Aécio Neves – Entrevista Coletiva em Florianópolis

O senador Aécio Neves concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (9/12), em Florianópolis (SC), onde participou de encontro com empresários e lideranças políticas da região. O presidente nacional do PSDB ressaltou que há um sentimento de mudança no país e afirmou que nenhuma das manifestações recentes da população, cobrando melhorias para o Brasil, teve resposta adequada por parte do governo federal.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre o sentimento de mudança no país.

Há um sentimento claro de mudança no Brasil. E, nós assistimos, não podemos esquecer, e não faz tanto tempo assim, o Brasil indo às ruas cobrando dos governantes, não de um partido, mas de todos, ética na vida pública, eficiência na entrega dos serviços públicos e desenvolvimento com qualidade na educação, na saúde e na segurança pública. Nenhuma dessas manifestações teve a resposta adequada por parte do governo. O governo responde a essas manifestações  com a proposta da Constituinte para encaminhar a uma reforma política. O governo não propôs nenhuma agenda positiva. O que tenho dito que é essencial nós resgatarmos os valores, ética ao lado da eficiência e das obras. O Brasil hoje quer nos fazer crer que é normal obras orçadas por x, no meio do caminho já estarem gastando 3 x e não serem entregues nos prazos. A ineficiência é a maior das marcas desse atual governo. Em Minas, nós fizemos planejamos e definimos o que era prioritário e essencial, nós temos hoje a melhor educação básica do Brasil e a melhor saúde da região Sudeste. Isso é possível com transparência e planejamento, com gente qualificada. Falo do desaparelhamento da máquina pública. O Estado não é para ser ocupado pelos companheiros sem qualificação, é para ser gerido por gente que conheça o ramo e com capacidade e estratégia.

 

O papel da oposição.

Nós jamais faremos oposição com a irresponsabilidade que fazia o PT. Com o PT, tudo que vinha do governo FHC era como se tivesse vício de origem: foi contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e ao processo de privatização, que hoje faz de forma envergonhada. Nós não faremos oposição ao país, mas ao governo, mas infelizmente o que há hoje no Brasil é quase um monólogo. Os espaços para que a oposição fale e critique não são amplos. Espero que iniciado o processo eleitoral, nós possamos ter maior espaço para o contraditório. Falta aos grandes veículos de massa permitir o mesmo espaço dado à presidente da República. Foi assim com o pré-sal e o programa Mais Médicos.

 

Sobre Petrobras.

A Petrobras, infelizmente, é o mais triste exemplo da inoperância do governo e da incapacidade do governo de gerir a sua política econômica de forma adequada e utiliza a Petrobras, por exemplo, para manter os níveis de inflação não muito altos. E o PT sempre teve de forma irresponsável a tendência de, às vésperas de eleição, acusar o PSDB de que vai privatizar isso, vai privatizar aquilo.

Quero dizer a vocês aqui que, em relação à Petrobras o que nós vamos fazer é reestatizar a Petrobras. Tirá-la das garras de um partido político, de um projeto de poder. Para que ela possa voltar a ser um instrumento de desenvolvimento do país. Aqui nessa região, a Região Sul e Santa Catarina, por exemplo, um dos problemas crônicos que nós temos é a ausência de energia, de gás. A demanda é muito maior do que a oferta. Era hora da Petrobras estar investindo. Não vai investir por quê? Porque perdeu sua capacidade de investimento. Perdeu 40% do seu valor de mercado em apenas sete anos. Viu triplicar seu endividamento: a Petrobras é a empresa não-financeira do mundo mais endividada. E qual o efeito disso? A diminuição de investimentos estratégicos para o desenvolvimento do país. Então, o Brasil precisa de gestão, de planejamento, e nós queremos desaparelhar a máquina pública.

 

Sobre eleitorado de SC

Nós buscamos o apoio da população de Santa Catarina – que, diga-se passagem, sempre esteve ao lado do PSDB nas eleições nacionais. Sempre nos deu vitórias extremamente expressivas, e não vejo que haja razão para mudar – até porque nós teremos um palanque sólido aqui no Estado. O nome do senador Paulo Bauer está colocado como nosso possível candidato ao governo do Estado. Vamos construir aqui um discurso e uma proposta nova. E não tememos adversários. Respeitamos todos, mas não tememos. E acho que aqui, mais uma vez, o PSDB sairá vitorioso.

 

O Sr. implantou o Choque de Gestão. Será uma das bandeiras da sua campanha o enxugamento da máquina pública?  

Sem dúvida alguma. O que é o Choque de Gestão, simplificando? É gastar menos com a estrutura do Estado para gastar mais com as pessoas, com as políticas-fim. Num governo do PSDB, nós cortaríamos pela metade o número atual de ministérios, que é quase um acinte, um tapa na cara do cidadão brasileiro. No momento em que os estados e municípios estão em situação quase de insolvência, nós assistimos o Brasil ser o segundo país do mundo com o maior número de ministérios, só perde para o Sri Lanka. Até pelo simbolismo – não apenas pelo custo -, pelo simbolismo do que isso representa. Além do mais, não têm resultados. Em Minas Gerais, nós estabelecemos o governo por metas. 100% dos servidores são remunerados se alcançam as metas pactuadas a cada início de ano. Isso não existe em nenhuma área do governo federal. É exatamente por isso, por estimular o servidor público a prestar serviço de boa qualidade, que Minas tem hoje a melhor educação do Brasil.

 

Sobre conversas com governador Eduardo Campos.

Em primeiro lugar, sempre dei e dou novamente as boas vindas ao governador Eduardo Campos ao campo oposicionista. Acho que a percepção que ele e que a ex-ministra Marina têm é de que este ciclo de governo do PT está no final. Converso muito com o governador Eduardo há muito tempo, desde que éramos governadores, quando eu me elegi pela segunda vez ele se elegeu pela primeira e buscou em Minas muitas iniciativas importantes que depois foram implementadas em Pernambuco. Desde aí, consolidamos uma relação muito próxima. A presença do governador Eduardo é saudável. O Eduardo é um gestor qualificado, aquilo que eu não vejo no plano federal. Não vejo na presidente da República, nenhuma característica de uma boa gestora. Eu daria como exemplo, e poderia citar vários, o setor de energia que ela comanda por 12 anos, com mão de ferro, e hoje é um setor absolutamente desarticulado, sem capacidade de investimentos. O que salva o governo hoje, paradoxalmente, é o crescimento pífio. Se tivéssemos um crescimento um pouco mais vigoroso, não teríamos energia para este crescimento.

Voltando à sua pergunta, vamos falar dos mesmos temas. Se for a mesma abordagem o tempo é que vai dizer, mas a partir do momento em que estamos percebendo a fragilidade da condução da política econômica, esse desaquecimento do crescimento brasileiro – vamos crescer mais apenas que a Venezuela este ano na América do Sul. Ninguém me convence que isso é normal. Não dá para terceirizar mais e dizer que o mundo está desaquecido. Sim, o mundo não crescerá nos próximos dez anos como cresceu nos últimos dez, mas será que é razoável termos o crescimento no Brasil, no período Dilma Rousseff, em torno de um terço do que vai crescer a América do Sul? E com a inflação de novo no teto da meta?

 

Sobre a redefinição do pacto federativo.

Na base da discussão que o PSDB vai apresentar e eu vou, na próxima semana, divulgar um conjunto de ideias que vou colocar à discussão dos brasileiros. Ideias colhidas nessas andanças nossas pelo país, inclusive aqui. A base disso vai estar um novo pacto aquilo que eu vou chamar de refundação da Federação, onde estados e municípios possam ter maiores receitas a partir de determinadas mudanças no Congresso Nacional. Eu, por exemplo, tenho uma proposta que impede que o governo federal dê desonerações sobre as receitas de estados e municípios. Pode dar na parcela do IPI e do imposto de renda que são da arrecadação da União e não na arrecadação de estados e municípios. Hoje, a tributação do Pasep, a União cobra de estados e municípios, 1% da sua receita a título de Pasep. Isso a meu ver é até inconstitucional. Isso tem de deixar de existir. E temos de ter uma política de transferência de renda na saúde, na segurança pública, muito mais ampla para estados e municípios do que esta que existe hoje.

Existe uma regra na União que você, para criar uma despesa nova na União, você tem de mostrar receita, apontar de onde vem a receita para pagar a despesa. Isso é correto, só que não existe no plano estadual e municipal. Coloca-se novos encargos, o piso da educação, a emenda 29 da saúde, bota-se novas despesas para municípios e estados e simplesmente não há de onde tirar esses recursos e os municípios estão aí em situação de insolvência e isso é extremamente grave.

 

O sr. disputa com Eduardo Campos a preferência do empresariado?

Vejo a presença do governador Eduardo Campos na disputa, ao contrário do PT, vejo como algo extremamente positivo. O debate vai ser mais plural, outros temas vão vir. Temos que superar essa ideia, que o PT quer colocar na cabeça dos brasileiros, de que existem dois Brasis, o Brasil deles que apoia o governo e o Brasil daqueles são contra o governo e, portanto, não seriam favoráveis ao Brasil. Não existe nada disso. É exatamente a crítica que nós fazemos ao governo que vai nos permitir encontrar, para o Brasil, um caminho de desenvolvimento maior.

Eu não me satisfaço com o pleno emprego – falei isso hoje cedo na Federação das Indústrias – de dois salários mínimos, falei aqui para os companheiros também, é no que está se transformando o Brasil. Por quê? Porque somos um país que, a passos largos, caminha da desindustrialização. Hoje 14% apenas do nosso PIB vem da indústria. É o que era na época do Juscelino (Kubitscheck) há 60 anos. Isso não se justifica. Diálogo com o setor produtivo, teremos sempre, com enorme tranquilidade. Seja ele industrial, seja ele do agronegócio. É um discurso muito fácil para nós e há uma visão convergente, uma preocupação convergente entre o que pensamos e o que setor produtivo, que emprega, que gera renda, apresenta também como sugestões.

 

Sobre pesquisas eleitorais.

O que vejo de forma absolutamente clara em todas as pesquisas é que pelo menos dois terços da população brasileira querem mudanças. Isso está em cada uma delas de forma muito clara. Se vocês voltarem um pouco no tempo, nessa mesma semana de 2009, portanto com a mesma distância que estamos hoje para as eleições de 2014 que estávamos para as eleições de 2010, a atual presidente da República tinha 16/17%, no máximo, nas pesquisas eleitorais. Porque ela não tinha mais pontos? Porque as pessoas não a identificavam ainda com o sentimento que havia, naquele tempo, de continuidade. A partir do momento em que houve essa identificação ela avançou. O sentimento hoje é outro, é de mudança. Cabe a nós da oposição, a partir do momento em que tivermos acesso à comunicação de massa, espaço para dizer o que pensamos, na hora em que o monólogo passar a permitir o contraditório, não tenho dúvidas de que as oposições cresceram. E quem for para o segundo turno com a atual presidente da República, se é que é ela que vai, pode se preparar para vencer as eleições.

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