Aécio Neves – Jornal Estado de Minas – 11/02/2017
Há um ano, ao refletir sobre a epidemia do vírus Zika, que então assustava – e ainda assusta – a população, eu alertava em artigo publicado para o fracasso das nossas políticas públicas de saúde. Infelizmente, diante do atual surto de febre amarela que impacta especialmente Minas Gerais e já é o maior registrado no país desde 1980, somos obrigados a reconhecer que a saúde pública no Brasil permanece muito doente.
Basta ver a questão do saneamento, onde os dados são desalentadores. A lei que fixa as diretrizes do saneamento básico completou mês passado 10 anos de sua promulgação, com resultados medíocres. Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a universalização dos serviços de coleta de esgoto e rede de água no Brasil só será alcançada após 2050 – um atraso de 20 anos em relação à meta fixada.
Não é preciso ir muito longe para enxergar o drama da sobrevivência em condições precárias. As grandes cidades brasileiras, em suas periferias, favelas e comunidades mais pobres, ostentam enormes bolsões de vida degradada.
São milhões de moradias erguidas em áreas sem saneamento, onde as pessoas consomem água não tratada, usam banheiros improvisados, convivem com esgoto a céu aberto e depósitos de lixo férteis em doenças contagiosas. As crianças são vítimas contumazes desses ambientes despidos de dignidade.
O déficit de saneamento não impacta apenas a área da saúde. O número de internações por infecções gastrointestinais é grande, gera vários danos à saúde do trabalhador e tem reflexo até mesmo na produtividade do país. Na educação, segundo dados da Pnad/IBGE, os alunos que vivem em áreas sem acesso à coleta de esgoto têm atraso escolar maior que os outros.
Qual o futuro possível para essas crianças e jovens?
Esforços nessa área devem ser permanentes e ter continuidade a longo prazo. Apenas como exemplo, em uma década de administração do PSDB em Minas, ampliamos o serviço de abastecimento de água e triplicamos a cobertura de esgotamento sanitário, criando 133 novas estações de tratamento de esgoto.
Há muito a ser feito no país no campo da saúde pública. União, estados e municípios têm responsabilidades e objetivos a ser compartilhados. Em época de contenção, é preciso zelar pela qualidade dos gastos públicos. Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que a cada R$ 1 investido em saneamento poupam-se R$ 4 em saúde.
Nenhum ser humano merece viver em condições insalubres. É inaceitável que condições medievais de existência ainda vigorem em pleno século 21. Hoje, mais de 100 milhões de brasileiros ainda vivem à margem dos serviços essenciais de saneamento.
São muitos os desafios que precisamos enfrentar para reencontrar um caminho de prosperidade. Entre tantas escolhas a serem feitas, certamente, a prioritária é assegurar padrões civilizados de vida para todos os brasileiros.