Entrevista coletiva – senador Aécio Neves – Brasília – 28/11

Sobre reforma da Previdência.

Agora há pouco, na reunião da bancada do PSDB no Senado, propus que o partido volte a discutir o fechamento de questão em relação à reforma da Previdência. Quando decidimos participar do governo Temer apresentamos um conjunto programático, de propostas que estavam condicionadas ao nosso apoio. E grande parte delas em discussão, algumas aprovadas, como a questão da PEC do Teto (dos gastos), a reforma trabalhista, e ali também estava a reforma previdenciária. Fiz a campanha de 2014 falando da absoluta urgência e necessidade dessas reformas. Acho que o PSDB deve resgatar a sua condição de protagonista na agenda de reformas, que é o único caminho que permitirá ao Brasil sair mais rapidamente da crise extremamente aguda na qual os governos do PT nos mergulhou.

Sei que é algo que não é unânime no partido, não é sequer consensual, mas acho que a nossa responsabilidade é sermos coerentes com o nosso programa e com aquilo que sempre defendemos. E essa é uma oportunidade extraordinária dada a absoluta necessidade de fazermos essa reforma, principalmente para acabar com privilégios e garantir ao menos estabilidade no pagamento das aposentadorias futuras. Vamos chegar daqui a 10 anos, se nada for feito, sem condições de arcar com nada além dos benefícios das aposentadorias.

Sobre limites da atual proposta de reforma.

Temos que reconhecer que, com todas as dificuldades, o governo do presidente Temer é um governo que investiu nas reformas e paga um preço público em relação a isso. Seria absolutamente incoerente se o PSDB abdicasse do seu papel, repito, de condutor dessas reformas. Elas estão na direção correta. São mais tímidas do que aquelas que propúnhamos ou que gostaríamos de ver acontecer, mas é aquela que se julgou possível. A vitória ou a derrota da reforma da previdência se dará por poucos votos. É uma avaliação que faço depois de conversas com outros líderes na Câmara, com o próprio presidente Rodrigo Maia, e ela não pode deixar de acontecer por falta de votos do PSDB. Aí sim, seria uma desconexão definitiva do PSDB com a parcela expressiva da sociedade brasileira que confia e acredita no partido.

Será a solução para todos os problemas? Não. Mas vai na direção absolutamente correta e, portanto, o PSDB deve ter a coragem necessária para enfrentar essa questão e votar, na Câmara e no Senado, de forma fechada. É uma proposta que precisa ser conduzida pela Executiva. Tenho uma reunião, agora às cinco horas, com o presidente Goldman e vou propor a ele. Sei que existem resistências, mas não pecarei pela omissão. Vejo que algumas sugestões estão vindo, e são legítimas. Essa questão, por exemplo, da pensão de inativos possa atender também aqueles se incapacitaram fora do ambiente de trabalho. Acho que é uma correção que se justifica, mas a questão central é a que está colocada.

Nenhuma reforma agora vai retirar do próximo presidente (da República) a obrigação de continuar discutindo o tema. Foi assim que ocorreu antes. O presidente Fernando Henrique avançou em determinados aspectos. O presidente Lula trouxe alguns avanços, com a previdência complementar. A presidente Dilma não fez nada nesse campo e agora, quanto mais tempo deixarmos de fazer, maior será a necessidade de ajustes mais profundos.

Sobre capacidade do governador Geraldo Alckmin de unir PSDB.

Ele tem história e experiência. Durante os quatro anos e pouco em que presidi o partido, o PSDB esteve unido. Absolutamente unido em torno de uma agenda para o país, buscando vencer as eleições nos estados e municípios. Tivemos na última eleição o melhor resultado da nossa história. E eu vejo no governador Alckmin as condições para construir esta unidade.

Obviamente, agora, as conversas devem se dar com os dois ex-candidatos para que haja uma composição plural. A força do PSDB sempre se deu na nossa unidade, na compreensão das nossas diferenças e no respeito entre cada um de nós. Precisamos resgatar isso no PSDB.

Sobre convenção do dia 9 decidir permanência de nomes do PSDB em ministérios.

Esta questão já foi superada. Esse é um falso dilema. Eu sempre disse isso. Levar este tema para a convenção é, na verdade, um desrespeito ao próprio PSDB e à sua história. O que temos de reafirmar nesta convenção são questões como as novas diretrizes, qual nova agenda para o país, qual a agenda modernizante que o PSDB deve conduzi. De que forma vamos nos posicionar em relação a ela? Qual o leque de alianças o PSDB deve buscar? Que perfil dessas alianças deve ser priorizado? A questão da nossa participação no governo Temer, que fique claro, se deu por uma decisão do partido.

No momento em que conduzimos o processo de impeachment da ex-presidente Dilma, tivemos ali um papel central de responsabilidade para dar estabilidade ao governo que a sucedia. Um governo constitucionalmente eleito. Nunca condicionamos o nosso apoio à participação no governo. Mas, no momento em que o PSDB libera os seus quadros para participar do governo e o presidente Michel convidou alguns desses quadros, temos de respeitar a presença deles no governo. Tenho dito que este tempo, a meu ver, chegou ao limite. Por quê? Porque agora vamos tratar de construir um novo projeto. Não sabemos se será ao lado do PMDB. Provavelmente, até não. Então é a hora dessa saída. Como ocorreu já em relação ao ministro Bruno e deve ocorrer muito proximamente em relação ao ministro Imbassahy. Mas é uma decisão que eles saberão tomar no momento em que acharem adequado, até porque têm responsabilidade de gestão nas suas pastas.

O presidente Fernando Henrique disse algo uma vez, na porta da casa dele, em São Paulo, logo no início desta discussão, que repito aqui: Este governo é do PMDB, não é o governo do PSDB, mas nem por isso podemos deixar de dar a ele sustentação, para que esta travessia seja feita. E temos de considerar que, do ponto de vista da economia, os avanços foram além daqueles que se imaginavam inicialmente.

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