Aécio Neves – Entrevista sobre a proposta de plebiscito e as ações da oposição

Em entrevista, o senador Aécio Neves falou, hoje (1/06), sobre a proposta de plebiscito, a possibilidade do fim da reeleição e do mandato 5 anos, o posicionamento do governo federal e as reformas necessárias para o Brasil

 

A presidente Dilma disse que enviará proposta do plebiscito nesta terça-feira para o Congresso Nacional e quer que as mudanças funcionem já para 2014.
 
É um direito da presidente. O que acho é que existe uma base hoje no Congresso suficientemente ampla, uma base governista, e não seremos objeção a isso, capaz de votar em um espaço de tempo curto, pelo menos parte dessas reformas.
Eu não conheço as propostas da presidente da República. Até porque nesses dois anos e meio o Brasil não teve o privilégio de conhecê-las. O que não podemos é nesse momento de dificuldades tirar o foco da agenda real dos problemas brasileiros, da mobilidade urbana, da carência de saúde, de educação de qualidade, de saneamento básico, a ausência de segurança em vários centros brasileiros, para apenas uma agenda política.
Na minha avaliação, é responsabilidade do Congresso discuti-la. E gostaria de vê-la aprovada por um referendo.

 

O PSB do Eduardo Campos aprovou ontem um documento interno do partido defendo a ampliação do mandato para 5 anos e o fim da reeleição.

Mais uma convergência do PSB conosco. Essa sempre foi a minha posição. Apresentei em 1989 um projeto que ainda está lá na Câmara dos Deputados exatamente nessa direção. Me parece mais adequado. Não há pressão da reeleição e a utilização do Estado de forma imensurável para garantir mais um mandato para quem está no poder. Acho que é mais republicano um mandato de cinco anos sem direito à reeleição. Agora, é preciso que a maioria governista também compreenda que ele é importante.

 

O senhor avaliou precipitada esta atitude da presidente Dilma de já entregar para o Congresso o plebiscito?

Vejo na verdade um governo pressionado. Um governo que um dia lança proposta de uma constituinte específica e no dia seguinte volta atrás porque além de inconstitucional era extremamente arriscada a ordem jurídica em vigor. Busca agora através de um plebiscito que não se sabe ainda sob que tema ele ocorreria. Algo complexo que precisaria ser muito bem explicado para a população. Vejo o governo federal e a presidente da República buscando tirar o foco das questões centrais que afligem os brasileiros. E nós da oposição temos de denunciar isso.

 

A presidente disse que o governo dela é um governo padrão Felipão. Perguntaram se era um governo FIFA ela disse não, é um governo padrão Felipão. É um padrão Felipão?

É um governo que acostumou-se a pegar carona nas boas coisas. Agora, no êxito da Seleção. O que acho é que é um governo paquidérmico. Um governo que não cabe dentro de si. Se o Felipão tivesse um governo padrão PT não poderia escalar onze, ia escalar 39 jogadores.

 

Senador, durante sua palestra, o senhor falou que para fazer as mudanças que o Brasil precisa é necessária ousadia, coragem. E que o senhor tem coragem. O senhor fala isso na condição de um possível candidato do PSDB no ano que vem?

Sou um administrador do tempo. E respeito, obviamente, o calendário eleitoral. Mas falo como presidente do principal partido de oposição, o PSDB, que não tem a opção de apresentar uma agenda, temos a obrigação de apresentarmos uma agenda alternativa a essa que aí está. No campo da gestão pública eficiente, na questão de um padrão ético diferente de governo, de uma solidariedade maior com a Federação nos investimentos em saúde, em segurança pública, em educação. E não se governa um país com as dificuldades do Brasil sem que se tenha a coragem de enfrentar contenciosos.
A reforma política hoje propagada e apresentada pela presidente como a solução para todos os nossos problemas não foi feita nesses anos do PT, nesses 10 anos e meio de governo do PT, porque faltou coragem política para enfrentar contenciosos dentro da sua própria base, porque algumas das medidas necessárias na reforma política passava pela extinção de partidos que não tinham representação popular, não tinham conexão com a sociedade. Mas sempre que algum desses partidos era um aliado do governo, essa reforma era adiada. Infelizmente, ao governo do PT, tem faltado nesses 10 anos e meio coragem para fazer as grandes reformas. Ele teve popularidade em alta durante muitos anos, uma ampla base de apoio e uma situação econômica extremamente estável. O que faltou para que tivéssemos superado gargalos, que hoje nos trazem esse crescimento pífio, foi coragem político.

 

O senhor tem essa coragem?

Se for necessário, obviamente tem que ter, para apresentar essa agenda, e o candidato do PSDB precisará ter no momento em que for indicado.

 

O senhor já fala como presidente da República?

Não, sou presidente do PSDB. O candidato à Presidência da República, a presidente da República pelo PSDB, surgirá no ano que vem. Mas nós, do PSDB e outros partidos da oposição, temos que ter a responsabilidade de dialogar com a sociedade, como fiz hoje e tenho feito com vários outros setores, na construção da nova agenda. O que existe hoje em curso no Brasil foi a agenda proposta pelo PSDB lá atrás.
O PT não ousou, não apresentou nada de novo. Manteve agora, com fragilidades, o arcabouço macroeconômico herdado do presidente Fernando Henrique, ampliou os programas de transferência de renda vindos dos governo anterior, apostou no crescimento da economia quase que exclusivamente pelo consumo, através da oferta de crédito, mas não fez nenhuma intervenção estruturante. Por isso, vamos, esse ano, crescer na América do Sul apenas mais que a Venezuela.

 

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