O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (20/11), em Belo Horizonte (MG). Aécio falou sobre impeachment da presidente Dilma, Dia da Consciência Negra e tragédia em Mariana.
Sobre impeachment da presidente Dilma?
Essa não é uma questão que dependa do PSDB e tenho dito isso de forma reiterada. A presidente da República cometeu crime de responsabilidade como foi atestado pelo Tribunal de Contas, mas somos minoria no Congresso Nacional e temos que aguardar que essa decisão seja tomada por quem tem responsabilidade para tomá-la. Não podemos ter como única e exclusiva agenda das oposições a questão do afastamento da presidente.
Nossa avaliação é de que ela perdeu as condições de fazer a economia voltar a girar, os empregos voltarem a ser gerados no país. Agora, nós, do PSDB, temos uma preocupação com o dia seguinte, com o futuro, e é por isso que estamos nos esforçando para, atualizando nossas propostas, fazermos um debate sobre a situação real das pessoas. O Brasil entra no ano de 2016 com o desemprego lá no alto, com inflação saindo do controle, com as pessoas endividadas como nunca tiveram. Precisamos ter uma solução para isso, para o dia seguinte do PT no governo, e é isso que vamos construir agora ainda este ano, a partir do dia 8, um conjunto de propostas no campo social que possa minimizar os efeitos dessa trágica crise na qual o PT nos mergulhou.
Enquanto isso, obviamente, vamos cobrar das autoridades que façam o que devem fazer. Nossa posição em relação ao presidente da Câmara já havia sido anunciada e ontem ficou de forma mais explícita ainda, clara. Achamos que o presidente da Câmara perdeu as condições de conduzir a Câmara dos Deputados.
O impeachment é a melhor saída?
É a alternativa que se coloca hoje, mas não podemos, como disse, ter essa agenda como exclusiva das oposições. Estamos vendo o que está acontecendo com o Brasil, o desânimo é absoluto. Vamos entrar no ano que vem, no primeiro semestre, com o desemprego entre os mais jovens chegando a 25%. É algo inédito na nossa história. É um patamar que a Espanha viveu há quase uma década. Lembramos o que significou para aquele país.
Se a presidente vai ou não vai sair não depende de nós. Isso depende obviamente do conjunto do Congresso Nacional, das provas que possam ser colhidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que investiga se dinheiro da propina da Petrobras foi utilizado na campanha eleitoral da presidente. Mas nós não ficaremos apenas aguardando que os tribunais, ou o próprio Congresso, decida essa questão. Nós vamos continuar apontando os equívocos do governo e apresentando propostas para minimizar os efeitos dessa crise, principalmente sobre os mais pobres.
O PSDB e a oposição de forma geral em 2016 terão uma posição diferente, mais propositiva?
O PSDB é um partido de oposição que expressa o sentimento de uma parcela da sociedade brasileira. A questão do impeachment não foi uma criação do PSDB. O impeachment foi um sentimento, e as pesquisas mostram isso, que tomou conta e ainda toma conta da maioria dos brasileiros, que não enxergam na presidente as condições para superar a crise na qual o PT nos mergulhou. O impeachment continua sendo uma possibilidade e uma possibilidade concreta, porque, lamentavelmente, e esse é o diagnóstico que nós fazemos, a crise ainda vai piorar antes de melhorar.
Nós vamos entrar no ano que vem ainda com o agravamento do desemprego, com a economia paralisada e, como eu disse, com a inflação ainda em alta. Será que a presidente da República terá condições de nos tirar desse poço, desse buraco profundo no qual o governo do PT nos mergulhou? Tenho muitas dúvidas e pode ser que esse sentimento pelo afastamento volte ainda com mais vigor no ano que vem.
Vamos combater, como oposição, o aumento de carga tributária. O PSDB é radicalmente contra a criação de novos impostos. Vamos combater a criação da CPMF, porque ela ajuda ampliar a recessão e não ajuda o Brasil a sair da crise. Ao mesmo tempo existem propostas, por exemplo, como a Desvinculação das Receitas da União (DRU), um instrumento de governança, isso pode ajudar a melhorar, mesmo que minimamente, a execução do Orçamento na área da saúde e na área da educação, e estamos admitindo, nessa questão específica, votar favoravelmente.
Isso é uma demonstração de que o PSDB não é oposição ao Brasil. Jamais seremos. Ao contrário. Somos oposição a esse governo. Queremos suceder esse governo e achamos que temos melhores condições, mais autoridade, mais credibilidade para fazer a roda da economia e do emprego voltar a girar no país.
Se estamos terminando o ano sem que essa questão do impeachment tenha sido objeto de deliberação no Congresso, porque não depende de nós, PSDB. Não estamos nessa balança de “me salve que eu lhes dou o impeachment”. Não. Acho que o presidente da Câmara já teria, a meu ver, todas as condições de ter colocado essa questão para ser discutida, aberto o processo na Câmara dos Deputados, mas não vamos negociar, no que diz respeito à ética, em absolutamente nada. Nossa posição sobre o presidente da Câmara é clara e em favor do impeachment também tem sido clara, mas vamos apresentar cada vez mais propostas para o Brasil sair da crise.
A interrupção do mandato da presidente não é mais traumático para o país?
Traumático para o Brasil é o desemprego chegando no patamar que estamos hoje. A economia parada, a inflação sem controle, ninguém mais investindo no país, e o Brasil se transformando – entre as nações emergentes – naquela que vai ter a pior equação de crescimento esse ano. No G20, sabe que lugar o Brasil vai estar entre os países que se reuniram agora recentemente na Turquia, no grupo das vinte maiores economias do mundo? No que diz respeito a crescimento e geração de empregos. Em 20ºlugar. Somos o último. Essa crise, ao contrário do que quer dizer o governo, foi gerada aqui.
Eu lhe pergunto: Será que o melhor para o Brasil é que continuemos por mais um, dois, três anos com a economia paralisada? O desemprego aumentando no Brasil, a carestia chegando à mesa dos brasileiros? Acho que não. Cabe à presidente da República demonstrar que tem condições de retomar o comando do país. Hoje ela não governa. A presidente terceirizou tudo. Terceirizou a condução da economia, terceirizou a política, o que está se fazendo hoje com a nomeação de cargos é algo criminoso. A desqualificação hoje da máquina pública é algo vergonhoso.
Para o PSDB o calendário constitucional está aí, em 2018. O PSDB estará preparado para ele, mas, se o Brasil continuar sendo desgovernado como hoje, e a presidente da República uma mera inauguradora de Minha Casa, Minha Vida, acho que a população brasileira é que vai pedir o seu afastamento.
Sobre o Dia da Consciência Negra.
Quero dizer da importância de estar aqui hoje, em Minas Gerais, ao lado dos nossos companheiros do Tucanafro em especial, participando das homenagens do Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil. E vamos ser realistas: nosso país ainda discrimina e discrimina muito. Portanto, combater o preconceito, apoiar políticas inclusivas do ponto de vista do trabalho, da igualdade salarial, das oportunidades, valorizando também a presença cada vez maior dos negros nas escolas, nas universidades, será sempre uma prioridade para o PSDB.
Minha vinda hoje ao Diretório do PSDB, ao lado de vários companheiros parlamentares, dirigentes do partido, e, em especial, do Tucanafro, nosso movimento que combate a desigualdade, é para sinalizar de forma clara que esta será sempre uma causa prioritária para o PSDB.
Em relação à tragédia de Mariana, o sr. acha suficiente o que foi feito? Tem algo errado ou atrasado nessa história?
Acho que a empresa tem responsabilidades enormes e tem que responder pela sua responsabilidade nessa tragédia sem precedentes na história de Minas, e acho que do Brasil, porque não alcança apenas Minas Gerais. O que temos agora é que tomar providências objetivas, como fazer com que as multas impostas pelo Ibama não acabem indo para um fundo que amanhã vai ajudar apenas a fazer superávit de caixa. Têm que ir para as vítimas.
Existe um projeto do senador Anastasia, que faz com que o dinheiro das multas vá diretamente para a recuperação dos danos, seja dos imóveis, casas, para a reconstrução da vida dessas pessoas, com emprego, com novas atividades econômicas ou qualificação. Temos que tirar essa intermediação. Essa é a questão, eu diria hoje, pontual que mais me preocupa, porque estamos vendo um conjunto de ações, multas sendo aplicadas e não estou vendo em Mariana, ou em outras cidades do Rio Doce, as pessoas tendo a perspectiva de que esse dinheiro, daqui a 15 dias ou um mês, vai estar lá botando tijolo nas casas, telhado na casa dessas pessoas, e o mínimo de tranquilidade para que elas possam reorganizar suas vidas.
Nosso foco, o senador Anastasia está hoje inclusive em Mariana, ele é presidente de uma Comissão que criamos no Senado para conjugar todas essas ações, dar a elas um ordenamento, dar a elas consequência. Nosso esforço é para que todos os recursos das sanções que a empresa estiver recebendo sejam investidos nas pessoas que foram vítimas desse acidente e, obviamente, na recuperação da flora e da fauna de toda a região.