O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (04/12), em Juiz de Fora (MG), onde participou de encontro com lideranças mineiras do partido. O senador falou sobre os encontros regionais do PSDB, impeachment da presidente Dilma, recesso parlamentar, economia brasileira, perda de investimentos da Zona da Mata e eleições municipais.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
O PSDB e os partidos que caminham conosco já há muitos anos em Minas Gerais têm feito reuniões em todo o Estado para discutir os problemas de Minas, os problemas do Brasil. É óbvio que trago agora para os companheiros uma visão sobre essa gravíssima crise econômica, moral e, agora, social na qual o governo do PT nos mergulhou. É muito importante que haja uma enorme coesão de todos nós para buscar saídas. O Brasil vive um processo de instabilidade enorme. A nossa percepção é de que a presidente da República perdeu as condições de nos conduzir para um momento de maior estabilidade, de retomada dos investimentos e, portanto, de melhoria da vida das pessoas com a recuperação do emprego. E a partir da semana que vem será instalada no Congresso Nacional, mais especificamente na Câmara dos Deputados, a comissão que deve discutir o processo de impeachment do ponto de vista jurídico.
O que temos de fazer agora é superar este Fla-Flu entre a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados e discutir de forma clara: houve crime? A presidente cometeu crime de responsabilidade? Se cometeu, ela tem de responder por isso. Se não estaremos criando quase que um salvo-conduto no país, onde seria permitido que os presidentes da República ou os detentores dos cargos mais altos pudessem, para se reeleger ou para se manter no poder, cometer crimes.
Felizmente no Brasil hoje as instituições funcionam. Funcionam de forma sólida, altiva, independente como os tribunais, como o Ministério Público, a Polícia Federal, o Poder Judiciário em todos os seus níveis. E é exatamente a solidez das nossas instituições que vai nos permitir superar essa crise.
Qual a opinião da oposição sobre o recesso parlamentar?
Essa é uma questão que vamos decidir no início da semana. Nosso sentimento inicial era de que isso deveria ocorrer o mais rapidamente possível. Mas o que estamos percebendo é que há um atropelo enorme do governo. Uma mobilização muito grande do governo para que não haja manifestações, para que a população não se inteire do que está acontecendo. Portanto, a nossa decisão será tomada conjuntamente com os outros partidos de oposição na terça-feira.
O que existe até agora são ponderações dos movimentos sociais com os quais temos contato e que gostariam de ter um tempo maior para que a população pudesse de alguma forma acompanhar mais de perto os desdobramentos deste processo. Não há uma decisão formal, mas ela será tomada na terça-feira.
Como os investidores internacionais têm reagido a esse momento? Vocês têm alguma informação?
O que percebo é que os investidores, tanto internacionais quanto nacionais, têm se manifestado desde o início do segundo mandato da presidente Dilma com enormes reservas em relação ao Brasil. A equação na qual o PT nos mergulhou é a mais perversa que já vivemos na nossa história contemporânea. O Brasil entre os 20 países mais desenvolvidos do mundo será o que terá o pior crescimento. Nós apenas estamos à frente da Ucrânia que está em guerra civil. O Brasil tem hoje 60 milhões de pessoas inadimplentes com prestações atrasadas.
O desemprego, em fevereiro, para os mais jovens ultrapassará 25% para aqueles que têm até 24 anos. A média será de 12%, a inflação continua sem controle. Nas regiões metropolitanas, a inflação já chegou em torno de 15%, a de alimentos, aquela que mais atinge os mais pobres. A grande verdade é que aqueles que tiveram, no período de governo do PT, alguma ascensão social em razão de várias medidas – e a principal delas é a estabilidade que foi tomada no governo anterior – retornarão para a condição anterior, só que em um cenário muito pior, com inflação, com desemprego, com juros na estratosfera e sem perspectiva de retomada do crescimento. O meu sentimento pessoal, como presidente nacional do PSDB, é que o governo do PT acabou. Esse é o lado bom da história.
Qual é a expectativa para a Zona da Mata, já que a gente está neste encontro regional?
Há uma preocupação permanente nossa com a retomada do crescimento da Zona da Mata, que já foi uma das mais vigorosas do ponto de vista econômico do Estado de Minas Gerais, e que vive hoje, por um conjunto de circunstâncias, um momento extremamente difícil, seja pela perda de atividade geral do país e do próprio estado de Minas Gerais, seja pelas facilidades que o estado do Rio tem dado para a atração de empresas.
Não há, infelizmente, hoje ainda um projeto de desenvolvimento específico que possa atender a Zona da Mata. Ele deve passar certamente por uma equivalência, uma isonomia tributária com estados vizinhos. Falo do Rio de Janeiro, mas poderia falar também do Espírito Santo. Mas o que assistimos no governo do estado de Minas Gerais foi algo na linha oposta, foi o aumento da carga tributária que, mais uma vez, impacta negativamente na competitividade dessa região.
O que estamos vendo no Brasil estamos vendo também em Minas Gerais: um governo que se elegeu com um discurso, prometendo diminuição dos impostos, prometendo a retomada dos investimentos e, na verdade, promoveu um amplo aparelhamento da máquina pública, promoveu aumento da carga tributária e o descumprimento de todos os compromissos que assumiu com os mineiros. Acho que poderia resumir hoje que o PT, que vive, a meu ver, os seus estertores do Brasil, e, em Minas Gerais, tem como sua principal marca o engodo, a mentira.
Qual é a importância da sucessão municipal de Juiz de Fora e da Zona da Mata?
Tenho conversado muito com o deputado Marcus Pestana, um dos maiores líderes que temos no Congresso Nacional, com o ex-prefeito Custódio Mattos, com o presidente da Câmara, Rodrigo Mattos e com outras lideranças do partido e a nossa intenção é de que o PSDB possa ter um nome altamente qualificado para disputar as eleições em Juiz de Fora, porque essas eleições municipais encontrarão o PSDB no seu melhor momento em 20 anos de fundação.
Somos o contraponto ao governo do PT e àqueles que o apoiam. Votar no PSDB é antecipar o fim de um governo que tantos prejuízos vem trazendo aos brasileiros, que tanta infelicidade vem trazendo às famílias, aos trabalhadores brasileiros, que tanta decepção vem trazendo aos mineiros. Portanto, temos que construir uma aliança em torno daqueles que querem, ao eleger alguém qualificado em Juiz de Fora, possa também estar sinalizando para o fim desse ciclo de governo do PT em Minas Gerais e no Brasil, que é o que queremos.