que temos feito pelo Brasil. Um sentimento de mudança. O Brasil, na verdade, quer e merece muito mais do que está tendo. E o papel do PSDB, e venho hoje a Bauru como presidente nacional do PSDB, é exatamente de apresentar ao Brasil um novo projeto. Mais ousado, no ponto de vista das políticas públicas; mais eficiente na gestão do Estado; mais ético – e isso para nós é essencial – que possa permitir ao Brasil voltar a crescer de forma sustentável.
O Brasil tem hoje uma equação extremamente perigosa, que é de inflação alta, crescimento baixo. Vamos crescer este ano apenas mais que a Venezuela na nossa região, na América do Sul, e não é justo para um país com tantas potencialidades como o Brasil estar entrando novamente no final da fila no que diz respeito a investimentos, sobretudo internacionais.
Temos andado pelo Brasil inteiro construindo essa proposta. Ainda este ano vamos lançar um conjunto de ideias em que vamos colocar a discussão do Brasil, aquilo que na visão do PSDB, dos nossos filiados, é essencial para nós, como disse, retomarmos o crescimento econômico em bases sólidas, restabelecermos a credibilidade perdida do Brasil, avançarmos nas políticas sociais. E essa nova agenda, estamos construindo com base em encontros como este, onde conhecemos um pouco mais a realidade de cada região, suas expectativas, suas angústias, muitas vezes, mas, no fundo, sou um otimista e acho que o PSDB irá representar, no momento certo, a mudança segura que tantos brasileiros querem, e aqui hoje pudemos assistir isso desde que cheguei mais cedo em Bauru.
Sobre a importância de São Paulo nas eleições
São Paulo decidirá a eleição. Não tenho dúvida sobre isso e não tenho qualquer constrangimento de dizer, ao contrário. Daremos uma prioridade absoluta a São Paulo, seja pelo êxito e pela excelência das administrações do PSDB, em especial agora do governador Geraldo Alckmin. Temos um partido, em São Paulo, orgânico, estruturado, que tem ideias, que tem propostas. Isso me alegra muito. Já estamos com uma agenda intensa em São Paulo, apenas nas próximas semanas, ainda estaremos na semana que vem, sexta-feira, em Campinas, no sábado em Sorocaba, na outra sexta em São José dos Campos, no outro sábado em Santos, sempre em encontros regionais como esse. O PSDB não tem a opção de apresentar um novo projeto. O PSDB não tem a possibilidade de lançar uma candidatura. Temos a obrigação e a responsabilidade de dizermos ao Brasil, de forma muito clara, que temos uma proposta alternativa. Mais solidária com os municípios e com os estados, que rompa esse ciclo de concentração absurda e perversa de receitas tributárias nas mãos da União. Hoje, por exemplo, 45% apenas do financiamento global da saúde vêm da União. Há 10 anos, quando o PT assumiu o governo, era 56%. Hoje, em segurança pública, essa grande tragédia nacional, agravada por essa epidemia de drogas, em especial o crack, avassaladora, que tomou conta de todo o Brasil, os estados e municípios investem 87% de tudo o que se gasta em segurança pública no Brasil. A União, que é quem mais tem, que se apropria de mais de 60% do conjunto dos recursos tributários do Brasil, que tem a responsabilidade pelo controle das fronteiras, do tráfico de drogas, do tráfico de armas, participa com apenas 13%. São alguns exemplos, e eu poderia citar inúmeros outros, que mostram a pouca generosidade, hoje, do Brasil, com os estados e com os municípios.
São Paulo é um exemplo claro que as transformações ocorrem a partir das forças locais, dos arranjos políticos, dos arranjos econômicos e sociais locais. Daremos não apenas agora, mas durante todo o processo eleitoral, uma importância especialíssima a São Paulo. Estamos convencidos de que, se vencer em São Paulo, venceremos as eleições no Brasil.
Sobre a unidade do partido e o apoio de lideranças da região
Isso é fundamental. As lideranças regionais terão peso nessa eleição maior do que em qualquer outra. Eu venho a Bauru pelas mãos do companheiro Pedro Tobias, sempre presidente do PSDB, talvez aquele que desde o início mais estimulou nossa caminhada. Ele pensa, ele respira, ele trabalha pensando na região, em Bauru, e no Brasil. E esse é o PSDB. O PSDB está pronto para o debate em qualquer área. Querem debater economia? Vamos lá. Somos o partido da estabilidade, das privatizações, da modernização da economia. Eles são o partido da instabilidade, da perda de credibilidade, da alquimia fiscal, da não transparência dos dados.
Querem debater gestão? Consideramos o setor privado um parceiro essencial aos investimentos, sobretudo em infraestrutura. Prezamos o planejamento. Eles não, eles demonizaram o setor privado até onde puderam e são o governo do improviso. Por isso, o Brasil é hoje um cemitério de obras inacabadas por onde você anda.
Querem debater as questões sociais? Vamos lá. O PT prefere, ou se satisfaz, com a administração diária da pobreza. Queremos muito mais. Queremos a superação da pobreza. Queremos políticas de inclusão. O Bolsa Família está aí? Está. O DNA dele é nosso. Vai continuar? Vai continuar. Mas pra eles, o Bolsa Família é o ponto de chegada. Pra nós do PSDB, é o ponto de partida apenas.Queremos muito mais do que isso. O PSDB se prepara para o grande debate. Querem debater no campo ético? Essa é a que mais me alegra. O PSDB sabe que o Estado tem que estar a serviço da sociedade, não de um projeto de poder. É grave o que assistimos permanentemente por parte de figuras expressivas do PT, que se apropriam do Estado, colocam o Estado, estruturas do Estado, a serviço de um projeto de poder.
Vai chegar a hora da verdade. O PSDB se prepara pra ela de forma corajosa, altiva e, sobretudo, com a experiência que adquirimos em governos de excelência, como o governo de Geraldo Alckmin, como o governo de Minas e tantos outros espalhados pelo Brasil.
Qual a melhor forma de conter a inflação?
Em primeiro lugar, tolerância zero com a inflação. O PT flexibilizou a condução da política econômica, daqueles pilares herdados do governo do PSDB – de meta de inflação, câmbio flutuante, superávit primário –, que na verdade nos possibilitou uma travessia segura até determinado momento, o PT os flexibilizou a partir do segundo mandato do presidente Lula.
Temos uma inflação hoje sempre no teto da meta, ou rondando o teto da meta, o centro da meta é uma ficção hoje, é uma meta virtual. A inflação de 6%, hoje, existe porque existe um conjunto de preços que estão represados hoje. Preço de combustíveis, preço de energia, preço de transporte público. E esses preços controlados têm inflação em torno de 1%. Isso é uma panela de pressão. Na hora que essa tampa sair, e em determinado momento ela vai sair, a inflação explode. E a inflação de alimentos, que é aquela que mais pune o trabalhador, o assalariado, já está em dois dígitos.
A presidente da República diz que não, não tem inflação. Ao mesmo tempo o Banco Central aumenta a Selic e volta aos dois dígitos. Então, tolerância zero com a inflação, como? Com transparência. Os números não podem ser maquiados como têm sido pelo PT.
E a grande verdade que quero dizer para vocês aqui é que o PT quando segue a cartilha do PSDB, acerta. As poucas vezes que o PT acerta é quando segue a nossa cartilha. Na questão macroeconômica, no primeiro mandato do presidente Lula, desdizendo seu discurso, esquecendo tudo que disse na campanha eleitoral, ele segue os postulados da responsabilidade fiscal, com o registro de que votaram, inclusive, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o PT.
Quando esquece o programa social, que foi um programa da campanha e anunciado com pompa durante o início do governo do presidente Lula, o Fome Zero – muitos aqui se lembrarão disso – e se apropriam dos programas do PSDB, eles acertam. Eles ampliam e unificam os programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Vale Gás, herdados do governo Fernando Henrique. Ponto para eles. Fizeram corretamente.
Demonizaram durante 10 anos as concessões e as privatizações, quase como um crime de lesa-pátria. Era quase um crime a parceria com o setor privado. Hoje as fazem, mas fazem de forma envergonhada.
A grande verdade é que tem um software pirata em execução no Brasil e vamos trabalhar para reconquistar o direito do software original ser colocado em execução.
Sobre investigações em São Paulo
Têm que ser investigadas em profundidade. Se houver qualquer responsabilidade, seja de alguém próximo ao PSDB – e nada foi provado até agora –, seja ligado a outros partidos ou sem partidos, têm que ser responsabilizados. O que não podemos aceitar, porque isso é uma violência para com a própria democracia, é a utilização irresponsável de estruturas de Estado para acusar adversários. Vocês sabem que cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça.
O PSDB foi vítima, ao longo de todas as últimas campanhas eleitorais, da irresponsabilidade do PT, dos dossiês fajutos, dossiê Cayman, lá atrás, os aloprados, a Lista de Furnas, o sigilo da família do companheiro José Serra. E, agora, vem algo que ninguém conseguiu explicar ainda.
O que solicitamos ao ministro da Justiça é algo muito simples: explique o que aconteceu. Como pode uma tradução de um documento ser diferente da versão original? Como pode um processo que caminha em sigilo ser todo dia vazado para a imprensa apenas no que interessa àqueles que estão no poder? Repito, isso não faz bem à democracia. Queremos que todas essas denúncias sejam investigadas, seja em São Paulo, seja em outras partes do Brasil, onde as denúncias também existem.
Sobre as comemorações de 19 anos do Plano Real?
Fizemos grandes eventos em Brasília, com todas as figuras representativas do Real, com o presidente Fernando Henrique junto, temos um orgulho enorme do Real, da estabilidade. [Tivemos] uma exposição que ficou durante 40 dias no Congresso Nacional mostrando a história dessa reconquista. Acho que foram dois grandes momentos. A democracia foi fundamental, a nossa liberdade. E o Real possibilitou ao povo se libertar do mais perverso dos impostos que era imposto inflacionário.
Infelizmente, a grande verdade, é que o PT está colocando até isso em risco. A agenda que achávamos que tínhamos superado lá atrás é a agenda de hoje, da instabilidade econômica, do retorno da inflação, da perda de credibilidade do Brasil. Na hora em que devíamos estar aqui discutindo uma agenda nova para o mundo, inovação, aumento de produtividade, as empresas brasileiras entrando nas cadeias globais de produção, um alinhamento internacional não ideológico e atrasado, mas pragmático, em favor do crescimento da economia brasileira e de geração de empregos aqui, estamos com a agenda de 15 anos atrás.
O PT coloca em risco as principais conquistas vindas do PSDB, a começar pela estabilidade da moeda, passando pela responsabilidade fiscal e, tudo isso, emoldurado por algo que é essencial, a credibilidade do Brasil. Porque a credibilidade perdida, a ameaça de rebaixamento que eu espero que não ocorra na nota de crédito, de rating do Brasil, inibe os investimentos. Isso é essencial para o Brasil.
A aposta do PT foi equivocada no momento em que apostou no crescimento apenas via consumo, a partir da oferta de crédito amplo para todo o país. Isso foi importante no momento de crise, era importante injetar recursos no mercado, mas isso era uma política anticíclica. Tínhamos de, ao lado disso, criar um ambiente estável para, no momento em que o crescimento pelo consumo viesse a se exaurir, como aconteceu, hoje 63% das famílias brasileiras estão endividadas, precisávamos ter, para complementar o crescimento, o quê? Investimentos. Investimentos que gerassem renda e emprego. O que o governo fez? Intervencionismo absoluto, acabou com as agência reguladoras, não há respeito às regras hoje no Brasil e o investimento privado ficou fora, afugentou o investimento privado. Estamos aí no final da fila, crescendo de forma pífia, no momento em que a própria América do Sul cresce, no período de governo da presidente Dilma, quase dois terços mais do que cresce o Brasil.