O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (16/05), em São Paulo (SP), sobre reforma política. Aécio Neves falou sobre o programa do PT, cláusula de barreira de desempenho e tentativa de atração de legendas menores, volta da inflação, fracasso do PT no campo social e debate eleitoral.
Confira trechos da entrevista do senador:
Sobre o programa do PT.
O programa do PT brindou os brasileiros ontem com uma apresentação exótica. Colocou o partido do mensalão como aquele que mais combate a corrupção, apresentou um governo que realizou inúmeras obras de mobilidade, mas grande parte delas está no meio do caminho em razão da incapacidade gerencial do governo. Essa também é uma questão central. E é um governo que tenta embutir na sociedade o medo, disfarçando que, quem tem medo hoje, é o PT, de perder as eleições, perder o governo. Ao final, querem convencer a população brasileira de que para mudar isso que está aí é melhor deixar as coisas como estão. Foi a análise que fiz do programa eleitoral e é analise que tenho.
Sobre cláusula de desempenho e tentativa de atração de legendas menores.
A regra atual é essa e as negociações ocorrerão. E amanhã torço para que esses partidos, ou pelo menos boa parte deles, possam sobreviver. Defendo algo para o Brasil. Não estou preocupado apenas em me eleger presidente da República. Quero governar o Brasil e acho que essa adoção da cláusula de barreira, até porque eu a defendia lá atrás, quando era líder do governo do presidente Fernando Henrique, e ajudei na sua aprovação, depois como presidente da Câmara, não há porque não defendê-la agora. Acho que teríamos no Congresso Nacional uma relação muito mais saudável e muito mais efetiva para a implementação dessa agenda se tivéssemos a cláusula de barreira. Todos os partidos estão em igualdade de condições para tentar alcançá-la, mas essa, obviamente, é uma discussão para ser colocada se vencermos as eleições, porque o atual governo não o fará.
Sobre comparação feita no programa do PT entre a inflação nos governos Dilma e FHC.
Isso é uma fraude intelectual do PT. Porque eles sabem exatamente como era o governo do presidente Fernando Henrique. Não vamos aqui dizer que deixamos a inflação em determinado nível e a pegamos a 80% ao mês. Isso é desrespeitar a população e fazer pouco da inteligência dos brasileiros. O governo do presidente Fernando Henrique foi o governo que se iniciou com a hiperinflação e, quando consolida o Plano Real, traz a inflação para esses patamares.
É uma comparação que seria no mínimo, pelo menos um pouco mais legítima, correta para com a população, é ver como era a inflação quando o presidente Fernando Henrique assumiu o governo e como deixou a inflação. Como era a inflação quando o presidente Lula assumiu o governo e como está a inflação hoje? Essa é a bobagem desse discurso petista, que acha que as pessoas não estão vendo o que está acontecendo, não há como mascarar a verdade: grande parte das conquistas do governo do presidente Fernando Henrique está em risco. Estão claramente em risco. Basta conversar com qualquer agente econômico ou com qualquer cidadão, com uma dona de casa. A inflação está aí de volta a perturbar a vida dos brasileiros. Esse tema tinha saindo da agenda. Agora está na sua casa, na minha casa, quando alguém vai à feira. Esse é o tema hoje. Fomos nós que voltamos com a inflação? Não foi.
O governo do PT até o ano passado, e eu talvez tenha sido o primeiro a alertar o Brasil para o recrudescimento da inflação, os preços controlados mascaravam o resultado final da inflação e o governo achava que não acontecia nada. Agora, obviamente, não dá para enfrentar os fatos. Está aí. A inflação real hoje, se não tivéssemos esses preços congelados, já estaria acima de 8%. A realidade é que o governo do PT falhou. Fracassou na condução da economia, nos deixa como herança o recrudescimento da inflação e crescimento baixo, uma grande perda de credibilidade da economia brasileira, que afeta investimentos e empregos de melhor qualidade e renda.
Falhou na infraestrutura, as obras de mobilidade estão pelo meio do caminho, as parcerias com o setor privado foram demonizadas durante anos por esse governo e quem paga o preço é quem produz no Brasil, porque perde competitividade em razão da carência de infraestrutura hoje no Brasil.
E falhou no campo social. Melhoramos na saúde nesses onze anos? Não. Pioramos. A participação do governo diminuiu. Melhoramos a sensação de segurança das pessoas? Não. A criminalidade aumentou e a omissão do governo federal – repito esse termo e vou repetir sempre – é criminosa. Não é possível o poder central, que hoje se apropria de mais de 60% de tudo que se arrecada no Brasil, participar com 13% apenas de segurança. E olha que um terço apenas, ou pouco mais de um terço de tudo que foi aprovado (inaudível) foi investido ao longo desses últimos anos. Segurança pública nunca foi prioridade para o governo do PT. E na educação somos lanterna da turma.
É esse o debate que tem que ser colocado, o debate real. Na hora em que o Brasil virtual, da propagando oficial, onde a Petrobras é a mais competitiva e melhor empresa do mundo, onde a Eletrobras só tem altos resultados, onde não há ninguém abaixo da linha da miséria, for confrontado com o Brasil real, acho que aí sim teremos o grande debate que Brasil espera ansioso para ouvir.