Senado tem o dever de dar uma satisfação para o sentimento das ruas, afirma Aécio Neves

“As ruas do País inteiro, de forma espontânea, vêm se manifestando. Esta Casa tem o dever de ser a ressonância dos sentimentos múltiplos, vários, estratificados por todas as regiões do País, que nós temos colhido durante esses dias”, afirmou o senador Aécio Neves em pronunciamento no Senado nesta quinta-feira (17/03) ao ocupar a tribuna com outros líderes da oposição para avaliar os desdobramentos da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa-Civil, ocorrida esta manhã no Palácio do Planalto.

O senador também comentou a gravidade do conteúdo das gravações, feitas com autorização da Justiça, de ligações telefônicas mantidas entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

Leia, a seguir, trechos do pronunciamento do senador Aécio Neves:

“Hoje não é um dia comum, e não podemos perder a percepção disso. As ruas do País inteiro, de forma espontânea, vêm se manifestando. Esta Casa tem o dever de ser a ressonância dos sentimentos múltiplos, vários, estratificados por todas as regiões do País, que nós temos colhido durante esses dias. Portanto, eu quero sugerir que hoje seria o dia para o Senado Federal, durante todas as horas que se sucederão, e se for o caso, durante o dia de amanhã, debatermos em profundidade, mas com responsabilidade, a gravidade desta crise e os caminhos que esta Casa tem a sugerir, as contribuições que os senadores, experientes que são, muitos governadores de Estado, outros tantos com larga experiência nas mais variadas atividades, não apenas na política. Mas quem sabe, em alto nível, como convém aos belos momentos desta Casa, que tem como patrono Rui Barbosa, quem sabe nós possamos transformar o dia de hoje num dia de um grande debate, duro, como é natural em tempos duros como os que estamos vivendo, mas respeitoso, como é dever desta Casa.

A questão central hoje, e que colho como presidente do PSDB, é que os brasileiros se sentem ultrajados com uma decisão tomada com um sentido que não seria o mais nobre deles, com um sentido explicitado pelas últimas gravações tornadas públicas, que significava a possibilidade de impedir que o ex-Presidente da República – e nada de pessoal contra o ex-Presidente da República – pudesse ter a sua prerrogativa (Fora do microfone.) de foro alterada. Eu não vou adentrar ainda esse tema. Vamos estar aqui, nós da oposição, durante todo o dia. Acho que é importante que a base também esteja – nos reunimos até agora há pouco – para demonstrar ao País a necessidade de, por meio da política, da boa política, das boas formulações da política, apresentarmos para o País um desfecho para esta Crise, que não pode ainda continuar a ser alimentada.

O Brasil merece o início de um novo tempo, de uma nova quadra, para que nós possamos, oposicionistas, governistas, não importa, mas cidadãos brasileiros como um todo, iniciar uma nova história no Brasil, com respeito às instituições, com respeito à Lei e à Constituição, da qual somos todos escravos, mas com a coragem necessária para rompermos com o que está aí e, dentro daquilo que prevê a Constituição, iniciarmos uma nova página, como disse, na história do País. Fica, portanto, esse convite, e nós da oposição estaremos aqui prontos para um debate contundente, mas obviamente no nível que os membros do Senado Federal certamente saberão manter.

Não vou tomar muito tempo deste plenário, neste instante, pretendo voltar ainda à tribuna, e talvez com o senador Paulo Rocha um pouco mais sereno, um pouco mais tranquilo, mas para dizer algo aqui que me parece muito distante das preocupações do senador. Ele nos acusa de ter acirrado os ânimos do país. Teremos nós esta força? Nós da oposição acirramos os ânimos do país? Ou são essas denúncias sucessivas que não cessão, ou são as medidas absolutamente equivocadas, irresponsáveis e atrapalhadas na economia que nos levam a pior recessão da nossa história, um desemprego sem precedentes no Brasil que estão levando as pessoas às ruas. Me acusa o senador Paulo Rocha de, como presidente do PSDB, ter impetrado uma ação na Justiça Eleitoral a partir de inúmeras denúncias que nos chegavam.

O PT fez isso corriqueiramente em inúmeros estados. Se não tivesse cumprido a minha obrigação, e não é o PSDB que produz essas provas, de solicitar ao Tribunal Eleitoral de investigar as denúncias que nos chegavam, eu certamente estaria prevaricando. Mais, se não entro eu com esta ação como presidente do PSDB o Brasil não estaria tendo conhecimento das gravíssimas denúncias que vinculam sim recursos da Petrobras ou do propinoduto ao financiamento da campanha eleitoral. É essencial que o direito à livre e ampla defesa seja garantido. A presidente terá lá todas as condições de demonstrar que essas acusações ou que essas delações são falsas.

Agora o que eu percebo de forma muito clara e essas gravações de ontem trazem tudo isso à luz. Há sim uma tentativa de nivelar aquilo que não é nivelável. Percebi claramente em algumas dessas gravações que vale a pena sim, vamos citar uma, duas, dez, quinze vezes alguma figura independentemente do que isso represente para que quem sabe com isso haja uma pressão explícita como uma dessas gravações coloca em torno do procurador geral da República ou do Supremo Tribunal Federal. Não, temos instituições que funcionam. Que funcionam com independência, que funcionam com altivez. Se eventuais excessos forem cometidos por alguma delas caberá à sociedade reagir a esses excessos. Mas em relação a aquilo que é dito sobre o PSDB, a nossa postura é muito diferente da postura do PT. Não atacamos as nossas instituições, não demonizamos a imprensa. Ao contrário, não consideramos como considera o PT um ataque à democracia.

Queremos que tudo seja investigado em profundidade, não há, para os homens de bem, nada, absolutamente nada mais relevante do que a verdade e é isso que estamos buscando. Não acredito que serão apenas essas as citações a nomes da oposição e ao meu próprio, muitas outras virão e todas serão respondidas de forma cabal, clara, com serenidade, mas com absoluta firmeza. Mas é preciso, que coloquemos nossos olhos no futuro, vamos olhar o que está acontecendo com o Brasil, vamos encontrar caminhos para que o Brasil rompa definitivamente com o que está aí ancorado na Constituição, para construirmos um tempo novo, de convergência e não de divisões.

Quisera ter o poder de mobilizar as massas que ocuparam ontem e no último domingo as ruas do Brasil inteiro. Não tenho! E, se V. Exªs não compreenderam de forma clara o que está acontecendo no sentimento e na alma dos brasileiros, certamente não estarão em condições de contribuir para uma saída que seja de interesse dos brasileiros e dos trabalhadores. Por último, jamais senador Paulo Rocha, quando V. Exª teve seu nome citado no mensalão e depois absolvido, V. Exª jamais teve, desse parlamentar, uma citação que não fosse digna e de respeito. É isso que o PSDB e os tucanos esperam também de V. Exª.”

Vozes de Março

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 14/03/2016

Os brasileiros fizeram bonito neste domingo. De forma pacífica, em centenas de municípios, milhões de pessoas de todas as idades ocuparam as ruas do Brasil para protestar contra o governo e pedir uma solução para a crise em que fomos — e estamos — mergulhados. O grito que ecoou das multidões foi incontestável: basta, não suportamos mais.

Homens e mulheres, famílias inteiras, jovens, idosos e crianças, gente de todas as raças e credos, de cabeça erguida, se irmanaram no sentimento de revolta e indignação contra um governo que esgotou sua capacidade de iludir e mentir. Não dá mais para enganar ninguém: além do fracasso na gestão, há um fracasso ético e moral que arruinou o projeto de poder em curso. É contra este estado de coisas que o Brasil foi às ruas.

Foi uma manifestação de consciência cívica como poucas já vistas no país. É impossível ficar insensível ao grito uníssono contra a corrupção e a gestão calamitosa, contra a mentira e a favor do trabalho independente das instituições brasileiras. Em defesa da democracia e das conquistas que tanto nos custaram em sacrifício e luta.

No momento em que o discurso do radicalismo e da intolerância ameaça conturbar o ambiente social, como óbvia reação aos resultados das investigações da Lava Jato e outras operações policiais em curso, os manifestantes de domingo deram um exemplo de serenidade, maturidade e responsabilidade. Indignação sim, violência nunca.

Precisamos aprender com a mobilização gigante e seguir adiante em busca de saídas para a crise. As vozes de março nos colocam diante de um imperativo histórico: a nação precisa construir uma solução para o impasse em que se encontra. Reencontrar o caminho da confiança e da esperança.

Mais que nunca, o Congresso Nacional tem o dever de dar ressonância a este clamor. A classe política precisa cumprir com responsabilidade seu papel. Neste mar de insatisfações, precisamos ir além de denunciar, criticar e cobrar. Precisamos transformar.

Vivemos um momento único, fértil e de grande convergência em torno de um sentimento de país, que, em plano ampliado, já significa um precioso recomeço. O país que floresce das ruas não pode se perder. Ele precisa nos conduzir adiante.

Não basta encerrar o regime dos escândalos em série e da corrupção institucionalizada. Estão à espera do Brasil desafios de grande envergadura, que demandarão reformas profundas no plano político, econômico, ético, social e do modelo de gestão pública.

É hora de estarmos à altura desse sentimento nacional que clama por mudanças. Com ele – e só com ele – será possível reduzir drasticamente o abismo existente entre a realidade e o sonho dos brasileiros e o país que queremos e merecemos.

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O fim e o começo

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 07/03/2016

Vivemos um momento especialmente difícil da vida nacional. Um capricho do destino combinou o agravamento da crise econômica com o pior momento do terremoto político que ameaça o governo.

De um lado, a constatação de que, na economia, a queda vertiginosa do PIB configura anos de crescimento perdido para o país. De outro, as revelações vindas à tona na Operação Lava Jato lançam luzes sobre o mundo de sombras no qual opera o grupo instalado no poder. Trata-se de uma combinação letal. De certo, não sobreviverão nem mesmo algumas biografias.

O fracasso na gestão econômica e as impropriedades cometidas pelo grupo no poder –cada dia elas estão mais expostas– não são uma invenção da oposição e nem fruto de uma conjuntura adversa. O conjunto da obra tem DNA e carteira de identidade petistas. A crise na qual estamos mergulhados é resultado de crenças equivocadas, valores desvirtuados e ambições desmedidas.

Infelizmente o PT não entende a crise, sequer a reconhece. Faz o pior: parece querer aprofundá-la, com uma sucessão de atitudes que beiram a irresponsabilidade cívica, como as pressões a favor de troca de ministros, a crítica contumaz à independência das instituições e da imprensa e a divulgação recente de um programa econômico alternativo ao do próprio governo que preside.

À deriva e maculado por escândalos cada vez mais próximos do seu núcleo de poder, este governo não está apto a restaurar a confiança essencial à reconstrução do país.

A hora que vivemos exige coragem e serenidade de todos os democratas.

Serenidade para não aceitar as provocações que nascem da intolerância daqueles que, sem argumentos, insistem em disseminar o ódio e dividir o Brasil para tentar esconder a realidade. Palavras de ordem ensaiadas não vão calar o país. Não se trata de quem grita mais ou mais alto. Os brasileiros aprenderam a ouvir uma nova voz: a da Justiça.

Coragem para continuar a busca da verdade. A sociedade não merece menos do que isso. Devemos apoiar os trabalhos do Ministério Público, da Polícia Federal e das demais instituições que zelam pela democracia. É hora de assegurar que elas continuem trabalhando sem constrangimentos, sempre nos limites da ordem constitucional. Afronta a democracia quem, dizendo agir em seu nome, quer destruir seus pilares.

Mas, apesar de tudo o que enfrentamos, nosso olhar não pode ficar refém dos dias que vivemos. É preciso enxergar mais adiante. Do encontro com a verdade nascerá um novo Brasil. Confiante, fortalecido na sua esperança como povo e nação.

Um país com credibilidade, capaz de retomar o crescimento e recuperar o respeito da nossa gente e do mundo. É nessa direção que precisamos caminhar.

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A Legitimidade das ruas

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 17/08/2015


As ruas voltaram a vibrar com energia e indignação neste domingo.

Tratadas com ironia e quase desprezo no último programa partidário do PT, as manifestações da sociedade são expressão legítima da cidadania e traduzem o mal-estar generalizado que tomou conta do país, como reação ao fracasso e aos desmandos do atual ciclo de poder.

Ainda sobrevive no campo do governismo uma drástica dificuldade em entender que protestos como o de ontem fazem parte da vida democrática e revelam uma dinâmica social ativa e madura. É impressionante como os brasileiros permanecem mobilizados, nas ruas ou fora delas. Em apenas oito meses, milhões de pessoas, de forma pacífica, ocuparam várias vezes as ruas do país. Uns chamando os outros. Uns se reconhecendo nos outros.

Ouso dizer que estamos testemunhando o florescimento de uma nova consciência nacional e uma autêntica mudança de patamar, que, aos poucos, mas de forma muito determinada, avança e está presente em todos os estratos sociais. As pesquisas de opinião recentes confirmam este agudo senso crítico, que tem como consequência a flagrante e espantosa deterioração da base de apoio popular do petismo, que paga o alto preço do descrédito pela sua arrogância e pelas suas próprias contradições.

Hoje o PT paga esse alto preço não apenas pelos graves erros cometidos, mas porque insiste em fingir que não os cometeu!

Estão equivocados os que, com intolerância, teimam em manchar com um julgamento preconceituoso os que caminharam pedindo respeito e decência. As vozes nas avenidas e das sacadas precisam ser ouvidas atentamente e absorvidas, pois ampliam a nossa compreensão da realidade. Todos eles, cidadãos que são, têm o legítimo direito de fazer ecoar seus sonhos, reivindicações e cobranças.

Os brasileiros protestam porque estão simplesmente esgotados de assistir a tanta roubalheira. Protestam para não se renderem à impotência diante da escalada dos escândalos. Protestam para honrar a própria esperança, para honrar o futuro que querem viver ou plantar para seus filhos e netos. Protestam porque estão cansados de ser enganados por um marketing de ocasião, oportunista, que não cumpre o que promete, prega o que não pratica e institucionalizou a mentira como discurso oficial de governo.

Neste domingo, senti nos apertos de mão, nos abraços, nos acenos e nos gestos de otimismo, que o Brasil vai encontrar o seu caminho. Não pelas ações de um governo que tornou-se incapaz de ouvir e dialogar. Mas pela força das pessoas, das famílias, do ativismo dos jovens, das crianças que vieram para as ruas apenas para dizer que o Brasil é muito maior! Que o Brasil tem jeito. E quem vai dar jeito no Brasil são os brasileiros.

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Sobre as manifestações do dia 15 de abril

O PSDB se solidariza com os milhares de brasileiros que voltaram às ruas e ocuparam as redes sociais neste domingo para, mais uma vez, legitimamente, manifestar seu repúdio e indignação contra à corrupção sistêmica que envergonha o país e cobrar saídas para o agravamento da crise econômica.

Além da crise ética e moral, o governo do PT impõe à sociedade a pior equação: recessão com inflação alta, juros altos e corte de investimentos nas áreas essenciais da educação e saúde.

Completados 100 dias do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, as famílias brasileiras sofrem agora os efeitos da crise sobre os principais setores produtivos. Empresas em diversos segmentos deram início a cortes ainda mais severos, transformando o que antes eram preocupações com o aumento do desemprego em realidade concreta.

A presidente da República permanece imobilizada e tentando terceirizar responsabilidades intransferíveis. Neste domingo de mobilizações pelo país, o PSDB se une aos milhares de brasileiros que amam o Brasil e que, por isso, dizem não ao governo responsável pelo caminho tortuoso que, neste momento, todos trilhamos. 

Senador Aécio Neves

Presidente do PSDB

As Ruas

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 16/03/2015

Existem momentos na vida de um país em que a alma da nação parece se inquietar e transbordar, criando identidades que nos ajudam a lembrar que somos não um conjunto de indivíduos mergulhados em problemas e desafios pessoais, mas um povo que tem muito em comum.

O dia de ontem foi um momento assim. Em que a individualidade cedeu lugar à coletividade. Um dia do qual devemos nos orgulhar.

Curiosamente, há exatos 30 anos, o Brasil vivia um outro momento de forte identidade coletiva. Em outro 15 de março deveria ter ocorrido a posse do primeiro presidente civil e de oposição depois de 20 anos de ditadura. O calvário pessoal de Tancredo, paradoxalmente, ajudou na constituição e fortalecimento de laços coletivos.

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