Aécio Neves – Entrevista sobre as manifestações do dia 15

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quarta-feira (11/03), em Brasília. Aécio falou sobre o apoio do partido às manifestações do dia 15, impeachment, panelaços e campanha de filiação do PSDB.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre o apoio às manifestações.

O PSDB está divulgando hoje uma nota da direção nacional do partido de irrestrito apoio às manifestações pacíficas e democráticas que estão sendo organizadas de forma apartidária, mais até que de forma suprapartidária, por vários setores da sociedade brasileira.

Não podemos aceitar que alguns setores da vida nacional apenas por interesses partidários queiram dizer sobre o que se pode ou não protestar. O Brasil vive no pleno estado de direito e o PSDB estará ao lado de milhares de brasileiros em todas as regiões do país, com seus militantes, simpatizantes e várias das suas lideranças participando dessa manifestação que, na verdade, expressa um grande sentimento de indignação da sociedade brasileira em relação à degradação moral e os gravíssimos problemas econômicos e sociais criados pelo governo da presidente Dilma Rousseff.

Portanto, é a posição clara do PSDB de apoio a essas manifestações, das quais ele não participa na sua organização, mas com a representatividade que têm os nossos militantes, os nossos companheiros estarão nas ruas do Brasil inteiro mostrando esse sentimento amplo e crescente de indignação.

 

O sr vai à passeata?

É uma avaliação que nós fizemos, e eu já tinha essa avaliação pessoal, eu optei por não ir. Exatamente para não dar força a esse discurso de que nós estamos vivendo o terceiro turno no Brasil.

O fato de eu ter disputado as eleições com a presidente Dilma Rousseff pode fortalecer esse discurso, que não é verdadeiro. Estamos estimulando que nossos companheiros estejam participando da forma que acharem mais adequada. Tenho certeza que vai ser um movimento extremamente expressivo, mas para não caracterizarmos esse movimento como algo partidário, até porque quanto menos partidário ele for mais expressivo e mais consistente ele será, o PSDB estará nas ruas através dos seus militantes, mas sem o apoio institucional do seu presidente.

 

Pode ser entendido como um apoio ao impeachment da presidente?

Não. Na verdade não proibimos e nem estamos proibidos de dizer a palavra impeachment. Ela apenas não está na agenda do PSDB. Agora, desconhecer setores da sociedade que defendem essa tese é desconhecer a realidade, mas essa não é a agenda neste momento do PSDB.

O que combatemos é o estelionato eleitoral, é o governo que agora toma medidas no campo oposto àquelas que defendia durante a época da campanha eleitoral. Um governo que não tem sequer respeito à população brasileira para fazer a mea culpa e dizer que errou e errou muito ao longo dos últimos anos.

A presidente da República vir à televisão depois dessa eleição e dizer que a gravidade da crise econômica porque passa o país é fruto do agravamento da crise internacional que, ao contrário, se dissipa, e da grave seca que tomou conta de regiões do país, é na verdade desprezar a inteligência dos brasileiros.

Enquanto a presidente da República não vier a público fazer a sua mea culpa, pedir desculpas à população brasileira pelo descalabro moral do seu governo, pelos gravíssimos equívocos na condução das políticas na área de energia e no conjunto da economia, certamente, ela estará se distanciando cada vez mais do sentimento da população brasileira.

 

A manifestação prevista para sexta-feira, em tese é crítica à presidente, mas será promovida pela CUT, MST e Une. O sr acredita realmente que a manifestação vai ser crítica ou será chapa branca?

Estamos vendo algo inédito no Brasil contemporâneo. Porque manifestações geralmente são organizadas e estimuladas pelas oposições. Estamos vendo um governo tão perdido que setores dele próprio articulam manifestações que, ao final, serão todas contra o governo. Não há como centrais sindicais, por mais aparelhadas que algumas delas sejam, por mais dóceis ao PT que muitas delas tenham demonstrado ser ao longo da história, não podem estar defendendo algo hoje que venha na oposição, que venha de encontro no viés contrário aos interesses dos trabalhadores.

A presidente da República disse na campanha eleitoral que não mexeria no direito dos trabalhadores, está mexendo. Disse na campanha eleitoral que o Brasil não tinha problema com inflação. Estamos tendo a maior inflação da última década. A presidente disse que não haveria aumento na conta de energia, ao contrário, ela seria reduzida. Apenas este ano de 2015, isso é algo extremamente grave, teremos no segmento da economia brasileira, o segmento da energia, um aumento de cerca acima de 50%. Isso não existia desde o Plano Real.

Portanto, este descontrole, este descalabro, e a incapacidade do governo de fazer a mea culpa, acho que agravam os problemas que, na verdade, já se agravaram porque o governo não tomou as medidas que deveria ter tomado por conta da campanha eleitoral. Porque este diagnóstico eles já tinham e cada dia fica mais claro que várias dessas medidas já estavam sendo discutidas em setores do governo. Mas o governo optou por dar prioridade ao processo eleitoral mesmo sabendo que isso prejudicaria a vida dos mais pobres. O governo da presidente Dilma Rousseff se distancia da vida dos trabalhadores, daqueles que precisam da estabilidade da moeda, daqueles que precisam de empregos, de segurança e de esperança. Infelizmente, é um governo que terminou antes de começar.

 

A ideia de fazer o blinda Dilma na sexta-feira vira mais um tiro no pé. A tendência é esta do próprio governo?

É algo no mínimo extremamente arriscado. Não conheço na história da democracia brasileira momentos em que o governo convoca a população para ir às ruas. Com uma exceção apenas, vocês se lembraram, quando o ex-presidente Collor fez isso e nós assistimos ao resultado.

 

A campanha de filiação do PSDB vai aproveitar este momento de mobilização nacional para crescer.

O que está havendo é uma demanda enorme, acho que inédita na história do PSDB, por setores organizados da sociedade, jovens, principalmente universitários, que estão disputando espaços nos diretórios acadêmicos, grêmios estudantis, buscando, a partir do PSDB, ter um espaço institucionalizado para expressar as suas posições.

O PSDB tem uma nova reunião da executiva marcada para o dia oito, onde estaremos lançando uma ampla campanha de filiação, com um redesenho do programa partidário, com a sua atualização, usando a Web como um instrumento importante para facilitar essas filiações, mantendo uma conexão maior entre as posições do partido e das suas lideranças e os filiados. Não tenho dúvidas que o PSDB se apresentará rapidamente, já vem acontecendo, mas mais claramente ainda, como o mais moderno dos partidos brasileiros. Vamos fazer uma ampla campanha a partir do dia 08 de abril, em todo o país, que culminará com a convenção nacional do partido, que ocorrerá no dia 5 de julho para a renovação da sua direção nacional.

 

Sangrar ou afastar? O que é mais conveniente?

Acho que é mostrar a nossa indignação. Não há palavra proibida em uma sociedade democrática como a nossa. Rejeitamos vigorosamente essa patrulha de setores do PT que chegam ao cúmulo do ridículo de dizer que o panelaço havido no último domingo foi patrocinado pelas oposições. Nem que tivéssemos um crédito ilimitado nas casas Bahia ou no Ricardo Eletro não conseguiríamos comprar tantas panelas para atender a tantos brasileiros.

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