Iniciamos esta legislatura – e um novo ciclo político nacional – com uma perda que considero irreparável para esta Casa – a do companheiro e homem de Minas, Eliseu Resende.
Trata-se de uma perda nos impõe outras, diversas e substantivas, que empobrecem esse Parlamento em muitas dimensões.
Perdemos em inteligência.
Preparo.
Experiência.
Bom senso.
Diálogo de altíssimo nível.
Conhecimento poucas vezes comparável da realidade brasileira.
Perdemos em generosidade, aquela generosidade própria da grandeza e da modéstia que sempre carregam os homens de bem.
E ficamos, de alguma forma, muito menores do que éramos.
Sabe o ilustre senador Clésio Andrade que ele recebe um legado incomparável.
Tenho certeza que ele saberá guardá-lo e honrá-lo no exercício do mandato que herda, em defesa das causas de Minas e do País.
Nos últimos anos, meus amigos, tive o privilégio de conviver de perto com o Senador Eliseu.
Foi um período em que pude compartilhar importantes aprendizados, especialmente na vida pública.
Lembro aqui um dos que mais me impressionou: o vigor e o entusiasmo com que buscou o seu último mandato popular, compondo nossa chapa em 2006.
Andamos juntos por Minas, pelas nossas muitas Minas, mergulhando fundo na nossa realidade.
Vimos, em muitas regiões, as contradições e os desafios que estão presentes no Brasil inteiro…
A pobreza convivendo, lado a lado, com progresso.
As modernas tecnologias tantas vezes insensíveis aos desafios humanos.
Ânsia por crescimento sufocada pelos limites da ignorância e da desigualdade.
O desejo por cidadania plena, frustrado pela violência das ruas.
Mas, nesse itinerário, não visitamos apenas um único lado da realidade.
Fomos muitas vezes tocados pelas esperanças da nossa gente.
Nos realimentamos dela.
Talvez estivesse ali a energia ele multiplicava para seguir adiante.
E poucos caminharam tanto e de forma tão produtiva como ele.
Uma caminhada que começou com o oliverense trabalhando, na sua juventude, como contínuo do Banco Crédito Real, porque precisava custear os estudos.
Engenheiro brilhante, chegou logo a professor da UFMG.
Lecionou cálculo diferencial e engenharia nuclear, no instituto de pesquisas radioativas da federal mineira, faceta que, acredito, poucos conhecem.
Fundou o Instituto Politécnico da PUC Minas.
Em pouco tempo conquistou o título de mestre e depois doutor em ciências matemáticas pela Universidade de Nova Iorque.
Como Diretor-Geral do DER mineiro, construiu e pavimentou mais de 2.300 km de estradas em Minas Gerais.
Como Diretor-Geral do DNER construiu e pavimentou 30.000 km de estradas federais, implantando o Programa de Integração Nacional.
Idealizou e construiu a Ponte Rio-Niterói.
Construiu a Rodovia Transamazônica e, em dois anos, pavimentou os 2.000 km da Rodovia Belém-Brasília e a Rio-Santos.
Como presidente da Samarco fez o maior mineroduto do mundo, com 400 km de extensão, para transporte de minério de ferro desde o município de Ouro Preto até o litoral do Espírito Santo.
Como Ministro dos Transportes criou o Programa de Mobilização Energética e de Integração das Modalidades de Transporte.
Idealizou e implantou o projeto de construção da rede básica do Trem Metropolitano de Belo Horizonte e da Travessia das Cargas, assim como as redes básicas dos Trens Metropolitanos de Recife e Porto Alegre.
Concluiu a construção das redes básicas dos Metrôs do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Modernizou o Sistema Portuário Brasileiro, construindo Terminais de Containers no Rio de Janeiro, em Santos e Rio Grande, para introdução do transporte intermodal.
Racionalizou o Projeto da Ferrovia do Aço e concluiu o trecho de Jeceaba a Volta Redonda.
Introduziu o Programa de Vias Expressas, permitindo o financiamento das obras da Avenida Cristiano Machado, da canalização do Rio Arrudas e da construção dos trevos, viadutos e túneis da Lagoinha em Belo Horizonte.
Construiu a Via Expressa do Rio de Janeiro a Juiz de Fora .
Presidiu Furnas e a Eletrobrás. Promoveu a conclusão das Usinas Hidroelétricas de Nova Ponte e Miranda, em Minas; de Corumbá e Serra da Mesa, em Goiás; e da Usina Nuclear de Angra II, no Rio de Janeiro.
Como Ministro da Fazenda negociou financiamento junto ao BID e concedeu o Aval do Tesouro Nacional para a duplicação da Rodovia Fernão Dias entre São Paulo e Belo Horizonte .
Presidiu grandes empresas brasileiras, gigantes como a Samarco, Belgo, Vale, Furnas, Eletronorte e Eletrosul, Chesf e petroquímicas.
Toda essa longa trajetória de trabalho e de grandiosas realizações jamais o fizeram perder a simplicidade.
Era um homem modesto, arredio aos holofotes, mas pródigo em idéias arrojadas e inovadoras, capazes de responder a grandes desafios nacionais.
Aqui nesta casa, nos governos ou mesmo na área privada, as idéias de Eliseu proliferaram e ganharam corpo e concretude, orientando muitas gerações de técnicos e políticos.
Mas foi justamente no campo político que Eliseu foi especialmente uma referência importante para mim.
Todos sabem que a sua trajetória tangenciou, de forma importante, decisiva, à de meu avô, o Presidente Tancredo Neves.
Foram adversários.
Adversários duros, mas leais.
Nunca inimigos.
Fizeram juntos uma das mais memoráveis disputas políticas da história de Minas, em 82.
Ali começavam a se tornar concretos os novos contornos da reconquista democrática brasileira.
E souberam, Tancredo e ele, com a dimensão que tinham, convergir no momento certo, quando o que estava em jogo eram os interesses de Minas e o interesse do Brasil.
Gostaria de pedir licença aos meus pares para, neste momento solene, tomar “emprestadas” as generosas palavras do Senador Eliseu, proferidas da tribuna do Senado Federal, quando ele homenageou à memória de Tancredo.
Repito-as aqui hoje, literalmente, mas desta vez, para homenagear a sua memória, o homem de Minas Eliseu Resende.
Abre aspas:
Admirava o seu estilo…
Sua serenidade, sua descrição… seu equilíbrio.
Sua capacidade de nunca perder de vista o interesse público, mesmo quando era o seu destino pessoal que estava em jogo .
Que o seu exemplo possa continuar inspirando e iluminando as novas gerações de políticos brasileiros” .
Muito obrigado!
Aécio Neves – Brasília – 09/02/2011