Aécio Neves – Entrevista em Brasília

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, em coletiva, esta tarde (15/10), em Brasília, comentou as declarações da presidente Dilma e do ex-presidente Lula. Aécio também falou sobre impeachment, Joaquim Levy, novo rebaixamento da nota do Brasil, afastamento do presidente da Câmara.

Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre as declarações da presidente Dilma e ida do ministro Joaquim Levy ao Congresso.

O Brasil assistiu nesses últimos dias a declarações sucessivas da presidente da República que, na verdade, reedita seu script eleitoral. A presidente volta para o palanque, lê discursos escritos por seus marqueteiros buscando se vitimizar para seguir o velho roteiro de atacar a honra das oposições. Até aqui ninguém atacou, como ela disse, a honra da presidente da República, mas nós não aceitaremos de forma alguma que a honra das oposições seja atacada.

E eu pergunto: Que moral tem um governo como o do PT e da presidente Dilma que quebrou o Brasil para vencer as eleições para atacar a honra das oposições? Que moral tem o governo do PT e da presidente Dilma para atacar a honra das oposições se distribui os espaços de poder na área da saúde, que descuida da vida das pessoas em troca de votos no Congresso Nacional? Que moral tem o governo que viu montar na sua estrutura uma instituição criminosa para assaltar a nossa maior empresa em benefício de um projeto de poder para atacar a honra das oposições? Que autoridade tem o governo que ao conduzir uma política econômica irresponsável levou mais de um milhão de empregos das famílias brasileiras só este ano para atacar a honra das oposições?

Faria muito melhor a presidente da República se rasgasse o script escrito pelos seus marqueteiros e falasse a verdade, e assumisse a sua responsabilidade pelo que vem acontecendo com o Brasil, que explicasse por que o Fies teve neste ano em relação ao ano passado cerca de metade das matrículas? Por que o Pronatec da mesma forma que teve três milhões de matrículas no ano eleitoral terá apenas um milhão e trezentos este ano? Por que a presidente não vem a público olhando nos olhos dos brasileiros para dizer por que os cerca de quatro bilhões que estavam no orçamento para a construção das creches tão alardeados durante a campanha eleitoral fossem cortados? Por que o programa Ciência sem Fronteiras que ano que vem não tem mais vagas foi também apresentado com uma das peças mais importantes da sua propaganda eleitoral?

Faria melhor a presidente da República se dissesse que a responsabilidade para que nós tenhamos hoje, no Minha Casa, Minha Vida, cerca de 35% a menos de investimentos em relação ao que tivemos no ano eleitoral, é responsabilidade do seu governo.


Sobre as pedaladas fiscais.

O Brasil sabe que a presidente da República se elegeu mentindo aos brasileiros. Infelizmente, a mentira continua. Seguindo certamente o script do seu marqueteiro, a presidente e o seu entorno começam a justificar as pedaladas dadas. Passaram meses mentindo, dizendo que não houve pedaladas. Depois da decisão por unanimidade do TCU, admitem as pedaladas e ensaiam o discurso de que elas serviram para pagar o Bolsa Família ou para pagar o Minha Casa, Minha Vida.

Mente novamente o governo. A parte menor das pedaladas diz respeito à Caixa Econômica Federal e a esses benefícios. No final do ano passado, não chegou a R$ 2 bilhões o débito do Tesouro para com a Caixa, para pagar os benefícios do Bolsa Família. Mas chegou a R$ 50 bilhões o déficit do Tesouro para com outros bancos, como Banco do Brasil e BNDES, para pagar subsídios de outros programas. Para quem? Para os grandes empresários.

O governo do PT deixou há muito de ser o governo dos pobres. É o governo da Bolsa Empresário, é o governo daqueles que mais podem, e nós da oposição não vamos aceitar que a mentira continue a conduzir as ações desse governo.


Sobre o ministro da Fazenda.

Quero fazer aqui um registro de um depoimento que vi ontem, aqui no Congresso Nacional, do ministro Joaquim Levy, que conheço há muito tempo e com quem tenho um convívio extremamente correto e republicano. Mas não é adequado que o ministro se comporte como ministro de um governo novo, recém-chegado, e aqui tem que terceirizar as responsabilidades que são do governo ao qual ele serve hoje, para aquilo que pode vir.

Seria mais correto que o ministro chegasse aqui e dissesse: os desatinos da política econômica nos últimos anos, os equívocos sucessivos cometidos pelo governo da presidente Dilma, levaram a um caos na economia, à paralisação da atividade econômica com crescimento negativo de 3% este ano e previsão de um novo crescimento negativo para o ano que vem, com inflação em torno de 10% e a de alimentos muito acima disso, punido aqueles que menos têm.

Faria melhor o ministro se admitisse que a responsabilidade agora pelo rebaixamento por mais uma agência da nota de crédito do Brasil é responsabilidade exclusiva deste governo. Não aceitaremos esta tentativa de transferência de uma responsabilidade, que não é do Congresso, porque o Congresso durante todos os últimos anos do governo da presidente Dilma aprovou integralmente todas as matérias de interesse da área econômica que aqui chegaram. O que ocorreu é que o governo, como disse a própria presidente da República, fez o diabo para vencer as eleições e, agora, apresenta a conta para a sociedade brasileira. E é preciso que a sociedade saiba que esta conta é de responsabilidade exclusiva do governo do PT e da presidente da República.


Sobre os discursos da presidente Dilma.

Obviamente é um script feito pelo marqueteiro. O mesmo da campanha eleitoral. A presidente tenta se vitimizar e atacar as oposições. Mas nós da oposição, não aceitaremos este ataque torpe porque não reconhecemos no governo da presidente da República autoridade moral para questionar a nossa atuação. A presidente continua a lembrar, permanentemente, e isso é correto, que ela teve 54 milhões de votos e venceu as eleições. É correto. Está na hora de ela começar a governar o Brasil. E governar é algo muito mais complexo do que simplesmente atacar as oposições e distribuir cargos no Congresso Nacional.

As dificuldades que o Brasil vem passando e vai passar ainda são gravíssimas e só a presidente da República é que poderá decidir o seu destino. Ou ela começa a governar o Brasil, com a grandeza que o cargo de presidente da República exige que se tenha, ou ela própria estará definindo o desfecho do seu mandato. Vou cumprir com a responsabilidade que tenho com o Brasil a partir dos 51 milhões de votos que tive para fazer oposição a este governo que na minha avaliação perdeu as condições morais de continuar conduzindo o Brasil.


Sobre o rebaixamento da nota do Brasil pela agência Fitch.

O rebaixamento da nota do Brasil por mais esta agenda era esperado. Esperado pelo conjunto da obra do governo. As contas do país vêm se deteriorando de forma extremamente grave e o que é mais sensível a essas agências é a percepção de que o atual governo perdeu as condições, perdeu a capacidade de orientar, de sinalizar para uma agenda nova, de retomada do crescimento, de controle da inflação e de reanimação da economia. Todos os indicadores que nos chegam vêm na direção contrária.

A percepção que tem, e talvez essa tenha sido uma das motivações para o rebaixamento já esperado pela agência Fitch, é de que se percebe que o governo da presidente Dilma já não governa. Houve uma terceirização de responsabilidades, há uma enorme incoerência na ação do governo, porque no mesmo momento em que o ministro da Fazenda vem ao Congresso Nacional tentando terceirizar ou compartilhar responsabilidades que são desse governo, nesse mesmo instante estamos vendo algumas das bases desse governo se manifestando contra a proposta do ministro da Fazenda.

É preciso que o ministro da Fazenda converse com o governo para saber se o governo apoia suas medidas antes de vir aqui pedir à oposição ou a outros atores da política ou do Congresso Nacional, apoio a elas. O que percebemos é que o governo do PT quer ser ao mesmo tempo oposição quando isso lhe convém, e governo quando isso lhe é favorável. E é exatamente essa ambiguidade do governo que em determinados fóruns, com a presença inclusive do ex-presidente da República, condena as medidas do ajuste fiscal – e faz isso com absoluta clareza – e de outro lado as posições do ministro que vem aqui cobrar atitude do Congresso Nacional. Essa ambiguidade, na verdade, deve ter sido um dos fatores principais que levaram à diminuição da nota, ao rebaixamento da nota do Brasil mais uma vez.


Sobre as articulações do ex-presidente Lula com Eduardo Cunha para evitar o impeachment.

Eles estão no seu papel. Nós da oposição – vou deixar isso aqui muito claro – tivemos em vários momentos, neste último ano, ano e meio, entendimentos com presidente da Câmara dos Deputados que ampliou o espaço de atuação das oposições na Câmara dos Deputados. Tudo isso feito absolutamente à luz do dia. Tivemos participações em comissões de inquéritos que estão investigando denúncias em relação ao governo, outras foram abertas. Relatorias importantes como a da Reforma Política foram conduzidas pela oposição. Isso é do jogo parlamentar. Mas no momento em que essas denúncias em relação ao presidente da Câmara chegam, e elas são gravíssimas, obviamente, cabe a ele se defender, e, obviamente, o PSDB não tem nenhum compromisso com eventuais irregularidades que possam ter sido cometidas por ele.


Qual será a posição do PSDB?

A posição do partido já foi colocada e nós reiteramos. O caminho que achamos mais adequado é o afastamento do presidente da Câmara da Presidência para que ele possa se defender. E o PSDB votará no Congresso Nacional, e na Câmara dos Deputados de forma especial, com base nas provas que serão apresentadas.


O PSDB vai endossar o pedido de quebra de decoro parlamentar?

Acho que esta é uma decisão da Câmara. Há ali uma cobrança para que o PSOL também pudesse endossar o pedido de afastamento da presidente da República. Mas esta não é a questão essencial.

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