Brasília
Trechos da entrevista:
Que avaliação o senhor faz da troca de telegramas entre embaixadas com alerta de golpe?
É inaceitável a forma como a presidente da República tem usado os instrumentos de estado para se manter no poder. O que nós assistimos essa semana, com embaixadores sendo convidados a irem ao Palácio do Planalto ouvir um discurso alarmista e absolutamente distante da realidade como se o Brasil estivesse prestes a sofrer um golpe de estado. As manifestações de membros do corpo diplomático, que não aconteceria num país onde a hierarquia fosse respeitada, a não ser que houvesse a complacência de seus superiores hierárquicos espalhando mundo afora esse discurso defensivo da presidente da República
Na verdade, ao não ter mais argumentos para se defender das acusações que lhe são imputadas a presidente busca ela própria criar quase que um estado golpista no país. Isso é absolutamente inaceitável, o processo de impeachment que está em curso na Câmara dos Deputados é aprovado pelo Supremo Tribunal Federal, o rito foi submetido a mais alta corte do país. A própria bancada do PT e dos partidos aliados votou pela constituição da comissão do impeachment, seria o único caso na história da humanidade em que um golpe de estado seria patrocinado pelo Supremo Tribunal Federal. Não, o que se faz aqui é cumprir a Constituição. Deveria a presidente da República agir de forma mais republicana, respeitando as instituições de Estado, não buscando interferir nas suas ações ao mesmo tempo preparando-se para sua defesa na Câmara dos Deputados.
Essa questão não vai ser resolvida com ameaças. Não vai ser resolvida dessa forma extremamente antirrepublicana como temos assistido o governo fazer. Vamos estar aqui vigilantes na defesa das nossas instituições e o nosso ministro das Relações Exteriores estará sendo convocado ao Congresso Nacional para dar ciência ao país, através dos congressistas, de onde partiu a ordem e quais os objetivos daqueles que buscam contaminar o mundo com uma versão falsa daquilo que acontece no Brasil.
Sobre lista de doações de executivos da Odebrecht.
São contribuições de campanha. Basta apenas olhar as declarações de campanha de todos os candidatos, não apenas do PSDB, mas de todos os partidos. É preciso que haja muita serenidade para que se diferencie o joio do trigo. O que eu vi hoje, na verdade, confirma aquilo que está nas prestações de campanha do PSDB.
Desde ontem, em discurso ou entrevista, a presidente Dilma tem criticado o que chama de golpe, criticado o vazamento das gravações, segundo ela ilegais. Tem razão a presidente nessas declarações?
Vejo uma presidente nas cordas. Uma presidente que não se esforça para apresentar justificativas e respostas às acusações que lhe são imputadas na peça de impeachment. Essa seria a forma adequada. Essa seria a forma responsável com que se espera aja um presidente da República. Há acusações, responde-se as acusações. A presidente inverte o jogo. Acusa a todos nós e ao país, aos milhões e milhões de brasileiros que foram às ruas indignados com tudo o que vem acontecendo a tramar um golpe. Não, o golpe quem deu aos brasileiros foi a presidente da República ao mentir durante a campanha eleitoral, ao deixar de tomar medidas absolutamente necessárias para o Brasil retomar a rota do crescimento. Infelizmente, a presidente da República perdeu as condições de governar o Brasil. Vamos aguardar, que respeitado o amplo direito de defesa, com serenidade, mas respeitando as regras democráticas que, na Câmara dos Deputados e depois no Senado, ela possa se defender. E a voz da maioria é que deve prevalecer. O Brasil não está prestes a sofrer um golpe. Na verdade, o Brasil está mais uma vez cumprindo a Constituição.
Semana que vem tem sessão do Congresso e entre os vetos está aquele da repatriação que destina recursos para estados. O sr. avalia que há clima para se derrubar este veto ou manter?
Na verdade, o governo não tem mais agenda. Esta questão será aqui discutida. Há possibilidade real de se derrubar o veto. Mas o governo tem apenas uma agenda: sobreviver no cargo. E isso fazendo coisas inimagináveis. É o salve-se quem puder. Enquanto não tivermos um novo governo com uma agenda emergencial para o Brasil, que fale em reformas estruturais que este governo não fez, infelizmente, a crise só vai se agravar. Temos de estar cuidando dentro do que determina a Constituição em apressar o processo de impeachment, ao mesmo tempo, acompanhando o processo no TSE e ao mesmo tempo ainda, pensando no dia seguinte. Qual a agenda que o Brasil precisa implementar para sairmos desse abismo no qual o governo do PT e a presidente da República nos mergulhou.