Aécio Neves – Discurso durante reunião da Executiva Nacional

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, participou, nesta quarta-feira (05/11), da primeira reunião da Executiva Nacional do PSDB após as eleições de 2014. Aécio Neves afirmou que é responsabilidade da oposição manter vivo o sentimento de mudança que aflorou no Brasil a partir do processo eleitoral e prometeu cobrar melhorias do governo federal com base nas mesmas convicções que o moviam enquanto candidato à Presidência da República.

 

Discurso presidente do PSDB, senador Aécio Neves, durante reunião da Executiva Nacional e partidos aliados

Câmara dos Deputados – 05-11-14

Aos amigos que me permitem esse reencontro que para mim, os que me conhecem sabem muito bem, me alimenta a alma. E não poderia ser diferente.  No início efetivo dos trabalhos legislativos pós eleição qualquer outra atividade, qualquer outra ação efetivamente política, minha em especial que fui representante de tantos que estão aqui nessa campanha eleitoral, só poderia ocorrer após esse nosso encontro.

Ontem mesmo eu pretendia fazer um pronunciamento no Plenário do Senado, vou fazê-lo agora no início da tarde. De pronto, já convido a todos que a partir das 15 horas, aqueles que puderem obviamente estarem nos acompanhando no Plenário do Senado. Mas quis que esse pronunciamento fosse precedido desse encontro entre companheiros, entre companheiras de vários partidos políticos de todas as regiões do Brasil que acreditaram, na verdade continuam acreditando, na possibilidade da construção de um Brasil melhor, um Brasil mais justo, mais solidário, mais verdadeiro.

Não vou aqui monopolizar a palavra, mas nesse ato também, ao final, quero fazer uma sucinta análise do que foi esse processo eleitoral e, naquilo que pra mim dele restou de mais vigoroso, de mais vivo, de mais presente na alma, no sentimento das pessoas, tenho absoluta convicção de que não vou falar novidades para nenhum dos senhores ou das senhoras, porque a percepção que tenho, estou seguro, é a percepção que cada um de vocês, nos seus estados, vêm tendo de uma eleição que foi diferente das outras eleições.

Eu vou deixar portanto para fazer essa análise um pouco ao final. Eu gostaria – presenças tão ilustres, lamento todos não poderem estar aqui sentados e todos olhando na mesma direção. A imagem que me vem à mente aqui é de uma mesa de um lado só, com todos olhando na direção de um Brasil que possa ser diferente desse Brasil que aí está.

E para que ele seja diferente, certamente, a nossa ação no governo seria decisiva, mas não foi essa a vontade majoritária dos brasileiros, o que não faz que a nossa ação na oposição seja menos relevante e menos importante. Estamos, a partir de hoje, selando, aqui, um pacto de construção de uma oposição revigorada, e por mais paradoxal que possa parecer, de uma oposição vitoriosa. Porque nós disputamos essas eleições falando a verdade, apresentando aos brasileiros a possibilidade de uma nova construção política, ética e, sobretudo, o início de um novo e desafiador tempo para todos os brasileiros. Quero cumprimentar a todos que aqui estão.

Revejo aqui e, obviamente, não poderei fazer isso citando nominalmente, mas vários olhares de confiança que encontrei durante a campanha e que reencontro aqui hoje, parlamentares eleitos, reeleitos, parlamentares que não venceram as eleições, mas que continuam a ser ativos formuladores da vida pública dos seus estados, e mesmo no Brasil. E quero começar distribuindo um pouco a palavra, teremos apenas cinco ou seis manifestações, repito, convido a todos para estarmos a partir das três horas no Plenário do Senado.

Mas mostrando a síntese daquilo que foi a nossa caminhada até aqui, que a partir de um determinado momento, companheiro Imbassahy, governador Teotônio, presidente Roberto Freire, amigo e companheiro Paulinho, Ana Amélia, grande prefeito Arthur Virgílio, Mendonça aqui representando o Democratas, quero saudar os governadores eleitos na figura do governador Reinaldo Azambuja  do Mato Grosso do Sul, pela vitória muita especial para todos nós, aos líderes partidários, cumprimento através do líder Rubem Bueno, e uma saudação muito especial a um homem que aprendi a conhecer melhor nessa campanha eleitoral e que é merecedor, estejam certos disso, do meu absoluto respeito pessoal, Pastor Everaldo, cuja presença aqui hoje agradeço imensamente.

Mas como essa candidatura, a partir de um determinado momento em um grande movimento a favor desse novo Brasil, quero passar a palavra para que passe uma rápida mensagem, como de resto os outros quatro ou cinco oradores farão, a uma extraordinária figura, que eu já conhecida porque é minha colega, mas que essa campanha me permitiu ter com ela uma relação que é para toda uma vida. O [Mário] Covas dizia, senadora Ana Amélia, que a política é uma atividade diferente das outras porque ela permite, diferente da maioria das outras atividades que existam em uma sociedade, que você conheça pessoas, às vezes de geração diferente, de regiões diferentes, de formação profissional absolutamente distintas, e cria com elas um elo que, em um determinado momento você olha, parece que é uma amiga de infância e você tem absoluta certeza de que é uma amiga por toda a vida. Isso aconteceu comigo e com a senadora Ana Amélia.

Essa brava companheira que deu exemplos o tempo inteiro de dignidade, de honradez, de coragem, de solidariedade. Portanto passo a palavra inicialmente para que a senadora Ana Amélia do PP possa aqui dirigir aos companheiros uma palavra de saudação. Ela que terá um papel no Senado Federal extremamente relevante na construção da nossa ação política daqui por diante.

Eu queria fazer uma saudação especial a ele que tem sido um bravo companheiro, um bravíssimo guerreiro na governança do seu estado, que foi o estado que nos deu a maior votação proporcional, a você Paulo Bauer o meu agradecimento e o meu reconhecimento pela belíssima campanha, belíssima travessia que fez.

Como eu disse, daqui a pouco terei a oportunidade de fazer um discurso mais formal no plenário do Senado, para que fique ali registrado, não apenas a nossa compreensão em relação a tudo o que aconteceu neste processo eleitoral, mas em especial nossa visão clara em relação àquilo que precisa ocorrer no Brasil daqui por diante. Inicio essas minhas palavras com o mais profundo agradecimento a cada companheiro e companheira que com sua presença aqui hoje representam mais de 50 milhões de brasileiros que foram às urnas de forma absolutamente livres dizer o que queriam para o Brasil.

O que pensavam deveria ocorrer no Brasil pelos próximos anos. Sou democrata e venho aqui para ser lembrado, com as armas que tinha, com as armas da verdade, da compostura, da coragem, combatendo como aprendi a combater na política, onde a meu ver as ideias é quem devem brigar e não as pessoas, mas não tivemos a maioria dos votos. O que quero é reafirmar que a mesma determinação, a mesma coragem com as quais me preparei para governar ao Brasil, trago hoje para participar da nova oposição que aqui hoje se reúne pela primeira vez. A oposição, me permitam apenas esta tênue discrepância de compreensão em relação a alguns que aqui falaram, claro que o fizeram mais pela generosidade a homenagem, não se faz por um ou por alguns cidadãos.

A oposição brasileira hoje não precisa de um líder, ela tem viva na alma e no sentimento de milhões e milhões de brasileiros na sua mais importante essência que é a indignação com tudo que vem acontecendo ao longo desses últimos anos, mas também uma esperança muita forte e enraizada em relação àquilo que podemos mudar. Tão importante quanto governar é fazer a oposição, é travar aqui nesta Casa e junto à sociedade brasileira o grande debate que teremos que travar. Eu, portanto, não me esmoreci.

Não deixo de ter as convicções que me fizeram candidato, que me proporcionaram o privilégio que pouquíssimos brasileiros tiveram na sua trajetória, e esse eu realmente tive e divido com cada um de vocês e como dividi durante a campanha, que foi encontrar um Brasil vivo, um Brasil vibrante e perceber que a minha candidatura partiu, de um determinado momento, não pelas minhas virtudes, mas pelas circunstâncias nas quais ela era construída e pelo cenário que se delineava, pois ela na verdade era o contraponto ao desgoverno, ao desperdício do dinheiro público, à irresponsabilidade na gestão das nossas empresas, a minha candidatura foi se transformando em um movimento, em um movimento em favor de um Brasil diferente.

Mas trago esse sentimento com a humildade daqueles que aprendem desde cedo uma lição na minha casa com meu avô Tancredo, voto você nunca tem, voto você teve, e você tem que trabalhar muito para manter viva nessas pessoas que lhe depositaram através do voto a sua confiança a mesma chama que as fizeram acordar em um domingo pela manhã e ao longo da tarde ir às urnas tentar mudar o Brasil.

Hoje o Brasil é um Brasil diferente. Porque essa campanha terá consigo e levará para a história duas marcas, duas marcas muito claras, distintas, opostas. Uma delas protagonizada pelos nossos adversários, a campanha da infâmia, de mentira, da utilização absolutamente sem limites da máquina da pública em benefício de um projeto de poder. Pelo menos cumpriram a palavra. Disseram que iam fazer o diabo nas eleições. O diabo se envergonharia de muitas coisas que foram feitas durante essa eleição. Ocuparam as nossas empresas públicas, agora os Correios para a atuação infame. Ninguém vai jamais saber quantos foram os panfletos distribuídos sem chancela pela candidatura oficial. Infelizmente, milhões de brasileiros vão deixar de saber qual teria sido a nossa mensagem porque – entramos com uma ação  contra os Correios contra isso – aquilo que distribuímos, em várias partes do Brasil, não chegou. E quero deixar uma palavra de solidariedade aos milhares de funcionários dignos e honrados dos Correios e Telégrafos.

Aquilo que nós distribuímos em várias partes do Brasil e não chegou e quero aqui deixar uma palavra de solidariedade aos milhares de funcionários dignos e honrados dos Correios e Telégrafos. Muitos deles se manifestaram indignados com o absurdo aparelhamento daquela empresa. Eu fico apenas no exemplo, porque essa é uma parte que não cabe no regime democrático. Talvez sim em regimes militares muito próximos àqueles que governam hoje o Brasil. Mas não ficou aí, Cássio acaba de vencer dessa tribuna e me lembrava como vários outros companheiros aqui testemunharam que carros de som andavam pelas regiões mais pobres do Brasil para dizer que o voto no 45 significava o descredenciamento do Bolsa Família ou o Minha Casa, Minha Vida também a sua retirada da lista dos possíveis beneficiários. Coisas absolutamente inacreditáveis. Armas que não são decentes, não são honradas, foram utilizadas nessa campanha eleitoral. Poderia ficar só nisso, já seria o bastante para que essa campanha tivesse essa marca perversa, essa nódula absolutamente definitiva na vitória dos nossos adversários. Mas tivemos outras. Raul se lembrará. Eduardo em primeiro lugar, depois Marina, depois eu, fomos vítimas dos mais torpes ataques e infâmias já desferidos contra quaisquer candidatos na nossa democracia contemporânea. Sabiam que era mentira e fizeram da mentira a sua principal arma de lucro. Isso não dignifica a vitória que eu tive. Mas tem o outro lado, e aí é a essa marca que vou me ater. Há outro registro que deve ficar como referência e até como cautela para todos nós que vamos enfrentar no futuro outras disputas.

Essa foi a triste marca que esse governo deixou nessas eleições. Mas eu vi outra, essa eu vi de perto, com essa eu convivi, com essa eu me emocionei, essa me fez acreditar, mas acreditar no lugar mais profundo da minha alma que vale a pena sim fazer política e foi o meu reencontro com os cidadãos livres desse país. As pessoas voltaram a se abraçar nas ruas. As pessoas, sem se conhecerem, voltaram a se cumprimentar, a se olhar.

Pessoas idosas – e quantas foram, meu caro Cícero – de 80, de mais de 90 anos que se encontravam comigo, faziam um esforço enorme para chegar perto de mim para dizer: ó, eu vou as ruas dar o meu voto a vocês pela mudança, cuide dos meus netos, cuide dos meus bisnetos. As crianças, os desenhos, as mensagens das crianças, iam para a sua escola com as cores da bandeira nacional por uma causa que valia a pena. Os jovens que readquiriram nas universidades a capacidade do debate, do enfrentamento, de dizer que história é essa?

O lado bom é o nosso. O nosso é o da honradez, o nosso é o da verdade. Profissionais liberais de todas as categorias. Os médicos, sim, se mobilizaram de forma extremamente impressionante nessa campanha em favor de quê? De uma saúde mais digna, como fizeram profissionais de várias outras áreas.   Eu falo e cito esses exemplos para dizer que existe algo novo no Brasil e nós temos, todos nós, nenhum mais que o outro, a responsabilidade de manter isso vivo. Portanto, a nossa responsabilidade e a nossa obrigação é trazer agora para o campo oposicionista as mesmas convicções que tivemos ao debater com esse governo os seus equívocos e principalmente os descaminhos de ordem moral que se tornaram uma prática quase que cotidiana na ação de alguns dos seus membros.

Eu tenho comigo uma tranquilidade muito grande. Não venci as eleições. Gostaria muito de tê-las vencido e dar a todos esses brasileiros um governo honrado e digno que esperavam de nós. Mas eu boto a minha cabeça no travesseiro e durmo tranquilo, porque eu falei a verdade. Eles nos acusavam de ser os grandes patrocinadores do capital financeiro. Votar no Aécio, votar no PSDB e seus aliados, significa aumento da taxa de juros. Votar no Aécio significa o favorecimento ao capital especulativo.

O que aconteceu pouco dias após as eleições? Taxa de juros aumentam para combater uma inflação que para eles não existiu. Temos o maior buraco, o maior rombo nas nossas contas correntes de setembro de toda a última década. A inflação está aí, novamente fora de controle. Anunciava e perguntavam: Aécio e as medidas amargas, quais serão? Estão aí, patrocinadas por esse governo. A energia sobe e o preço da gasolina também. Medidas que seriam, se necessárias, talvez por um custo menor para a população brasileira se eles tivessem tido a responsabilidade de tomar conta do Brasil e tomar essas medidas anteriormente. Mas não, prevaleceu a agenda da eleição e não a agenda do país. Aliás, essa é uma marca tradicional do PT. Sempre que o PT teve que optar entre o PT e o Brasil, o PT ficou com o PT e quem saiu perdendo foi o Brasil. Foi assim na eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral, foi assim no Plano Real com o Fernando Henrique, na Lei de Responsabilidade Fiscal, e agora nessas eleições.

O que eu quero dizer a cada uma e a cada um de vocês é que depende de nós fazermos com que essa chama, que cresceu na sociedade brasileira, de alguma forma se espalhou por todo o Brasil e por todas as regiões do Brasil continue e quero reafirmar aqui, para que nos ouçam em todo o Brasil, farei a oposição ao lado de vocês, como disse, com as convicções que governaria e farei oposição pensando sempre, Raul, nos mais pobres, nos que mais precisam. Não vamos permitir essa ação INÁUDIVEL e macabra de dividirem o Brasil entre nós e eles.

Vamos cuidar aqui das medidas que diminuam as vergonhosas desigualdades a que o Brasil ainda hoje está submetido, e vamos, meus amigos e minhas amigas, com absoluta coragem, com a coragem cotidiana que não precisa resvalar para a ofensa. Mas uma coragem permanente. Vamos acompanhar as ações desse governo, vamos qualificar a nossa oposição, estou reunindo e organizando, Roberto, um grupo de trabalho técnico que vai permanentemente avaliar as ações de cada uma das áreas desse governo para que possam municiar os senhores para cobrar cada um dos compromissos que eles assumiram com o governo durante a campanha eleitoral e que estão muito longe de cumprir.

Hoje, o que nós temos no Brasil é um governo envergonhado pelas armas que usou para vencer as eleições. Tomando as medidas que disse que não tomariam e, na verdade, deixando como a principal marca dessa campanha, do lado dos nossos adversários, da mentira, do engodo, do disfarce. Mas, de outro lado, existe um Brasil revigorado, um Brasil vivo, esse com o qual vocês vêm se encontrando nas ruas de todas as nossas regiões, e é esse o Brasil que vai continuar a fazer a mudança.

Quero dizer, para finalizar, aqueles que ganharam as eleições, aqueles que governam o Brasil, quando olharem para o Congresso Nacional, não contabilizem o tamanho da oposição pelo número de cadeiras que temos no Senado ou pelo número de cadeiras que temos na Câmara dos Deputados. A cada voz, a cada palavra, a cada debate protagonizado por algum dos companheiros que estão aqui e enxerga através deles 51 milhões de brasileiros atentos, acordados, vigilantes, que não aceitam mais ser governados da forma que foram até aqui. Esse é o nosso papel e vamos juntos fazer a mais rigorosa oposição que esse Brasil já viu. Em benefício dos brasileiros, em benefício da democracia, da liberdade, dos valores e da ética e da moral.

Obrigado.

 

Ouça o áudio do discurso

Parte 1

 

Parte 2

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