O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quarta-feira (05/08), em Brasília. Aécio falou sobre as declarações do ministro Aloizio Mercadante, papel das oposições, ajuste fiscal e governabilidade.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
O clima hoje está mais pesado que há um apelo mais dramático por parte do governo?
Recebo positivamente as declarações do ministro Aloizio Mercadante reconhecendo o papel fundamental do PSDB para a estabilidade da moeda, para o combate da inflação, mesmo que tardio este depoimento é importante, principalmente porque desmente tudo aquilo que a sua chefe disse durante a campanha eleitoral, em especial, que o PSDB havia quebrado o Brasil pelo menos três vezes.
Quero dizer aos líderes do governo e ao país, que ao PSDB jamais faltou responsabilidade para com aquilo que interessa efetivamente aos brasileiros. E vamos continuar agindo com absoluta responsabilidade. Ao contrário, não posso dizer o mesmo do governo porque foi a irresponsabilidade deste governo que nos trouxe a esta crise sem precedentes. Por maior que tenham sido os nossos alertas em relação ao desequilíbrio fiscal, em relação à escalada da inflação, a corrupção generalizada em determinados setores do governo, o governo fez ouvido de mercador. Não há aqui nenhuma referência ao ministro Mercadante, mas o governo optou por não dar atenção à realidade naquele momento. Escondeu dos brasileiros. Privou os brasileiros de saberem a verdade e da tomada de medidas que lá atrás teriam minimizado os efeitos desta crise. Essa crise é obra do governo do PT.
O PSDB cumprirá o seu papel enquanto oposição a isso que está aí, agindo com a mesma responsabilidade que agimos quando governamos o país. Agora, esta mudança de tom de figuras importantes do governo, em especial do ministro da Casa Civil é mais uma demonstração, até porque é um discurso diametralmente oposto da campanha eleitoral, que governo efetivamente mentiu durante todo o processo de 2014.
Como o PSDB pode ajudar a melhorar este ambiente político?
Fiscalizando o governo, garantindo que as investigações possam continuar avançando sem qualquer tipo de constrangimento às instituições, seja o Ministério Público, a Polícia Federal, ao Tribunal de Contas, ao Tribunal Eleitoral, tendo responsabilidade na discussão de matérias que chegam ao Congresso Nacional. Mas a nossa conexão, o nosso diálogo hoje, é com a sociedade brasileira. É com aqueles brasileiros que estão indignados com o que vem acontecendo ao Brasil.
Portanto, é muito mais adequado que o governo busque reunir a sua base em torno de um projeto de país do que cobrar da oposição uma solidariedade a eles próprios. A nossa solidariedade é ao país, aos brasileiros e, obviamente, não é ao governo porque, infelizmente, não acreditamos no que tem vindo do Palácio do Planalto.
Sobre criticas a votações do PSDB na Câmara.
O PSDB tem discutido cada matéria. Existem posições dentro do partido em relação, algumas delas que podem ter gerado alguma controvérsia, mas a responsabilidade pela aprovação do ajuste é do governo. O ajuste que nos foi colocado é absolutamente rudimentar. Se sustenta apenas em dois pilares: aumento de impostos e diminuição de direitos sociais. O que não vem dando certo na condução da economia é porque as despesas vêm crescendo de forma extraordinária, em razão inclusive da necessidade do atual governo, por mais que o ministro da Fazenda não possa dizer isso publicamente, de pagar as pedaladas do ano passado.
Metade pelo menos dos R$ 20 bilhões a mais de aumento em custeio que tivemos durante este primeiro semestre, se deu em razão do governo pagar as pedaladas cometidas no ano passado para vencer as eleições. E vai continuar pagando ainda no ano que vem. O governo não tem como transferir uma responsabilidade que é sua às oposições. O PSDB tem no seu DNA a responsabilidade fiscal, é o partido da estabilidade. Mas, obviamente, se o governo não consegue reunir pelo menos a sua base para dar sustentação aos seus projetos, obviamente não tem autoridade de cobrar, da oposição, solidariedade que ele consegue entre os seus, entre os que o apoiaram.
O PSDB é minoria, o PSDB é o quarto – se não me engano – partido na Câmara dos Deputados. O que estamos percebendo hoje é que o único objetivo é que o único objetivo que move a engrenagem do governo – seus ministros, dirigentes de empresas, assessores – é a manutenção do mandato da presidente da República. Não há mais projeto de país, não há mais ambição por parte do governo. Eles unicamente se contentam com a continuidade do mandato e para isso estão estabelecendo o maior mercado de trocas de favores e distribuição de cargos, esse sim o maior da história do país. Jamais antes na história do Brasil se viu tanta oferta de cargos para, única e exclusivamente, garantir o mandato da presidente da República.
Governabilidade
O desfecho de todo esse processo, repito, não será protagonizado pelas oposições e sim pela sociedade brasileira, e dependerá da capacidade que o governo demonstrar ter de recuperar a governabilidade. Esse governo tem que voltar a falar a verdade, tem que olhar nos olhos dos brasileiros e dizer o quanto errou e onde errou para que os brasileiros possam acreditar que ele está disposto a corrigir esses erros. Então apelos que vêm à distância, de solidariedade da oposição, neste momento não têm sentido.
Então essa admissão de culpa tem que vir da própria presidente e não de ministros ou do vice presidente.
Sem dúvida nenhuma. Não se terceiriza responsabilidades, até porque essa é uma prática antiga do PT, e como estamos vendo não tem deu certo até aqui.