O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista, nesta quarta-feira (12/03), sobre a crise entre partidos e o governo federal. Aécio Neves afirmou que o autoritarismo e a arrogância com que o PT vem conduzindo o governo são as principais causas da insatisfação dos partidos aliados.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre crise entre partidos da base do governo
É a primeira vez que falo objetivamente dessa questão. Mas é impossível não falar sobre ela porque contaminou o Congresso Nacional, paralisou as discussões na Câmara dos Deputados. E essa crise é consequência daquilo que anunciávamos há muito tempo, de um governo autoritário que não quer aliados, quer vassalos. Um governo que não quer partidos para compartilhar um projeto de Brasil, quer aliados para vencer as eleições. Isso tudo é consequência da arrogância com que o PT vem conduzindo o governo até aqui, e agora colhe esses frutos.
Não tenho dúvida de uma questão: todo esse esforço do governo, a custas de cargos públicos e dinheiro público, especialmente através de emendas, para manter o PMDB na base, pode ter um ganho para o governo, que são os minutos a mais no tempo de televisão. Porque a base do PMDB, do PMDB histórico, do PMDB da resistência, do PMDB da democracia, do PMDB que quer ver avanços no Brasil, essa o PT já perdeu. Tenho andado pelo Brasil e tenho uma percepção muito clara de que já houve um descolamento claro das bases do PMDB, ou de grande parte das bases do PMDB, desse projeto que está aí vivendo os seus estertores.
Na verdade existem dois Brasis. O Brasil virtual, da propaganda virtual, onde distribui-se fotografias com sorrisos do ex-presidente, da presidente da República, e o Brasil real, aquele em que a presidente da República foge do povo, como fugiu no carnaval e pretende, ou de alguma forma prepara-se, para aparecer camuflada nos jogos da Copa do Mundo. Esses dois Brasis serão colocados frente a frente na propaganda eleitoral.
O que é preciso são propostas, uma discussão séria sobre a crise no setor elétrico, sobre o crescimento pífio da nossa economia, sobre a tragédia da nossa segurança pública, com a omissão e a passividade do governo, a crise na saúde. Não há espaço no Brasil para essa discussão mais. A agenda do governo é a agenda eleitoral única e exclusivamente. É ela que toma conta da presidente da República. E o Brasil tem problemas seríssimos a serem enfrentados que, infelizmente, não vêm tendo a atenção que deveriam estar tendo por parte do governo. Infelizmente, como disse, é um final triste de um governo que perdeu a capacidade de ousar e de transformar para se contentar única e exclusivamente com um projeto de poder.
O Sr. vai se licenciar do cargo de senador?
Não estou cogitando isso. Vi essa notícia nos jornais. Essa é uma perspectiva que existe para depois da convenção partidária, se vier eu a ser homologado candidato do partido. Antes disso, não cogito essa questão.
O PT perdeu o PMDB e o PSDB está ganhando?
Não faço essa conta. O PSDB, e vocês perceberão cada vez mais, vai discutir propostas. Essa é a nossa agenda. Vamos discutir um novo modelo para o enfrentamento da segurança pública com um plano nacional de segurança, compartilhamento maior dos investimentos federais na saúde pública, medidas que de alguma forma resgatem a credibilidade da economia brasileira.
O PSDB vai discutir propostas e acho que, no caminhar dessas discussões, quando elas ficarem públicas, quando houver maior espaço sua divulgação, uma parcela do PMDB, como de outros partidos e da própria sociedade brasileira, que sempre teve uma grande identidade conosco, se aproximará. Se aproximará de quem tem propostas, porque o divórcio que existe hoje no Brasil é entre, repito, o Brasil da propaganda oficial, das fotografias sorridentes, e o Brasil real, onde a presidente da República pretende, pelo que eu li nos jornais, parecer quase que camuflada nos jogos da Copa do Mundo.
Sobre possível aliança com PMDB no Rio de Janeiro
Recebo sinais, até porque tenho amizade com companheiros do PMDB do país inteiro, mas não busco uma cooptação. Acredito nas coisas naturais da política. Quero repetir, com muita ênfase, o que disse aqui, todo esse esforço do governo à custa de cargos públicos, de oferecimento de mais ministérios ou de liberação de mais emendas, o único ganho que pode ter para o governo é o tempo de televisão. Porque a base, a consciência, não apenas do PMDB, mas de outros partidos da base, o governo já deixou de ter.
Que reforma ministerial é essa? Temos o maior e mais medíocre ministério da história republicana do Brasil. Ninguém sabe o nome de quem cuida da Saúde ou da Educação ou de outras áreas relevantes da administração pública porque é um governo montado a partir da ótica e da lógica da reeleição da presidente e não da qualidade. Quando se fala em reforma, reforma é para melhorar. Você reforma a sua casa, você reforma seu carro é para dar a ele melhores condições. Você reforma um governo é para melhorar. Este governo é reformado para atender apetite eleitoral do governo. Desafio hoje qualquer brasileiro medianamente informado a dizer quais são os principais ministros deste governo. Não tem. É um governo que hoje paga um preço pela sua arrogância casada com ineficiência. Aliás, estas são as duas principais marcas do governo do PT: arrogância e ineficiência.
A crise está aproximando PSDB do PMDB?
O PSDB nasceu de uma costela do PMDB. Quanto mais o PT faz valer seu projeto hegemônico que, repito, não busca aliados, mas busca apoiadores, é natural que, em função das realidades locais, haja uma aproximação. Isso não é uma estratégia do PSDB. É algo natural. E não vejo apenas no PMDB. Vejo um distanciamento de setores que hoje apoiam o governo, inclusive na sociedade, não apenas na vida partidária, do atual governo. Repito, estamos assistindo aos estertores de um governo que abdicou de ter um projeto de país para se contentar em ter exclusivamente um projeto de poder.