Entrevista de Aécio Neves – Jornal Folha de S.Paulo – 10/09/2012
Leandro Colon
Em entrevista dada ontem à Folha, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) admitiu, com discurso de cautela, que o resultado da eleição em Belo Horizonte, onde conseguiu reeleger o prefeito Marcio Lacerda (PSB), pode fortalecê-lo para uma disputa presidencial em 2014.
O tucano, porém, disse que o partido tomará essa decisão somente na virada de 2013 para 2014. “É uma decisão que deve tomada pelo partido, não por mim. Obviamente, se recair em mim essa responsabilidade, vou estar preparado para isso”, disse.
Aécio comentou ainda as especulações de uma possível aliança com o governador Eduardo Campos (PSB), rebateu as críticas de que decepcionou como liderança da oposição no Senado até hoje, e respondeu às provocações da presidente Dilma Rousseff de que deixa Minas para ir à praia. “Eu acho que ela (Dilma) está ajudando a fazer minha campanha no Rio de Janeiro. Isso é uma grande bobagem”, disse.
E ataca: “O Brasil não pode virar um México, com partido único. Temos que resistir do lado de cá, senão amanhã vamos ver um projeto absolutista”.*
Folha – A vitória de Lacerda em BH em cima do petista Patrus Ananias é uma vitória sua sobre a presidente Dilma?
Aécio Neves– É uma vitória da coerência. O equívoco do PT e da presidente foi privilegiar o projeto do partido em detrimento da cidade. A presidente desprezou algo que, para mim, foi essencial, o interesse de BH. Nós tínhamos um candidato muito bem avaliado, que sequer é do meu partido, o vice não era do partido, e isso não me impediu que eu o apoiasse. No momento em que a presidente se curva para o interesse do partido, ela comete um equívoco. Eu tinha aceitado que o vice fosse do PT. A presidente rompeu a aliança e fez uma intervenção descabida. A minha contestação é essa. A presidente, nos dois últimos meses de campanha, desconstruiu boa parte da imagem que construiu no seu governo: de que é diferente do presidente Lula. Ela de alguma forma rompe com algo que vinha construindo, uma posição mais republicana.
O senhor é pré-candidato a presidente para 2014?
O que posso dizer é que o PSDB tem um projeto alternativo para o Brasil. Nós não vamos fugir dessa responsabilidade. Essas eleições consolidaram o PSDB como força opositora. E é em torno dela que outras forças políticas, ao longo de um ano inteiro, vão se formar. O PSDB liderará um projeto alternativo ao que está aí, que vai confrontar meritocracia com aparelhamento. Não chegou a hora ainda, mas vai chegar uma hora que o PSDB vai decidir o seu candidato. Antes disso, esse candidato tem significar e sintetizar meia dúzia de ideias claras para a população. Se você me perguntar se o PSDB já tem hoje o candidato a presidente da República, vou dizer com toda certeza que não tem, nem precisa ter. Posso ser eu? É uma possibilidade e não posso fugir disso. É uma decisão que deve tomada pelo partido, não por mim. Obviamente, se recair em mim essa responsabilidade, vou estar preparado para isso.
Na sua avaliação, o resultado de Minas ajuda o senhor a ser esse candidato?
É impossível impedir essa leitura. Mas a história mostra de forma muito clara que as relações entre as eleições municipais e nacionais não são diretas. A leitura vai ser para ver. Tem alguns fatos importantes, nosso crescimento no Norte e Nordeste, como em Aracaju e Maceió. Estamos disputando segundo turno em Salvador, Teresina, São Luís. O Sul e o Centro-Oeste sempre tiveram tendência de apoio ao PSDB por uma construção sócio-econômica da região. No Sudeste, continuamos com uma posição muito sólida, e estávamos fora do jogo no Nordeste. O PSDB sai mais fortalecido.
A presidente Dilma disse, no comício, que não deixou BH para ir à praia. Como o sr. vê as provocações de petistas, que chamam o sr. de boêmio?Como vencer as resistências internas do próprio PSDB? Fala-se muito em Geraldo Alckmin como seu adversário para disputar o Palácio.
Não sinto essa resistência, eu sinto que não está na hora de decidirmos quem será o candidato do partido. Eu converso muito com o Geraldo, com o Fernando Henrique, com o próprio Serra. Não sou candidato a qualquer preço, de forma alguma. Eu seria candidato da força majoritária do partido para ser força alternativa a esta aí. Essa incapacidade do PT de propor o novo, uma nova agenda para o Brasil, vai levar o partido a ter dificuldade lá adiante. Esses dois próximos anos da presidente vai ter dificuldade, principalmente por causa da economia fragilizada e da ineficiência, os gargalos são muito grandes.
Colegas de Senado dizem que o sr. não foi o líder de oposição que esperavam que fosse até agora.
Recebo todas as críticas com a mesma naturlidade que recebo os elogios. O existe de fato no Senado é uma dispersão das oposições, não temos 15% de representação. Isso significa que as iniciativas relevantes, os projetos de maior visibilidades, são conduzidos pela base do governo. Não temos maioria no Senado. Não me preocupo com o Salão Azul do Senado, não é ali que vamos travar o debate. Temos que viajar o Brasil. Me preocupo muito mais com a interlocução com a sociedade do que com o Senado. O Congresso é hoje homologador das decisões da presidente da República.
Eu acho que ela (Dilma) está ajudando a fazer minha campanha no Rio de Janeiro. Isso é uma grande bobagem. A resposta está aí: nós temos um projeto muito bem aprovado e avaliado em Minas. O que deve incomodar são as derrotas sucessivas que o PT vem tendo aqui, tudo em primeiro turno. Eu bebo da mesma água da presidente: a legimitidade do voto, e eu tenho dever de, todas vezes que achar que meu Estado está sendo lesado, me posicionar, propor. É o que vou fazer por mais que aqueles que acham que minha postura deve ser submissa.
Na sua opinião, o presidente Lula perdeu ou ganhou com as eleições municipais?
Eu sempre tive uma boa relação pessoal com o presidente Lula antes de ser presidente. O Lulismo, como existiu no passado, aquela coisa meio messiânica, isso não existe mais. Se já não existia em Minas, não existem em outros lugares. Ele vai ser sempre respeitado, mas do ponto de vista eleitoral, não assusta.
Acha que o PSDB deve antecipar a escolha de seu candidato a presidente para 2014?
Há um consenso entre nós que na virada entre 2013 e 2014 temos que ter, mesmo que internamente, essa decisão tomada. Para que esse candidato tenha o tempo necessário para que tenha os três primeiros meses de 2014 para construir alianças com quem não está no nosso campo político hoje. Antecipar isso é desnecessário, não está maduro ainda. Tem gente que hoje está com governo federal e que pode se cansar para estar conosco.
Seria o PSB? O senhor conta com o governador Eduardo Campos como aliado em 2014?
Tenho uma amizade fraternal com o Eduardo de muito tempo, fomos colegas juntos na Câmara. Tenho que respeitar a posição do Eduardo hoje, ele é do governo federal. Fazer qualquer insinuação de que gostaria que ele viesse para cá é dizer que ele está no campo errado. Agora, o que pósso dizer é que o PSB tem alianças conosco em vários estados do país. Há uma identidade do PSB com PSDB em vários lugares. No futuro, se terá um projeto deles ou um projeto conosco, só o PSB pode dizer.
O senhor vai a São Paulo pedir voto para o José Serra contra o Fernando Haddad?
Eu peço publicamente, aproveito aqui para pedir voto ao Serra. Eu tenho minhas limitações, não tenho essa dimensão de poder ajudar efetivamente mais do que fazendo gestos e me colocando a disposição dele. O PSDB vai ter candidatura em 18 das 50 candidaturas com segundo turno. Onde as pessoas acharem que minhas palavras podem ajudar, eu vou.
O sr. fala muito do “projeto Minas”. A eleição do Serra em São Paulo é boa para seu projeto presidencial?
É muito boa porque é boa para o Brasil, a eleição do Serra é muito importante para que as oposiçoes de fortalecam. É bom para São Paulo, o Serra tem talento, capacidade de gestão.