Pronunciamento do senador Aécio Neves como relator de Projeto de Lei de Conversão (MP 791) que cria Agência Nacional de Mineração

Estamos dando continuidade a um esforço que o Congresso Nacional vem fazendo, após a iniciativa do governo federal, para criar condições mais favoráveis ao fortalecimento do setor mineral no país.

Venho de um dos principais estados mineradores do país e a proposta que aprovamos, na semana passada, a Medida Provisória nº 789 e seu projeto de conversão, estabelece novas alíquotas. Portanto, um percentual diferenciado para aquilo que se estabeleceu chamar royalties da mineração, que agora serão calculados sobre o resultado bruto dessas empresas, e não mais sobre o resultado líquido, em percentuais que aqui foram também alterados.

Isso dará às regiões mineradoras do Brasil – e elas estão em vários estados – condições muito mais adequadas para enfrentar as peculiaridades da atividade mineral, que dá apenas uma safra e deixa, no seu retrovisor, danos ambientais muitas vezes definitivos e também problemas econômicos e sociais nessas regiões, que têm uma enorme dificuldade para encontrar a atividade econômica sucedânea, aquela que vai suceder a atividade mineral, porque não houve investimentos suficientes ali para que outras vocações dessas diversas regiões possam ser exploradas.

Aprovada a Medida Provisória nº 789 e seu projeto de conversão, chegamos hoje à 791, que cria a Agência Nacional de Mineração e, ao mesmo tempo, extingue o Departamento Nacional de Produção Mineral.

A matéria foi relatada pelo deputado Leonardo Quintão, na Câmara dos Deputados, a quem saúdo hoje, presente no plenário do Senado Federal. E, para a implementação da nova realidade que se estabelecerá após a entrada em vigor da medida provisória que aprovamos na semana passada, é preciso também que os órgãos fiscalizadores vivam uma nova realidade.

A verdade é que o departamento nacional de política mineral, criado na década de 30 do século passado, transformou-se em um órgão anacrônico, engessado, cuja remuneração não estimula a que brasileiros possam participar, através de instrumentos de fiscalização mais eficientes, da regulação e do próprio estímulo à atividade mineral no país.

Por isso, a Agência Nacional de Mineração, que será vinculada ao Ministério de Minas e Energia, tem como função prioritária implementar as políticas nacionais para o setor de mineração, compreendidas, em primeiro lugar, a normatização, a gestão de informações e a fiscalização do aproveitamento dos recursos minerais.

A agência nacional assumirá as funções do atual Departamento Nacional de Produção Mineral, responsável pela outorga e fiscalização de todas as concessões minerais no país. Além disso, deverá incumbir-se de atribuições mais abrangentes, como, por exemplo, implementar a política nacional para as atividades de mineração, prestar apoio técnico ao poder concedente, avaliar os impactos regulatórios da atividade e mediar os conflitos, que não são poucos, entre agentes da atividade de mineração e outras que venham a surgir.

A criação, portanto, dessa agência segue uma tendência da década de 90 do século passado, ainda no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e a sua estrutura se amolda a demais correlatas hoje em plena atividade no Brasil, como aquelas ligadas ao setor do petróleo e ao setor também de energia.

O regime jurídico especial que caracteriza essa nova agência tem por objetivo, talvez principal, preservá-la de ingerências estranhas ao domínio técnico, em especial no processo de tomada de decisões e nas atribuições de fiscalizar a ação dos particulares na prestação de serviços públicos ou na gestão de bens públicos.

Esse projeto de lei de conversão é extremamente urgente e necessário para que se crie uma agência reguladora que amplie, potencialize e melhore a prestação dos serviços atualmente prestados pelo Departamento Nacional.

A indústria extrativa mineral – e vale aqui esse registro –, representa um segmento hoje de relevância estratégica para a economia brasileira. Ela responde por cerca de 4% do nosso Produto Interno Bruto, por cerca de 9% do total de exportações nacionais, em valores superiores a US$ 22 bilhões. São mais de oito minas espalhadas por todo o país hoje em atividade. E elas são responsáveis pela geração direta de mais de 180 mil empregos.

Portanto, o que estamos fazendo agora é dar um passo gigantesco no caminho da modernização. E essa modernização dará garantias maiores a aqueles que, investindo no setor mineral, precisam ter estabilidade no processo de regulação.

Várias argumentações foram apresentadas na Câmara dos Deputados, inúmeras emendas foram apresentadas, várias delas acatadas pelo relator Leonardo Quintão. E eu não tenho dúvida de que, inspirada nos modelos das Agências Nacionais do Petróleo e de Energia, nós teremos já uma boa parte do caminho, percorrido para que essa agência, rapidamente implementada, possibilite, aí, sim, com uma estrutura funcional mais ágil, funcionários mais bem remunerados, uma fiscalização também mais eficiente nesse importantíssimo setor da vida econômica e social do país.

Para que fiquem aqui absolutamente claros os objetivos dessa transformação, a nova agência será – e fica aqui o registro – responsável não por formular – mas por implementar a política para o setor de mineração no país, com as suas inúmeras competências, entre elas, estabelecer normas e padrões para aproveitamento de recursos minerais; prestar apoio técnico ao Ministério de Minas e Energia; requisitar, guardar e administrar os dados e as informações sobre as atividades de pesquisa e lavra; gerir os direitos e os títulos minerários para fins de aproveitamento dos recursos minerais; estabelecer os requisitos técnicos, jurídicos, financeiros e econômicos a serem atendidos pelos interessados na obtenção dos títulos minerários; estabelecer os requisitos, os procedimentos e os critérios de julgamento dos procedimentos de disponibilidade de áreas; regular os processos administrativos sob sua competência; fiscalizar a atividade de mineração de forma absolutamente transparente, com padrões claros e regras públicas e claramente estabelecidas; adotar medidas acautelatórias, como de interdição e paralisação, e impor as sanções cabíveis quando for o caso.

São, portanto, algumas das funções da nova agência. E espera-se que ela possa promover a modernização, como disse aqui, o aperfeiçoamento das funções de controle e de fiscalização da pesquisa, da produção e da comercialização de bens minerais, e que formule as estratégias para o estabelecimento de uma política mineral no Brasil, repito, que dê estabilidade e estímulo àqueles brasileiros que queiram investir nesse setor ou que nele queiram trabalhar.

A agência terá direção colegiada – e chamo a atenção para essa questão colocada no relatório do deputado Leonardo Quintão –, com um diretor-geral e quatro diretores. Os diretores serão indicados pelo Presidente da República e nomeados após aprovação pelo Senado Federal, com mandatos fixos de quatro anos, e não coincidentes, permitida apenas uma única recondução. A direção colegiada ensejará um maior pluralismo de representação, assegurando à agência a possibilidade de observar as mudanças graduais no cenário político, sem rupturas ou alterações bruscas em seus atos. Portanto, há também uma preocupação grande com o perfil daqueles que venham a ocupar cargos de direção nessas agências.

Para concluir, o art. 9º determina que não poderão ocupar a direção da agência ministros e secretários de Estado ou municipais, dirigentes de partidos políticos, titulares de mandato no Poder Legislativo, mesmo que estejam licenciados do cargo, além de pessoa que participe direta ou indiretamente em empresa ou entidade que atue no setor de mineração.

O art. 8º estabelece que, uma vez concluído o mandato, os diretores deverão cumprir uma quarentena de seis meses antes de assumir qualquer atividade no setor regulado por essa agência à qual serviu.

E o art. 10º veda aos diretores uma série de atividades que possam importar em conflito de interesses.

Portanto, um relatório feito com inúmeras conversas e diálogos, não apenas na Câmara dos Deputados, mas com o setor mineral no país; e, por isso, teve a aprovação quase unânime naquela Casa. Uma quase unanimidade que eu acredito possa se transformar em definitiva unanimidade aqui no Senado da República para que imediatamente nós possamos ter implementada a nova Agência Nacional de Mineração.

Ao final, uma palavra de apoio à decisão do presidente Eunício Oliveira ao retirar algo que ali foi introduzido e que, a nosso ver, não tem qualquer relação com os objetivos principais desse projeto, que é a permissão de porte de arma para geólogos. Esse assunto, se tiver de ser discutido, que o seja em outro momento, na discussão do código de desarmamento.

Retirado ou impugnado esse artigo, por não ter relação com o conjunto do texto, essa matéria aqui aprovada hoje não irá à Câmara dos Deputados; poderá ser levada imediatamente à sanção presidencial.

É o relatório pela aprovação do texto aprovado pela Câmara dos Deputados.

Aécio defende compromisso do PSDB com aprovação de mudanças

“Temos um papel extremamente relevante nesse momento difícil porque passa o país”, diz senador de Minas Gerais.

O senador Aécio Neves afirmou, nesta quinta-feira (24), que as divergências internas do PSDB devem ser superadas em favor da agenda de reformas que o partido considera centrais para o país vencer a recessão e o desemprego gerados pelo governo Dilma Rousseff.

Em entrevista, após participar em Brasília de reunião dos dirigentes estaduais do PSDB, Aécio ressaltou que todos os esforços do partido devem ser dirigidos agora à aprovação no Congresso Nacional das reformas, em especial a reforma política, considerada fundamental para reconstruir a legitimidade dos partidos junto à sociedade.

“O PSDB tem uma marca que é a responsabilidade. Temos um papel extremamente relevante nesse momento difícil porque passa o país. O que vamos fazer é nos empenhar para liderar a agenda de reformas que está em andamento no Congresso, apresentada pelo próprio PSDB. Entre elas, e com uma urgência enorme, a reforma política”, afirmou Aécio.

O senador informou que os dirigentes e as bancadas tucanas fecharam apoio à PEC 282, que acaba com as coligações proporcionais já nas eleições do ano que vem e regula o acesso de legendas aos recursos do Fundo Partidário e ao tempo de rádio e TV a partir do resultado obtido nas urnas. O objetivo é evitar que legendas com baixíssima votação utilizem verbas públicas.

A PEC 282 tem origem numa proposta de Aécio Neves e do senador Ricardo Ferraço, aprovada ano passado pelo Senado. A previsão é de ir à votação no plenário da Câmara dos Deputados na próxima terça-feira (29).

“Tomamos hoje a decisão de apoiar integralmente a proposta que estabelece a cláusula de desempenho de 1,5% (dos votos válidos), a partir da eleição do ano que vem, acrescida de 0,5% a cada nova eleição nacional. E a antecipação já para o ano que vem do fim das coligações nas eleições para as Casas Legislativas”, explicou Aécio sobre as mudanças que já têm consenso no Congresso.

Fundo partidário

Aécio Neves afirmou que o PSDB rejeitou a proposta que destina R$ 3,6 bilhões para as eleições, tendo como base recursos do Orçamento, e que as bancadas apoiarão o projeto que prevê a constituição de um fundo custeado pela compensação financeira hoje dada às emissoras de rádio e TV na veiculação dos programas eleitorais.

“Vamos apoiar a proposta apresentada pelo senador (Ronaldo) Caiado, inclusive sob inspiração do ex-deputado João Almeida, que é o secretário-executivo do PSDB, que estabelece que o fundo eleitoral será alimentado por recursos da compensação que os meios de comunicação recebem em razão do tempo disponibilizado para os programas partidários. Acabaríamos com os programas partidários fora do ambiente eleitoral e essa compensação hoje feita pelo governo poderia alimentar esse fundo, sem que haja necessidade de recursos orçamentários para isso”, afirmou Aécio Neves.

Aécio retoma com serenidade atividades no Senado

“Fui condenado previamente sem nenhuma chance de defesa. Tentaram execrar-me junto à opinião pública. Fui vítima de uma armadilha executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes”, diz Aécio.

Dizendo-se sereno e determinado a provar ter sido vítima de uma armação planejada para incriminá-lo, o senador por Minas Gerais Aécio Neves retomou, nessa terça-feira (4), suas atividades no Senado.

Em discurso no plenário da Casa, o senador disse que sua volta aos trabalhos legislativos é resultado do cumprimento da Constituição Federal e destacou os projetos e ações que defendeu, ao longo de 32 anos de mandatos consecutivos, em favor da transparência, da ética e das boas práticas na área pública.

“É com espírito altivo e com absoluta serenidade que retorno hoje a esta Casa. A esta que é também a minha Casa. Meu retorno se dá, única e exclusivamente, pela estrita observância da lei, pelo respeito a direitos assegurados e pelo que determina a nossa Constituição. Sempre atuei na defesa do interesse público, na preservação do patrimônio dos brasileiros e na correção de injustiças que impedem o Brasil de alcançar a condição a que tem direito”, afirmou Aécio Neves, em seu pronunciamento.

O senador enfatizou que foi condenado de forma precipitada e injustamente, sem ter chance de defesa, em razão da situação armada por Joesley Batista para forjar a prática de crime que possibilitasse o delator a negociar uma delação premiada. Aécio reiterou que propôs ao dono da JBS a venda de um apartamento de sua família, quando o empresário de forma proposital ofereceu em troca um empréstimo de R$ 2 milhões. A partir do empréstimo, Joesley então forjou um crime na entrega do dinheiro para fabricar uma prova contra o senador.

“Fui condenado previamente sem nenhuma chance de defesa. Tentaram execrar-me junto à opinião pública. Não aceitei recursos de origem ilícita, não ofereci ou prometi vantagens indevidas a quem quer que fosse e tampouco atuei para obstruir a ação da Justiça, como me acusaram. Fui, sim, vítima de uma armadilha engendrada e executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes, cujas penas somadas ultrapassariam mais de dois mil anos de prisão”, destacou o senador.

Falso crime

Aécio ressaltou que o empréstimo aceito por ele não envolvia dinheiro público e nenhum benefício em troca, e seria formalizado por meio de contrato de mútuo se a intenção de Joesley já não fosse desde o início fabricar um falso crime com ele e seus familiares. O senador disse ainda que as investigações mostrarão que a JBS jamais recebeu a seu pedido qualquer benefício fiscal ou favores de outra natureza, como admitiu o próprio ex-diretor da empresa em depoimento.

“Não houve envolvimento de dinheiro público e muito menos qualquer contrapartida, como as próprias gravações demonstram e ficará cabalmente provado perante a Justiça. É de se questionar, e não fujo do tema, uma vez mais: como alguém pode pagar aquilo que se estabeleceu chamar de propina sem que tenha recebido qualquer benefício ou tenha qualquer expectativa de recebê-lo? O delator Ricardo Saud, executivo da JBS, afirma, de forma clara, em um de seus depoimentos. E abro aspas para ele: “Ele (Aécio) nunca fez nada por nós”. Fecho aspas”, questionou.

Operação Lava Jato

O senador por Minas Gerais ressaltou que sempre defendeu, ao longo dos últimos três anos, as investigações em curso no Brasil e as instituições envolvidas, mas acrescentou que é preciso separar atividades legais no exercício do mandato daquilo que são práticas ilegais.

“O papel de investigar, apontar erros e puni-los é fundamental para o aprimoramento de nossas instituições, mas não pode ser feito ao arrepio do nosso ordenamento jurídico. O país vive, sim, um importante e inédito acerto de contas com a sociedade e com o mundo político. E temos que estar preparados para ele, separando o que é crime daquilo que não é. Separando condutas ilícitas daquilo que é simplesmente atividade política. Misturar tudo e todos só interessa aos que não querem mudança alguma”, afirmou Aécio.

Aécio Neves – Pronunciamento em plenário 04/07/2017

Senhoras e senhores senadores,

Retorno hoje a essa tribuna com um conjunto de sentimentos que, a princípio, podem parecer contraditórios.

Mas, na verdade, eles retratam a profundidade das marcas que o episódio de meu afastamento do mandato, que me foi conferido por mais de 7 milhões de mineiros, deixou não apenas em mim, mais em minha família e, acredito, em todos aqueles que, sem julgamentos apressados, acompanham meus mais de 30 anos de vida pública, sempre exercida com seriedade e responsabilidade.

Dentre todos estes sentimentos, sem dúvida o da indignação contra a injustiça e o da tristeza que acaba por atingir de forma mais profunda aqueles que mais amamos, foram os que mais de perto me acompanharam nesses momentos tormentosos.

Mas estejam certos, senhoras e senhores, em nenhum instante, em nenhum instante, perdi a serenidade e o equilíbrio, próprios daqueles que sabem a exata extensão de seus atos e a correção de sua conduta.

Senhoras e senhores senadores, ilustres colegas.

Não cheguei ontem na vida pública. Nessas últimas semanas, deixei-me embalar por certa nostalgia e permiti que me visitasse a memória e a alma o jovem militante que andou por cada canto desse país participando e organizando as grandes manifestações pelas eleições diretas.

Revivi o constituinte de 1988 que apresentou, dentre outras, a proposta que permitiu o voto a partir dos 16 anos e que participou vivamente de inúmeros debates, entre eles os que levaram ao surgimento do novo Ministério Público Federal, com os poderes que detém hoje.

Lembrei-me com orgulho de ter assinado a Constituição que marcou a reconstrução jurídico-institucional do Brasil recém-liberto da ditadura e adentrando à democracia.

Recordei a participação, como líder de bancada e de partido, no ciclo mais importante de reformas do Brasil contemporâneo, iniciado, na década de 1990, com a edição do Plano Real e a conquista da tão sonhada estabilização da economia nacional.

Revisitei o legado institucional construído quando presidi a Câmara dos Deputados, com avanços e instrumentos que funcionam ainda hoje, como a restrição ao uso de medidas provisórias e, especialmente, aquele que ficou conhecido como “pacote ético”, que, entre outros aspectos, reformulou de forma definitiva o conceito da imunidade parlamentar.

Também estiveram comigo por esses tempos as razões da responsabilidade que me guiaram como governador do meu estado e colocaram Minas como referência de inovação e governança pública, segundo os mais rigorosos requisitos das mais respeitadas instituições globais.

Poucas vezes, aliás, pude sentir tão concretamente o valor da boa política.

Ao fim de dois mandatos, alçamos Minas à condição de oferecer a melhor educação básica do país e o mais eficiente sistema de atendimento à saúde de toda a região Sudeste, sempre mantendo durante todos aqueles anos crescimento econômico acima da média nacional.

Foi com esta trajetória, com o enfrentamento e a superação de desafios dessa dimensão que cheguei ao Senado Federal.

Aqui, e muitos dos senhores e das senhoras são testemunhas, sempre atuei na defesa do interesse público, na preservação do patrimônio dos brasileiros e na correção de injustiças que impedem o Brasil de alcançar a condição a que tem direito.

Apresentei e relatei inúmeros projetos que buscavam e buscam dar mais transparência e controle às ações públicas para protegê-las da predação por interesses espúrios.

No Executivo ou no Legislativo, busquei sempre estar ao lado das boas causas, dos interesses dos que mais precisam, dos avanços que nos permitam alcançar um novo patamar de desenvolvimento seja ele econômico ou social.

Sempre respeitando a ética e honrando cada um dos votos que recebi nas minhas quase dez eleições disputadas.

Senhoras e senhores senadores, brasileiros que nos acompanham nesse instante, retorno ao tema central que me traz hoje a essa tribuna.

Não me furtarei de reiterar aqui aquilo que venho afirmando ao longo de todas essas últimas longas semanas. Senhoras e senhores parlamentares, brasileiros e brasileiras, não cometi crime algum.

Não aceitei recursos de origem ilícita, não ofereci ou prometi vantagens indevidas a quem quer que fosse e tampouco atuei para obstruir a ação da Justiça, como me acusaram.

Fui, sim, vítima de uma armadilha engendrada e executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes, cujas penas somadas ultrapassariam mais de 2 mil anos de prisão.

Procurei, sim, esse cidadão cuja face delinquente o Brasil ainda não conhecia e, por meio de minha irmã, ofereci a ele a compra de um apartamento de propriedade de minha família e que já havia sido oferecido a pelo menos outros quatro empresários brasileiros.

Essa venda me ajudaria a arcar com as novas despesas que passei a ter com advogados.

E o procurei, repito aqui, porque tenho que me desfazer de parcela do meu patrimônio familiar exatamente porque, não obtive em tempo algum, vantagens financeiras através da política. E os que me conhecem, e aqui não são poucos, sabem muito bem disso.

Foi desse cidadão, já em tratativas da delação cujos benefícios assombram e enchem de indignação a maior parte dos brasileiros, a iniciativa de propor um empréstimo que seria devidamente regularizado e pago, não fosse outra a intenção do criminoso.

Não houve, ressalto, envolvimento de dinheiro público e muito menos qualquer contrapartida, como as próprias gravações demonstram e ficará cabalmente provado perante a Justiça.

Tratou-se, portanto, de um negócio de pessoas privadas.

E é de se questionar, não fujo do tema, uma vez mais: como alguém pode pagar aquilo que se estabeleceu chamar de “propina” sem que tenha recebido qualquer benefício ou tenha qualquer expectativa de recebê-lo?

Nem mesmo os delatores apontam quais favores lhes teriam sido prestados. Mas isso passou a ser irrelevante. Muito pelo contrário. O delator Ricardo Saud, executivo desse conjunto de empresas, afirma, de forma clara, em um de seus depoimentos. E abro aspas para ele: “Ele (Aécio) nunca fez nada por nós”. Fecho aspas.

Tudo isso terá, como eu disse, local próprio para ser definitivamente provado.

Mas eu quero nesta tribuna dizer que eu errei, e assumo aqui esse erro, em primeiro lugar por me deixar envolver nessa trama ardilosa e, principalmente, ao permitir que meus familiares servissem de massa de manobra para atender aos propósitos espúrios daqueles que, por absoluta ausência de caráter, não se constrangeram em submeter a honra e a vida de pessoas de bem a seus nefastos interesses.

Errei também, e por isso já me desculpei, ao me permitir utilizar, mesmo em conversa que deveria ser privada, vocabulário que não me é comum, como sabem aqueles que comigo convivem diariamente.

Mas retorno, ilustres colegas, ao ponto central que levou a Procuradoria-Geral da República a pedir o meu afastamento do mandato de senador. Na verdade, foram três as principais acusações, que vou enumerá-las:

1 – A primeira, por ter dito em conversa privada, criminosamente gravada e todo o tempo induzida pelo candidato a delator, que deveríamos aprovar uma nova lei de abuso de autoridade, o que acabou ocorrendo por unanimidade na CCJ e, no plenário, com o voto de 54 dos 73 senadores presentes.

2 – Em segundo lugar, porque fiz, nessa mesma conversa que julgava privada, referência à minha visão de que a proposta de criminalização daquilo que se chamou de “caixa 2”, com a definição de novas penas, deveria ser aprovada como propunha o próprio Ministério Público no conjunto das chamadas “10 medidas”, mas seus efeitos só poderiam vigorar após essa aprovação. Nada mais do que a legítima opinião de um parlamentar no livre exercício de seu mandato.

3 – E, por fim, acusam-me pelas críticas que fiz, em privado, ao funcionamento de determinadas áreas do governo.

Pois bem, senhores senadores, senhoras senadoras, esse conjunto de manifestações foi interpretado como uma tentativa de obstrução de Justiça.

Nada mais distante da realidade. Aliás, muito pelo contrário.

O Brasil é testemunha das inúmeras vezes em que, como presidente do PSDB, levantei minha voz em defesa da Operação Lava Jato e das instituições que a conduzem. Essa sempre foi a posição não apenas minha, mas de todo o meu partido.

Jamais interferi em nenhum órgão envolvido nas investigações, embora entenda que existam reparos a serem feitos à atuação de alguns de seus membros.

No dia em que não pudermos mais exercer o contraditório, teremos perdido o essencial: a liberdade que cada um tem de se expressar e exercer seus legítimos direitos.

Em especial, e chamo atenção para este ponto, em relação a nós, parlamentares, é a Constituição Federal, em seu artigo 53, que assegura imunidade por palavras, opiniões e votos.

E não os assegura, é sempre bom destacar, como privilégio de uma casta, mas para garantir que o mandato emanado do soberano voto popular não seja ameaçado.

E também para que não se ponha em risco a separação, a harmonia e a independência entre os poderes e tampouco se permita constranger o exercício do mandato parlamentar.

Foi o ilustre ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, que, em sua decisão, tratou de trazer luzes a aquilo que diz a Constituição.

Coube a ele demonstrar com clareza didática que medidas cautelares como o afastamento do mandato de um senador da República ou de um deputado federal representam grave violação de preceitos constitucionais.

Reproduzo aqui alguns trechos que julgo devam ficar registrados nos anais dessa Casa.

Abro aspas para o ilustre ministro.

“O afastamento do exercício do mandato implica esvaziamento irreparável e irreversível da representação democrática conferida pelo voto popular. (…) O Judiciário não pode substituir-se ao Legislativo, muito menos em ato de força a conflitar com a harmonia e independência dos Poderes.”

E continua o ministro:

“À sociedade, e não apenas ao agravante, importa a preservação do interesse primário, a higidez das instituições democráticas, a respeitabilidade à Constituição Federal, e não a feitura de justiça a ferro e fogo, a tomada de providência extrema, o justiçamento. A história é impiedosa considerados atos de força que, em última análise, provocam consequências imprevisíveis.”

O ministro vai além:

“Em quadra de abandono a princípios, de perda de parâmetros, de inversão de valores, de escândalos de toda ordem, cumpre ser fiel aos ditames constitucionais e legais, sob pena de imperar o descontrole institucional com risco para a própria democracia. (…)

“Quando, ensina o ministro, o Direito deixa de ser observado – e por tribunal situado no ápice da pirâmide do judiciário: o Supremo – vinga o nefasto critério da força, e tudo, absolutamente tudo, pode acontecer”.

Fecho aspas.

Trata-se, destaco mais uma vez, de peça jurídica histórica, que sempre servirá para defender não a um parlamentar individualmente, mas as instituições.

Servirá para assegurar a separação entre os poderes, o livre exercício do mandato parlamentar, a defesa dos direitos individuais e, sobretudo, o respeito à Constituição.

Não serve apenas a mim ou a meus 80 colegas senadores ou aos 513 deputados. Serve à história.

Senhoras e senhores senadores,

Fui condenado previamente sem nenhuma chance de defesa. Tentaram execrar-me junto à opinião pública. Fui vítima da manipulação de alguns, da má-fé de muitos e, sobretudo, de julgamentos apressados, alguns feitos aqui mesmo nessa Casa por alguns poucos que parecem não se preocupar com a preservação dos direitos individuais e com o primado da nossa Constituição.

Mas não carrego mágoas, não carrego ressentimentos. Olho para a frente, trabalho para construir o futuro e não para desfazer o passado.

Assistimos hoje, na verdade, a uma enorme disputa que pode acabar por fazer com que algumas instituições do Estado brasileiro prevaleçam sobre outras. E isso não pode ocorrer. Só o equilíbrio interessa a uma sociedade sadia.

O papel de investigar, apontar erros e puni-los é fundamental para o aprimoramento de nossas instituições, mas não pode ser feito ao arrepio do nosso ordenamento jurídico.

O país vive, sim, um importante e inédito acerto de contas com a sociedade e com o mundo político. E temos que estar preparados para ele, separando o que é crime daquilo que não é. Separando condutas ilícitas daquilo que é simplesmente atividade política. Misturar tudo e todos só interessa aos que não querem mudança alguma.

Senhoras e senhores, ilustres colegas.

É com espírito altivo e com absoluta serenidade que retorno hoje a esta Casa. A esta que é também a minha Casa.

Meu retorno se dá, única e exclusivamente, pela estrita observância da lei, pelo respeito a direitos assegurados e pelo que determina a nossa Constituição.

Retorno com o firme propósito de, ao lado de cada um dos senhores e das senhoras, independentemente de filiações partidárias ou de divergências que possamos ter, continuar trabalhando para permitir ao Brasil superar suas gravíssimas dificuldades, evidenciadas no baixo crescimento econômico e na profunda crise social que vivemos.

Quero aqui reafirmar nesse instante meu compromisso e minha crença na necessidade de continuarmos avançando em uma ousada agenda de reformas, que, aliás, foi a razão do apoio do PSDB ao governo do presidente Michel Temer.

Fui eu, inclusive, quem, na condição de presidente do partido e credenciado por cada um dos meus companheiros, condicionou o nosso apoio ao cumprimento dessa agenda, que, devemos reconhecer, apesar de todas as adversidades continua sendo liderada pelo presidente.

Nosso compromisso sempre foi com a transformação do país, e não devemos abandoná-lo.

Faço questão de manifestar aqui minha mais sincera e profunda homenagem ao senador Tasso Jereissati pela forma equilibrada, serena e, sobretudo, democrática com que está conduzindo o partido desde a minha licença.

O PSDB se orgulha e se orgulha muito de, ao longo de toda a sua história, ter colocado sempre os interesses do país acima de eventuais interesses eleitorais. Essa é a nossa marca e dela não devemos jamais abrir mão.

Neste pouco mais de um ano do novo governo, o Brasil conseguiu avanços extremamente importantes, como a queda da inflação, o corte da taxa de juros, o reequilíbrio das contas externas, o fim da recessão, a aprovação de projetos fundamentais para o futuro do país, como o que estabelece o teto dos gastos públicos e a implementação da sempre adiada reforma do ensino médio.

Para tão pouco espaço de tempo, devemos reconhecer, foram conquistas relevantes e que precisam ter continuidade, pois convivemos ainda, essa é a nossa mais amarga realidade, com um contingente de 14 milhões de desempregados e com degradantes indicadores sociais.

Os nossos desafios estão em todas as áreas, e precisamos enfrentá-los – sobretudo aqueles que atingem os mais desprotegidos.

Aproveito essa tribuna para, de público, apelar ao governo para que reconsidere, se realmente verdadeira for, a decisão de não conceder reajuste ao Bolsa Família. Todo esforço deve ser feito no sentido de garantir o poder aquisitivo desses benefícios e, sempre que possível, prover-lhes ganhos reais.

Senhoras e senhores, agradecendo a presença de cada um dos ilustres senadores e parlamentares deste plenário, a cada um que nos acompanha nesse instante, encerro este meu pronunciamento com a constatação, que acredito seja de todos, de que as maiores vítimas de toda essa crise por que passa o Brasil são aqueles brasileiros que menos têm e mais precisam do apoio do Estado.

E será sempre, fica, portanto, esta última mensagem, será sempre através da política, mas da boa política, feita com tolerância e respeito, que vamos conseguir encontrar um novo e virtuoso caminho para o Brasil e para cada brasileiro. Muito obrigado.

Pronunciamento do senador Aécio Neves – Senado Federal 04/07/17

“É com espírito altivo e com absoluta serenidade que retorno hoje a esta Casa. A esta que é também a minha Casa. Meu retorno se dá, única e exclusivamente, pela estrita observância da lei, pelo respeito a direitos assegurados e pelo que determina a nossa Constituição”, afirmou o senador Aécio Neves em pronunciamento, nesta terça-feira (04/07), no Senado Federal. Aécio disse ainda que “o país vive um importante e inédito acerto de contas com a sociedade e com o mundo político. Temos que estar preparados para ele, separando o que é crime daquilo que não é. Separando condutas ilícitas daquilo que é simplesmente atividade política. Misturar tudo e todos só interessa aos que não querem mudança alguma”.

Aécio também reafirmou seu compromisso com as reformas que considera centrais para a retomada da atividade econômica no país e que tramitam no Congresso Nacional.

“Retorno com o firme propósito de, ao lado de cada um dos senhores e das senhoras, independentemente de filiações partidárias ou de divergências que possamos ter, continuar trabalhando para permitir ao Brasil superar suas gravíssimas dificuldades, evidenciadas no baixo crescimento econômico e na profunda crise social que vivemos. Nosso compromisso sempre foi com a transformação do país, e não devemos abandoná-lo”, disse o senador por Minas Gerais.

Projeto de renegociação de dívidas dos estados

“Eu e o senador Anastasia, que somos hoje oposição ao governo de Minas Gerais, que é de um partido de oposição ao nosso, o PT, votaremos a favor dessa proposta para garantir a solvência do Estado, que foi perdida nesses últimos anos. É absolutamente necessário que a Câmara dos Deputados mantenha algumas – pelo menos as mais relevantes – contrapartidas sugeridas e apresentadas pelo Senado, como, por exemplo, limitar o crescimento das despesas primárias ao crescimento do IPCA e acabar com a lei de incentivos fiscais. Não é justo que os contribuintes de todo o Brasil se cotizem pagando esse novo regime e os estados continuem perdulários, aumentando seus gastos. É impensável darmos esses benefícios, criarmos um regime especial, sem que haja contrapartidas. Vamos estar aqui enxugando gelo” , afirmou o senador Aécio Neves, na tarde de hoje (14), ao declarar apoio ao Projeto de Lei 54/2016, que estabelece a renegociação das dívidas do estados. O substitutivo do projeto, elaborado pelo senador Armando Monteiro, foi aprovado pelo Senado e voltará para votação na Câmara dos Deputados.

Aécio Neves Senado

Foto: George Gianni