Pronunciamento sobre o relatório apresentado pela comissão governista que visitou a Venezuela

“O país do relatório do senador Requião, infelizmente para todos nós, não foi a Venezuela que visitamos há poucas semanas. Mas, quem sabe, se o governo brasileiro agir, pode vir a ser a Venezuela de um futuro próximo”, diz Aécio Neves, em pronunciamento no final da tarde de hoje (15/07), em Brasília.

Aécio protestou contra o relatório apresentado hoje pela comissão de parlamentares governistas que visitou a Venezuela uma semana após a missão de parlamentares brasileiros da oposição ter sido impedida de cumprir uma agenda de trabalho no país e visitar os líderes políticos venezuelanos mantidos na prisão pelo regime de Nicolás Maduro.

O relatório apresentado no plenário pelo senador Roberto Requião considerou que a Venezuela vive dentro da normalidade política, embora deputados da oposição tenham tido direitos cassados e mais de 80 oposicionistas presos. O documento oficial é assinado também pelos senadores Lindberg Farias (PT-RJ), Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e Telmário Mota (PDT-RO).

Principais trechos do pronunciamento do senador Aécio Neves:

Esse debate já é um atestado de que não há normalidade democrática na Venezuela. O senador [Sérgio] Petecão (PSD-AC), que esteve conosco na nossa visita recente àquele país, dizia: “Esse país do relatório do senador [Roberto] Requião (PMDB-PR) não é o país que nós visitamos”. E certamente não é país que visitamos. Até porque, um país que vive na normalidade democrática não pode garantir livre acesso apenas para uma missão parlamentar solidária ao governo circunstancial daquele país vedando o acesso de uma comissão que foi, ali, prestar solidariedade a presos políticos e à oposição. Isso não é uma normalidade que nós, por exemplo, gostaríamos que existisse no Brasil. O livre acesso, a oportunidade de exercer as suas ideias, de dizer o que pensa não pode ser prerrogativa apenas daqueles que apoiam o governo daquele país.

No dia de ontem recebemos mais uma notícia extremamente preocupante e que mostra que não há normalidade democrática naquele país. A deputada mais votada da Venezuela, agora ex-deputada Maria Corina, teve seus direitos políticos suspensos, agora, por 12 meses de forma absolutamente injustificável. Ao mesmo tempo, continuam presos dezenas de cidadãos que queriam manifestar a sua oposição ao governo Maduro.

Reconheço que alguns passos foram dados, e em cima desses passos é que devemos centrar nossos esforços. Acho que o governo brasileiro tem o dever de fazer mais do que vem fazendo até agora, porque, praticamente, nenhuma ação concreta executou. Inclusive nesse episódio que pune, mais uma vez, a deputada Maria Corina, de forma absolutamente injustificável, poderia sim, em um gesto de boa vontade, o governo brasileiro está usando da sua influência, das boas relações construídas, em parte com subsídios dados pelo governo brasileiro, inclusive pela própria Petrobras, utilizar para garantir que seja apressado esse processo de normalização das relações democráticas na Venezuela.

A omissão do governo brasileiro ainda é enorme e nós, querendo ou não, somos o país mais representativo do ponto de vista econômico e populacional e mesmo geográfico da nossa região. E é essa omissão que tem sido cobrada de lideranças democráticas, das mais variadas tendências ideológicas de todos os países da nossa região. Mas vamos lá, reconheçamos alguns avanços, e reconheço a definição da data das eleições como o mais significativo deles. Mas é preciso que, acompanhada disso, haja um distensionamento e o governo brasileiro pode avançar, evoluir da omissão de hoje para uma posição mais proativa, para que possamos, quem sabe, dentro de algum tempo estarmos todos dizendo que a situação política na Venezuela se normalizou, porque todos puderam manifestar as suas preferências, optando pelos candidatos que achavam mais adequados.

E também do ponto de vista econômico dizer, quem sabe daqui a algum tempo, que houve uma normalização e a Venezuela não tem mais uma inflação anual de mais de 100%, com o crescimento negativo da sua economia, como previsto para esse ano, em torno de 7%.

Portanto, encerro dizendo que o país do relatório do senador Requião, infelizmente para todos nós, não foi a Venezuela que visitamos há poucas semanas. Mas, quem sabe, se o governo brasileiro agir, pode vir a ser a Venezuela de um futuro próximo. É o que todos nós desejamos.

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