O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, retornou hoje (26/06) a Manaus (AM), onde se reuniu com o prefeito Arthur Virgílio (PSDB) e participa agora à noite do 50º Festival Folclórico de Parintins. Em entrevista coletiva, Aécio falou sobre a viagem a Manaus, desempenho do governo Dilma Rousseff e sobre as últimas declarações do ex-presidente Lula.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre a viagem.
Estou muito feliz de retornar ao Amazonas, a Manaus, indo também a Parintins. Essa é a primeira de uma série de visitas que farei a todas as regiões do país. É uma oportunidade de reencontrar companheiros e de compartilhar com vocês as apreensões que todos estão tendo com esse momento difícil por que passa o Brasil. Eu acompanho em Brasília permanentemente os problemas por que passa a Zona Franca, em especial agora, já nesse período de apenas seis meses com o desemprego que já deve ter ultrapassado 15, talvez 20 mil pessoas, perspectivas de férias coletivas para os próximos dias. Tudo isso nos preocupa imensamente.
Venho como presidente nacional do PSDB no momento em que o partido faz uma reestruturação em todo país, renovando suas direções estaduais. E agora no dia 05 [de julho] renovando também a sua direção nacional. É a oportunidade de reafirmarmos aqui os nossos compromissos; compromissos com o Brasil ético, com o Brasil que cresça de forma sustentável, e, principalmente, com essa região. Eu tenho dito sempre que a Zona Franca de Manaus é um patrimônio dos brasileiros. Precisa ser fortalecida, precisa crescer, precisa se transformar numa grande plataforma de exportação. E eu lamento profundamente que nesse Brasil de hoje os compromissos assumidos pela então candidata a presidente da República não se transformaram em realidade. Porque, mais do que a extensão dos benefícios fiscais da Zona Franca, era preciso, como sempre diz Arthur Virgílio, os investimentos em rodovias, em hidrovias, os investimentos em infraestrutura, que possibilitem realmente o desenvolvimento sustentável dessa região.
Ano que vem tem eleições e o PSDB reforça esse compromisso direto com a prefeitura de Manaus?
Sem dúvida alguma. Arthur Virgílio é uma referência em todo o Brasil. É uma liderança nacional que nos ensina todo o tempo sobre a realidade dessa região. Sempre digo ao Arthur quando ele está em Brasília e pergunto sobre o centro de biotecnologia, já me dizia aqui, foi a primeira pergunta que fiz a ele. É inaceitável, é incrível que ele não seja o grande instrumento que poderia ser de desenvolvimento de toda a nossa biodiversidade em favor da região e em favor do Brasil. Hoje ele está aí abandonado.
O que o sr. acha da total paralisação do Centro de Biotecnologia da Amazônia, o CBA, uma vez que nunca veio dinheiro.
Eu diria que isso é algo quase que criminoso. Durante a campanha eleitoral, falei muito em transformar esse centro de biotecnologia, criado no governo do PSDB, no governo do presidente Fernando Henrique, em uma grande plataforma que pudesse reunir universidades, investimentos em pesquisa, em desenvolvimento, para que o potencial raríssimo, único dessa região pudesse se transformar em benefícios para as pessoas. Em mais empregos, em mais qualidade de vida. O abandono desse centro por parte do governo do PT mostra uma visão pequena de um governo que não tem a dimensão, não tem a compreensão de quais os caminhos que deve percorrer para fazer o Brasil crescer.
Sobre o mau desempenho do governo Dilma Rousseff.
Acho que mesmo aqueles que tiveram uma outra opção nessa eleição, hoje estão refletindo se valeu a pena acreditar no projeto de governo que enganou a população brasileira, que prometeu inflação baixa. Nós estamos com previsão de inflação de 9% ao ano. Prometeu que não haveria desemprego, o desemprego chegará ao final do ano em 10%. Prometeu que não havia corrupção na Petrobras, os brasileiros estão todos envergonhados com o que vem acontecendo ao Brasil. Acho que esse pós-eleição está levando muitos brasileiros, e certamente aqui não é diferente, a uma reflexão. Será que vale a pena mentir tanto para vencer uma eleição? Acho que não.
O Brasil tem hoje uma presidente da República sitiada, que não pode sair do Palácio, não pode olhar nos olhos das pessoas porque enganou os brasileiros. E, lamentavelmente, quem vem pagando a parcela maior dessa conta são os trabalhadores, com o desemprego crescendo, com os direitos trabalhistas – como o seguro-desemprego e abono salarial, sendo tirados. E o que temos pela frente? Um governo que não sabe para onde ir.
Sobre declarações dadas pelo presidente Lula.
Não desejo mal pessoal ao presidente Lula e nem tampouco à presidente Dilma. O que lamento, e lamento do fundo da minha alma, é que aquilo que foi dito durante a campanha eleitoral não tenha sido realidade. Nós já denunciávamos, dizíamos da gravidade do crescimento da inflação, do baixo crescimento da economia, que derivaria para desemprego no Brasil como está ocorrendo hoje, para a fuga de investimentos, para as obras paralisadas – mais de 30% do PAC não foram realizados no início desse ano -, a renda do trabalhador diminuiu em média 3,5%.
Então tudo aquilo que foi dito à população brasileira não é verdade. Mas sempre torci para que, de alguma forma, o Brasil encontrasse um caminho que ao menos preservasse os empregos. Estamos caminhando para uma taxa de desemprego que pode chegar em torno de 10% ao final desse ano. E a responsabilidade disso não é uma crise internacional que não existe. O mundo vai crescer em média 3,5%, os países emergentes – dentre os quais o Brasil se inclui – crescerão em média 4% esse ano, são dados do FMI. O Brasil se prepara para um crescimento negativo. Então a crise é nossa. Criada por esse governo, pela sua incompetência e pela sua irresponsabilidade.
E a crise de confiança que tomou conta do Brasil não tem uma solução a curto prazo porque, além da crise econômica que leva os nossos empregos, que afasta os investimentos e que aumenta a inflação ao lado da crise moral sem precedentes, a partir do assalto que fizeram às nossas empresas públicas, em especial a Petrobras, há uma crise de confiança. E é essa crise de confiança que impede que os investimentos venham no volume necessário para resgatar a capacidade das pessoas de estarem empregadas e consumir. Não tem emprego, obviamente não tem consumo. Aí o desemprego aumenta. Aumenta na área de serviços, aumenta no comércio.