Local: Rio de Janeiro
Assuntos: Seminário do ITV, nova agenda para o Brasil, imobilismo do governo federal
Sobre o seminário.
É um momento do PSDB. Ninguém espere que daqui vamos sair com um programa de governo pronto, mas vamos iniciar um processo de discussão da nova agenda dos próximos 20 anos do Brasil. Tenho dito, e vou repetir, a agenda que está em curso hoje no Brasil é a agenda proposta pelo PSDB lá atrás, a partir de 1994, com o processo que vem desde o processo da estabilidade econômica, com o Plano Real, privatizações, o próprio Proer, Lei de Responsabilidade Fiscal, o programa de Saúde da Família, na área da saúde, com os genéricos. Enfim, a construção que está sendo aplicada hoje é o que o PSDB propôs lá atrás. A política macroeconômica, com metas de inflação, com câmbio flutuante, com superávit primário. E não teve nada de novo. O governo do PT é o governo do imobilismo. Então, acho que para antagonizar com o imobilismo crônico desse governo, o PSDB inicia um processo de discussão da nova agenda. Então, vamos falar da questão econômica e vamos falar, também, de políticas sociais. A ideia é que, após esse primeiro seminário, possamos fazer alguns específicos. Sobre a questão ambiental, por exemplo, já está acertado. Vai haver um específico sobre a questão ambiental, porque não dá para tratar ela muito superficialmente, isso já vai ser dito aqui hoje. Vamos fazer, a nossa ideia é até julho completar um ciclo de pelo menos cinco grandes seminários regionais, nas cinco regiões do país, abordando também temas mais específicos, de interesse regional. Então, hoje, vamos mostrar que o atual governo perdeu uma oportunidade extraordinária, com seis anos do mandato do presidente Lula de prosperidade econômica internacional, com altíssima popularidade internacional e interna do presidente, uma ampla base de apoio e a agenda de reformas que continua pendente é a mesma deixada no governo Fernando Henrique. Não se avançou nada.
Vou falar algo que não falei ainda, é uma coisa meio paradoxal. Por mais que o momento de prosperidade econômica de todos esses anos tenha feito, por um lado, bem ao Brasil, com a expansão da nossa economia, com geração de empregos e de renda, por outro lado fez muito mal ao governo. Porque o governo surfou nos índices de popularidade, como se essa tivesse sido uma conquista sua, na verdade foi do ambiente econômico, muito favorável. E se considerou isento de fazer as grandes intervenções que precisavam ser feitas. Então, o governo, a economia bem, um sentimento se satisfação nas pessoas e refletindo na popularidade do governo, então o governo optou por não enfrentar contenciosos. Iniciou o debate da Reforma da Previdência. Estancou na hora que isso começou a contrariar determinados setores. Na questão tributária a mesma coisa, quando alguns estados começavam a reclamar, com o fim da guerra fiscal o governo abortava a discussão. A Reforma Política nem se fala. A primeira inquietação de partidos aliados do governo, que não tinha representatividade maior, se queixavam, eventualmente de perder representação na Câmara, o governo abortava essa discussão. Então, o governo do presidente Lula foi marcado por esse sentimento de um governo que não enfrente contenciosos. Estamos surfando. Só que mais do mesmo, não dá mais. O PT abdicou de pensar o país, de ter um país. Optou, claramente, por ter um projeto de poder. Não importa com quem, a que custo, isso possa e estamos vendo aí, que custo isso possa estar custando ao Brasil, qual que seja o custo disso para o Brasil. O PT abdicou de ter um projeto de país, e o PSDB, inclusive, até com sua responsabilidade histórica, e em razão desse vácuo que está aí, vai iniciar um processo de, novamente, pensar o Brasil. Então acho que esse é objetivo. O PSDB se apresentar à sociedade não como um projeto acabado, mas como um partido preocupado com o país nos próximos 20 anos e não com as disputas eleitorais, e não com o palanque A ou palanque B.
Mas o senhor mesmo falou que são temas áridos e que a população não quer tratar, não quer ver esses temas. Como o PSDB, que quer se aproximar do povo e da população vai tratar temas que são difíceis?
Não acho que sejam áridos, ao contrário. Não sou uma voz, talvez, majoritária nem dentro do partido, mas acho que o tema da gestão pública de qualidade, por exemplo, que as pessoas consideram distante da população. Não é. Não é. Em Minas, mostramos que não é. Não há nenhuma medida de maior alcance social que a boa aplicação do dinheiro público. Vamos fazer isso em contraponto com o que está acontecendo aí, com esses desvios. O governo hoje é refém de uma armadilha que ele próprio montou. Que é este aparelhamento absurdo da máquina pública, imobilizado pelas pressões da base, sem poder de iniciativa alguma em relação às grandes questões. É um governo que é reativo. Na verdade, para usar um termo que a presidente gosta muito de usar: o malfeito para este governo só é malfeito quando vira escândalo. Antes de virar malfeito, está bem feito.