Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre as declarações da presidente

O senador Aécio Neves comentou, em entrevista coletiva, nesta terça-feira (07/07), em Brasília, sobre as últimas declarações feitas pela presidente Dilma Rousseff. O presidente nacional do PSDB também falou sobre impeachment e partidos de oposição.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

A nota do PSDB diz que golpista é o PT. O sr. poderia esclarecer?

É incrível essa tentativa do PT de, sem ter como se defender das inúmeras acusações que pairam sobre o partido e seus dirigentes, querer acusar a oposição. Acusar a oposição de golpista? O que nós estamos fazendo é defender as instituições. Quando nós dissemos que é importante que o Tribunal Superior Eleitoral investigue se houve dinheiro de propina na campanha da presidente da República, nós estamos fazendo cumprir a Constituição. Quando nós falamos que o Tribunal de Contas da União tem que votar com isenção as chamadas pedaladas fiscais, sem essa pressão que vem sofrendo do governo federal, nós estamos defendendo as instituições. Quando nós falamos que o Ministério Público e a Justiça têm que continuar a fazer o seu trabalho, assim como a Polícia Federal, sem pressões do governo, nós estamos defendendo a democracia.

O PT considera golpe tudo aquilo que vai na direção oposta e contraria os seus interesses. O que é inaceitável são declarações, como as que nós assistimos hoje, de dirigentes do PT que dizem que a Polícia Federal precisa se submeter à presidente da República porque ela que teve voto. Meu Deus! A Polícia Federal é uma instituição de Estado. Então quer dizer que alguém que ganhe a eleição e nomeie o diretor da Polícia Federal está acima de qualquer investigação, pode cometer qualquer tipo de crime? Não. É mais um desserviço que o PT, no desespero que vive hoje pela fragilidade do governo, da presidente da República, busca fazer atacando as oposições.

Imaginem se o que ocorresse no Brasil fosse o inverso? O PSDB no governo e o PT na oposição? Aí sim nós teríamos uma radicalização muito grande. A sorte do PT é que somos nós, do PSDB, hoje que estamos dirigindo o maior partido de oposição e temos tido absoluta responsabilidade na condução desse processo. Não depende da oposição. A presidente mira na oposição mas devia se preocupar, muito mais, em responder aos tribunais, que estão fazendo investigações contra ela. É algo assustador a presidente da República dizer que vai lutar com unhas e dentes para manter o seu mandato. Uma presidente que se preocupasse com o país devia lutar com unhas e dentes para diminuir o peso da inflação sobre a vida do trabalhador, para diminuir o desemprego que vem crescendo de forma avassaladora em todo o Brasil, para retomar o crescimento; não para se manter no poder. O que ela quer dizer com isso? Que novamente a estrutura do Estado vai ser utilizada, como foi durante a campanha eleitoral? Não.

 

Sobre o papel da oposição.

A oposição no Brasil, e o PSDB em especial, tem cumprido o seu papel com absoluta responsabilidade. Qualquer que seja o desfecho desse processo, seja a continuidade do seu mandato até 2018, ou por razões que não dependam de nós, até a sua interrupção, nós só aceitaremos que isso ocorra pela via constitucional. Então, um alerta à presidente da República: não é com o PSDB que ela tem que se preocupar. Mas, sim, com os tribunais que a estão investigando por crime de responsabilidade e pela utilização de dinheiro oriundo da propina da Petrobras na sua campanha eleitoral.

 

Sobre a frase dita pela presidente “venham me derrubar”. 

É algo que, da minha parte, gera até uma certa consternação ao ver o tamanho desequilíbrio da presidente da República. Nós somos um país democrático, com instituições sólidas, e o papel da oposição é defender essas instituições principalmente quando elas são atacadas, quando são constrangidas por setores da base do governo. A presidente, infelizmente, perdeu mais uma grande oportunidade para, por exemplo, pedir desculpas novamente à população brasileira pelos equívocos sucessivos feitos durante a campanha eleitoral, pelo descumprimento das regras da democracia, pela utilização da estrutura do Estado em benefício do seu projeto eleitoral, pelos equívocos crassos e que trouxeram hoje prejuízos enormes aos brasileiros, como, por exemplo, na conta de energia. Então, lamentavelmente, vemos uma presidente que continua dissociada, distante da realidade que vem acontecendo no Brasil.

 

Ela disse que não há base para impeachment. Há base para impeachment?

O curioso é que quem usa essa expressão é muito mais a presidente da República e a sua base do que a oposição. O que a oposição tem dito é o seguinte: o Brasil tem instituições sólidas que não pertencem a um governo, pertencem ao Estado Nacional, e elas farão o seu trabalho, quem sabe até absolvendo a presidente da República. Não há julgamento ainda, mas querer desacreditar essas instituições, considerá-las instituições de alguma forma permeadas por uma certa tendência política e dizer que não cai de forma alguma é, na verdade, desprezar os avanços institucionais que, ao longo das últimas décadas, o Brasil teve.

Pessoalmente, não torço para um desfecho traumático para o país. Agora, quem vem perdendo as condições de governabilidade é a presidente da República porque mentiu, porque errou e porque continua mentindo. Nós da oposição defenderemos até o limite as instituições que hoje ainda fazem os brasileiros ter alguma esperança em relação ao futuro.

 

Com relação às críticas da presidente à delação e as prisões preventivas. O que o sr. acredita?

É algo absolutamente inacreditável. A delação, quando lhe servia na campanha eleitoral como instrumento de inibição da corrupção, era utilizada fartamente. Agora que a delação chega próximo de parceiros seus, seja do próprio PT ou de empresários, passa a ser algo não recomendável ou algo desprezível. Não é.

A delação não é uma condenação por si só, é um instrumento que precisa – reitero aqui – de comprovações para que tenha efeitos. Mas é um absurdo a presidente da República zombar da inteligência dos brasileiros, criticando agora uma lei que ela própria sancionou e a utilizou do ponto de vista eleitoral. Lamentavelmente, o que vejo é uma presidente cada vez mais fragilizada e deixo aqui a ela uma sugestão: se preocupe menos com a oposição e se preocupe mais com os seus aliados.

 

O PT tem feito um golpe nessa tentativa de inibir o trabalho do TSE e do TCU?

Se há alguma tentativa de golpe, é patrocinada pelo PT e alguns dos seus dirigentes, perplexos com a quantidade de denúncias e, sobretudo, com a proximidade delas com as campanhas presidenciais do PT, não apenas a última. O que nós da oposição estamos fazendo com absoluta responsabilidade é garantir que as nossas instituições continuem funcionando. Esse é o nosso papel. O que vejo são setores do PT, de alguma forma, tentando constrangê-las, e não permitiremos que isso ocorra. Golpe, se há alguém tentando, não é a oposição, é o governo do PT.

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