O senador Aécio Neves, em entrevista coletiva em Salvador, hoje (20/09), comentou que iniciará amanhã, em Maceió, em um grande encontro regional do PSDB, o primeiro de vários encontros regionais que permitirão ao partido iniciar a construção de um projeto de país alternativo para o Brasil.
Segue a entrevista:
Sobre visita a Salvador e a Maceió
É um prazer redobrado estar novamente na Bahia. Estamos acabando de chegar de uma visita à grande liderança política nacional, prefeito ACM Neto, e seguimos ainda hoje no final da noite para Maceió, onde faremos grande encontro regional do partido. Teremos amanhã, em Maceió, o primeiro de vários encontros regionais que permitirão ao PSDB iniciar a construção de um projeto de país alternativo a este que está aí. O Brasil precisa de um projeto de país, até porque o PT abriu mão de ter este projeto, para se contentar em ter exclusivamente um projeto de poder.
Relação da Prefeitura de Salvador com os governos estadual e federal.
Absolutamente natural. Hoje estados e municípios têm que ter uma relação harmoniosa com governo federal, sem se submeter ao governo federal e às suas imposições políticas. O prefeito ACM Neto faz isso de forma exemplar. E o governo federal respeita o prefeito ACM Neto, respeita a população de Salvador que fez, a meu ver, a melhor escolha. É preciso que ele mantenha esses laços, essas interlocução, mas não tenho dúvida que na hora do embate político ele estará no campo que sempre esteve.
Federação
O que existe hoje no Brasil, infelizmente, é a fragilização da Federação. Federação é hoje uma palavra solta em uma folha de papel. Caminhamos para viver quase que em um Estado unitário, onde a arrecadação de recursos está quase toda nas mãos da União. Isso transforma estados e municípios cada vez em entes mais dependentes do governo federal. E a base da proposta do PSDB levará em conta – talvez a sua questão fundamental e que será base para todas as outras – a refundação da Federação. Queremos que estados e municípios voltem a ter condições de eles próprios enfrentarem as suas dificuldades.
Em 2012 e 2013, somados, o governo federal, fez desonerações de bens, de imposto de renda, em torno de R$ 47 bilhões. R$ 27 bilhões desses R$ 47 bi deixaram de chegar aos cofres municipais e estaduais.
Na segurança pública, 87% do que se gasta vem dos estados e municípios, apenas 13% da União. E a União é responsável pelas nossas fronteiras, pelo tráfico de drogas, pelo tráfico de armas.
Na saúde, quando o PT começou a governar o Brasil, ainda no governo do presidente Fernando Henrique, o governo federal investia 56% de tudo que se gastava em saúde. Hoje investe apenas 45%. A proposta que defendemos durante a votação da Emenda 29, de financiamento da saúde, foi rechaçada pela base do PT, que 10% das receitas brutas do Orçamento da União deveria ir para a saúde. Enfim, é um governo pouco generoso com aquilo que é essencial para as pessoas, que são investimentos de qualidade, que são serviços públicos de qualidade. Por isso o PSDB estará pronto para o embate em qualquer área, porque o Brasil precisa do encerramento desse ciclo e do início de outro, onde ética e eficiência possam caminhar juntos. Essas duas matérias primas em falta no governo federal do PT.
Antecipação do período eleitoral
Houve uma antecipação clara do processo eleitoral feita pelo governo federal, por iniciativa do ex-presidente Lula no momento em que lançou a presidente da República como candidata. O papel da oposição é, permanentemente, apresentar propostas e andar pelo país. O que há de diferente e inusitado neste momento no Brasil é a ação do governo, porque não temos mais uma presidente da República, temos uma candidata a presidente da República que se move e movimenta única e exclusivamente em razão da eleição, que toma atitudes em razão da eleição.
Temos hoje um governo do marketing comandando as decisões governamentais. O papel da oposição, até pelas dificuldades que temos de externar as nossas posições, é este que estamos fazendo. Estou aqui como presidente partidário para discutirmos propostas para o Brasil. E não se faz isso de Brasília. Este primeiro encontro do Nordeste, em Maceió, será muito importante. Vamos estar em Curitiba, com grande encontro da região Sul, depois estaremos em Manaus com grande encontro da região Norte, depois em Goiânia, da região Centro-Oeste. Intercalado a esses grandes eventos, faremos reuniões em São Paulo, que é quase um país, e em outros estados do Sudeste.
O que queremos é ouvir os brasileiros e apresentar uma proposta que possa ser comparada à do governo. Teremos algo novo a apresentar ao Brasil. Seremos o novo nessas eleições. O velho são aqueles que estão ai hoje sem capacidade de reagir a este pífio crescimento da economia, sem capacidade de conduzir os investimentos do governo porque hoje o Brasil é um grande cemitério de obras inacabadas, sem capacidade de inspirar confiança e credibilidade nos agentes privados, que deveriam estar vindo para o Brasil nos ajudar a retomar o crescimento da economia. Hoje, 60% das famílias estão endividadas e o Brasil perdeu credibilidade.
Eleição estadual na Bahia
Reconhecemos a liderança do prefeito ACM Neto e, ao lado das lideranças do PSDB, dos companheiros do Democratas de outros aliados, como PV e PPS, vamos construir um palanque muito sólido. O prefeito disse e isso não é segredo que ele trabalhará para garantir a unidade desse grupo político e apresentar uma alternativa tanto para que na Bahia tenhamos o início de um novo ciclo, quanto para que no nível nacional essa candidatura, ou esse conjunto de forças possa dar sustentação à candidatura das oposições.
Aliança com o DEM
O PSDB e o Democratas apresentarem um projeto alternativo não é opção, é obrigação. É a nossa responsabilidade pela história que temos e pela parcela importantíssima de contribuição que demos no passado para que o Brasil chegasse onde chegou até hoje.
Temos que cuidar de construir o nosso palanque. É o que estamos fazendo e a base, o núcleo, a essência dele é a aliança do PSDB com o Democratas. Não havendo isso estamos ambos fragilizados. A presença ao meu lado do presidente nacional do Democratas, senador José Agripino Maia, é uma sinalização para mim das mais importantes que estaremos mais uma vez juntos, construindo uma nova página na história do Brasil.
Sobre o ex-ministro Geddel Vieira Lima
Tenho uma amizade pessoal grande com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, liderança maior do PMDB. Fomos parceiros na Câmara dos Deputados. Quando me elegi presidente da Câmara era líder do PSDB, ele era líder do PMDB. A nossa articulação foi fundamental e a firmeza com que Geddel construiu ali nossa aliança foi fundamental para nossa vitória. Mas respeito as circunstâncias locais. O que percebo do prefeito, do secretário Aleluia, dos companheiros do PSDB que estão aqui, é uma intenção grande de manter o PMDB dentro dessa aliança no estado. Acho muito importante que isso ocorra. O que pudermos ajudar ou estimular a construção ou manutenção desse palanque do segundo turno da eleição municipal para a eleição estadual, quem ganha é a Bahia. Felizmente temos nomes extremamente qualificados em todos os partidos para liderar a chapa, para compor a chapa. Tenho muito otimismo em relação ao PMDB-BA estar conosco, como tenho certeza que em várias partes do Brasil parcelas importantes do PMDB também se cansaram do que está aí e podem eventualmente caminhar ao nosso lado.
Relação com PSB
Não vejo esta distância ideológica entre nós. Vejo e respeito muito que o PSB busque construir em um projeto também alternativo de país. O PSB percebe que este modelo que aí está exauriu-se. Perdeu a capacidade de construir qualquer reforma estrutural no Brasil. Perdeu a capacidade de voltar a falar ao coração das pessoas, a gerar esperança nas pessoas. O PSB tem de ser respeitado como tal, busca seu projeto, mas o que tenho dito é que o PSB e PSDB, em várias partes do Brasil, já estão juntos há muito tempo.
Em Minas Gerais, estado que governei por oito anos, governei em parceria com o PSB. Em São Paulo, estado do senador Aloysio Nunes, o PSB é um parceiro extremamente importante. Vejo muito mais afinidade entre PSDB e PSB do que em muitas das alianças que hoje estão em torno do governo federal. Mas o momento é de respeitarmos a proposta que o PSB apresenta. Ela é boa para o cenário político, boa porque permitirá uma discussão mais plural. É importante também a candidatura da ex-ministra Marina Silva que traz ingredientes importantes ao debate. Portanto, cabe a nós PSDB, Democratas e outros aliados que possam vir apresentarmos a nossa proposta ao país. E o tempo vai dizer em que momento ou se será possível nos encontrarmos com essas outras forças.
Tenho uma amizade com Eduardo Campos de muito tempo. Nossos avôs foram parceiros em momentos importantes da história brasileira, Tancredo Neves e Miguel Arraes. Eduardo sempre foi um político que enxergava longe. Político muito astuto, no bom sentido da expressão. Acho que a entrega dos cargos é uma percepção clara que já vínhamos tendo há muito tempo e que ele passa a ter de que esse modelo que está aí, esse ciclo do PT, vai se encerrar. E ele se coloca como uma alternativa absolutamente natural. Vamos caminhar cada um na sua estrada. Quem sabe um dia elas se encontrem para o bem do Brasil. O tempo é que vai dizer e a população brasileira que vai decidir.
Decisão do STF
Cabe a mim respeitar a decisão do STF. Sou de uma terra, as alterosas, lá em Minas Gerais, que diz que decisão de juiz acata-se. Mas tenho o meu sentimento como cidadão e não tenho porque não externá-lo. O que me parece grave é que a postergação ilimitada desse processo volte a levar as pessoas, brasileiros e brasileiras comuns de toda parte desse país, a perceberem que existem dois tipos de justiça. Uma justiça para os mais pobres, para os mais desassistidos e uma justiça diferente para os poderosos. Por isso, acho que, respeitada a decisão do STF – não vou comentá-la no mérito, não tenho capacidade para isso –, mas é preciso que o desfecho ocorra o mais rapidamente possível.
O Brasil anseia, aguarda pela virada dessa página. Aqueles que devam ser inocentados, que sejam inocentados, e aqueles sobre os quais recaírem provas cabais da sua culpa, que sejam condenados e que cumpram suas penas. Não cabe a mim dizer se é A ou B que deve fazê-lo, é preciso que Supremo encerre, o mais rapidamente possível, esse longo enredo que já luta demasiadamente. Acho que esse é o sentimento, não apenas meu, mas da sociedade brasileira.
Reforma Política
Precisamos ter um sistema político onde o cidadão se sinta representado. Identifique naquele que elegeu alguém capaz de interpretar suas ansiedades, angústias e aquilo que pensa, e seja positivo para o Brasil. Temos hoje um quadro extremamente plural. Legendas que nem chamaria de partidos, que acabam servindo a interesses muito individuais e localizados. Lá atrás, aprovamos uma cláusula de desempenho que continuo defendendo como algo importante para o Brasil. Os partidos para estarem em funcionamento precisarão ter identificação com a sociedade. Defendemos o voto distrital misto, onde uma parcela dos parlamentares sejam eleitos por distritos e outra por listas, para que parte do Parlamente seja até do ponto de vista geográfico próxima ao eleitor, mas não prive o Parlamento de representantes de setores da sociedade que não teriam base territorial. Defendemos o fim das coligações proporcionais, onde se usurpa o voto do eleitor, que vota em um determinado candidato e acaba elegendo outro, que terá uma ação parlamentar desconectada daquele que recebeu seu voto.
Reeleição
Optamos também por defender o mandato de cinco anos para todos, com o fim da reeleição. Até pelo mau exemplo que o governo federal vem dando na utilização da máquina pública para cooptar aliados. Cria-se um ministério em cada esquina, para prender alguém que tem mais 30 segundos na televisão. Temos hoje menos ministérios apenas que o Sri Lanka, quase uma ofensa à inteligência da população brasileira. E ministérios que não entregam absolutamente nada em serviços de qualidade.
Tenho muito liberdade para mudar de opinião. Como dizia o velho Raul, “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Isso não foi unânime, mas um consenso que encontramos dentro do partido. A utilização da máquina acaba sendo tão avassaladora que não tem feito bem ao país. Repito, a presidente Dilma dá um mau exemplo de como não se deve utilizar a estrutura do Estado, emendas parlamentares, a liberação de verbas e recursos, a criação de cargos e empresas públicas para se atender um projeto de reeleição.