Aécio Neves – Entrevista sobre o PSDB e o Brasil

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta terça-feira (11/08), em Brasília, onde se encontrou com os novos presidentes dos diretórios regionais do partido.

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre a reunião com presidentes regionais do PSDB.

É a primeira reunião dos novos presidentes regionais do PSDB. O partido se prepara para lançar na próxima sexta-feira, dia 14, uma videoconferência que envolverá todos os nossos governadores e a presença também da direção do partido em Maceió. Uma grande campanha de filiação ao PSDB. Enquanto o nosso principal adversário, o PT, se esconde da sociedade brasileira, vamos conversar com a sociedade brasileira. Estamos focando esta campanha de filiação principalmente nos mais jovens porque é hora de haver o encontro entre a insatisfação, que hoje é generalizada no país, e a política representativa, até para que possa haver um desfecho adequado para esta gravíssima crise na qual o Brasil está mergulhado. E um desfecho que respeite as regras constitucionais.


Sobre as declarações da presidente Dilma.

Quero fazer um comentário em relação às declarações ontem da presidente da República, a quem mais uma vez faltou humildade, faltou mesmo a verdade. A presidente ao acusar seus opositores de fazer um vale tudo na política se esquece de que foi ela mesma e o seu partido que fizeram no Brasil o maior vale tudo da história política contemporânea ao usar de todos os instrumentos à sua disposição, alguns lícitos outros não, para vencer as eleições.

O Brasil assistiu em 2014 ao maior vale tudo da nossa história. Empresas públicas se subordinando ao interesse da candidatura presidencial. A mentira, o engodo, o falseamento de números e o adiamento da tomada de medidas de interesse da população única e exclusivamente para vencer as eleições. Quem não pensou primeiro no Brasil foi a presidente da República e o seu partido que pensaram exclusivamente nas eleições. E a conta agora chega muito salgada principalmente para aqueles que menos tem. Com desemprego crescendo, com inflação em torno de 10%, os juros na estratosfera e uma perda de renda dos trabalhadores, a maior dos últimos 20 anos.

Portanto, se tem alguém que não priorizou os interesses do Brasil foi a presidente da República e o seu partido. O PSDB vai continuar agindo com absoluta responsabilidade, sendo guardião das nossas instituições, porque não cabe para o PSDB definir o desfecho para esse processo. Cabe a nós garantirmos que o Ministério Público, que a Polícia Federal, que os tribunais de Contas – o Tribunal de Contas da União, o Tribunal Superior Eleitoral – continuem trabalhando e trabalhando como vêm fazendo até aqui, com altivez e com independência. Isso é absolutamente essencial para a própria democracia brasileira.


Na reunião de hoje foi tratado sobre manifestações do dia 16?

A posição que reiterei aos companheiros dos estados é a mesma que havia colhido deles. O PSDB apoia as manifestações reconhecendo o protagonismo dos movimentos sociais para a sua realização. Nós, como parte da sociedade, vamos participar, mas não vamos participar partidariamente, vamos participar como cidadãos, mostrando a nossa indignação com tanta mentira, com tanta corrupção e com tanto desgoverno que vem atingindo os brasileiros. A palavra de ordem do PSDB é de apoio a essas manifestações, respeitando e resguardando o protagonismo que é dos movimentos da sociedade.


Qual é o quadro que os presidentes mostraram? A adesão será grande?

Não há como fazer antes um paralelo. Até porque não participamos da organização. A nossa manifestação é de solidariedade, é de apoio, como não podia deixar de ser. Acho que é importante esse encontro, de alguma forma, das ruas com a política representativa. O que é vi é que os nossos companheiros estarão mobilizados e mobilizando, até porque muitos já fizeram isso nas manifestações passadas. Repito, o PSDB é parcela da sociedade indignada e vai participar das manifestações e vai apoiá-las. Mas, repito, não é uma manifestação de partido político. Não recomento, inclusive, bandeiras partidárias. Todos devem estar lá como cidadãos que somos.


O sr. vai participar?

É uma decisão que estou amadurecendo. Tenho, já disse, vontade pessoal de participar como cidadão, mas carrego comigo uma institucionalidade. Sou o presidente do maior partido de oposição hoje e essa é uma questão que eu vou discutir durante a semana com os demais dirigentes do partido, e aviso vocês.


Sobre a indicação do Janot, que foi publicada hoje: vai ser fácil aprovar na Casa?

As oposições não têm nenhuma razão para não votar pela recondução do procurador-geral Rodrigo Janot. Esse é um sentimento unânime dentro da nossa bancada do Senado Federal. Obviamente, nós não somos maioria, mas a minha avaliação é de que o nome passa, e passa com relativa tranquilidade. E nós vamos fazer isso como uma demonstração de absoluto respeito às instituições. Essa foi uma decisão do Ministério Público, então, nós devemos atender, apoiar essa decisão do Ministério Público.


O governador Pedro Taques disse que deixará o PDT e que está em conversa com o PSDB e com o PSB. Em que pé estão as conversas?

O senador Pedro Taques, meu colega no Senado, sempre esteve muito próximo a nós. Ele, desde que aqui chegou, teve uma postura de muita independência em relação ao governo, votando na maioria das vezes com a oposição, e não com o seu partido. Ele toma uma decisão, que me parece, dará a ele maior tranquilidade, maior liberdade para dizer o que pensa e para agir da forma que pensa. Obviamente, não posso antecipar a sua decisão, porque não tenho conhecimento dela. Mas as portas do PSDB estão e estarão abertas sempre para homens da estatura moral, intelectual e com o espírito público de Pedro Taques. Não apenas para ele, mas para outros que possam ainda vir.


Os líderes do partido defenderam que precisava ter legitimidade o próximo presidente. Eles defendiam a antecipação das eleições. Ontem, o governador Alckmin disse que isso está descartado. Qual é a posição do PSDB?

Essas divergências em relação ao que pensa o governador Alckmin, eventualmente até o (José) Serra e o Aécio, eu vejo muito na imprensa, não vejo nas nossas conversas. Inclusive estivemos ontem em Recife, e há uma grande concordância entre nós. Não cabe ao PSDB decidir se essa ou aquela é a melhor saída. Cabe ao PSDB dizer quais são as alternativas possíveis – inclusive a da própria permanência da presidente, se ela readquirir as condições de governabilidade. Muitos dos seus aliados, e gente do próprio PT, acha que isso não é mais possível, como nós vimos, inclusive, em entrevistas com pessoas de representatividade, como o Frei Beto por exemplo.

Existem as saídas via Parlamento, a partir de uma decisão do Tribunal de Contas, e a via TSE. Todas elas dentro da ordem constitucional. O que fez o PSDB foi dizer que, para nós, qualquer que seja o desfecho tem que se dar dentro daquilo que prevê a Constituição. E os processos estão aí. Cabe ao governo se defender seja em relação ao Tribunal de Contas, seja em relação ao TSE, onde uma delação premiada e outros indícios mostram que pode ter havido dinheiro da propina da Petrobras inflando o caixa da campanha presidencial. O que é preciso que fique claro é que nós, do PSDB, defendemos a Constituição e o desfecho para essa crise tem que atender aquilo que a Constituição estabelece.

Qualquer uma dessas possibilidades, seja via TCU e uma votação pelo Congresso Nacional, seja via TSE, com a cassação do diploma, obviamente dependem desses órgãos, e temos que dar a eles total autonomia para que eles possam tomar a decisão que na sua avaliação for a mais adequada. Não precipitamos cenários, não escolhemos cenários. É uma grande bobagem achar que essa saída interessa a A ou B ou a C dentro do partido.

Sobre responsabilidade pela crise política.

O que interessa ao PSDB é que o Brasil retome o caminho do crescimento, a confiança da sociedade e da população no seu governo. Que nós possamos sair dessa crise dramática, na qual a irresponsabilidade e a incompetência do governo do PT nos mergulhou. A responsabilidade maior hoje de superação da crise é do PT.

Estamos assistindo a algo absolutamente inacreditável. A presidente da República, em determinados pronunciamentos, e setores do governo, querem responsabilizar a oposição pelo agravamento da crise. Essa crise é obra deste governo, é obra consciente da presidente da República porque não tomou, no ano passado, mesmo tendo consciência do seu agravamento, as medidas que poderiam minimizar os seus efeitos para a população. Preferiu vencer as eleições, e agora paga o altíssimo preço de ser uma presidente sitiada, uma presidente que, para participar de um evento público, só pode ir – como aconteceu no Maranhão – com uma claque organizada, onde aqueles que não concordam com o governo não podem participar.

Então, na verdade, com declarações como aquelas de ontem, acho que a presidente, ao contrário da sua pretensão, se distancia mais da população brasileira. Ela só vai reencontrar um canal novo de interlocução com a sociedade quando voltar a falar a verdade, o que me parece que tem sido muito difícil para a presidente da República.

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