Em pronunciamento, Aécio convoca os brasileiros para darem um basta à corrupção

“É preciso que os homens de bem deste país e que as mulheres de bem deste país, estejam ou não no Congresso Nacional, compreendam que precisamos buscar um caminho para que o Brasil vire, de forma definitiva, essa triste e dramática página da sua história política, para iniciarmos um novo tempo em que a esperança volte a habitar os lares brasileiros”, disse o senador Aécio Neves em pronunciamento hoje (03/03), na Tribuna do Senado, quando falou sobre o PIB negativo do Brasil e as novas denúncias envolvendo a presidente da República, Dilma Rousseff, e o ex-presidente Lula.

“As denúncias atribuídas hoje ao Senador Delcídio são as mais graves até aqui já compartilhadas com a sociedade brasileira, porque, dentre outras questões extremamente graves e chocantes, diz essa denúncia, que a Presidente da República de forma consciente teria, com a indicação de ministro do STJ, induzido ou participado de um movimento para inibir ações da Operação Lava Jato”, destacou Aécio.

O senador encerrou com uma convocação para as manifestações marcadas para o dia 13, organizadas pelos movimentos de rua. “Esse é um momento de reflexão profunda e essa reflexão não pode estar restrita ao Congresso Nacional. No próximo dia 13 de março, estaremos juntos, os brasileiros que querem mudança, dentro da ordem constitucional, estaremos juntos para dizer aos quatro cantos deste país: Chega! Basta de tanta corrupção! Basta de tanto desgoverno”.

Leia íntegra do pronunciamento:

Senado Federal, Brasília

Este 3 de março de 2016, sem dúvida, vai ficar marcado na história do Brasil como o dia em que visualizamos, de forma mais clara do que em outros momentos, a tempestade perfeita. Hoje, amanhecemos todos, não surpreendidos, porque a expectativa já era profundamente negativa, mas com o anúncio de uma queda do Produto Interno Bruto brasileiro de 3,8%. Aquilo que dizíamos no ano de 2014 a todo o Brasil na campanha eleitoral se desenha hoje com cores dramáticas: o desaquecimento da nossa economia, a inflação sem controle, o desemprego galopante e o endividamento crescendo em todas as regiões do país.

Esse número de 3,8% de queda no PIB anunciado hoje a todos os brasileiros traz um agravante, porque é a segunda vez, contado esse ano no qual estamos vivendo, que será, segundo todos os analistas, ao lado do ano de 2015, o primeiro período, desde o ano de 1930, em que teremos dois anos consecutivos de queda do Produto Interno Bruto no país.

Mas sequer esse paralelo com a década de 30 nos serve, pois ali, sim, havia uma enorme crise internacional e todo mundo vivia um processo recessivo. Agora não. O Brasil anuncia a queda de 3,8% do seu PIB num momento em que o crescimento da economia internacional é, em média, 3%; num momento em que economias muito próximas a nossa, aqui na região, e também economias dependentes de commodities – as commodities sempre lembradas como razão do desaquecimento da economia brasileira. Não que essa queda não seja importante –, como as do Peru e do Chile, mais dependentes de commodities do que a nossa economia, mostram nos seus balanços o crescimento do seu Produto Interno Bruto. Isso, mais do que qualquer outra explicação mais técnica, é a demonstração cabal, definitiva, de que o que vem acontecendo no Brasil, hoje, é obra exclusiva da irresponsabilidade, da incompetência e da leniência deste governo.

E ainda, queria dirigir essas palavras à sociedade brasileira –, aquilo que me chama mais atenção, para ficar apenas no preâmbulo desse meu pronunciamento quanto à questão econômica – quero tocar em outros assuntos da maior gravidade –, é que, com exceção do agronegócio do meu Estado, do Centro-Oeste e de outras Regiões brasileiras, todos os outros setores da economia caíram, e caíram muito. Em especial, além da indústria, que já vinha caindo, agora o setor de serviços. E sabemos que é exatamente o setor de serviços aquele que mais emprega no país. Então a sinalização, que já gera dramática com os números crus da economia, significa – na vida real, palpável, do cidadão, da cidadã, do trabalhador, das famílias brasileiras – mais desemprego, carestia, mais endividamento e absolutamente nenhuma perspectiva de um futuro a curto prazo.

Portanto, não podem ser desprezados esses dados que, na verdade, constatam, trazem à luz aquilo que não eu, como oposicionista, mas economistas e analistas políticos já antecipavam nos últimos anos: o Governo, irresponsavelmente, colocou mais uma vez o seu projeto de poder acima dos interesses brasileiros e deixou de tomar, quando ainda era possível, as medidas corretivas necessárias para minimizar o impacto dessa queda em todos os nossos indicadores, a fim de minimizar o sofrimento dos brasileiros.

Não bastasse isso, o anúncio do pior desempenho da economia desde o início da década de 90 e o pior conjunto de desempenho da economia desde a década de 30. Hoje, os brasileiros, estarrecidos, tomam conhecimento de uma matéria publicada na revista IstoÉ, que, se comprovada, traz, na verdade, a impossibilidade da continuidade do atual Governo.

As denúncias atribuídas hoje ao Senador Delcídio são as mais graves até aqui já compartilhadas com a sociedade brasileira, porque, dentre outras questões extremamente graves e chocantes, diz essa denúncia, que a Presidente da República de forma consciente teria, com a indicação de ministro do STJ, induzido ou participado de um movimento para inibir ações da Operação Lava Jato.

É preciso, claro, que essas informações sejam comprovadas, mas os indícios são muito fortes e assustadores, casando uma coisa com a outra: a degradação moral do país com sucessivas denúncias – e cada vez chegam mais próximas do Palácio do Planalto – e a absoluta incapacidade que esse Governo tem demonstrado, como agora, de conduzir uma agenda mínima de recuperação do desenvolvimento da economia e da vida dos brasileiros.

É preciso que os homens de bem deste país e que as mulheres de bem deste país, estejam ou não no Congresso Nacional, compreendam que precisamos buscar um caminho para que o Brasil vire, de forma definitiva, essa triste e dramática página da sua história política, para iniciarmos um novo tempo em que a esperança volte a habitar os lares brasileiros.

Não consigo antecipar qual será o desfecho. Não sei se será por um ato de impeachment, conduzido pela Câmara dos Deputados, pela cassação do mandato da chapa eleita, pelas gravíssimas denúncias – e outras chegam hoje de utilização de dinheiro da corrupção para a campanha eleitoral. Ou seja até, e passo a não descartar, um gesto de grandeza: será que não está no momento de a presidente da República, pensando agora não no seu partido e sequer no seu futuro, mas, pensando no país, renunciar ao mandato de Presidência da República, para que, a partir desse gesto, possamos iniciar uma grande concertação, e, a partir dela, a construção de uma agenda de retomada da confiança, e, a partir dela, dos investimentos, e, a partir deles, dos empregos para os brasileiros?

Este não é um momento corriqueiro. E o que me traz uma certa angústia e, ao mesmo tempo uma certa ansiedade para que tenhamos uma saída para essa crise é que não é lógico, não é compreensível um país como o Brasil crescer menos de 4% com a economia diversificada que temos, com as instituições sólidas que felizmente construímos ao longo do nosso período democrático.

O que falta ao Brasil hoje é governo, porque existe uma agenda clamando, esperando para ser cumprida, para ser executada. Uma agenda que melhore a nossa legislação, que traga mais transparência às contas públicas, que melhore, por exemplo, a gestão dos nossos fundos de pensão e das nossas empresas estatais, o que temos debatido incansavelmente aqui, no Congresso Nacional.

É preciso que tenhamos medidas para controlar o absurdo crescimento da nossa dívida pública, que, segundo os otimistas, ao final do ano de 2018, ultrapassará os 85% – e falo apenas dos otimistas.

É preciso o Brasil voltar, que se dedica tanto às questões internacionais, voltar a fazer acordos comerciais, pragmáticos, que interessem aos brasileiros, que gerem empregos no Brasil e que nos permitam deixar para trás esse alinhamento anacrônico, arcaico, com o bolivarianismo, que conduziu a nossa política externa ao longo dos últimos anos.

Está na hora de restabelecermos a meritocracia na gestão pública, profissionalizarmos as nossas Agências Reguladoras, dizermos aos brasileiros que podemos, sim, ser um país digno, respeitado pelo seu povo e respeitado pelas outras nações do mundo. Nós não o somos mais.

Um exemplo prosaico demonstra isso. Talvez, jamais na história desse país tenha acontecido de um presidente dos Estados Unidos, nosso maior parceiro comercial, vir à região, e ele passará por Cuba em uma visita histórica àquele país, chegará à Argentina para se encontrar com o presidente Macri e retornará a Washington, e passará por cima do país continental que é o Brasil.

Isso é um símbolo claro da desimportância que o Brasil adquiriu ao longo desses últimos anos de equívocos, de irresponsabilidades, em que apenas o projeto de poder prevaleceu sobre os interesses dos brasileiros.

Esse é um momento de reflexão profunda e essa reflexão não pode estar restrita aqui, ao Congresso Nacional. No próximo dia 13 de março, estaremos juntos, os brasileiros que querem mudança, dentro da ordem constitucional, estaremos juntos para dizer aos quatro cantos deste país: Chega! Basta de tanta corrupção! Basta de tanto desgoverno. E para dizermos aos tribunais e à própria presidente da República: Dê ao Brasil uma nova chance. Dê ao Brasil um novo início, uma nova trajetória. Com este governo essa trajetória não se reiniciará.

Fica, mais uma vez, o nosso convite e a nossa convocação para juntos irmos às ruas. Mas mais do que isso, que os homens de bem deste país se reúnam para que possamos fazer uma grande concertação, porque o Brasil merece um governo honrado, um governo que nos traga de volta a esperança.

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