Aécio Neves – Estado de Minas – 07/05/2016
Com a proximidade da decisão do Senado em relação ao impeachment da presidente Dilma, torna-se cada vez mais provável um cenário de grandes mudanças no país. Na eventualidade do afastamento da presidente, o governo que vier a assumir deverá enfrentar um legado histórico de destruição estarrecedora.
A economia brasileira foi arruinada depois de um ciclo virtuoso, inaugurado com iniciativas do governo dos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique. Em duas décadas de trabalho duro, o Brasil estabilizou a economia, controlou a inflação, aprovou uma lei de responsabilidade fiscal e estabeleceu as condições para voltar a crescer de forma mais consistente, criando condições para combater de forma mais eficaz a pobreza e as desigualdades sociais.
No entanto, especialmente nos últimos anos, este arcabouço de país moderno foi atacado de forma grosseira e irresponsável pelo governo Dilma. Nem se poderia mesmo imaginar algo diferente. Afinal, o modelo petista está centrado em um conjunto de convicções econômicas envelhecidas, equivocadas ideologicamente e irresponsáveis do ponto de vista de gestão.
O que vivemos, nos últimos anos, foi um experimento de proporções catastróficas. Gastos sem controle, descuido com a inflação, manipulação do câmbio e de preços administrados são marcas de um governo que geraram a crise que, infelizmente, recai sobre todos os brasileiros: inflação em dois dígitos, desemprego na casa de 11 milhões de pessoas, recessão grave e a cotação do país caindo na confiança global.
Some-se a isso o aparelhamento criminoso dos fundos de pensão das estatais para servir a interesses políticos e ideológicos; a mentira como arma de persuasão coletiva, especialmente na última campanha; o uso do marketing como ferramenta de manipulação e a incapacidade de diálogo com a sociedade e com o Congresso, e tem-se a receita certa para o fracasso.
Na eventualidade de se afastar do cargo por decisão do Senado, a presidente Dilma deixará, como testemunho de sua gestão inepta, um rastro de promessas não cumpridas. Das 34 principais metas para 2016 que a presidente anunciou em sua mensagem no início dos trabalhos legislativos, em fevereiro deste ano, só 11 foram atingidas. Na educação, na saúde, na agricultura, é enorme a discrepância entre as metas fixadas e a realidade.
Das 10 maiores obras do primeiro PAC, ainda de 2007, apenas duas foram concluídas. A reforma administrativa anunciada ano passado foi um engodo – dos 3 mil cargos que seriam extintos, pouco mais de 10% foram efetivamente cortados. Até mesmo os projetos sociais que constituem a grande vitrine do governo petista perderam fôlego este ano. Programas como o Minha casa, minha vida, o Pronatec e a construção de creches perderam mais de 50% de suas verbas em 2016.
Em Minas, o governo federal foi pródigo em ausência e omissão. Obras essenciais, como a duplicação de rodovias federais e do Anel Rodoviário, foram adiadas; a tão sonhada ampliação do metrô da capital não saiu do papel; e o novo marco regulatório da mineração, que tanto importa para dezenas de municípios mineiros não avançou no Congresso por absoluta inércia do governo.
Esse é o legado terrível que a presidente Dilma deixa para a Nação e para os mineiros caso venha a ser afastada da presidência. Uma conta cara demais que já recai sobre os ombros de milhões de brasileiros. A boa notícia, neste rol de mazelas, é que se aproxima o fim tardio de um modelo de governo que está acabando com o país. Já era tempo de ver nascer a esperança de dias melhores.