O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (28/04), em São Paulo (SP), onde fez palestra na Associação Comercial de São Paulo. Aécio Neves comentou as declarações do ex-presidente Lula em relação ao julgamento do mensalão. O senador também falou sobre alianças estaduais e CPI da Petrobras.
Confira os principais trechos da entrevista do senador:
Sobre declarações do presidente Lula em relação ao julgamento do mensalão.
É lamentável vermos um ex-presidente da República com afirmações que depõem contra o Poder Judiciário brasileiro. É esteio da democracia brasileira. Não podemos respeitar o Poder Judiciário quando ele toma decisões que são favoráveis e desrespeitá-lo quando ele toma decisões que não nos são favoráveis. Acho que uma afirmação como esta não engrandece o currículo do ex-presidente da República. Até porque pela importância do cargo que ocupou deveria ser ele o primeiro a zelar pelo respeito às nossas instituições. Quando se combate o Judiciário, quando se combate a imprensa, porque é crítica a ações do nosso grupo político, ou apenas por isso, não se faz um bem à democracia.
O ex-presidente usou a expressão de que o julgamento foi 80% político e 20% técnico. O que o sr. tem a dizer sobre os 20% técnico?
Não compreendo as razões que levaram ele a esta contabilidade. Apenas lamento que um ex-presidente da República, sobretudo fora do país, dê uma declaração de desrespeito ao Poder Judiciário, grande parte desse Poder Judiciário, preenchido por indicações suas. Foi um momento de infelicidade do ex-presidente.
Peca eleitoralmente este discurso?
Não acredito, ao contrário, porque pelo que eu percebo, a sociedade brasileira, pela sua ampla maioria apoia o Poder Judiciário. E a origem da maioria dos ministros é talvez a constatação maior que possamos ter, a compreensão maior de que a decisão foi tomada não política, mas tecnicamente. Eu nunca fiz, nunca antecipei julgamento, nunca torci por condenações. Agora, é preciso que se respeite a decisão do Supremo Tribunal Federal. Não se pode, com afirmações como esta, colocar em dúvida um poder soberano como é a Justiça brasileira.
Sobre encontro com Gilberto Kassab.
Tive o prazer de ir à casa do ex-prefeito Gilberto Kassab, convidado por ele e pela Associação Comercial. Eles fazem costumeiramente esse jantar para aqueles que vêm aqui debater os temas para o quais são convidados. Foi um prazer estar lá com as lideranças do PSD e também lideranças do PSDB como o governador Geraldo Alckmin, o ex-governador José Serra, o ex-governador Alberto Goldman. Foi um encontro político, obviamente, mas um encontro entre amigos. Não houve nenhum encaminhamento de nenhuma decisão política. O que tenho dito, e repito aqui, é que as realidades locais dos estados brasileiros têm um rito próprio. Elas têm uma realidade que não pode ser, de alguma forma, confrontada por qualquer decisão nacional. Isso serve para quaisquer partidos. Então, não se surpreendam se nessas eleições vocês assistirem alianças feitas regionalmente sem uma conexão com a aliança nacional. Isso está acontecendo em todos lugares, aliás, isso já vinha acontecendo desde as últimas eleições. Esse quadro partidário extremamente plural, exageradamente plural é que leva a esse tipo de distorções. As alianças são feitas nacionalmente sem atender às realidades locais. Então vejo, por exemplo, forças políticas em vários estados brasileiros, de partidos que estão aliados ao governo federal, que pela sua história, pelas suas convicções estão aliadas à oposição nos estados. Em Minas nós temos muito isso. E a questão de São Paulo especificamente será conduzida, como sempre foi, pelo governador Geraldo Alckmin, que a seu tempo e a seu modo vai construir uma aliança que tenho certeza, pelo bem de São Paulo, vai levá-lo, mais uma vez, à vitória.
Sobre apoio do ex-prefeito Gilberto Kassab à presidente Dilma.
Tenho respeito, e tenho que ter, pela posição tomada pelo prefeito Kassab que tem sido correto conosco em todas as conversas que temos feito em relação às questões regionais. O que eu percebo é que ele tem respeitado as manifestações dos vários estados. Claro que o PSD no seu tempo tomará a sua decisão. Não cabe a mim antecipá-la, apenas registrar que em vários estados o PSD estará ao nosso lado. Não por uma imposição nossa, de quem quer que seja, mas por uma aliança natural, por uma opção natural do PSD. Isso serve para Minas Gerais, isso serve para o Rio de Janeiro, isso serve para o Goiás, que estava aqui presente hoje, quanto a questão nacional é uma decisão que o PSD terá que tomar no tempo certo, não cabe a mim fazer juízo de valor.
Qual a expectativa em relação ao PSD?
Cabe a mim respeitar a condução que o prefeito Kassab está tendo. Enquanto o partido está no governo, formalmente no governo, não cabe a mim fazer qualquer especulação. O que eu tenho dito é que não apenas em relação ao PSD, mas em relação a vários outros partidos as construções regionais têm vida própria e quando não há uma imposição da direção nacional, elas caminham com maior facilidade, com maior naturalidade, o que é bom ao meu ver para o debate político.
O sr. disse que o PT tem de trabalhar muito para estar no segundo turno. O que faz o sr. crer nisso?
Na verdade, eu já havia conversado sobre isso com o governador Eduardo Campos, quando o visitei outra vez em Recife. Em uma conversa privada, eu dizia ‘olha, esse quadro vai mudar, vai evoluir’. Eu não acho que alguém tenha lugar cativo no segundo turno, e olha que as pesquisas estavam dando muito mais tranquilidade à atual presidente. Ela hoje, novamente por estar à frente nas pesquisas, tem que acalentar a perspectiva de ir ao segundo turno, mas, vou repetir, talvez aqui de forma mais clara, o que disse ali: ninguém tem lugar assegurado no segundo turno, nem o PT. Da mesma forma que nós, ela vai ter que trabalhar muito para estar no segundo turno. Nós estamos trabalhando e acho que estaremos lá. Indo para o segundo turno, acho também que venceremos as eleições.
Com relação ao vice, tem alguma novidade?
Estamos utilizando o tempo que a legislação nos oferece. É uma decisão para ser amadurecida, não apenas pelo PSDB, mas pelas forças políticas que nos dão apoio, pelos outros partidos da nossa aliança, como o Democratas, como o Solidariedade, e eventualmente outras forças que possam se somar a nós. Como há um quadro ainda de incertezas em relação a outros partidos, não há porque precipitar essa decisão. A minha intenção é que ela possa estar suficientemente madura para ser anunciada na primeira semana do mês de junho. Na verdade, daqui a um mês. Não vai demorar muito.
Sobre a CPI Mista da Petrobras.
Queremos a investigação. Conseguimos, a partir de uma decisão extremamente correta da ministra Rosa Weber, que respeita a constituição, e tem que ser saudada como uma decisão correta da ministra, a instalação da CPI no Senado. Estamos prontos para fazer a indicação dos membros. Houve uma notícia essa semana que o senador Renan, presidente do Senado, recorreria ao pleno do Supremo Tribunal Federal. Há hoje algumas notícias apontando em direção contrária. Vamos aguardar até amanhã que ele tome essa decisão. Estamos prontos para a investigação, nós da oposição, no Senado ou também no conjunto do Congresso Nacional. Até preferiríamos que fosse no conjunto do Congresso Nacional, para podermos incluir também os deputados federais.
Mas, se não for essa a decisão, desde já, em relação a CPI no Senado, não há mais como adiar a sua instalação. A decisão é definitiva da ministra. Então, queremos que amanhã o presidente Renan faça a solicitação aos líderes partidários das indicações dos membros, para que possamos, imediatamente, instalar a CPI. Se houver a mesma decisão em relação à CPMI, há um entendimento entre as oposições que nós daríamos preferência à CPMI, para não retirar os parlamentares federais dessas discussões. Elas, quanto mais amplas forem, melhor.
Ouça a entrevista do senador: