O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, hoje (04/08), em Brasília. Aécio falou sobre a prisão de José Dirceu, instalação de CPIs, reforma política e governo Dilma.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre a prisão de José Dirceu.
O PSDB não comemora e tampouco lamenta as novas prisões da Lava Jato, inclusive a do ex-ministro José Dirceu. O que nós esperamos é que nossas instituições continuem funcionando como vêm funcionando até aqui. Com independência, com altivez e com coragem, como ocorre com o Ministério Público e com a Polícia Federal. E, acreditamos, ocorrerá também com o Tribunal de Contas, no momento do julgamento das contas da presidente da República, e com o TSE, no momento do julgamento das ações que lá estão. O papel principal do PSDB, como maior partido de oposição nesse instante, é garantir o funcionamento das nossas instituições. E quem tenha cometido crime, independentemente do cargo que já ocupou ou do cargo que ocupe, pague por ele, responda por ele. É dessa forma que nós vamos estar fortalecendo a democracia no Brasil.
Como o PSDB avalia as articulações na Câmara para excluir o PT do comando das CPIs ?
O PSDB é minoria na Câmara, não tem sequer esse poder. O que nós não vamos permitir é que CPIs – seja da Petrobras, ou outras que venham a se estruturar – estejam a serviço de interesses menores. O PSDB tem responsabilidades com a sociedade. É isso que nós estamos fazendo na CPI da Petrobras, garantindo que as investigações avancem. Estamos prontos para participar também das outras comissões parlamentares de inquérito – inclusive no Senado, onde já estamos instalando nesses próximos dias a CPI dos Fundos de Pensão, onde as denúncias são extremamente graves em relação ao governo, mais uma vez a utilização das estruturas dos fundos de pensão para beneficiar eleitoral e pessoalmente figuras do governo, e também a CPI do BNDES. Portanto, vamos ter um agosto de muita movimentação. E onde o PSDB tiver espaço para participar, vai participar, em defesa do aprofundamento das investigações e da própria democracia.
E a reforma política?
Essa é uma urgência para nós, no Senado, já que foram interrompidas algumas votações para o início do recesso parlamentar. Existe um conjunto de iniciativas que já estão prontas para ir ao plenário. Pretendemos votá-las nessas 15 dias. Eu converso hoje com o senador Renan para definirmos claramente qual a prioridade para o Senado neste segundo semestre. E a reforma política, a meu ver, é a primeira delas.
Com relação às propostas.
O que está sendo discutido hoje não são mais as questões, vamos chamar, estruturantes. O sistema eleitoral, por exemplo, foi derrubado na Câmara dos Deputados. O que nós estamos buscando fazer no Senado é dar uma contribuição para que as eleições fiquem mais baratas, para que as eleições fiquem mais fiquem mais isonômicas, as disputas sejam mais equilibradas, e tenham maior transparência. Portanto, há um conjunto de ações, como a inibição de determinado tipo de material de campanha, algumas que falam da diminuição do tempo de televisão e do próprio início das campanhas eleitorais, que não estão sendo discutidas e eu acredito que poderão passar.
E a redução da duração dos mandatos?
Eu sempre defendi, e continuo defendendo, por mais que não seja uma proposta consensual nem na Câmara e nem no Senado, o mandato de cinco anos sem reeleição para todos os cargos eletivos. Eu acho que essa era a modificação mais adequada, que possibilitaria o surgimento de novas lideranças, e o Brasil não assistiria mais episódios como nós assistimos nas últimas eleições: o Estado, as empresas públicas, o governo colocado a serviço de um projeto de poder, de um projeto de um partido político. A reeleição foi uma experiência que o Brasil viveu, mas eu acho que devemos ter a coragem para avaliar, e esse é o meu ponto de vista – que o melhor seria a interrupção desse processo de reeleição, com o mandato de cinco anos para todos os cargos majoritários.
Pergunta inaudível.
Alguns dos seus aliados dizem que a presidente hoje é uma presidente alheia, distante da realidade do país. E quanto mais ela é levada a dizer coisas como esta, como disse recentemente em uma reunião de governadores, lembrando a data final do seu mandato, mais demonstra a insegurança dela própria. A presidente Dilma tem que governar o Brasil, tem que assumir este mandato, e para isso é fundamental que ela faça mea culpa, que ela pare de dizer que a responsabilidade em relação ao que ocorre no Brasil é da crise internacional ou é da seca no Nordeste. A responsabilidade em grande parte para que o Brasil seja hoje, entre os emergentes, o país em situação mais crítica é do governo da presidente Dilma. É desse ciclo do PT que, por maiores que fossem os alertas, não fez a correção de rumos que poderia ter feito. Priorizou as eleições. E hoje transfere aos brasileiros, principalmente os mais humildes, através das escorchantes taxas de juros, inflação fora de controle e o desemprego já na estratosfera a conta mais dura desse ajuste.
Enquanto a presidente não olhar nos olhos dos brasileiros e dizer a verdade, ela terá muitas dificuldades para recuperar aquilo que é essencial para quem governa: confiança, credibilidade. Porque momentos difíceis todos os governos passam por eles. Mas se as pessoas olham para a presidente da República e não enxergam ali verdade, sinceridade no que diz, certamente a confiança vai se distanciar cada vez mais. O que assistimos em uma matéria ontem do jornal O Globo é algo muito grave. A defesa da Petrobras em uma ação que corre na Justiça americana, instaurada por investidores que se sentiram lesados pelo esquema de corrupção da Petrobras, é algo assombroso.
Porque, ao ser cobrada, a Petrobras, sobre os anúncios que veiculava falando de governança, falando de transparência, falando de retidão, dos instrumentos modernos de governança que utilizava, ao ser instada pelo juiz a dizer porque não cumpriu isso, o advogado da Petrobras disse simplesmente que isso era uma peça de propaganda, não era para levar a sério. É dessa forma que o governo do PT tratou os brasileiros: faltando com a verdade. E não satisfeito com isso, agora também internacionalmente continua incorrendo nesse mesmo equívoco, eu diria que quase criminoso, de falsear a verdade. E esse é um governo que, infelizmente, se tornou mitômano, é um governo que não consegue mais viver sem a mentira.