Ex-governador afirma que ato do presidente da República que nomeia ministro para ações federais no RS politiza um drama sem precedentes que assola os gaúchos
O deputado federal e ex-governador Aécio Neves fez um pronunciamento, nesta quarta-feira (15/05), na Câmara dos Deputados, contrário à criação do cargo de “autoridade federal” dentro do estado do Rio Grande do Sul.
Aécio classificou o ato do presidente da República de nomear o atual chefe da Comunicação do governo e deputado federal pelo PT, Paulo Pimenta, como autoridade federal dentro do RS como um novo instrumento de ação política equivalente à criação de um poder paralelo, em desrespeito à autoridade e autonomia garantidas pela Constituição aos governadores eleitos.
“O Rio Grande do Sul, assim como os outros estados brasileiros, tem governador eleito pelo seu povo para tratar de todas as questões da sociedade, no enfrentamento dessa calamidade que afeta de forma inédita e única a população daquele Estado”, denunciou Aécio.
“O alerta que trago é a criação desse novo instrumento de ação política, indicando um parlamentar desta Casa, notório adversário político do governador e com pretensões políticas que são públicas. A meu ver, não contribui para aquilo que todos nós queremos, que é o enfrentamento da tragédia, minimizando os danos para as pessoas”, disse.
E acrescentou:
“Houvesse a intenção efetiva de coordenar as ações do governo naquele Estado, o natural seria que houvesse entendimento com o governador, na busca de alguém com perfil técnico que pudesse efetivamente contribuir. Fosse um estado governado pelo PT, estaria o Presidente da República criando um poder paralelo no estado?”, questionou Aécio.
Veja abaixo íntegra do pronunciamento do deputado federal:
Gostaria de compartilhar com meus pares, de forma absolutamente serena, uma questão que deve sim chamar a atenção desta Casa. Desde ontem à noite, através da imprensa, ficamos sabendo que havia uma decisão do governo de criar uma autoridade federal que passaria a coordenar as ações federais no Rio Grande do Sul.
Conversei durante a tarde por duas vezes com o governador Eduardo Leite para que pudéssemos entender exatamente do que se tratava. Obviamente, perguntando se ele havia sido consultado e participado dessa decisão. Ele não tinha absolutamente nenhuma informação.
Ele, assim como todos nós, soube não apenas da decisão de criar essa nova figura, quanto daquele que seria o responsável por essas ações pela imprensa.
Trago esse tema porque essa é a Casa da Federação e todos nós temos, desde que assumimos o nosso mandato, um dever que precede todos os outros, que é a sua manutenção e o seu fortalecimento.
O Rio Grande do Sul, assim como os outros estados brasileiros, tem um governador eleito pelo seu povo para tratar de todas as questões que dizem respeito à população do Rio Grande do Sul. Tive a oportunidade de inclusive reconhecer o esforço do governo federal de cooperação com o governo do Rio Grande do Sul, com as prefeituras municipais, com a sociedade no enfrentamento dessa calamidade que afeta de forma inédita e única a população daquele Estado.
O alerta que trago é a criação desse novo instrumento de ação política, indicando um parlamentar desta Casa mais notório adversário político do governador e com pretensões políticas que são públicas, a meu ver, não contribui para aquilo que todos nós queremos, que é o enfrentamento da tragédia, minimizando os danos para as pessoas. É um alerta que fiz inclusive a pessoas com as quais eu tenho relação dentro do governo.
Houvesse a intenção efetiva de coordenar as ações do governo naquele Estado, o natural seria que houvesse entendimento com o governador, na busca de alguém com perfil técnico que pudesse efetivamente contribuir. Acho que está se criando, na verdade, é mais um instrumento de colisão e não de solução para aqueles problemas. Fica aqui um alerta grave. Não poderia dizer, e acho até que a resposta seria não, fosse um estado governado pelo PT, por exemplo, estaria o Presidente da República criando um poder paralelo no estado?
Para concluir, porque o assunto é extremamente sério, e vai tomar hoje as discussões em boa parte da nossa tarde no plenário, o que estamos percebendo é que há, na verdade, uma intervenção do governo federal no Rio Grande do Sul. Queremos colaboração, a participação do governo federal na solução da tragédia.
Me parece que com esse ato o presidente da República politiza um drama sem precedentes que assola aquela população. Estaremos aqui alertas para, ao longo dessa caminhada, denunciar se percebermos que a intenção foi muito mais política do que humanitária.