O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quinta-feira (14/04), em Brasília. Aécio falou sobre o impeachment da presidente Dilma, crime de responsabilidade, PSDB, e governo Michel Temer.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre o pedido de impeachment.
O impeachment é um processo jurídico-político. O embasamento jurídico tem de estar confirmado. E ele está para nós a partir da decisão do Tribunal de Contas da União que demonstra que a presidente da República, de forma absolutamente clara, e de forma reincidente, cometeu crime de responsabilidade. E não há gradação para o crime de responsabilidade. Se ele é cometido, há sanção, há o seu afastamento. Se não estaríamos criando o impensável salvo-conduto para que presidente da República pudesse cometer crimes até determinado nível. Isso não é possível. Garantidos esses pressupostos, há hoje um ambiente político, há quase que um consenso na sociedade brasileira de que a presidente perdeu as condições mínimas de liderar o país, principalmente com as armas que buscou usar, e parece que fracassou, ao longo dos últimos dias, entregando cargos públicos como se fossem bananas numa feira livre, como se esses cargos não tivessem impacto no seu exercício na vida real das pessoas.
Para o Brasil, lamentavelmente, o melhor caminho, e sabemos que todas as soluções são traumáticas, mas hoje a mais traumática seria a permanência da atual presidente da República no cargo. Com serenidade, com responsabilidade, vamos percorrer o caminho que a Constituição determina e, a partir desta decisão, vamos construir um grande consenso, em torno de uma agenda nova, uma agenda profunda de reformas estruturantes que recolocam o Brasil na rota do crescimento.
Os partidos médios aliados da presidente Dilma na Câmara têm debandado, afirmado posições a favor do impeachment. Como o sr. avalia esse movimento?
Essa é a demonstração cabal de que essa não é uma ação golpista das oposições, como gosta de repetir o governo e a própria presidente da República. Se ela, hoje, corre risco – e um risco real – de ser afastada do cargo, é porque esse consenso atingiu sua própria base de sustentação. Vários daqueles que a acompanharam até agora estão percebendo que não é mais possível manter este governo. Não seria possível afastá-lo apenas pelos seus baixos níveis de popularidade, mas quando o crime é cometido, e cometido sempre com a sensação da impunidade, que foi o que, a meu ver, ao longo dos últimos anos, permeou as ações deste governo. Se o crime é cometido, e se o ambiente político se cristaliza no sentido de que é preciso haver a substituição, os ingredientes estão colocados e acredito que, a partir de domingo, a Câmara dos Deputados entregará ao Senado Federal a responsabilidade de julgar a presidente da República. Faremos isso com serenidade, com base nos autos, com amplíssimo direito de defesa oferecido à presidente da República e aos seus representantes.
Mas tenho uma sensação muito pessoal – e falo como presidente do maior partido de oposição do país e que não é beneficiário do processo de impeachment. Não somos nós que assumimos o governo, mas temos responsabilidade para com o Brasil. E o consenso que chega a nós e, na verdade, é transversal por toda a sociedade, é de que este governo precisa ser substituído por um outro que se coloque à altura dos desafios do país, e é isso que esperamos.
O vice-presidente Michel Temer está apto a assumir este governo?
Nossa esperança é que sim. Nós, do PSDB, estaremos discutindo com o presidente Michel, se ele vier a assumir a Presidência da República, em torno de um programa. Até porque temos um programa que foi amplamente discutido na sociedade, que passa por reformas profundas, pela profissionalização do Estado, por uma política externa pragmática e altiva, em favor dos interesses do Brasil, passa pelo enxugamento da máquina pública, por reformas estruturantes que não foram feitas até aqui. Caberá ao vice-presidente Michel Temer, se assumir a Presidência da República, se colocar à altura desse desafio, e esperamos que ele possa fazê-lo.
Ouça a entrevista do senador: