O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta terça-feira (02/01), em Brasília. Aécio falou sobre o discurso da presidente Dilma Rousseff no Congresso, reformas, Zika Vírus, CPMF e DRU.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
O que vimos hoje no Congresso Nacional foi uma presidente da República muito mais em busca de uma fotografia do que de um resgate de sua própria credibilidade. Ela repete as mesmas propostas constantes das outras mensagens enviadas ao Congresso Nacional e que jamais foram cumpridas. Um ano atrás a presidente dizia da necessidade que o governo teria de controlar a inflação ou controlar as contas públicas. O Brasil foi rebaixado por duas agências internacionais e a inflação continua sem controle.
O que ela buscou hoje foi o apoio do Congresso Nacional para o aumento da carga tributária, e não vejo nela condições de pedir qualquer outro sacrifício à sociedade brasileira. A presidente foi incapaz de fazer mínima mea culpa que fosse, mostrando ao país de forma de clara que reconhece os erros que cometeu ao longo do seu primeiro mandato.
Parecia que a presidente estava assumindo hoje, e não que o seu partido estivesse há 13 anos no poder sem encaminhar nenhuma das reformas que hoje ela se propõe a fazer.
A presidente da República busca no Congresso a solidariedade, essa necessária, ao combate ao zika vírus. Há que haver sim uma mobilização grande, não apenas do Congresso, não apenas do poder público, mas de toda a sociedade no combate desta epidemia que assola o país. Mas que autoridade tem a presidente da República para liderar esse processo de combate ao zika vírus, tendo ela distribuído os principais cargos e próprio Ministério da Saúde a aliados seus, única e exclusivamente para ter alguns votos, para se manter no poder? Não vejo que a presidente da República tenha ajudado, ela própria, a melhorar e aumentar a sua confiança. Mais um tempo perdido.
Reformas
Quero dizer, como presidente do PSDB, que qualquer discussão em relação às reformas, mais uma vez aqui anunciadas pela presidente da República, só serão discutidas por nós no momento em que elas vierem com o apoio da sua base de apoio, pois ela fala em reforma da Previdência no mesmo instante em que o seu partido PT diz que ela é desnecessária.
Lamentavelmente, o que nós assistimos aqui foi mais do mesmo, repetição de promessas vazias de uma presidente da República que já não demonstra qualquer condição de tirar o Brasil do gravíssimo atoleiro no qual ela própria nos mergulhou.
A oposição também faz a análise de que esfriou o impeachment?
O impeachment será decorrência de um clímax que há na sociedade brasileira. Acho que a presidente ou os seus aliados não deveriam comemorar esse arrefecimento porque o que estamos percebendo é que haverá uma agonização, haverá uma piora nos indicadores econômicos. E o Brasil já está mergulhando em uma gravíssima crise social, terá essa crise, infelizmente, atingindo ainda uma parcela maior da sociedade brasileira.
O fato concreto, e o sentimento que nós da oposição temos, é o de que a presidente da República não tem mais condições de liderar o Brasil na saída dessa crise. Ela transfere responsabilidades, hoje comemora a melhoria do índice dos reservatórios como se pudesse ter sido o seu governo responsável pelo aumento das chuvas, mas sem assumir qualquer responsabilidade pelo desastre da sua intervenção no setor elétrico, pelo desastre na condução macroeconômica do país e a sua responsabilidade para com a situação pela qual passam hoje milhões de brasileiros.
E as vaias durante o discurso?
Acho que esperadas. A presidente veio em busca de uma cena, de uma foto no Congresso Nacional. E ela, aqui, pode perceber o sentimento de boa parte do Congresso Nacional de repulsa à mentira, às promessas vazias e ao aumento da carga tributária. A oposição, e o PSDB em especial, estará vigilante para impedir que o aumento de carga tributária aprofunde ainda mais a recessão na qual o governo da presidente Dilma e do PT mergulhou o país no último ano e, infelizmente, continuará mergulhando por este e pelo próximo ano.
A presidente não vai ter o apoio da oposição na criação da CPMF, mas e em relação à DRU?
Para que a oposição possa discutir qualquer uma dessas propostas, a presidente tem que apresentá-las com apoio da sua base de sustentação. O que temos assistido corriqueiramente é a presidente e determinados ministros falarem uma coisa e a sua base aqui dizer o contrário, como se pudesse ter vários governos em um só.
Portanto, confiança e credibilidade quando se perde é muito difícil de se reconquistar. E a presidente da República, a presidente Dilma Rousseff, infelizmente, jogou fora todo crédito que tinha para poder liderar o processo de recuperação do país. Vou dizer não apenas como líder da oposição, mas como um senador da República e um homem público de muitos anos de mandato nesta Casa, achei a figura da presidente da República e as reações ao discurso dela um momento patético para ela própria e para o seu mandato.